segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Madame Satã, o original.
*O CineBancários exibirá, em fevereiro, um ciclo de filmes sobre grandes personagens da história e da cultura brasileira, durante duas semanas. A série, intitulada Personagens do Brasil, reúne 17 filmes de longa, curta e média-metragens, que estão organizados em nove diferentes programas. A entrada é franca mediante a retirada de senhas meia hora antes da exibição.As sessões, a partir de 3 de fevereiro, acontecerão às 14h30, 16h30 e 20h30, de terça a sexta-feira, na sede do CineBancários, Rua General Câmara, 424. Nos sábados e domingos as sessões acontecem às 15h, 17h e 19h. Os filmes selecionados para este ciclo são do acervo da Programadora Brasil, projeto do Ministério da Cultura que tem o objetivo de colocar em circulação filmes brasileiros de diferentes épocas. (Coletiva.Net)» Veja aqui os programas e horários:
*Durante o mês de fevereiro, o Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS (MCT) oferece promoções para estimular visitas da comunidade e dos colaboradores da universidade. Para o público externo, será oferecido desconto de 25% no ingresso geral, unificando em R$ 9,00 a entrada para conhecer os mais de 600 experimentos interativos da exposição. Funcionários da Universidade, do Hospital São Lucas, do Colégio Champagnat e da Gráfica Epecê terão isenção total de pagamento, com direito a três acompanhantes.A Direção do MCT informa que entre os dias 21 e 24 de fevereiro a exposição estará fechada. O MCT funciona de terças a domingos, das 9h às 17h. Outras informações pelo telefone (51) 3320-3521
A área de exposições do MCT está distribuída em três pavimentos e dois mezaninos, destinados exclusivamente para exibir atrações para todas as idades e interesses. No local, praticamente todas as instalações permitem a interação do visitante com os experimentos, facilitando e tornando lúdico o aprendizado. Ao final do passeio, é possível levar para casa um pouco do mundo de descobertas. Na loja do Museu estão disponíveis réplicas de dinossauros, esqueletos de animais pré-históricos para montar, livros, vestuário e outros produtos com a marca do MCT. Mostras temporárias - Até 28 de fevereiro o Museu de Ciências e Tecnologia abriga duas atrações temporárias: a Casa Genial e a Mostra Ipês. Criada em parceria com a Eletrobrás, a Casa Genial é uma residência completa, com dormitório, sala de estar, cozinha, escritório, lavanderia e banheiro. A instalação busca incentivar os visitantes a utilizarem a energia elétrica de forma racional, comparando o consumo de eletrodomésticos com alto consumo energético com outros de gasto contido. A Mostra Ipês retrata a exuberância do florescimento do ¿Ipê¿ (Tabebuia sp.), com fotos e sementes de diversas variedades desta árvore característica de Porto Alegre.
Renata Vasconcelos, apresentadora.
*Até 28 de fevereiro de 2009, editores e/ou escritores podem inscrever seus livros, para a 7ª edição do Prêmio Portugal Telecom 2009. Para isso, devem preencher todos os campos da ficha de inscrição que se encontra no site e enviar quatro exemplares do(s) livro(s) inscrito(s) para Portugal Telecom Brasil: Av. Brigadeiro Faria Lima, 2277 – 15o andar – CEP 01452-000, São Paulo, SP. A inscrição só se completa com o recebimento dos quatro exemplares juntamente com cópia da ficha de inscrição. Ao receber os exemplares, a Curadoria do Prêmio avalia a pertinência da inscrição e, se correta, envia um e-mail de confirmação para o autor e/ou editor. Podem concorrer: 1. romance, conto, poesia, crônica, dramaturgia e autobiografia, escritos originalmente em língua portuguesa; 2. com primeira edição no Brasil entre 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2008; 3. com primeira edição no exterior entre 1º de janeiro de 2005 e 31 de dezembro de 2008, desde que tenham a 1ª edição no Brasil em 2008.

Desconto no IPTU e lixo só vai até este dia 10

As guias com a nova oportunidade de desconto para o pagamento com abatimento de 10% em cota única do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e da Taxa de Coleta de Lixo (TCL) já estão sendo encaminhadas às residências pelos Correios. Os contribuintes têm prazo de pagamento até 10 de fevereiro. As novas guias vêm acompanhadas do carnê com a opção de parcelamento em dez vezes, sem desconto, com primeiro vencimento em 8 de março (veja vídeo).
A guia também pode ser acessada no site da prefeitura, no link direto www.portoalegre.rs.gov.br/iptu/GUIANOVA ou na página da Secretaria da Fazenda, no espaço IPTU, mediante informação da inscrição do imóvel.
Mais de 250 mil contribuintes já aproveitaram o desconto de 20%. Até 2 de janeiro, data limite do abatimento, foram quitadas 254 mil guias, que representam 49% do total de 518.795 documentos emitidos. No mesmo período do ano passado, 50% das guias foram pagas com o desconto máximo.
Arrecadação - O pagamento antecipado gerou uma arrecadação de R$ 180 milhões, correspondente a 43% do total lançado. O secretário municipal da Fazenda, Cristiano Tatsch, informa que o resultado ficou dentro da previsão. “Tradicionalmente os contribuintes aproveitam a facilidade, que é um dos maiores descontos entre as capitais”, afirma.
Conforme prevê a legislação municipal, a correção do tributo e da taxa é feita pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos últimos 12 meses (dezembro de 2007 a novembro de 2008), correspondente a 6,39%.
IPTU e TCL 2009 - 10% de desconto para pagamento até o dia 10 de fevereiro- parcelamento em dez vezes, sem desconto, com primeiro vencimento em 8 de março
InformaçõesLoja de Atendimento da Secretaria Municipal da FazendaTravessa Mário Cinco Paus, s/nº - CentroTelefones: 3289-1540 / 1550Horário: das 9 às 16 horasSite: www.portoalegre.rs.gov.br/iptu/GUIANOVA

Fatos e aniversariantes do dia 2 de Fevereiro

Hoje nasceram Stan Getz (1927-91), Shakira (32 anos) e Farrah Fawcett-Majors (62).





James Joyce nasce em 02 de fevereiro de 1882. O escritor irlandês famoso pelo uso experimental da linguagem, deixou uma obra em que se destacam Ulisses (1922) e Finnegans Wake (1939). Estudou filosofia e línguas na Universidade de Dublin. Viveu muitos anos em Trieste, na Itália, onde escreveu Ulisses.
1542 - Uma expedição de 50 homens de Francisco de Orellana descobre o rio Amazonas.
1535 - Pedro de Mendoza funda na costa do Plata o Porto de Santa María da Buen Aire.
1594 - Morre Giovanni Pierluigi, o "Palestrina", compositor italiano.
1653 - Nova Amsterdam, mais tarde chamada Nova York, adquiere a categoria de cidade.
1825 - Os governos de Buenos Aires e britânico firmam um tratado contra o tráfico de escravos.
1841 - El Salvador se constitui em república unitária e independente das outras repúblicas da América Central.
1848 - É firmado o Tratado de Guadalupe Hidalgo, que põe fim à guerra entre EUA e México. O México cede aos EUA a Califórnia, o Arizona, o Texas e o Novo México.
1882 - Nasce James Joyce, escritor irlandês.
1885 - O general Justo Rufino Barrios proclama na Guatemala a união da América Central.
1907 - Morre Dimitri Ivánovich Mendeleyev, químico russo.
1913 - É inaugurada em Nova York a maior estação ferroviária do mundo.
1920 - A Rússia reconhece a independência da Estônia.
1926 - Nasce Valéry Giscard d'Estaing, ex-presidente da França.
1932 - A cidade de Santiago de Cuba é destruída por um terremoto.
1937 - Nasce Eric Arturo del Valle, ex-presidente do Panamá.
1940 - É realizada em Belgrado a Conferência de Paz dos Estados balcânicos.
1947 - Nasce Farrah Fawcett-Majors, atriz norte-americana.
1957 - É inaugurada, nos Estados Unidos, a Leo Castelli Gallery, destinada a ser o centro universal da arte pop.
1959 - Indira Gandhi é nomeada presidente do Partido do Congresso da Índia.
1964 - A sonda norte-americana Ranger VI chega à Lua.
1967 - Morre Robert Oppenheimer, físico norte-americano.
1969 - Morre Boris Karloff, ator britânico.
1976 - São roubados 119 quadros da última fase de Picasso no palácio dos Papas de Aviñón.
1981 - Equador e Peru fazem um aocrdo de cessar-fogo em seu conflito fronteiriço.
1985 - Os restos humanos hispano-americano mais antigos do mundo, com 31 mil anos, são encontrados em um rancho situado a cerca de 60 Km de San Luis de Potosí (México).
1987 - Um ataque aéreo iraquiano contra a cidade de Mianeh, no Irã, mata 79 alunas de duas escolas locais.
1994 - Um trem descarrilha no Zaire e deixa pelo menos 200 mortos.
1995 - Morre André Frossard, ensaísta e acadêmico francês.
1996 - Morre Gene Kelly, ator e bailarino norte-americano.
1999 - O ex-tenente-coronel Hugo Chávez, líder de um fracassado golpe de Estado em 1992, jura seu cargo como presidente da Venezuela.
2001 - O presidente Gustavo Noboa decreta estado de emergência no Equador, como resposta às mobilizações indígenas.
Redação Terra

Lane, hoje, no Jornal de Brasília, e Bennet, na Gazeta do Povo (PR).

Rede Globo: É Fantástico! Eles nunca aprendem

Por Celio Levyman

Na verdade, o comentário não é sobre o Fantástico, da Globo, mas sim sobre outro produto já antigo: o Globo Repórter.
Mais do que cansativo, chega a ser até estúpido ter que repetir que saúde é sempre assunto para a mídia, que nem sempre as fontes são checadas e assim por diante. Por outro lado, que se dê o direito de a TV mostrar as mais diversas opções de cuidados com a saúde e liberdade de imprensa é óbvio; mas isso exige responsabilidade, o que nem sempre ocorre, e o Globo Repórter de 24/01/2009 foi glorioso exemplo, dentre tantos.
Anunciado com a ênfase espantosamente otimista de Sergio Chapelin, o assunto do programa em questão foi, resumidamente, a melhoria ou cura de vários problemas de saúde sem remédios. Claro, eles existem, desde as tradicionais cirurgias até medidas de medicina fisiátrica, a reabilitação. Mas, claro, esse não era o foco: exercícios orientais, auto-massagem, a "milagrosa" medicação para dengue que resolveu a infecção em uma cidade (monumental mentira que há já dois anos rendeu artigo meu na Folha de S.Paulo e entrevista à CBN) e por aí adiante.
Nem a composição se conhecia
Sei que há médicos arrogantes em demasia, que o sistema de saúde pública, o SUS, fica a desejar, e o sistema suplementar de planos de saúde também não agrada em cheio à população, que fica entre notícias "fantásticas" do exterior mescladas a reportagens sobre instituições de ponta brasileiras, ilhas de exceção, e as maravilhas da auto-massagem, da urinoterapia, ou seja lá o que o for. Aonde está a responsabilidade pela informação? Liberdade de imprensa, sim, evidente, mas com alguns cuidados e especialmente sem cair no ridículo, no quackery.
Vá lá que se mostre alguma coisa de fitoterapia (até porque há um lado sério e importante no assunto, embora haja polêmica quanto ao tempo que se vai levar para descobrir uma planta, digamos, efetivamente ativa contra uma doença, e prepará-la de acordo com os princípios farmacêuticos, médicos e científicos, alem de éticos, para ofertá-la a população) e a pesquisa com compostos sintéticos – haverá contestações de caráter ideológico e financeiro, bem sei, mas ao menos não se pode acusar toda a fitoterapia de charlatanismo ou atraso.
Mas vamos ao caso da dengue: ora, o misterioso composto ofertado por várias cidades do interior paulista sem avaliação médica, dito como homeopático por gente dessa área, foi claramente desmentido como pertencendo a essa categoria. Disseram alguns homeopatas que há um pesquisador sério no Rio de Janeiro trabalhando com isso: até hoje espero alguma publicação sua.
Do que se conseguiu apurar, uma pessoa, sem formação definida, convenceu secretários municipais da saúde a comprar seu produto e dispensá-lo nos postos sem avaliação médica. Nem ao menos se sabia qual a composição do suposto remédio! Parece que o inventor da coisa ganhou muito dinheiro e sumiu, o que tem lógica, pois a tal medicação deveria poder ser comprada com dispensa de licitação, por não haver similar no mercado.
Como dogmas religiosos
Resultados? Não curou ninguém da dengue e ainda incentivou as pessoas a tomarem o remédio para se prevenirem da doença, abandonando as práticas conhecidas de prevenção contra o mosquito. Cidades inteiras de São Paulo sofreram epidemias da doença.
Na ocasião, a Secretaria Estadual da Saúde proibiu a dispensa da medicação, as prefeituras recorreram à Justiça, a Anvisa entrou na história e acabou por ser permitida sua utilização, desde que sob prescrição médica: mas qual profissional da área teria coragem de receitar algo completamente desconhecido e repleto de dúvidas? E a história volta agora, via Globo...
Costuma-se dizer que medicina e arte – sob alguns aspectos – podem ser consideradas como algo similar. Mas, basicamente medicina e ciência, goste-se ou não dessa abordagem. O bom e velho Hipocrates, há mais de 2.000 anos, retirou a medicina do mundo espiritual e a trouxe para o material, o científico. E assim e até hoje: boa prática médica e de saúde se faz com método cientifico, evidências, constatações, estatística. Isso não invalida, e nem deve, a atitude do médico como ser humano, dedicado e atento a seu paciente, atencioso, educado – mas quem não aprendeu ou "desaprendeu" essas práticas no curso de Medicina, e sim, trouxe alguma coisa errada de sua bagagem cultural, de sua formação, da família, sabe-se lá.
Dizer que uma determinada prática é boa para a saúde, pois, é natural e bobagem: há muita coisa na natureza, até vendida em feiras livres, que pode matar. Da mesma forma, dizer que uma prática é milenar não quer dizer nada: guerras também o são, e matam – e como! As coisas ditas milenares, na saúde, em geral ficaram estanques desde há muitos anos e adoradas como dogmas religiosos; nada tem a ver com a medicina científica que, bem ou mal, avança em benefício da saúde individual e coletiva.
Mortes no carnaval
Tive várias experiências no decorrer dos anos com os meios de comunicação, como entrevistado. Reconheço que na maioria das vezes as coisas correram bem e as informações foram passadas adequadamente. Há um episódio, contudo, que merece registro.
Alguns anos atrás, um rapaz chegou a uma unidade do hospital Albert Einstein com um quadro estranho: universitário, esportista, freqüentador de academias, foi trazido pelos pais à emergência com um mal-estar indefinido; logo houve alterações de sua pressão arterial e freqüência cardíaca e entrou em coma. Os colegas do primeiro atendimento solicitaram minha avaliação e apenas graças a um parente do paciente conseguiu-se saber que ele havia tomado certa quantidade de 1,4 butanodiol, ou BD – droga ainda nova no exterior e o primeiro caso no Brasil – para, em tese, melhorar seu desempenho físico. Felizmente o tratamento deu resultados e, após curto período em UTI, houve a recuperação completa. Por ser o primeiro caso de overdose dessa substância no país, por acaso atendido por nossa equipe, foram feitos os devidos relatos às autoridades sanitárias, centros de intoxicação e publicações científicas.
Mas a imprensa ficou sabendo. Preservando o sigilo médico e a identidade do paciente, dei entrevistas à Folha de S.Paulo e a rádios desconhecidas. Tudo bem: era importante divulgar uma nova droga de abuso sintética, com potencial para matar uma pessoa.
Eis que alguns dias após entra em contato comigo um produtor do Fantástico: queria fazer uma matéria a respeito, mas entrevistar o paciente, ocultado com as técnicas conhecidas. O rapaz considerou importante a divulgação, mas recusou-se terminantemente a dar entrevistas, mesmo disfarçado. O dito produtor da Globo me disse que a matéria não iria para o ar.
Um ano após, o mesmo jornalista me telefona e diz que naquele carnaval, do ano em curso, no Rio a substância mais usada foi o tal do BD, gente havia morrido e um sobrevivente concedeu entrevista disfarçado. E quiseram me ouvir por alguns segundos.
Interesse comercial e conteúdo
Ora: será que uma matéria em um programa com milhões de espectadores não poderia ter alertado de alguma forma aqueles que usaram o tal do BD no ano seguinte? Difícil ter certeza, mas por ser droga nova no Brasil, e cara, talvez não ocorressem óbitos. Mas o Fantástico preferiu ignorar a reportagem inicial, pois sem a imagem da vítima não teria como...
Isso lá é serviço público? Não cheguemos ao exagero de culpar as eventuais mortes no Rio de Janeiro por conta do programa dominical, mas uma concessão pública deveria ser mais responsável. E, creio eu, mesmo sem a imagem do rapaz, a mensagem seria dada, e algo importante poderia ter sido feito para uma parcela da população, adepta de drogas sintéticas novas.
Exemplos de péssimo jornalismo, com veículo poderoso de comunicação que poderia prestar um serviço importante, mas por causa do detalhe da imagem, deixou para lá e correu atrás do prejuízo um ano depois...
Será sempre assim com vários órgãos de imprensa? Por mais que os médicos quisessem divulgar eticamente o caso, no máximo conseguiram divulgação no meio profissional e em alguns órgãos de imprensa. Mas nenhum com o alcance popular do Fantástico.
Fantasticamente, eles parecem não ter se importado com as mortes. Aliás, como houve a recuperação do primeiro paciente, mais lacrimoso certamente foi mostrar um sobrevivente anos depois – sem prestar o devido serviço no início. Lamentável sob todos os ângulos.
Vamos aguardar o dia em que o interesse de audiência, comercial, será subjugado pelo conteúdo das matérias em si. Otimismo. (Observatório da Imprensa)

domingo, fevereiro 01, 2009

Cláudia Laitano: poderia ter sido psicóloga...

Cláudia Laitano é sinônimo de bom humor, personalidade e inteligência. Quem a conhece ou lê seus textos logo percebe tais características nas entrelinhas de suas crônicas semanais publicadas no jornal Zero Hora. A pequena de olhos azuis e cabelos escuros é uma mulher simples, alegre, disposta, determinada e apaixonada pela vida. A cultura é a sua religião: “Acho que os livros nos tornam pessoas melhores, pois a leitura te lembra como o mundo é grande e como a ignorância é maior ainda! O hábito de ler te torna uma pessoa mais tolerante e humilde. Acho que tolerância, humildade e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém!”.
A jornalista, que nasceu em Porto Alegre no dia 13 de maio de 1966, tem especialização em Economia da Cultura e há oito anos é editora da área cultural do jornal Zero Hora. Cláudia orgulha-se de ter descoberto o prazer pela leitura e a paixão pelos livros sozinha. A família dela não possuía este hábito, mas preocupava-se em abastecer as estantes da sala com as principais enciclopédias dos anos 70, que serviam como material de pesquisa para os trabalhos escolares dos filhos. O caminho percorrido até os livros foi pedregoso, mas, segundo ela, mudou o enredo de sua vida. As obras de Monteiro Lobato foram as primeiras com que teve contato, na pequena biblioteca da escola onde estudava, em Novo Hamburgo. “Me orgulho muito de ter descoberto por mim mesma os livros, pois tudo o que descobrimos sozinha tendemos a valorizar mais.”
O gosto por escrever apareceu cedo na vida da cronista. Na escola, sempre foi estimulada a escrever. Era uma aluna dedicada e que lia suas redações na frente da classe. Na adolescência, dedicou-se a redigir poemas e músicas por influência de amigos que eram músicos. Mas, até então, nunca havia pensado na possibilidade de tornar o hobby sua profissão. Cláudia queria ser psicóloga, chegou a cursar dois anos, mas trancou a faculdade para morar em São Francisco, nos EUA. Lá, trabalhou como babá e juntou dinheiro para viajar pela Europa.
Foi durante sua viagem para o Exterior que Cláudia percebeu que, apesar de gostar de psicologia, não conseguia se enxergar atuando na área. “No meu primeiro dia de aula no curso de Psicologia, estava em estado de êxtase absoluto, pois parecia que tinha casado com o príncipe encantado da minha vida. Logo, comecei a sentir falta de escrever e, em 1988, decidi estudar Jornalismo.”
Editora nata
Em 1985, antes de viajar para o Exterior, começou a trabalhar como revisora no jornal Zero Hora. Caçula e única mulher entre três irmãos, conta que teve uma infância normal em uma família de classe média. A cronista afirma que não entrou para o mercado de trabalho por necessidade, mas, sim, pela vontade que tinha de tornar-se uma pessoa independente. Percebeu isso aos 15 anos, quando juntou dinheiro para comprar selos para sua coleção e foi repreendida por sua mãe. “E independência é algo que mantenho até hoje, pois jamais deixaria de trabalhar para ser sustentada por um marido. Tenho a necessidade de ter meu dinheiro e de não precisar dar satisfação de como eu o gasto. Essa característica sempre foi muito forte desde cedo.”
Três anos mais tarde, já de volta a Porto Alegre, reassumiu o cargo e, depois da informatização da redação, atuou como indexadora – fazia um resumo das matérias publicadas e as disponibilizava em um banco de dados – durante quatro anos. A partir de então, sua carreira no Grupo RBS entrou em ascensão, pois logo tornou-se editora do caderno de TV e, em 1996, passou a editar o Segundo Caderno. No ano 2000, assumiu o comando da editoria de cultura do jornal Zero Hora, onde, desde 2004, publica suas crônicas semanais com dicas de filmes e livros, entre outros diversos assuntos.
Em 1993 publicou seu primeiro livro, ‘Arca de Blau’, volume de memórias do jornalista Carlos Reverbel. O primeiro contato com Reverbel foi através de seu trabalho de conclusão de curso, pois ele foi o tema de sua monografia. A jornalista também acabou de lançar o livro ‘Agora Eu Era’, que reúne 61 crônicas publicadas em ZH. Cláudia sempre gostou de escrever, mas diz que não nasceu para ser repórter: “Sou muito mais editora do que repórter. Não tenho um ímpeto irrefreável de falar com pessoas desconhecidas e fazê-las falar. Até faço, mas só quando é preciso. Só sei que isso é algo que não faria todo dia. Gosto muito mais de editar”, conta.
Livros, eterna companhia
Cláudia foi casada durante nove anos com o também jornalista Roger Lerina e, com ele, tem uma filha, Pilar, 9 anos. “Pelo fato de nós, os pais dela, sermos jornalistas, a Pilar tem uma coisa de marcar que aquele mundo dos livros não é o mundo dela. E a forma que ela encontrou de fazer isso foi sendo uma aluna brilhante em matemática. Ela adora números e cálculos!”
Há um ano e meio trocou alianças com o físico carioca Daniel. O casal se conheceu durante um encontro de literatura, em São Paulo. Depois de dois anos de namoro à distância, Daniel mudou-se para a Capital gaúcha, onde ministra aulas no Centro Universitário Metodista, do IPA. “Nos conhecemos antes do caos aéreo, por isso conseguíamos nos ver de três em três semanas. Se fosse agora, não sei não!”
Em seus dias de folga, o hobby preferido continua sendo a leitura. Basta entrar em seu apartamento – uma cobertura aconchegante no bairro Mont Serrat – para perceber. As paredes da sala de estar são cobertas por grandes estantes repletas de livros. Entre os autores preferidos estão o filósofo suíço Alan de Botton e o pensador francês Luc Ferry. Como costuma trabalhar aos finais de semana, estar em casa com tempo para ler é, realmente, um privilégio para ela. Ir ao cinema é outro programa que Cláudia gosta de fazer. Documentários, filmes brasileiros e de ficção são os preferidos.
A jornalista afirma que se arrisca na cozinha, mas só se for para preparar pratos como risotos e massas para pouca gente. “Estar em casa com meu marido e minha filha é algo que gosto muito de fazer”. Quando o assunto é música, gosta de ouvir pop, música brasileira e bandas como Radiohead, REM, U2 e Joni Mitchell. “Sou muito eclética para música, mas como o Daniel é carioca, ultimamente tenho ouvido muito samba e chorinho”.
Sempre disposta a ouvir e aprender
Aos 42 anos de idade, movida por paixões e curiosidades, Cláudia tem opinião definida sobre os mais diversos temas e relata que já escreveu a favor de temas polêmicos, como aborto, união de pessoas do mesmo sexo e pesquisas com células-tronco. A jornalista acredita que seu maior defeito é ser teimosa. “Porque, às vezes, demoro a reconhecer que o caminho por onde estava indo era mais complicado.” Mas a teimosia, em certos momentos, é retratada como uma qualidade: a determinação.
Quando se trata do universo da cultura, da literatura, da história e da filosofia, ela afirma que tem muita disposição para ouvir e aprender. “São conhecimentos que, de certa forma, te aperfeiçoam como pessoa. Se tenho uma fé, uma convicção na minha vida, é a de que o mundo da cultura é a estrada para nos tornarmos pessoas melhores. Pessoas que não lêem e que não se emocionam com músicas e com filmes tendem a ser moral, intelectual e espiritualmente esclerosadas. Sou uma pessoa não-religiosa, não-mística. Futebol e religião são duas coisas que me incomodam profundamente. Fanatismo, de uma forma geral, me incomoda. Se eu tivesse um altar, ele seria destinado à cultura!” (Coletiva.Net)



Gripe Espanhola: Porto Alegre não escapou

Nos bondes de Londres, a tentativa de evitar a contaminação.


* Vitor Minas, especial para o Conselheiro X.
Texto baseado em pesquisa de jornais, revistas e publicações da época.


Nunca se viu nada igual: a rua da Praia vazia, as casas comerciais fechadas, os bares e os cafés desertos, os bondes elétricos paralisados, os colégios sem alunos ou professores e a entrega de correspondência suspensa. O desabastecimento atingia toda a cidade – faltavam remédios, leite, lenha, gasolina e gêneros alimentícios e tudo encarecia do dia para a noite. Cortejos fúnebres se encontravam nas esquinas; nos cemitérios detentos condenados substituíam os coveiros que morriam em serviço. Mesmo assim, os caixões disponíveis eram insuficientes para tantos óbitos e centenas de pessoas eram sumariamente enterradas em valas coletivas, enquanto dezenas de corpos amontoavam-se à espera de sepultamento.A cada edição os jornais publicavam a relação oficial dos mortos. Havia cenas de histeria pública, os casos de suicídio aumentavam e ninguém se sentia seguro em parte alguma. Quem podia abandonava a cidade em busca de ares mais saudáveis. Nas calçadas os raros transeuntes seguiam a passos apressados. Dos sinos da igreja matriz partiam dobres tristes anunciando novas vítimas da “influenza espanhola”, a maior pandemia da história da Humanidade, com um bilhão de infectados, a metade da população da época, e cerca de 20 milhões de mortos. Somente no Brasil foram mais de 300 mil óbitos, dos quais18 mil no Rio de Janeiro.A Grande Guerra Mundial iniciada quatro anos antes estava para terminar. Faminto e debilitado, o Velho Continente transformara-se em um território propício a toda espécie de doenças. Na América, no Brasil arcaico e rural da Velha República, grassavam a tuberculose, a varíola, a varicela, o tifo, a escarlatina, a malária, a sífilis, a lepra. Em Porto Alegre, de cada 1.000 bebês mais de 300 morriam antes de completar 2 anos.
LEITE FALSIFICADO - A capital gaúcha , com 170 mil habitantes, era então um amontoado de casas velhas e vielas estreitas e escuras. A água municipal não recebia qualquer tratamento e, nos dias de chuva, as torneiras despejavam uma desagradável mistura da cor do barro, embora a maioria da população se valesse do serviços dos aguadeiros - ou “pipeiros”.A rede de esgoto servia tão somente os bairros nobres – Independência, Duque de Caxias, parte do Menino Deus - o recolhimento de lixo não seguia nenhuma diretriz rigorosa e as fétidas “casinhas” externas desempenhavam o papel de vasos sanitários. Comerciantes inescrupulosos vendiam alimentos falsificados ou deteriorados: carne velha, pão feito de fava e milho, pimenta do reino misturada a pó de sapato, leite aguado e manteiga rançosa. Não bastasse, vivia-se uma aguda crise econômica, com carestia, endividamento, inflação, greves operárias em São Paulo e insatisfação generalizada.A “influenza” chegaria ao País em meados de setembro a bordo dos navios que vinham da Europa. Das capitais litorâneas ou portuárias – Belém, São Luís, Fortaleza, Recife, Salvador, Rio - rapidamente estendeu-se para os quatro cantos do território nacional. Chegou a pontos remotos da “hinterland” brasileira, não poupando cidades, vilas, de sul a norte, matando e dizimando tribos inteiras da região amazônica. Com quase 1 milhão de habitantes, clima insalubre e alta densidade demográfica, a Capital da República transformou-se em um vasto hospital. Centenas de pessoas morreram diariamente entre outubro e novembro e 70% da população caiu de cama, acometida da estranha moléstia cuja origem, afinal, ninguém precisava. Em São Paulo foram 350 mil infectados – 65% da população – e 5100 mortos oficialmente contabilizados. Da virulenta peste sabia-se apenas que era diferente de tudo o que até então se vira e que provavelmente se originasse da Espanha, convencionando-se então chamá-la de “gripe” ou “influenza hespanhola”, embora nenhuma nação - muito menos a própria Espanha (que a cognominou “febre russa”), assumisse a paternidade. Na Rússia foi denominada de “febre siberiana”, na Sibéria de “febre chinesa” e na França de “catarro hespanhol”. Fez 5 milhões de vítimas fatais na Índia e 450 mil nos Estados Unidos. Espalhando-se rapidamente pelos quatro cantos do Mundo, matou os primeiros brasileiros na costa da África, em setembro de 1917. Do efetivo de 2 mil militares da Divisão naval brasileira – dois navios de patrulha e uma missão médica - que, tardiamente, iriam participar da Grande Guerra(o conflito acabou um dia depois da chegada ao front), 90% foram atingidos pela doença e mais de cem morreram nas proximidades de Dakar, no Senegal.Por mar a moléstia aportou na costa brasileira e logo fez morada nas principais cidades litorâneas. No início de outubro a Capital Federal sucumbiria à doença. Em seu livro de memórias “Chão de Ferro”, o médico e escritor Pedro Nava descreve o que foram aqueles dias na cidade do Rio de Janeiro.“Além da fome, da falta de remédio, de médicos, de tudo, as folhas noticiavam o número nunca visto de doentes e cifras pavorosas de obituário. As funerárias não davam vazão – havia falta de caixões. Até de madeira para fabricá-las(...) Era muito defunto para os poucos coveiros do trivial – assim mesmo desfalcados pela doença. Foram contratados amadores a preços vantajosos. Depois vieram os detentos. (...) Era de ver as ruas vazias cortadas de raro em raro pelos rabecões e caminhões de cadáveres(...) Um ou outro passante andando como se estivesse fugindo e trazendo no rosto a expressão das figuras do quadro de Eduard Munch: Angst. Isso mesmo, angústia: faces de terror, crispações de pânico, vultos de luto correndo, pirando, dando o fora e, no fundo, um céu vangogue sangue ocre.”
ELA CHEGOU A BORDO DOS NAVIOS - Oficialmente, a espanhola chegou ao Rio Grande do Sul no dia 9 de outubro, uma quarta-feira, a bordo do navio Itajubá, vindo do Rio de Janeiro: 38 de seus tripulantes apresentavam os sintomas da febre. Ao atracar em Rio Grande, seu comandante comunicou o fato às autoridades portuárias, descrevendo, sucintamente, uma febre de “caráter benigno”. Por sua vez as autoridades sanitárias gaúchas limitaram-se a examinar os tripulantes, para isolá-los em seguida. O navio foi desinfetado e – como de praxe - o fato comunicado ao Palácio Piratini.Três dias depois o navio Itaquera – que, devido à doença, havia sido impedido de atracar em portos do Paraná e Santa Catarina – chegou a Rio Grande, transferindo-se seus 32 doentes para o lazareto da cidade. Cumpridas as formalidades sanitárias, o vapor prosseguiu viagem pela Lagoa dos Patos, chegando a Porto Alegre a 14 de outubro. Dois dias após, com outros 7 doentes confirmados, atracava no cais da Capital o navio de cabotagem Mercedes, do Lloyd Brasileiro, procedente de Rio Grande. Não havia nenhum médico a bordo e somente 48 depois da chegada seus tripulantes seriam postos em isolamento. No dia 17 finalmente atracou na Capital o Itajubá, trazendo consigo os tripulantes que haviam sido submetidos a uma curta quarentena em Rio Grande.No dia 18, por fim, surgiram notícias de alguns casos da estranha gripe, com três registros em pontos diferentes; um funcionário da higiene Pública e mais dois homens pediram espontaneamente para serem isolados. Uma moça também compareceu à Diretoria de Higiene do Estado apresentando os mesmos sintomas dos demais: calafrios em todo o corpo; prostração intensa; febre que chegava a 40 graus; dores musculares, dores de cabeça e na barriga, nos olhos, nos ombros, nas costas, nos rins e nas pernas; catarro abundante e muita tosse, bem como sensibilidade extrema à luz, náuseas, vômitos, calor no rosto, vertigens e lágrimas.A tais sintomas acrescentava-se uma profunda depressão psíquica e, muitas vezes, sensíveis alterações cardíacas ou respiratórias que levavam à morte.Nos dias 20 e 21 seriam notificados mais 12 casos suspeitos, todos, ressaltavam as autoridades gaúchas, “benignos”. Outros quatro caixeiros viajantes recém chegados à cidade também apresentavam os mesmos sintomas. No dia 23, somavam 21 pessoas recolhidas ao isolamento. Em outra porta de entrada do Estado, na mesma data, comunicava-se o fato extraordinário às autoridades da Capital: à exceção de um telegrafista, todos os funcionário da estação de trens de Marcelino Ramos, na divisa com Santa Catarina, haviam caído vítimas da “influenza”. Em poucos dias, no Hospital da Brigada, na Capital, baixaram, vítimas da febre, mais de 30 praças. Outros 130 soldados foram colocados em isolamento compulsório. Depois de percorrer mundo, a gripe espanhola era também gaúcha.
A “IMUNDICIE” DA SANTA CASA- Em 1918 o intendente José Montaury, do Partido Republicano Riograndense, comandava a municipalidade. Espécie de títere do presidente do Estado, o caudilho Antonio Augusto Borges de Medeiros, Montaury, um fluminense nascido em Niterói, assumiu o cargo em 1897 e exerceu-o por longos 27 anos, período no qual não faltaram os mais variados surtos epidêmicos. A última fora a de varicela, em 1916.Ainda que uma das mais populosas cidades brasileiras a Capital do Rio Grande do Sul resumia-se então ao centro e alguns bairros de difícil acesso. Os carros de praça “motorizados” competiam com outros movidos a parelhas de cavalos e aos bondes elétricos. Via-se as comédias mudas de Carlitos e no final da tarde fazia-se o “footing” na rua da Praia, com homens de chapéu e bengala e mulheres de grandes e pesados vestidos. A Confeitaria Rocco, o Café Colombo, na Andradas, o Chalé da Praça XV, a Livraria do Globo, os cine-teatros Guarani – o mais “luxuoso” – e o popular Apolo, o Petit Casino, o Clube do Comércio, o Germania, o Caixeiral, o Clube dos Caçadores (na verdade, um cabaré) e o Hipódromo do Moinhos de Vento incluíam-se entre os pontos de referência da sociedade mundana da época – industriais, comerciantes, funcionários públicos, advogados, jornalistas, poetas, boêmios e desocupados em melhor situação financeira.Os principais jornais - Correio do Povo, A Federação, A Gazeta do Povo e O Independente, recebiam, via cabo submarino, os acontecimentos do restante do mundo que os leitores liam com dias de atraso. As revistas Kodak e “Máscara” – de entretenimento, cultura e variedades - douravam a vida social e cultural da capital e das principais cidades gaúchas: Pelotas, Rio Grande, Bagé, Santa Maria. Havia futebol – ou “matchs” - aos domingos e pescarias e esportes náuticos no rio Guaíba, cujas águas, limpas e calmas, espraiavam-se até a Cidade Baixa. As noites eram previsivelmente calmas e escuras – a iluminação elétrica ainda convivia com os velhos lampiões dos postes. Comandadas pelo doutor Mário Totta, as famílias mais chiques veraneavam no “arrabalde” da Tristeza e a praia da Pedra Redonda, um dos cartões postais da cidade, servia de cenário para concorridas festas e saraus onde não faltavam intelectuais e escritores como Augusto Meyer, Olyntho Sanmartin, Teodomiro Tostes e afetados poetas parnasianos.No centro, à noite, pontificavam os discretos “rendez-vous” e cabarés mais caros com as necessárias mulheres francesas e polacas. Quase tanto quanto a tuberculose, a sífilis impunha cuidados e cobrava seu preço aos moços desprevenidos. A cidade dispunha de seis precários hospitais e quatro médicos voltados ao atendimento público em igual número de postos de saúde. Por seu lado, o Departamento de Higiene, com 56 funcionários em todo o Estado e duas ambulâncias e seis carroças na Capital, pouco tinha a oferecer. Os médicos mais renomados – Sarmento Leite, Mário Totta, Jacinto Gomes, Ivo Corseuil, Landell de Moura e Protásio Alves, hoje nomes de ruas e avenidas – dividiam-se entre a clínica estabelecida e o atendimento familiar a domicílio.Os portoalegrenses abastados, contudo, tratavam-se em casa, evitando a promiscuidade, a sordidez, as infecções e a imundície dos quartos da Santa Casa, “um atentado à higiene”, na descrição do doutor Mário Totta. Fiel ao imaginário da época e às noções da medicina do início do século, as mães fortificavam e depuravam seus filhos com Emulsão de Scott e óleo de rícino, reputação milagrosa e restauradora dividida com os “banhos de mar” (naquele ano inaugurava-se o “luxuoso” balneário do Cassino), e os bons ares da serra e do litoral, embora todo o cuidado fosse pouco para evitar-se os mortíferos “golpes de ar”.Na última semana de outubro esta simplória Porto Alegre transformou-se subitamente em uma cidade enferma. Nem mesmo os esforços irritantes e patéticos do Governo positivista de Borges de Medeiros, para o qual não havia motivos de alarma ou pânico, já que a gripe, a princípio, não mostrava-se tão virulentamente fatal, evitaram que a população se apercebesse claramente da extensão da epidemia: chegara à cidade a peste que viera da Europa.De súbito, hordas de populares aglomeraram-se às portas das farmácias, disputando toda espécie de medicamentos indicados para a prevenção da doença, em especial o quinino, que havia se mostrado eficaz em outras ocasiões. Os estoques do produto, de purgantes, de óleo de rícino e mesmo as sortidas de limão e pencas de cebola vendido nas feiras e armazéns sumiram do mercado ou encareceram de forma exorbitante. Os balconistas das farmácias – aqueles que mantinham-se de pé - não descansavam um só instante. Hospitais como a Santa Casa de Misericórdia – abrigando um terço dos doentes do Estado – recebiam levas de novos pacientes, acomodados à maneira possível. À falta de leitos improvisavam-se toscas enfermarias e o Governo – finalmente reconhecendo a situação mas fugindo à sua real extensão e gravidade – passou a organizar hospitais improvisados e equipes de emergência para percorrer as residências e levar assistência médica à população pobre.Recomendava-se, a princípio, cama, higiene e repouso, além de limpar a boca e as fossas nasais várias vezes ao dia com uma lavagem de água e sabão, sem esquecer dos proverbiais gargarejos com água oxigenada ou boricada. Os portoalegrenses, no entanto, apelavam para tudo que estivesse ou não estivesse à mão – chá de eucalipto, cachaça com mel e limão, aspirina, suco de cebola, vinho, caldo de galinha, purgantes, infusões, preces, benzimentos, promessas, talismãs. O uso abusivo do quinino não raro causava intoxicações, com prejuízos irreparáveis à audição e à visão. Charlatões, curandeiros e vivaldinos encontravam terreno fértil para a venda dos mais bizarros produtos ou receitas: pílulas, chocolates, filtros de água e até cigarros que “preveniam ou afastavam o mal”.A partir de 21 de outubro haviam sido registrados os primeiros óbitos. Os jornais da Capital, habitualmente voltado à cobertura da Grande Guerra e aos acontecimentos políticos no Rio de Janeiro, abriram suas páginas para a evolução da “peste”. No início de novembro informava-se que a Escolha de Engenharia, o colégio Sevigné, o colégio Militar, Ginásio Anchieta e outros estabelecimentos de ensino da cidade haviam decidido suspender as aulas e adiar os exames finais. Sem movimento de público, o comércio e as repartições fechavam suas portas e os teatros e os cinemas comunicavam a suspensão dos espetáculos. Na tradicional Confeitaria Rocco a maioria dos empregados caíra doente.
CIDADE TINHA "ASPECTO FÚNEBRE" - Na Livraria do Globo 62 funcionários contraíram a influenza e o Correio do Povo passou diariamente a oferecer vagas de entregador em substituição àqueles que iam sendo atingidos pela epidemia. O “turbilhão’ da rua da Praia deu lugar a calçadas vazias. Sem carteiros, os Correios suspenderam as entregas e a Companhia telefônica, desfalcada de 285 funcionários, pediu à população que só fizesse uso do telefone em caso de extrema urgência. Os guardas desapareceram das esquinas, os horários dos bondes foram suspensos ou adiados, a Assembléia Legislativa cancelou as suas sessões ordinárias. A Companhia Força e Luz ficou sem foguistas. Todos se recolhiam mais cedo, evitando contatos.“A cidade tem durante o dia um aspecto doloroso e à noite este aumenta, tornando-se fúnebre. Raro é o transeunte que anda. Os cafés, os bares, tudo escuro, dando à Capital a forma de uma cidade morta e sem vida”, escreveu o jornal O Independente em seu número de primeiro de novembro.Temendo o contágio ou já atingidos pela doença, até os costumeiros leiteiros que vinham da periferia deixaram de vender o produto às portas das residências.À aproximação do feriado de Finados, as autoridades alertavam as pessoas para que não fossem aos cemitérios, a fim de evitar aglomerações e o possível contágio. Inicialmente pensou-se que o vírus pudesse ser transmitido pela água, ou até mesmo pelo ar.“O pavor coletivo, o alarma social, se está tornando mais grave do que a própria epidemia. Alguns suicídios o demonstram”, escrevia o jornal A Federação, vinculado ao governo de Borges de Medeiros. O Dr. Mário Totta advertia: “Em todas as epidemias são justamente os que mais medo têm são os que mais depressa são levados de lufada”. Os padres oficiavam missas, pedindo a Deus o afastamento da “peste”, os clubes decidiram suspender as partidas de futebol e nas páginas dos jornais surgiam anúncios de remédios miraculosos contra a doença.Já as autoridades municipais e estaduais insistiam em pedir calma à população, ao mesmo tempo em que apregoavam que a situação estava sob controle e que a epidemia já mostrava sinais de refluxo. “Povo! Não devemos entregar-nos à morte, sem nada fazer pela vida: devemos esforçar-nos para combater o mal”, concitava o boletim da União Metalúrgica distribuído à população.Em sua edição de 5 de novembro a revista Máscara insistia na tese de que o pior já passara e que dentro em breve a cidade voltaria à normalidade.“E esqueçamos...“Conforme previmos em nosso número passado, a epidemia entrou em declínio em princípios desta semana. As notas fornecidas pela Diretoria de Higiene da imprensa foram sempre as mais animadoras, o que faz supor a estas horas que os casos novos da gripe sejam raros. E agora, que tudo promete voltar à normalidade, agora que a nossa cidade lembra um hospital, tal é o número de convalescentes que se arrastam pelas calçadas, com as faces cavadas e pálidas, os olhos fundos e abatidos, agora que um frisson de vitória abafa a nossa alma, mesmo os que fremem em corpos combalidos, e nosso dever afastar o mais possível da recordação popular esses tristíssimos dias de angústia e sobreexcitação nervosa a fim de que possamos beber novamente a grandes haustos a vida que o “anjo da paz ‘ promete dulcificar.(...)”A realidade, contudo, revelava-se bem diferente, e a própria imprensa tornaria a adotar tons sombrios. A 9 de novembro o Correio do povo noticia: “Das 18 horas de ante hontem às 18 horas de hontem foram registrados nesta Capital 32 óbitos de pessoas que faleceram em consequência da “influenza hespanhola”.Na lista dos falecidos “em domicílio” constavam pessoas de todas as idades e moradores das principais ruas da cidade: Juvenal Faria Dias, de 29 anos, residente à rua General Auto, 35; Sabina Antonia da Silva, 50 anos, moradora do número 123 da rua José de Alencar; Angela Teixeira Nunes, da rua Ramiro Barcelos, 133, "menina Catharina, filha de Ariosto Menezes, rua Lima e Silva, 147-B; Jorge Anto, residente no Hotel Lagache; Rubens Santos, de 32 anos, morador da rua Aquidaban, 9; “menino Alziro”, filho de Frederico Castro, com endereço à rua Santa Luíza, 66; Antonio Monteiro, morador da rua Moinhos de Vento, 70; Antonieta Rabello Gorfmann, residente à rua Fernandes Vieira, 36; Bibiana Rodrigues, 20 anos, “mixta, solteira, residente à rua Santana, 7”. Na edição do dia 11 a lista incluía, dentre os óbitos em domicílio, os seguintes nomes: Carlos Albuquerque, 52 anos, residente à rua Andrade Neves, 6; Carlos Haesbaeri, 39 anos, morador da rua Garibaldi, 32; Dante Matteoli, 17 anos, rua Castro Alves, 156; Mathilde de Michaelsen Wolff, 43 anos, da rua General Vitorino, 13. Na mesma data nominava-se a ocorrência de novos casos da doença: “Ontem enfermaram sete pessoas da família do major Edmundo Arnt; a exma. Esposa do Dr. Joaquim Gaffrée; o Dr. Gaspar Saldanha, sua senhora e três filhos; sete pessoas da família do major Labieno Jobim; “o nosso colega Lourival Cunha, da Kodak”(revista); as senhoritas Aracy, Júlia, Odette e Nayr Bacellar, filhas do capitão Bacellar Júnior”.Uma pequena nota, vinda de Buenos Aires, onde também grassava a gripe, informava de uma campanha de combate às moscas – “veículo de imundícies de toda espécie e transmissora de várias moléstias”- desencadeada pelas autoridades portenhas junto à população.
A GRIPE ATRÁS DAS GRADES - Dos mais de 600 detentos da casa de Correção metade estava enferma, informava o Dr. Ivo Corseuil, médico da diretoria de Higiene. Nas residências, a gripe não poupava vítimas mais ilustres: o Dr. Jacinto Gomes, diretor da enfermaria de Gripados da Santa Casa de Misericórdia, contraíra a gripe e teve que ser substituído. No dia 10 de novembro o Correio do Povo, em sua coluna de necrologia, destacava o sepultamento de algumas figuras da sociedade portoalegrense:“Com grande acompanhamento, realizou-se ontem o enterro do doutor Álvaro Nunes Furtado, clínico residente, nesta capital, e que, como noticiamos, faleceu vitimado pela influenza hespanhola”. “Faleceu ontem, nesta capital, vitimado pela influenza hespanhola, o jovem Antenor Maciel Júnior, filho do tenente Antenor Maciel.“O infortunado jovem que, com bastante brilho, fazia o curso do Colégio Militar, deixa profunda saudade entre o grande número de seus colegas, no seio dos quais se fazia estimar.“Ele era natural de Uruguaiana, onde também contava com um grande círculo de relações.“O enterro, realizado ontem mesmo às 16 horas, esteve bastante concorrido, vendo-se sobre o caixão mortuário grande número de coroas”.Dia 13, uma quarta-feira, a Empresa de navegação Cahy comunicava a suspensão de todas as viagens ao longo do rio “visto a maior parte dos seu empregados estarem enfermos”. No mesmo dia um anúncio de rodapé, na capa do Correio do Povo, oferecia um novo e rápido serviço de impressão: “Nas oficinas desta folha apromptam-se com presteza convites para enterro”. Vários funcionários da casa – incluindo jornalistas – estavam enfermos.Da distante Europa vinham notícias mais alentadoras, publicadas pelo mesmo diário, e que repercutiam em todo o Estado, especialmente na região colonial italiana: fora assinado o armistício no dia 11 e a Grande Guerra que matara mais de 10 milhões de pessoas chegara ao seu final. A Itália estava entre os países vencedores.“Garibaldi, 12 – Esta vila está em festa com a notícia da assinatura do armistício com a Alemanha. Sobem ao ar girândolas de foguetes. Os sinos repicam. Bandas de música percorrem as ruas. Quase todas as casas estão embandeiradas. Reina grande alegria.”Os jornais noticiavam a derrota da Alemanha, a fuga do kaiser Guilherme II e, no Rio Grande do Sul, a influenza espanhola que, em vez de declinar, seguia em crescendo. Cortejos fúnebres de pessoas a pé, segurando os caixões aos ombros, cruzavam-se a caminho dos cemitérios, os coveiros trabalhavam sem interrupção, nas casas e cortiços improvisavam-se rápidos velórios. Prostrados e reclusos em seus barracos, os moradores mais pobres viravam-se como podiam em tais circunstâncias. Famílias inteiras adoeciam e os poucos em condições de caminhar percorriam quilômetros a pé para disputar os donativos distribuídos às portas de algumas instituições filantrópicas – igreja católica, maçonaria, centros espíritas.À peste somava-se agora a falta de alimentos e a especulação desenfreada dos preços praticada por comerciantes e aproveitadores. “Está tudo pela hora da morte”, constatou o jornal Gazeta do Povo em 11 de novembro. Leite e aves sumiram do mercado, a canja de galinha passou a custar os olhos da cara, a lenha para os fogões dobrou de preço e até os aluguéis dispararam. Os diários locais imploravam por entregadores, os médicos não dispunham de gasolina suficiente para abastecer seus carros e visitar os doentes mais distantes e as farmácias vendiam quinino e óleo de rícino como se fossem especiarias. A cadeia produtiva fora interrompida pela epidemia e a cidade, paralisada, não encontrava forças para reagir. O que havia em remédios e alimentos não bastava para uma época , sob todos os aspectos, absolutamente anormal.
AUTORIDADES CENSURARAM A IMPRENSA - A censura à imprensa imposta pelas autoridades estaduais(incomodadas pelas críticas à ineficiência e morosidade das medidas de combate à epidemia) a partir de primeiro de novembro não calava o pavor coletivo e – em evidente efeito contrário - só fazia aumentar os boatos a respeito da mortandade.O Correio do Povo que, assim como os demais veículos, recebera a ordem de não publicar a lista diária das vítimas da gripe, após informar da determinação aos seus leitores optara, em protesto, por deixar colunas em branco. Particularmente visado pela censura borgista, o jornal insistia em apontar as ineficiências e morosidades no combate à epidemia e as falhas no socorro à população mais pobre, que, a par da doença, sofria com a fome e da desassistência. Famílias inteiras estavam acamadas, sobrevivendo do pouco que ainda possuíam em casa. Os que encontravam forças de sair às ruas apelavam para os donativos – feijão, café, açúcar, banha – distribuídos pela Maçonaria, pela Federação Operária do Rio Grande do Sul ou por alguns comerciantes mais generosos ou em melhor situação financeira. O clima geral era de pânico.“O boato no Coração da Cidade“(...) Eu vi com estes olhos cinco mortos na rua dos Andradas, disseram-me que os coveiros cavam noite e dia as sepulturas; “Fulano(que está vivo e um poucochinho doente) acaba de morrer...” e outras e outras afirmações que só a polícia correcional podia evitar.“Desta forma andam pelas ruas, ilesos, os ‘boateiros”, explorando a situação enferma da cidade, acendendo perigo onde não existem(...)”( Máscara, 23 de novembro)A partir da segunda metade de novembro, descrente das autoridades, a população falava em centenas ou mesmo milhares de mortos diários. A epidemia fugia a qualquer controle e a relação dos óbitos fornecida pela Secretaria de Higiene voltou às páginas dos diários. Ignora-se contudo os falecimentos sem assistência médica, numerosos nos bairros pobres.Se até ali, de modo geral, a imprensa oficialista insistia no progressivo recuo da epidemia, atribuindo todas as culpas aos espíritos alarmistas e boateiros de plantão, a partir de quinta-feira, 14, tornou-se impossível mascarar a realidade visível, que, se não era tão terrível – afinal, não morria-se aos milhares - tampouco conferia com a versão das autoridades: entre as 18 horas de terça e as 18 horas de quarta-feira 34 pessoas haviam morrido em decorrência da influenza. Outras 24 faleceram sem assistência médica no mesmo período, totalizando 58 óbitos. No Domingo, 17, o Correio do Povo listaria mais 62 mortos nas últimas 24 horas, e, na terça, outros 49 óbitos entre o final da tarde de Sábado e o final da tarde de Domingo – o jornal não circulava às segundas.
Notícias enviadas pelos correspondentes do interior apontavam nos estragos que a espanhola estava causando em Passo Fundo, Santa Maria, Rio Grande, Pelotas, Arroio Grande, Tapes, São Gabriel, Encruzilhada, Carlos Barbosa, Rio Pardo, Taquari, Cruz Alta, Ijuí. Em Quaraí lamentava-se o suicídio do comandante do Sétimo Regimento de Cavalaria, que desferiu um tiro de revólver contra a própria cabeça. O major, informou o correspondente, “se achava doente, atacado de forte neurastenia, tendo ficado muito impressionado com o número de soldados enfermos na unidade que comandava, e ainda pela falta de recursos”. Cacequi, noticiava o jornal, “está transformada num vasto hospital. Há ali um número superior a 150 doentes, não havendo sequer uma pequena farmácia de campanha”. Em cada local a intensidade do surto epidêmico variava de acordo com as condições sanitárias, a densidade populacional e o clima, muito embora praticamente nenhum município do Estado tenha escapado ao flagelo.Confundido inicialmente com o tifo, o vírus mutante da influenza gerava infecções bacterianas e punha em evidência moléstias latentes em cada organismo, afetando em especial os cardíacos, os asmáticos e os fracos de pulmão. A moléstia ia e vinha, com melhoras e recaídas. Para curá-la recomendava-se tão somente o repouso, a assepsia, quinino, purgantes e bons ares.
DE REPENTE ELA FOI EMBORA - Quase tão repentinamente como havia chegado, sem aviso, sem lógica ou explicação, a epidemia rapidamente declinou no final do mês de novembro. No dia 21, Quinta-feira, os diários da Capital já falavam em seu progressivo recuo. A reabertura de muitas lojas no centro, a crescente afluência de transeuntes às calçadas antes desertas, a volta dos rangidos dos bondes e dos apitos dos guardas de trânsito refletiam as estatísticas do Departamento de Higiene – números reais, desta vez: os casos novos eram cada vez mais raros e a mortandade estava em queda livre.O Club Monte Carlos, o Brazil Club e o Clube dos Caçadores voltaram a funcionar. O teatro Apolo apresentava, aqueles dias, em matiné, episódios de a “Garra de Ferro”, em oito atos e, à noite, “uma grandiosa obra americana em sete belíssimos atos: New York.”. Na terça-feira, 26, reabriram suas portas o cine-teatro Coliseu e o Petit Casino. O Hipódromo do Moinhos de Vento também anunciava o retorno das atividades.Na Sexta-feira os jornais noticiaram apenas 8 óbitos e a 3 de dezembro as autoridades informaram não ter conhecimento de novos casos de influenza espanhola. Na mesma data um pequeno anúncio publicado na capa do Correio do Povo atestava o final da tempestade.“Leitaria“Previno a minha distinta freguesia que reabri minha leitaria pelo nome Barroza Número 4. O motivo de estar fechada foi meu empregado estar doente”.Em poucos dias reabriram-se as repartições públicas, os principais colégios chamaram de volta alunos, funcionários e professores, os cafés do centro festejavam a volta da velha clientela e a rua da Praia foi novamente tomada por moças e rapazes ao final do dia. No dia 29 apenas 8 óbitos foram registrados nas últimas 24 horas e, finalmente, a 3 de dezembro, a Diretoria de Higiene afirmou não ter conhecimento de nenhum novo caso da doença - as mortes registradas diziam respeito aos já infectados.Notícias alvissareiras vinham do interior do Estado e, a exemplo do que faziam antes da peste, os jornais direcionavam novamente suas atenções aos informes vindos da Europa, à fuga do Kaiser e a redefinição das fronteiras nacionais no Velho Continente. Os correspondentes do Correio do Povo já expressavam tons de otimismo.Durante 57 longos dias, sitiada pela doença, a capital gaúcha convivera com a morte de uma maneira jamais observada em sua História. As qualidades dos homens e mulheres, postas à prova, diferenciaram grupos, revelaram aproveitadores e heróis, contrastando à prática real cotidiana as propaladas boas intenções de muitos. Desse jogo de luz e sombra emergiram algumas verdades.“A hespanhola, de súbito, fez-nos ir até essas pobres vítimas da fome e da indigência, quando não no-los trouxe até as nossas portas”, reconheceu a elegante revista Máscara( “Os Nossos Pobres”, 23.11.1918), ao comentar a procissão sombria de homens e mulheres fracos e famintos que vinham dos subúrbios da cidade “com as faces covadas e pálidas, os olhos fundos, se arrastando pelas calçadas”.Foram eles – cidadãos anônimos, desempregados, operários, comerciários, biscateiros, moradores dos bairros São João, Navegantes, Colônia Africana, no Quarto Distrito - as principais vítimas da influenza espanhola.No tocante ao total de óbitos, a historiadora Janete Silveira Abrão – autora da(infelizmente pouco conhecida) dissertação de Mestrado do curso de pós-graduação em História do Brasil do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica, “Banalização da Morte na Cidade Calada: a Hespanhola em Porto Alegre, 1918(Edipucrs, 1995), tese universitária transformada em livro – observa: “Todavia é impossível precisar as taxas de morbidade e de mortalidade ocorridas, visto que muitos casos não foram notificados pelas autoridades sanitárias”.Oficialmente foram 1316 óbitos em Porto Alegres causados pela influenza, dos quais 1209 na cidade e o restante na zona rural. Ainda segundo as estatísticas oficiais, até 31 de dezembro de 1918 a gripe matara 3971 pessoas em todo o Estado. Somente em Rio Grande morreram 343, em Pelotas 321, em Bagé 191, em Cruz Alta 132 e em Itaqui, 40.Algo parece certo: são números “chutados” e nunca se soube e jamais se saberá efetivamente o número exato, ou mesmo aproximado, das vítimas causadas pela gripe espanhola de 1918. Dois mil? Quatro mil? Cinco mil? Se as estatísticas oficiais falam em cerca de 70 mil infectados - “talvez abaixo da realidade”, nas palavras de Protásio Alves - e pouco mais de 1300 mortos em todo o município de Porto Alegre podemos, sem temor ao exagero, somar a isso um número impreciso de óbitos não contabilizados que aconteceram longe das vistas das autoridades sanitárias, em casebres, cortiços ou em esquecidas casinhas da zona rural, sem contar os enterros clandestinos – comuns a uma época em que os recém nascidos tornavam-se adultos sem portar qualquer documento. Alia-se a isso o fato de que somente aqueles aos quais os médicos reconheciam a morte em função da epidemia eram inclusos nas listas dos vitimados pela peste, excluindo-se destas quem falecia - de acordo com o ponto de vista médico - de outras causas: doenças cardíacas ou tuberculose, para citarmos dois exemplos que no entanto poderiam ter sua origem no vírus da própria gripe.Segundo a historiadora Janete, um simples cotejar dos dados oficiais do período demonstra números subestimados: o Livro de Óbitos da Santa Casa de Misericórdia registrou, de 21 de outubro de 1918 a 11 de janeiro de 1919 2420 mortes e o Departamento de Higiene do Rio Grande do Sul contabilizou naquele ano 30.219 falecimentos no Estado. Nos últimos três meses de 1918, aconteceram 12.811 óbitos, dos quais 5840 na Capital. Ainda segundo o Governo, 42% das mortes decorreram de moléstias transmissíveis.Porém, passado o furacão, no início do verão de 1918/19, poucos queriam voltar os olhos às dores passadas. Epidemias vinham e iam, estar vivo e era o que contava e tentava-se a todo custo recuperar a alegria e o tempo perdidos. A gripe, todavia, ainda não morrera em definitivo. Depois de abandonar Porto Alegre e outras cidades às quais chegara de forma quase simultânea, dirigiu-se em seguida às localidades da Serra e lá fez mais uma nova legião de vítimas. Dela, contudo, já se falara muito, e a ordem era esquecer.Dava-se início ao período de festas de final de ano. Alinhados no clube do Jocotó e centrados na figura do doutor Mário Totta – médico e bom vivant - com alívio redobrado, homens e mulheres da sociedade portoalegrense reencontrava-se agora nos elegantes saraus do arrabalde da Tristeza. Ali, à beira do Guaíba, embalados por orquestras típicas especialmente contratadas, em meio a barulhentas batalhas de confetes, poucos lembravam da epidemia que, sozinha e silenciosa, em menos de dois meses fizera mais vítimas do que todos os combates da Grande Guerra e causara a todos um prejuízo econômico dificilmente mensurável.Em “Solo de Clarineta”- primeiro volume de suas memórias(1974), Érico Veríssimo recorda:“Em 1918 a influenza espanhola atirou na cama mais da metade da população de Cruz Alta, matando algumas dezenas de pessoas. Não se dignou, porém, contaminar-me. Lembro-me da tristeza de nossas ruas quase desertas durante o tempo que durou a epidemia, e dos dias de calor daquele dramático novembro bochornoso. Era como se os próprios dias, as pedras, a cidade inteira estivessem amolentados pela febre. A escola achava-se em recesso e eu podia passar dias inteiros a ler romances.(...) Foi durante a influenza em 1918 que li pela primeira vez Eça de Queirós (Os Maias), Dostoiévski (Recordações da Casa dos Mortos e Crime e Castigo).(...) Passada a epidemia a cidade entrou em lânguida e trêmula convalescença.”Tardiamente, quando tudo parecia encerrado, em janeiro de 1919, a “influenza hespanhola” faria a sua vítima mais ilustre em terras brasileiras: o presidente eleito Rodrigues Alves, que já havia exercido este mandato de 1902 a 1906, período em que incumbiu Osvaldo Cruz de sanear o Rio de Janeiro e livrá-lo da febre amarela, morreu justamente deste mal que vacina nenhuma conseguiu evitar e que em poucos meses matou mais do que todos os combates da Primeira Grande Guerra.A Influenza Espanhola foi a última grande epidemia globalizada com altíssimo poder de contágio e mortandade da História mundial. Para a capital do Rio Grande do Sul teve, ao menos, um efeito benéfico – a partir daí passou-se a dar atenção à qualidade da água servida à população, com a construção de uma grande hidráulica ainda no governo de José Montaury.

Fatos e aniversariantes do dia 1 de Fevereiro

Hoje nasceram Clark Gable, Boris Yeltsin, a Princesa Stepanie de Mônaco, a apresentadora Adriana Lessa, o jogador Batistuta.














Clark Gable nasceu em 1º de fevereiro de 1901. Começou a trabalhar no cinema em papéis insignificantes, até se destacar no romance Alma Livre, de 1931. Em 1940, E o Vento Levou..., protagonizado por ele, ganhou 10 Oscar, dando grande popularidade e sucesso ao ator.





1852 - Honduras e El Salvador, que haviam invadido a Guatemala, são derrotados na batalha da Arada.1871 - Morre Alejandro Nicolás Serov, compositor russo.





1895 - Nasce John Ford, diretor norte-americano de cinema.





1896 - Nasce Anastasio Somoza, duas vezes presidente da Nicarágua.





1901 - Nace Clark Gable, ator norte-americano de cinema.





1905 - Aparece em Buenos Aires o primeiro número de El Diario Español, jornal dirigido por Justo S. López de Gomara.





1924 - Começa a guerra civil em Honduras.





1931 - Nasce Boris Yeltsin, presidente da Federação Russa.





1932 - Pu Yi, ex-imperador da China, proclama o estado independente da Manchúria, com o apoio das forças japonesas.





1938 - Morre Armando Palacio Valdés, escritor espanhol.





1940 - Segunda Guerra Mundial: as tropas soviéticas desencadeiam, de surpresa, uma ofensiva contra a Finlândia na região de Summa.





1944 - Morre Piet Mondrian, pintor holandês.





1946 - Proclamação da República da Hungria.





1953 - Um diluvio de vários dias e fortes ventos fazem a maré subir. Vários diques foram rompidos, provocando as inundações mais trágicas da história da Holanda, causando a morte de 1.835 pessoas e ferindo outras 300 mil.





1958 - No Cairo, a República Árabe Unida é constituída por Egito e Síria, dissolvida em 1961.





1961 - Os Estados Unidos lançam o "Minuteman", primeiro míssil intercontinental com carburante sólido.





1965 - Nasce Stephanie Grimaldi, princesa de Monaco.





1970 - Um choque de trens na Argentina, 35 quilômetros ao norte de Buenos Aires, deixa 141 mortos e 500 feridos.





1974 - Um incêndio em um dos prédios mais altos de São Paulo deixa 200 mortos.





1985 - Uma nova moeda é posta em circulação no Peru: o "inti".





1991 - Um terremoto de 6,8 graus na escala Richter sacode o norte do Paquistão e deixa mais de 300 mortos e 500 feridos.





1993 - Entra em vigor um acordo que prevê uma zona de livre comércio entre Equador e Venezuela.





1995 - O FMI aprova um empréstimo de US$ 17,8 bilhões para o México, sem precedentes na história.





1999 - O primeiro ministro da Moldávia, Ion Ciubuc, se demite.
Redação Terra

sábado, janeiro 31, 2009

Batalha de Stalingrado: o heroísmo soviético


Forças
+600.000
500.000 (incluindo 300.000 alemães)
Baixas
750.000 soldados(mortos feridos ou prisioneiros)cerca de 40.000 civis mortos
740.000 soldados(mortos e feridos)110.000 prisioneiros

Batalha de Stalingrado (português brasileiro) ou Batalha de Estalinegrado (português europeu) foi o nome da operação militar conduzida pelos alemães e seus aliados contra as forças russas pela posse da cidade de Stalingrado, às margens do rio Volga, na antiga União Soviética, entre 17 de julho de 1942 e 2 de fevereiro de 1943, durante a II Guerra Mundial.[1] A batalha foi o ponto de virada na frente leste da guerra, marcando o limite da expansão alemã no território soviético e é considerada a maior e mais sangrenta batalha de toda a História, causando a morte e ferimentos em cerca de 1,5 milhão de soldados e civis.
Marcada por sua extrema brutalidade e desinteresse pelas perdas militares e civis de ambos os lados, a ofensiva alemã sobre a cidade de Stalingrado, a batalha dentro da cidade e a contra-ofensiva soviética que cercou e destruiu todo o 6º Exército alemão e outras forças do Eixo, foi a segunda derrota em larga escala da Alemanha nazista na II Guerra Mundial e a mais decisiva; a partir daí, a ofensiva passou totalmente para as mãos dos soviéticos até a vitória final contra o Terceiro Reich, em 8 de maio de 1945.
Até 1925, Stalingrado ou Estalinegrado, chamava-se Tsaritsyn, e desde 1961 tem o nome de Volgogrado.


A invasão da URSS
A 22 de junho 1941, a Alemanha e os seus aliados do Eixo invadiram a União Soviética, na chamada Operação Barbarossa, avançando lentamente para dentro de território soviético. Sofrendo derrota após derrota no verão e no inverno de 1941, as forças soviéticas contra-atacaram em larga escala nos portões da capital do país, na chamada Batalha de Moscou, iniciada a 5 de dezembro de 1941. Os alemães, exaustos, com problemas de reposição logística (a maioria das Divisões Panzer estava com a maior parte de seus carros de combate inoperantes) e ainda, com a tropa mal equipada para a guerra no inverno e com as linhas de suporte muito longas, acabaram sendo afastados das portas da cidade.
Os alemães estabilizaram sua frente de batalha na primavera de 1942. Apesar disso, as baixas da campanha de 1941 somadas às perdas de blindados e de material militar tornaram impossível a retomada de uma ofensiva em toda a frente oriental, obrigando Adolf Hitler a ter como ponto de partida uma ofensiva apenas setorial em 1942.
Planos para lançar uma segunda ofensiva contra Moscou foram rejeitados, não apenas porque o Grupo Central do Exército estava demasiadamente enfraquecido para um ataque, mas, ainda, pela concepção de Hitler que um ataque na direção sudeste da URSS - (Ucrânia) - propiciaria vantagens econômicas (cereais e petróleo) favoráveis a um futuro prosseguimento da guerra. Os alemães mantiveram-se no controle, não obstante, de dois salientes nas proximidades de Moscou, de maneira a permitir um blefe que tornasse crível a possibilidade de uma nova ofensiva contra a capital russa.

Operação Azul
O Grupo de Exércitos Sul foi escolhido para a ofensiva pelas estepes do sudeste da União Soviética em direção ao Cáucaso, para capturar os vitais poços de petróleo ali situados. Ao invés de concentrar suas atenções num esforço final contra Moscou, como seus planejadores militares aconselhavam, Hitler continuou a enviar homens e suprimentos para o leste da Ucrânia.
A planejada ofensiva de verão deveria incluir o e o 17º Exército e o 1º e o 4º Exércitos Panzer. O Grupo Sul havia atravessado a Ucrânia durante a ofensiva de 1941. Assim, seria a ponta de lança da nova ofensiva até o Volga.
O início da chamada Operação Azul estava previsto para o fim de maio de 1942. Entretanto, numerosas unidades dos exércitos alemão e romeno que deveriam fazer parte da operação, ainda estavam envolvidas no cerco de Sebastopol e da península da Criméia. Atrasos em terminar o cerco adiaram a data da operação por várias vezes e Sebastopol não caiu até o fim de junho.
A ofensiva finalmente foi iniciada em 28 de junho, com o Grupo Sul atacando no sudoeste da Rússia. Os ataques foram bem sucedidos no começo, com as forças soviéticas oferecendo pouca resistência na vastidão das estepes e recuando para leste em desordem. Várias tentativas de restabelecer uma linha defensiva fracassaram ao serem atacadas nos flancos pelas forças alemãs. Dois grandes bolsões de resistência se formaram e foram destruídos na semana seguinte, ao nordeste de Kharkov e na província de Rostov. Ao mesmo tempo, forças húngaras, junto com o 4º Exército Panzer, lançaram um assalto a Voronej, capturando a cidade em 5 de julho de 1942.
No fim de julho os alemães haviam empurrado os soviéticos para trás do rio Don e nesse ponto da ofensiva eles começaram a utilizar as forças italianas, húngaras e romenas, suas aliadas do Eixo, para guardar seu flanco norte. O 6º Exército alemão encontrava-se então a algumas dezenas de quilômetros de Stalingrado e o 4º Panzer, que atacava ao sul dele, foi direcionado ao norte para ajudar a tomar a cidade. Mais ao sul, o Grupo de Exércitos A entrava fundo no Cáucaso, mas seu avanço se tornava lento devido à extensão das linhas de suprimento que, não acompanhando a velocidade do avanço, não chegavam a linha de frente com a rapidez necessária. Os dois grupos de exército alemães não estavam em posição nem em condições de ajudarem um ao outro devido à grande distância entre eles.
Com as intenções de Hitler se tornando claras pelo fim de julho, Josef Stalin nomeou o marechal Andrei Yeremenko comandante da frente sudeste em 1 de agosto de 1942. Yeremenko e o comissário político Nikita Kruschev foram encarregados do planejamento da defesa de Stalingrado. O lado leste da cidade se estendia ao longo do rio Volga e por sobre o rio os soviéticos trouxeram mais tropas do interior do país para sua defesa. Todas estas unidades combinadas, as que recuavam e os reforços trazidos pelo rio, formaram o 62º Exército soviético e seu comando foi entregue ao general Vassili Chuikov em 1 de setembro. As ordens de Chuikov foram as de defender Stalingrado a qualquer preço.

O começo da batalha
Antes que a Wehrmacht alcance a cidade propriamente dita, a Luftwaffe havia atacado no rio Volga, via vital para o movimento de suprimentos em direção à cidade, deixando-o praticamente inutilizável para a navegação de barcos soviéticos. Entre 25 e 31 de julho, 32 navios e balsas foram afundados no rio. A batalha começou sob pesado bombardeio da força aérea alemã a Stalingrado, com cerca de 1000 toneladas de bombas jogadas sobre a cidade e seus arredores, transformando-a quase em destroços, apesar de algumas estruturas de fábricas ainda sobreviverem e continuarem sua produção de guerra em turnos de 24 horas.
Stalin havia impedido os civis de deixarem o lugar, sob a premissa de que sua presença ali encorajaria ainda mais as forças soviéticas a defenderem-na, sendo postos a ajudar cavando trincheiras e fortificações defensivas em todo o perímetro urbano. Em 23 de agosto, um forte bombardeio aéreo causou um grande incêndio, matando milhares de civis e transformando Stalingrado numa paisagem de repleta de destroços e ruínas fumegantes. Noventa por cento do bairro de Voroshilovsky foi totalmente destruído.
A impotente força aérea soviética foi esmagada pela Luftwaffe, perdendo 201 aviões no período de uma semana no fim de agosto. Apesar de reforços aéreos trazidos, as perdas continuaram grandes durante o mês de setembro, fazendo com que a força aérea alemã tivesse o domínio completo dos céus sobre Stalingrado e regiões próximas, durante as primeiras semanas de combate.

O ataque alemão

O peso da defesa inicial da cidade caiu em cima de um regimento de artilharia antiaérea, composto por jovens mulheres voluntárias, sem treinamento específico de tiro para alvos terrestres. Apesar disto, e sem nenhum apoio de outras unidades soviéticas, suas atiradoras continuaram em seus postos disparando contra os tanques panzers. O comando da divisão panzer que as enfrentou, comunicou que foi necessário eliminar uma a uma até que todas as baterias estivessem destruídas. Neste começo da batalha, os soviéticos se valeram para de milícias de trabalhadores que não estivessem diretamente envolvidos na produção de guerra. Por algum tempo, tanques continuaram a ser produzidos nas fábricas e a ser tripulados por operários. Eles eram transportados direto da fábrica para a frente de combate, muitas vezes sem pintura nem aparelho de mira do canhão.
No fim de agosto, o Grupo de Exércitos Sul (B) havia finalmente atingido o Volga, ao norte de Stalingrado, seguido de outro avanço pelo rio até o sul da cidade. No começo de setembro, os soviéticos podiam apenas reforçar e realimentar suas tropas dentro da cidade por perigosos caminhos ao longo do Volga, sob constante bombardeio aéreo e de artilharia terrestre alemã. Em 5 de setembro, dois exércitos soviéticos organizaram um ataque maciço contra o Panzerkorps – as divisões blindadas nazistas, mas foram contidos pela Luftwaffe, que bombardeou a artilharia soviética de apoio ao ataque e as linhas defensivas. Dos 120 tanques usados na ofensiva, 30 foram perdidos nos bombardeios. Nos dias seguintes, ataques de Stukas alemães ajudaram a destruir mais tanques russos da contra-ofensiva blindada soviética.

Combate no meio das ruínas.
Na cidade em ruínas, dois exércitos russos estabeleceram suas linhas de defesa entre casas e fábricas destruídas, numa luta dura e desesperada. A expectativa de vida de praças recém-chegados à batalha era de menos de 24 horas e a dos oficiais, três dias. Em 27 de julho, Stalin havia baixado uma ordem geral, Nº 227, decretando que todos os comandantes locais que ordenassem uma retirada não-autorizada em sua área devessem ser levados imediatamente a um tribunal militar. O slogan soviético era: "Nem um passo atrás". Isto fez com que o avanço alemão para dentro de Stalingrado lhes custasse pesadas baixas.
A doutrina militar alemã era baseada no principio do combate com forças armadas combinadas e uma cooperação próxima e conjunta dos blindados, infantaria, engenharia, artilharia e bombardeio aéreo do solo inimigo. Para conter isto, os soviéticos adotaram a tática de simplesmente se colocar nas linhas de frente o mais próximo que fosse fisicamente possível, escapando o máximo que pudesse da artilharia e bombardeios aéreos, geralmente feitos às suas costas. Isto fazia com que as tropas alemãs tivessem que avançar por seu próprio risco num combate corpo a corpo. Combates cruéis aconteciam em cada rua, sótão, fábrica ou porão de cada casa ou construção. Os alemães brincavam amargamente com isso, ao dizerem que capturavam uma cozinha, mas ainda lutavam na sala de estar. A estação de trem de Stalingrado mudou de mãos quatorze vezes em seis horas de combates.

Combates corpo-a-corpo
A luta na proeminente colina Mamayev Kurgan, que se ergue sobre a cidade, era particularmente sem piedade. A posição mudava de mãos diversas vezes. Durante um contra-ataque soviético, eles perderam uma divisão inteira de 10 mil homens num único dia, a 13ª Divisão de Guardas de Rifle, que matou número aproximado de inimigos alemães. Em 1944, durante o começo da restauração da cidade, dois corpos foram encontrados na colina, um alemão e um soviético, que, aparentemente haviam matado um ao outro simultaneamente a golpes de baioneta no peito e que haviam sido sepultados por tiros de artilharia na colina.
No Grain-Silo, um grande complexo de processamento de grãos encimado por uma grande silo, o combate era tão próximo que soldados podiam ouvir a respiração do inimigo lutando. Quando os alemães finalmente tomaram a posição, apenas quarenta corpos soviéticos foram encontrados, apensar do número muito maior de combatentes estimado por eles, devido a ferocidade e a demora do combate, que perdurou por semanas. Todos os grãos estocados foram queimados pelos soviéticos quando se retiraram.
Em outra parte da cidade, um pelotão de soldados sob o comando do sargento Yakov Pavlov, transformou um edifício de apartamentos numa fortaleza impenetrável. O prédio, mais tarde conhecido como a "Casa de Pavlov" dominava uma praça no centro da cidade. Seus soldados a cercaram com minas, montaram metralhadoras nas janelas e selaram as janelas no porão para melhor comunicação. Eles não tiveram substituição nem reforços por dois meses e agüentaram a posição até o fim do conflito. Muito tempo depois, o general Chuikov brincava que talvez mais alemães tenham morrido tentando capturar a Casa de Pavlov que tentando tomar Paris. Após cada onda de ataques, durante todo o segundo mês da batalha, os russos tinham que sair do prédio e chutar e empurrar as pilhas de corpos dos alemães mortos, de maneira a que a linha de tiro para a praça das metralhadoras e armas antitanques ficasse livre. Após a batalha, o sargento Pavlov recebeu a medalha e o título de Herói da União Soviética, maior condecoração militar da URSS, por sua bravura e heroísmo.
Sem possibilidade de vitória rápida à vista, os nazistas começaram a transferir artilharia pesada para a cidade, incluindo o gigantesco canhão de 800 mm, transportado por estrada de ferro, Dora. Os atacantes, entretanto, não fizeram grandes esforços para mandar tropas através do Volga, permitindo aos soviéticos instalar um grande número de baterias de artilharia ao longo do rio, que continuava a bombardear as posições alemãs. Os defensores, na cidade, usavam as ruínas resultantes destes bombardeios como posições de defesa. Os panzers se tornavam inúteis no meio de montes de destroços que chegavam a formavam pilhas de oito metros de altura e eram varridos pela artilharia antitanque inimiga.

Zaitsev em 1942.
Franco-atiradores soviéticos fizeram história na Batalha de Stalingrado, ao usarem as ruínas para infligir pesadas baixas entre as tropas alemãs. O mais bem sucedido e famoso deles – que viria a ter suas façanhas contadas em livros e filmes – foi Vasily Zaitsev. Zaitsev teve creditadas 242 mortes confirmadas durante a batalha e um total geral de mais de 300. Ele fixava uma mira Mosin-Nagant a um rifle antitanque de 20mm, que facilmente penetrava os capacetes dos alemães, causando dezenas de mortes por tiros certeiros na cabeça.
Tanto para Hitler quanto para Stalin, a posse de Stalingrado havia se transformado numa questão de prestígio além da significância estratégica da cidade. O comando soviético transferiu as forças do Exército Vermelho da área de Moscou para o baixo Volga e sua aviação de todo o resto do país para a cidade. A tensão dos dois comandantes militares inimigos era extrema: Friedrich Paulus, o comandante do 6º Exército alemão, desenvolveu um tique incontrolável nos olhos que afetava a face esquerda de seu rosto, enquanto Chuikov teve um eczema que fez com que fosse obrigado a cobrir suas mãos com bandagem o tempo todo.

Luftwaffe
Em outubro, determinada a quebrar a resistência soviética, a Luftwaffe, comandada pelo marechal-do-ar Wolfram von Richthofen, intensificou seus bombardeios com mais de duas mil saídas de missões em 14 de outubro de 1942, atacando as posições ao longo do rio, ao redor da cidade e na fábrica de tratores Dzherzhinskiy , local de uma resistência das mais encarniçadas de toda a batalha, matando centenas de soldados e dizimando regimentos inteiros. Nesta altura dos combates, a aviação soviética praticamente havia deixado de existir em Stalingrado e o 62º Exército, cortado em dois, havia sido paralisado pela interrupção nas linhas de suprimentos.
Como os soviéticos encurralados numa pequena faixa de 900m na margem oeste do Volga, mais de 1200 ataques de bombardeiros de mergulho Stuka foram feitos contra as tropas ali entrincheiradas, na tentativa dos alemães de finalmente eliminá-las. Apesar do forte bombardeio – Stalingrado foi mais bombardeada na guerra que Sedan ou Sebastopol – o 62º, resumido a 47 mil homens e 19 tanques, resistiu a todas as tentativas alemãs de tomar a margem oeste do rio.
A Luftwaffe continuou dominando os céus em novembro e a resistência aérea soviética durante o dia era inexistente, mas após dois meses de ataques, sua flotilha original de 1600 aeronaves havia sido reduzida para 950 aviões. A força de bombardeiros tinha sido duramente atingida, com 232 aviões sobreviventes de um total inicial de 480. Apesar de superioridade em qualidade contra os soviéticos e tendo a seu dispor 80% dos recursos da Luftwaffe na frente oriental, os alemães não puderam impedir o paulatino crescimento do poder aéreo do inimigo. Quando a contra-ofensiva começou, os soviéticos já tinham superioridade numérica sobre a Luftwaffe.
A força soviética de bombardeiros, Aviatsiya Dalnego Destviya (ADD), tendo sofrido pesadas baixas durante dezoito meses de guerra, estava limitada a voar à noite e seus ataques aos alemães nos primeiros dois meses da batalha causaram danos muito pequenos. Entretanto, a situação da Lufwaffe começava a ficar difícil. Em 8 de novembro, esquadrilhas foram retiradas da frente oriental para combater os desembarques norte-americanos no norte da África. A armada aérea alemã se viu espalhada através de toda a Europa e lutando para manter sua força em outros setores da guerra contra a URSS.
Após três meses de carnificina e de um avanço lento e custoso em vidas, os alemães finalmente atingiram as margens do rio, capturando 90% da cidade arruinada e dividindo as forças inimigas remanescentes em dois pequenos bolsões. Além disso, no começo do rigoroso inverno russo, blocos de gelo se acumulavam nas águas geladas do Volga, dificultando a navegação e o abastecimento das forças defensoras. Mas apesar de todas as dificuldades de logística e a inclemência do tempo, a luta continuava violenta nas encostas da colina Mamayev e dentro da área de fábricas na parte norte da cidade. As batalhas na fábrica de aço Outubro Vermelho, na fábrica de tratores e na fábrica de armamentos Barricada tornaram-se manchetes em todo o mundo. Enquanto os soldados soviéticos defendiam suas posições mantendo os alemães sob fogo, os operários reparavam os tanques e outros armamentos próximos ao campo de batalha, muitas vezes na própria linha de fogo. Estes civis também se apresentavam voluntariamente para tripular os tanques, substituindo os soldados mortos ou feridos, apesar de não terem nenhuma experiência em combate nem na operação destas armas de guerra.

A contra-ofensiva soviética
Reconhecendo que as tropas alemãs estavam mal preparadas para uma ofensiva durante o inverno, a Stavka - o comando das forças armadas - decidiu realizar uma contra-ofensiva geral na frente de Stalingrado, para aproveitar esta fraqueza temporária do inimigo.
A ofensiva alemã havia sido paralisada por uma combinação da violenta resistência do Exército Vermelho dentro da cidade com as péssimas condições climáticas. O planejamento da contra-ofensiva foi feito com táticas que viriam a encurralar e destruir o 6° Exército alemão e demais tropas do Eixo em torno de Stalingrado, tornando a batalha a segunda derrota em larga escala do Terceiro Reich na Segunda Guerra Mundial.
Durante o cerco, os comandos alemães, húngaros, italianos e romenos protegendo os flancos do Grupo de Exércitos B, haviam pedido apoio de tropas a seus quartéis-generais. O Segundo Exército Húngaro, consistindo em sua maioria de unidades mal equipadas e mal treinadas, tinha a missão de defender um setor de 200 km da frente norte de Stalingrado, entre o exército italiano e a cidade de Voronej. Isto resultou numa linha muito tênue de defesa em que setores de 1 a 2 km de extensão eram defendidos apenas por um pelotão. Da mesma maneira, no flanco sul do setor de Stalingrado, a frente sudoeste de Katelnikovo era guardada apenas pelo VII Corpo de Exército romeno.
Entretanto, Hitler estava tão obcecado em tomar a cidade, que os apelos para reforço dos flancos foram ignorados. O Führer clamava que a cidade seria capturada e os frágeis flancos seriam mantidos com o ardor patriótico do nacional-socialismo.

██ Avanço soviético
No outono, os generais soviéticos Aleksandr Vasilievsky e Georgy Zhukov, responsáveis pelos planos estratégicos na área de Stalingrado, concentraram maciças forças soviéticas nas estepes ao norte e ao sul de Stalingrado. O flanco norte dos alemães era particularmente vulnerável, já que era defendido apenas pelas tropas húngaras, romenas e italianas, com um nível de equipamento, treinamento e moral muito inferior às tropas da Wehrmacht. Esta fraqueza era conhecida e explorada pelos soviéticos, que preferiam enfrentar tropas não-alemãs sempre que possível, assim como os ingleses preferiam atacar as tropas italianas ao invés dos alemães do Afrika Korps, no norte da África.
O plano era manter os alemães lutando em Stalingrado e então atacar os flancos guarnecidos pela outras tropas do Eixo com todas as forças e fechar os alemães dentro da cidade. Durante os preparativos para a ofensiva, o marechal Zhukov visitou pessoalmente a frente, o que era raro para um general soviético de tão alta patente. A operação recebeu o nome-código de Uranus.
Em 19 de novembro, o comando do Exército Vermelho lançou a Operação Uranus. As forças soviéticas atacantes consistiam de três de exércitos completos, compostos de dezoito divisões de infantaria, oito brigadas de tanques, duas brigadas motorizadas, seis divisões de cavalaria e uma brigada antitanques. Os preparativos do ataque puderam ser ouvidos pelos romenos, que pediam reforços a seu comando insistentemente, sempre recusados. Mal equipado e em pouco número, disperso em linhas frágeis e finas de defesa, o III Exército romeno, que guardava o flanco norte do 6º Exército alemão, foi esmagado pelos atacantes.
No dia 20, os soviéticos lançaram outro ataque, desta vez ao sul da cidade, contra o IV Corpo de exército romeno, composto em sua maioria apenas de tropas de infantaria, que foi destruído quase imediatamente. Os atacantes, ao sul e ao norte, se movimentaram rapidamente em forma de pinça e dois dias depois se encontraram em Kalach, cidade a cerca de 50 km de Stalingrado. O exército alemão estava cercado e a notícia alcançou repercussão mundial.

O bolsão
Por causa dos ataques soviéticos, cerca de 230.000 soldados alemães e romenos - além de um regimento de infantaria da Croácia, o 369º, se viram cercados dentro do bolsão. Dentro do cerco, além dos soldados inimigos se encontravam mais de 10.000 civis e milhares de soldados soviéticos prisioneiros dos alemães, capturados durante a batalha. Os atacantes rapidamente estabeleceram dois fortes cinturões de defesa, um interno contra tentativas de fuga das tropas aprisionadas e outro externo, contra possíveis reforços vindos de outras regiões em poder dos alemães.
Adolf Hitler havia declarado, em discurso no fim de setembro, que jamais deixaria a cidade. Com a notícia do cerco, os comandantes do Exército o pressionaram para que autorizasse uma imediata retirada das tropas para o oeste do rio Don, mas Hitler, assegurado pelo comandante da Luftwaffe, Hermann Goering, de que Stalingrado podia ser abastecida e reforçada por uma ponte aérea que os permitiria continuar lutando até que reforços pudessem libertá-los, proibiu a retirada.
O comandante da 4º Frota Aérea da Luftwaffe (Luftflotte 4), von Richthofen, tentou fazer com que ele e Goering cancelassem essa decisão sem sucesso, sabedor da impossibilidade de meios para suprir um exército cercado de mais de 300 mil homens. O 6º Exército alemão era o maior exército do mundo naquela época da guerra, duas vezes maior que um exército alemão regular, em quantidade de soldados e equipamentos. Além dele, cercado, também se encontrava grande parte do 4º Exército Panzer, formado de blindados alemães. Suas necessidades básicas eram de 800 toneladas diárias e a frota aérea alemã só seria capaz de abastecê-los com menos de ¼ do necessário.Richtoffen sabia disso, mas apoiado na garantia de Goering, Hitler ordenou a resistência a qualquer custo. O 6º Exército seria abastecido por ar.

A ponte-aérea fracassou. Além das péssimas condições do tempo no rigoroso inverno russo, falhas técnicas, uma pesada artilharia antiaérea e interceptações de caças russos cada vez em maior número, levaram os alemães a perderem 488 aeronaves. Um média de 97 toneladas de suprimentos era descarregada diariamente, menos de oito vezes o necessário e por diversas vezes o carregamento que chegava era supérfluo ou inútil, como um avião que aterrissou com vinte toneladas de vodca e uniformes de verão. O transporte que conseguia pousar era utilizado para evacuar feridos, doentes e especialistas técnicos do enclave cercado – um total de 42 mil conseguiu ser evacuado.
O 6º Exército lentamente morria de fome. Pilotos ficavam chocados em constatar que soldados encarregados de descarregarem os aviões, muitas vezes não o conseguiam devido à fome e exaustão. As perdas para o grupo de transportes da Luftwaffe (Transportgruppen) foi pesada; 269 Junkers Ju 52 foram abatidos, um terço do total deles na frota aérea na frente oriental. A frota de Heinkel He 111 perdeu 169 de seus aviões; pior ainda, os alemães perderam perto de mil experientes tripulantes de bombardeiros, no esforço de manter de pé as tropas alemãs em Stalingrado. As perdas eram tão grandes que várias unidades aéreas alemães foram simplesmente dissolvidas.
As forças soviéticas consolidaram suas posições ao redor de Stalingrado e os esforços alemães para romper o bolsão começaram. Uma tentativa de romper o cerco do exército cercado no sul da cidade foi impedida em dezembro. O impacto do rigoroso inverno russo começou a fazer efeito em favor dos atacantes. O Volga congelou, o que permitiu aos soviéticos transportar suprimentos para suas forças em Stalingrado de maneira mais rápida e segura. Os alemães cercados rapidamente começaram a ficar sem combustível e suprimentos médicos e milhares começaram a morrer de fome, doenças, e congelamento.
Em 16 de dezembro os soviéticos lançaram uma segunda ofensiva, a Operação Saturno, que visava empurrar as forças do Eixo pelo Don e capturar Rostov. Se bem sucedido, este ataque cercaria todo o resto do Grupo de Exércitos Sul, um terço de todas as forças nazistas na União Soviética. Os alemães usaram a tática da ‘defesa móvel’, com pequenas unidades mantendo cidades até que o apoio blindado pudesse chegar. Os soviéticos nunca chegaram perto de Rostov, mas a luta obrigou o general Erich von Manstein a retirar o grupo de exércitos A do Cáucaso e restabelecer uma linha de frente a 250 kms da cidade.
A forças cercadas em Stalingrado estavam agora sem esperança de reforços mas as tropas desconheciam isso, acreditando que eles ainda se encontravam a caminho. Alguns oficiais do estado-maior do general Paulus solicitaram a seu comandante que ignorasse as ordens de Hitler e tentassem romper o bolsão de qualquer maneira, mas o general recusou, já que não concebia o pensamento de desobedecer a ordens superiores. Além disso, apesar do rompimento do cerco poder ter sido feito nas primeiras semanas, quando as tropas ainda teriam força para isso, os alemães não tinham combustível suficiente para a tarefa e seria praticamente impossível conseguir romper o cerco a pé.

A vitória soviética

Os alemães presos no cerco na área de Stalingrado se retiraram para os subúrbios da cidade. A perda de dois aeroportos, em janeiro, pôs um fim à ponte aérea e a evacuação de feridos. A partir daí não houve mais pousos da Luftwaffe em Stalingrado, que, entretanto, continuou a jogar sobre a parte da cidade ocupada por suas tropas, comida e munição até a rendição final. De qualquer maneira, mesmo com poucos meios, eles continuaram resistir, em parte por não querer cair prisioneiros nas mãos dos soviéticos, acreditando que seriam executados sumariamente. Em particular, os hiwis (voluntários soviéticos anticomunistas lutando ao lado dos alemães) não tinham a menor ilusão sobre seu destino se fossem capturados.
Os soviéticos, por seu lado, ficaram surpresos com o grande número de soldados que eles haviam cercado e tiveram que reforçar suas tropas no cerco. A guerra urbana recomeçou com fúria, mas desta vez eram os nazistas que eram empurrados para as margens do Volga. Eles fortificaram suas posições nos distritos industriais e os soviéticos encontraram a mesma dificuldade para desalojá-los, numa luta casa-a-casa, que haviam causado aos invasores no começo da batalha. Os alemães usaram uma defesa que consistia em fixar redes de arame na janela dos edifícios e casas onde se escondiam, para se proteger das granadas lançadas. Os soviéticos responderam fixando ganchos de anzol nas granadas, que prendiam nas redes e explodiam as janelas. Sem combustível, os tanques dos alemães eram inúteis na cidade, sendo usados como canhões imóveis, alvos fáceis para as armas antitanques soviéticas.
Em fins de janeiro, um enviado soviético fez uma oferta generosa aos sitiados levada pessoalmente ao general Paulus: caso os alemães se rendessem em 24 horas, eles receberiam garantias de vida para todos os prisioneiros de guerra, cuidados médicos para os feridos e doentes. Rações de comida normais e repatriação de prisioneiros para onde eles desejassem ao fim da guerra. Paulus, sob as ordens de Hitler de não se render, recusou a oferta, assegurando a total destruição do 6º Exército e o futuro calvário de seus sobreviventes.
Adolf Hitler promoveu Friedrich Paulus a marechal-de-campo em 30 de janeiro de 1943, o dia do décimo aniversário da sua ascensão ao poder na Alemanha. Como jamais um marechal alemão havia sido feito prisioneiro de guerra, Hitler supôs que com a promoção Paulus fosse lutar até a morte ou se suicidar, mas quando as forças soviéticas na cidade se aproximaram de seu quartel-general, num grande departamento de lojas, no dia seguinte, ele se rendeu. Os remanescentes do exército alemão renderam-se a 2 de fevereiro; 91 mil homens esfomeados, doentes e exaustos foram feitos prisioneiros, entre eles 22 generais, para comemoração dos soviéticos.

De acordo com o documentário alemão Stalingrad, cerca de 11 mil alemães e soldados do Eixo recusaram a rendição oficial, achando que lutar até a morte seria melhor que uma morte lenta no campos de concentração soviéticos. Estas forças continuaram a lutar em pequenas unidades até o começo de março de 1943, escondidos em porões e sótãos, com seu número diminuindo enquanto as tropas soviéticas iam fazendo a limpeza da cidade. De acordo com documentos mostrados no documentário, 2418 destes homens foram mortos e 8646 capturados.
Apenas 5 mil dos 91 mil prisioneiros de guerra alemães em Stalingrado sobreviveram ao cativeiro e retornaram para casa depois da guerra. Após a rendição, eles foram mandados para campos de trabalho por toda a União Soviética, doentes, sem cuidados médicos e com fome, e a grande maioria deles morreu de maus tratos, má nutrição e trabalhos forçados. Alguns oficiais mais graduados foram levados a Moscou e usados para propaganda antinazista e alguns deles fundaram o Comitê Nacional por uma Alemanha Livre. Alguns, incluindo Paulus, assinaram um discurso anti-Hitler que transmitido por rádio pelos soviéticos para as tropas alemãs na frente oriental. O general Walther von Seydlitz-Kurzbach ofereceu-se para formar um exército anti-Hitler com sobreviventes alemães de Stalingrado, mas a oferta não foi aceita pelos soviéticos; só em 1955 os últimos dos poucos combatentes restantes de Stalingrado foram repatriados para a Alemanha.
A opinião pública alemã não foi oficialmente informada do desastre até o fim de janeiro de 1943. Stalingrado não foi a primeira derrota nazista na guerra, nem a primeira grande derrota na história das forças armadas alemães, mas sua escala não tinha paralelo histórico até então. Alguns dias depois da rendição, em 16 de fevereiro de 1943, o ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels, fez seu famoso discurso em Berlim, onde conclamou a nação a uma guerra total, que necessitaria de todos os recursos do país e todos os esforços da população alemã.

Legado
A Batalha de Stalingrado durou 199 dias e foi uma das maiores batalhas da história humana. O número de baixas é difícil de ser calculado com exatidão, pelo tamanho e duração da mesma, e pelo fato do governo soviético não ter permitido que cálculos oficiais fossem feitos, por medo de que o custo de vidas demonstrado fosse muito alto.

Imagem de Stalingrado após a batalha
Alguns estudiosos de guerra estimam que as tropas do Eixo sofreram cerca de 850 mil baixas entre todas as armas das forças alemães e de seus aliados, muitos deles sendo prisioneiros de guerra dos soviéticos que morreram em cativeiro entre 1943 e 1955; 400 mil alemães, 200 mil romenos, 130 mil italianos e 120 mil húngaros morreram, foram feridos ou capturados. Dos 91 mil alemães feitos prisioneiros em Stalingrado, 27 mil morreram em questão de semanas e apenas 5 mil voltaram à Alemanha, muitos deles apenas dez anos após o fim da Segunda Guerra Mundial; os demais morreram nos campos de concentração ou de trabalho soviéticos; 50 mil hiwis, voluntários soviéticos que se juntaram as tropas alemães, forma mortos ou aprisionados pelo Exército Vermelho.
Dados de arquivos mostram que os soviéticos sofreram cerca de 1.130.000 baixas, sendo 480 mil mortos e prisioneiros e 650 mil feridos em toda área de Stalingrado. Na cidade, 750 mil foram mortos ou feridos. Além disso, 40 mil civis soviéticos foram mortos em Stalingrado e seus subúrbios numa única semana de bombardeio aéreo, enquanto o 6º Exército e o IV Exército Panzer se aproximavam da cidade em julho de 1942; o total de civis mortos nas áreas fora da cidade é desconhecido. No total, a batalha resultou num total de 1,7 a 2 milhões de baixas de ambos os lados.
Além de ser um ponto de virada na guerra, Stalingrado também revelou a extrema disciplina e determinação tanto dos soldados da Wehrmacht quanto os do Exército Vermelho. No princípio, os soviéticos defenderam a cidade de todas as maneiras contra uma força arrasadora alemã. Suas perdas eram tão grandes que a expectativa de vida de um novo soldado em combate na frente era de um dia. O sacrifício destes homens por Stalingrado foi imortalizado por um soldado do general Aleksandr Rodimtsev, um dos comandantes locais, que escreveu na parede da estação ferroviária da cidade – que mudou de mãos quinze vezes durante a batalha – a frase: “os homens da guarda de Rodimtsev aqui lutaram e morreram pela mãe-pátria”.

A gigantesca estátua Mãe-Patria (85m de altura) domina a colina de Mamayev Kurgan.
Pelo heroísmo de seus defensores, a cidade recebeu o título de Cidade-Herói em 1945. Após a guerra, nos anos 50, um colossal monumento chamado Mãe Pátria, foi erguido na colina de Mamayev Kurgan. A enorme estátua faz parte do complexo de um memorial que inclui paredes e construções arruinadas, conservadas no estado em que se encontravam após a batalha. O Grain Silo e a Casa de Pavlov, mantida por seus defensores por dois meses contra os ataques alemães, também podem ser visitados como memorial de guerra. Ainda hoje, turistas encontram lascas de ossos e pedaços de material enferrujado no terreno da colina, símbolos do sofrimento humano dos dois lados e da bem sucedida e custosa resistência soviética ao ataque nazista.
Por outro lado, os alemães mostraram admirável disciplina após terem sido cercados, na primeira vez em que lutaram sob condições adversas desta escala na guerra. Durante as últimas semanas do cerco, muitos soldados morreram de fome e frio mas ainda assim a disciplina foi mantida até o fim, quando a resistência não tinha mais sentido. Mesmo o comandante do 6º Exército, Paulus, obedeceu às ordens de Hitler de não tentar romper o cerco, contra todos os conselhos dos generais do alto-comando da Werhmacht, incluindo Von Manstein, que ainda tentou levar suas tropas até as proximidades de Stalingrado debaixo de luta, mas foi obrigado a recuar e deixá-los entregues à própria sorte, sem comida, munição e agasalhos. Quando finalmente se rendeu, o primeiro marechal alemão a se render em combate na história da Alemanha declarou: "Não tenho intenção de me suicidar por aquele cabo da Baviera". (Wikipedia)