terça-feira, janeiro 04, 2011

Campanha da Wikipedia arrecadou US$ 16 milhões

Nesta segunda-feira, 3, usuários da Wikipedia encontraram uma nova mensagem no cabeçalho do site da enciclopédia virtual gratuita. É que nas últimas oito semanas, o topo da página remetia a um texto assinado por Jimmy Wales, co-fundador do empreendimento, solicitando recursos para manter Wikipedia no ar. Agora, Wales está agradecendo as colaborações recebidas no período – nada menos do que US$ 16 milhões (cerca de R$ 26 milhões).
“Caramba! O que posso dizer? Muito obrigado!”, diz a linha inicial do texto, na versão em português. Na versão em inglês, Wales afirma que o dinheiro doado será utilizado na manutenção de servidores e no desenvolvimento de novas soluções. O comunicado diz, ainda, que a Wikipedia é a quinta página na web mais acessada no mundo – 400 milhões de pessoas em dezembro – e tem 50 funcionários. A enciclopédia reúne hoje 19 milhões de artigos em 270 idiomas. O site sobrevive apenas com a arrecadação de usuários. A doação média foi de US$ 22. (Coletiva.net)
Faenfi realiza especialização em Enfermagem Pediátrica
A partir do dia 10 de janeiro a Faculdade de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia da PUCRS (Faenfi) começa a receber inscrições para o curso de especialização em Enfermagem Pediátrica. A atividade, voltada para enfermeiros, irá abordar temas como Enfermagem Pediátrica Clínica; Enfermagem Pediátrica Cirúrgica; Gerenciamento do Cuidado centrado na Criança, no Adolescente e na Família; Educação para a Saúde, entre outros.
Informações e inscrições no Centro de Educação Continuada, sala 112 do prédio 15 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 - Porto Alegre), no site www.pucrs.br/educacaocontinuada ou pelo telefone (51) 3320-3727.

Informática e Educação promovem especializações à distância
Estão abertas as inscrições para os cursos de especialização, na modalidade à distância, "Educação à Distância, com Ênfase na Docência e na Tutoria em EAD" e "Informática na Educação". As atividades são promovidas pela Faculdade de Informática (Facin) e pela Faculdade de Educação (Faced) da PUCRS.
As aulas iniciam em abril e as inscrições podem ser feitas no Centro de Educação Continuada, sala 112 do prédio 15 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 - Porto Alegre). Informações pelo telefone (51) 3320-3727 ou no site www.pucrs.br/educacaocontinuada.

Faculdade de Farmácia oferece especialização em Diagnóstico Laboratorial
A Faculdade de Farmácia da PUCRS está com inscrições abertas para o curso de especialização em "Diagnóstico Laboratorial". A atividade busca proporcionar uma qualificação diferenciada para a atividade em laboratórios de análises clínicas e aprofundar os conhecimentos específicos. Nas aulas serão abordadas disciplinas como Bioética e Legislação em Análises Clínicas; Diagnóstico Molecular; Gestão da Qualidade em Análises Clínicas; Administração e Marketing no Laboratório Clínico, entre outras.
As aulas iniciam em abril e as inscrições podem ser feitas no Centro de Educação Continuada, sala 112 do prédio 15 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 - Porto Alegre) ou pelo site www.pucrs.br/educacaocontinuada. Informações adicionais pelos telefones (51) 3320-3727 ou (51) 3320-3933.

Últimos dias de inscrições para o Edital BPA/2011
Estão abertas até esta quarta-feira, 5 de janeiro, as inscrições para a submissão de projetos ao Programa de Bolsa/Pesquisa para alunos da PUCRS (BPA/Pesquisa). Neste ano foi criado um novo Edital: o Proat, que acolherá projetos voltados para apoio técnico às estruturas institucionais de pesquisa e a periódicos científicos editados pela Editora Universitária da PUCRS (Edipucrs).
Informações estão disponíveis no site da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (www.pucrs.br/prppg), link "Pesquisa", opção "Iniciação Científica/Programa de Bolsas-BPA/PUCRS". Esclarecimentos também poderão ser obtidos de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h45min, no Espaço de Iniciação Científica, sala 111 do prédio 15 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 - Porto Alegre), pelo telefone (51) 3353-7719 ou pelo e-mail ic.prppg@pucrs.br.
Novas atividades no Parque Esportivo
O Parque Esportivo da PUCRS está com novidades para os seus usuários. Além da ampliação da academia de ginástica e implantação de novas modalidades esportivas, foram abertas novas turmas na escola de natação.
A academia agora conta com nova sala de ginástica e com as modalidades de corrida orientada, dança de salão e ginástica para terceira idade.
Na escola de natação, foram abertas novas turmas de deep water (segundas, quartas e sextas-feiras, às 13h45min), hidroginástica para gestantes (terças e quintas, às 20h) e hidroginástica para terceira idade (segundas e quartas, às 14h).
Alunos, funcionários e diplomados da PUCRS têm desconto nas atividades do Parque Esportivo. Informações adicionais pelo telefone (51) 3320-3622 ou no site www.pucrs.br/parqueesportivo.
Foto de Pierre Verger
Foto de Henri Cartir-Bresson

Nescau existe desde 1932 e foi criado no Brasil


Nescau existe até hoje - sucessivas gerações já consumiram este produto, em criança. Nesta gravura vemos uma antiga publicidade de Nescau, possivelmente dos anos 50.

Clique na imagem para ampliá-la.*


Totalmente desenvolvido no Brasil, Nescau é líder nacional no mercado de achocolatados instantâneos. Sua história começa em 1932, quando o produto - feito aqui - foi lançado, pela Nestlé, não somente no Brasil como na Itália, Espanha, Argentina e França.
Inicialmente, a Nestlé não investiu em sua publicidade, e colocou seu nome de "Nescáo", recomendando-o às mães preocupadas com a nutrição de seus filhos. "Nescáo, fortifica, alimenta e engorda", era então o slogan.Embalado em uma lata de aço, teve seu nome mudado para o atual Nescau em 1954, já que a maioria das pessoas confundia o acento, lendo e pronunciando o nome como "Nescão".

Tiririca não teve pai e passou fome no Nordeste


Ele é feio (já foi desdentado), nordestino, semi-analfabeto ou mesmo analfabeto funcional, não gosta de cinema, não vai ao teatro, nunca leu nenhum livro e seus ídolos são Zico, Fábio Júnior e Roberto Carlos. Religioso, é devoto de Nossa Senhora Aparecida e tem sangue mestiço – filho de mãe negra e pai desconhecido.Seu nome: Francisco Everardo Oliveira, 43 anos, o “Tiririca” – aquele que aparecia no programa “O Infeliz”, de Tom Cavalcante, uma sátira ao programa de Roberto Justus, “O Aprendiz”, na rede Record, e que nas últimas eleições foi o deputado federal com maior votação em todo o Brasil. Cearense, Tiririca é uma espécie de Chaplin subdesenvolvido, do quarto mundo, se é que a comparação pode, em algum momento, ser válida.
Mas a sua cara de coitado, de cachorro surrado, de pobre-diabo, não é mera coincidência e tem tudo a ver com a história da sua vida – antes do estrondoso sucesso de “Florentina” (Florentina, Florentina, Florentina de Jesus, não sei se tu me ama”), em 1996. Em apenas três meses, no inverno daquele ano, tiririca vendeu 320 mil discos e foi a campeã de execuções. Hoje, ele já não canta mais, mas seu rosto é conhecido de todos pela tevê. Não que alguém o leve a sério como artista, e, parece, ele nem o deseja.

O MACACO QUE DEU AZAR – Palhaço por profissão, Tiririca teve uma vida dura, logo que nasceu, na cidade de Itapipoca, Ceará. O pai fugiu quando sua mãe, Alice, ainda estava grávida, e esta – que trabalhava no circo – logo depois casou-se com um palhaço, o Palhaço Barata.

O menino Everardo viveu em barracas até completar 16 anos, quando assumiu o nome de Palhaço Tiririca e foi à luta sozinho, passando a trabalhar em um circo que havia vindo de Minas Gerais.

Neste circo, ele conheceu a filha do dono, uma acrobata de nome Márcia Rogéria, com quem passou a viver e trabalhar juntos.Os dois passaram por vários circos e até fundaram um que, nos anos 80, percorria o interior do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará, no estilo “Bye-Bye Brasil”, o filme. O circo, conta-se, era tocado só pelo casal que, para fingir haver um elenco maior, trocava de roupas, disfarces e de voz inúmeras vezes. Assim, foi não apenas palhaço como acrobata, malabarista, locutor, tudo.

Os dois viveram assim por sete anos, conseguindo progredir e até comprar o primeiro animal para o circo – um macaco-prego.

Esse macaco, porém, não trouxe felicidade e nem dinheiro à Tiririca e sua mulher. Pelo contrário: um dia, em uma cidade do Maranhão, o bicho mordeu um garoto. Para cúmulo do azar, o menino era filho de um chefe político local. No dia seguinte, os capangas do coronel botaram fogo no circo e o casal só conseguiu salvar-se a si mesmos e a sua filha, de três anos de idade, além de resgatar uma televisão.

Voltaram de carona para Fortaleza e, lá, em uma cidade onde os humoristas são celebridade, tornou-se humorista, trabalhando em bares, ruas, qualquer lugar.

Na Capital, passou a usar uma peruca loira e a exibir o seu sorrido sem um dente frontal – uma marca por muitos anos.

BETO CARRERO DEU UMA FORÇA - Deu para ganhar algum dinheiro: comprou uma casa, tinha carro, telefone fixo e celular. Detalhe: sua casa não tinha água encanada, nem forro, e estava em um terreno invadido. Coisas da vida de palhaço.

Como acontece com quem quer fazer sucesso, especialmente os nordestinos, Tiririca veio para o Sul, como eles chamam o Sudeste. Quem primeiro percebeu o potencial do artista foi Beto Carrero, já falecido, que assistiu um show do palhaço em uma pizzaria de Fortaleza. Gostou tanto que mandou gravar um vídeo e o apresentou a emissoras e gravadoras. Todos responderam um sonoro “não”, e fecharam suas portas. Mas o produtor musical Arnaldo Sacomani – o mesmo que apresentou os Mamonas Assassinas à gravadora japonesa EMI – conseguiu o primeiro grande contrato, justamente com a mesma. Ficava com 30% do cachê de Tiririca.

O sucesso veio rápido e Tiririca passou a percorrer o Brasil fazendo shows, aliás de muito agrado das crianças.Em 1996, seu ano de ouro, Tiririca, quando estava em São Paulo, morava numa casa de 15 cômodos, seis banheiros e piscina, na Granja Viana, um bairro chique. Pagava 3.500 reais de aluguel, mas não morava sozinho – trouxe mais 18 colegas e formou uma república, estilo o sítio dos Novos Baianos dos anos setenta. A mulher, filhos, a sogra, a equipe de produção, todos moravam com ele.

Depois de Florentina, Tiririca gravou uma outra música que lhe rendeu incomodações e fez com que respondesse a acusações de racismo. Era “Veja os Cabelos Dela”, e tinha trechos como este: “Essa nega fede/fede de lascar/bicha fedorenta/fede mais que um gambá”. Logo ele, filho de uma negra.

Tiririca defendeu-se, dizendo ser uma brincadeira e uma referência à sua mulher, (da qual se separou com estardalhaço algum tempo depois). A própria confirmou que sempre foi complexada por ter cabelos crespos. Quanto ao mau cheiro, ele diz ser coisa da vida do circo. “É que a vida no circo é muito dura, e ele não tinha tomado banho naquele dia, aí tirei esse caco”. (Pesquisa e texto V. Minas)

Pânico nos EUA: 1938, Orson Welles, o poder do rádio e o medo dos "marcianos"


Além de ator e cineasta genial, Orson Welles protagonizou um dos mais conhecidos episódios de pânico coletivo já registrados nos Estados Unidos.

Foi em 1938, 30 de outubro, data que, nos EUA, é uma espécie de primeiro de abril brasileiro - o dia dos bobos, das brincadeiras e dos trotes.No caso, levava-se ao ar a adaptação do famoso livro de H. G. Wells, The War of the Worlds, "A Guerra dos Mundos", publicado no ano de 1989 e um dos clássicos dos primórdios da ficção científica, narrando a invasão da Terra por seres alienígenas - marcianos, no caso.

Na época acreditava-se na existência de uma civilização marciano e nos famosos "canais" do planeta vermelho.Nesse dia, por volta das 8 horas da noite, a emissora Columbia Broadcasting System, CBS, de Nova Iorque, passou a transmitir ao vivo a adaptação do romance encenada no The Mercury Theatre. Super-realista, muito bem feita, a peça - uma adptação de Howard Koch - foi tida como um fato verdadeiro, embora vários avisos, antecedendo o programa e mesmo ao longo deste, avisassem que aquilo era apenas ficção.

Não adiantou: mal o "Theatre Mercy" iniciou a sua introdução padronizada, tocando músicas de dança, muito ouvidas em hotéis e salões de baile, a música cessou e entrou a voz de um locutor: "Senhoras e senhores, interrompemos a nossa programação de dança para um boletim especial da Intercontinental Rádios News. Aos 20 minutos para as 8 horas, o professor Farrel, do Observatório do Monte Jennings, em Chicago, comunicou haver observado uma série de explosões de gás incandescente a intervalos regulares no planeta Marte. O espectroscópio indica que o gás é hidrogênio e se dirige para a Terra com fantástica velocidade (...)"Minutos depois, a música seria interrompida novamente para outros boletins, dando conta de que o Governo norte-americano havia solicitado aos observatórios que viagiassem Marte, uma vez que um astrônomo canadense havia confirmado as explosões iniciais e que um abalo, "quase da intensidade de um terremoto" havia ocorrido perto de Princeton. Em breve as informações se tornaram mais alarmantes: "Informa-se que um enorme objeto flamejante, possivelmente um meteorito, caiu numa fazenda nas vizinhanças do Grovers Mill, Nova Jersey. O rastro de luz no céu foi visto num raio de centenas de quilômetros, e o impacto foi ouvido em Elisabeth, muito ao norte".O pânico começou a se instalar entre ou ouvintes, que julgavam tratar-se de autênticos boletins jornalísticos, tanto que várias pessoas pegaram seus automóveis e saíram a procurar o local da queda, incluindo aí o próprio diretor do Departamento de Geologia da Universidade de Princeton. O próximo informe era ainda mais alarmante: "O flamejante objeto que caiu do céu não era meteorito, mas um enorme cilindro de 30 metros de diâmetro, semi-enterrado numa cratera. O professor assegura que o cilindro é, positivamente, extraterrestre".Quando isso foi levado ao ar, os telefones da polícia e dos jornais de inúmeras cidades começaram a estrilar histéricamente, com multidões apavoradas perguntando se aquela história era verdadeira - só o Times recebeu 875 chamadas. O mesmo aconteceu com o escritório da Associated Press de Kansas City.
As ligações vinham de diferentes cantos do país - Los Angeles, Salt Lake City, do Texas. Algumas pessoas asseguravam ter visto as chamas e um velhinho, vestindo apenas pijama, correr para a casa do vizinho, dizendo "não querer morrer sozinho." Em bando, congestionando todas as vias de saída da cidade, os nova-iorquinos amontoavam-se em seus carros para fugir da "invasão marciana". Alguns homens se ofereceram para lutar e "expulsar" o invasor e uma mulher tentou o suicídio ingerindo veneno - só não conseguiu pois o marido conseguiu tomar-lhe os comprimidos das mãos. Em algumas localidades do Alabama o povo se reuniu para rezar e centenas de médicos e enfermeiros se apresentavam para prestar serviços. Pessoas com crises nervosas, muitas delas em estado de choque, baixavam os hospitais - somente na localidade de Newark foram 15.

Nessas alturas o monstro marciano já tinha mostrado a sua cara e já fazia estragos incríveis. Conforme o programa "a batalha que teve lugar esta noite terminou com a nossa derrota (era a voz de um capital do Exército) (...) Sete mil homens esmagados pelos pés de metal do monstro ou reduzidos a cinzas pelo raio quente. (...) O monstro domina a parte central de Nova Jersey (...) As estrada para o norte, para o sul e para o oeste estão congestionadas pelo tráfego humano".O invasor marciano era mesmo de aparência apavorante - uma espécie de serpente cinzenta, se arrastando sobre tantáculos, a boca em forma de V, "com as salivas pingando dos lábios sem borda, que parecem tremer e pulsar."Orson Welles, apesar de já conhecido em seu País, ganhou notoriedade mundial com o episódio da "invasão dos marcianos". Ele contava apenas 28 anos de idade e ainda não havia feito o seu célebre filme - Cidadão Kane, de 1941. De qualquer forma a "invasão alienígena" de 1938 mostrou a que ponto as pessoas são influenciáveis e, de certa forma, como isso é contagioso.

A trágica morte do Senhor Diretas, há 18 anos

Angra dos Reis, litoral do Estado do Rio. Segunda-feira, 12 de outubro de 1992, feriado da padroeira do Brasil (Nossa Senhora Aparecida) e Dia da Criança. O tempo está ruim, com chuvas, trovoadas e ventos naquela região da costa sul fluminense quando o deputado Ulysses da Silveira Guimarães, 76 anos, sua esposa Mora, e mais o casal Severo Gomes (ex-ministro, ex-senador) e Henriqueta partem de volta a São Paulo. Dirigido pelo experiente piloto Jorge Comeratto, o helicóptero de prefixo PT-HMK, emprestado pelo empresário paulista Jorge Chammas Neto (Moinho São Jorge), é avistado pela última vez meia hora depois da partida, por volta das 17 horas, voando baixo, a cerca de 50 metros acima do nível das ondas, costeando o litoral, abaixo de uma impiedosa chuva de granizo. O industrial Arthur Vicintin Neto - que tem casa ali e pescava naquele momento - avistou a aeronave tentando romper a barreira das espessas nuvens que tomavam conta do céu: "O piloto ciscava, procurando um buraco no meio das nuvens", lembraria ele mais tarde. Naquele momento sopravam ventos de mais de 100 quilômetros por hora e só por milagre não aconteceria uma tragédia.O milagre, porém, não aconteceu: as forças da Natureza foram mais fortes e em breve o Brasil saberia que o líder máximo das oposições durante o regime militar, o Senhor Diretas, o Anticandidato a Presidente da República, Ulysses Guimarães, estava morto, junto com todos os demais ocupantes do helicóptero.A morte de Ulysses (até hoje o corpo, ou o que dele sobrou, não foi encontrado) representou, de certa maneira, o fim de uma era. Calvo, de voz grave, incisivo e destemido, o Senhor Diretor personificou a intransigente oposição ao regime de arbítrio que se instalou com o AI-5. Democrata, de tendências moderadas, o paulista Ulysses Guimarães elegeu-se deputado estadual em 1947, quando contava apenas 30 anos de idade. Em 1950 tornou-se deputado federal, também por São Paulo. Em 1956 foi escolhido presidente da Câmara Federal e, em 1961, no curto gabinete parlamentarista de Tancredo Neves, tornou-se ministro da Indústria e Comércio. Com o golpe militar de 1964, Ulysses - que, discretamente, apoiou o movimento - parecia estar marchando para um direto apoio à chamada "revolução". Porém, ao constatar que a volta à democracia não estava entre as prioridades dos militares e que muitos atos de arbítrio já estavam sendo praticados, Ulysses - advogado por formação - imediatamente bandeou-se para as hostes oposicionistas - ele, que tinha sido do PSD, enfileirou-se com o recém criado Movimento Democrático Brasileiro, o MDB. Candidato por este partido (então rebatizado de PMDB) na primeira eleição direta do período da redemocratização, amargou o quinto lugar na contagem final dos votos, não tendo sequer ido ao segundo turno.A morte de Ulysses - que havia ido passar o final de semana no litoral de Angra, mais exatamente na casa do empresário Luis Eduardo Guinle - encerrou uma carreira política de quatro décadas, com onze mandatos consecutivos, vigorosos pronunciamentos em favor da democracia e um estilo incandescente de oratória que marcou época. Com ele, no mesmo vôo, desaparecia outra figura destacada da oposição ao regime militar, regime ao qual, curiosamente, serviu em seu início - o ex-ministro da Agricultura do governo Castelo Branco, ministro da Indústria e Comércio de Ernesto Geisel, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do governo paulista de Fleury Filho, o ex-senador Severo Gomes. Udenista por formação, Severo desencantou-se com a Revolução de 1964 e, em 1979, bandeou-se para a oposição. Franco e direto, reconhecia ter mudado, "tarde, mas não demasiado tarde".(Pesquisa e texto V. Minas)

domingo, dezembro 26, 2010

A sacanagem dos "concursos culturais"

Participei, nos últimos meses, de dezenas de "concursos culturais", aquele negócio de você escrever uma frase ou um pequeno texto a respeito de alguma coisa pedida, concorrendo a prêmios que vão de carros, casas e motos até coisinhas prosaicas e viagens para as praias do Nordeste. Uma loteria em que não custa nada acreditar.
Nunca tinha participado dessas coisas, e resolvi ver para crer, acreditando, a princípio, na seriedade dos propósitos dos organizadores.
Pois não é que descobri que a grande maioria é pura e simples picaretagem, incluindo grandes empresas, operadoras de telefonia, tevê, o escambau. Alguns nem dão os resultados - marcam o dia da divulgação dos premiados e simplesmente esquecem ou desprezam.
É um acinte, um desprezo total, uma prova de que este País é assim por essas e outras.
Vou divulgar alguns nomes nas próximas semanas, para dar nome aos bois. Hoje o que posso dizer deles é o seguinte: sacanas, pilantras, enganadores. Pegam o email, o RG e o CPF da gente, nos iludindo. Isso é muito suspeito. Será que não vem bomba em meu nome por aí? Como vou saber o uso que essa gente dá aos meus dados confidenciais?

O monstro Dedé

Amauri Júnior, aquele colunista social que está há tempos fazendo seus programas na televisão (agora está na Rede TV!), é, na minha opinião, um simpático picareta. Às vezes até simpatizo com ele - às vezes.
Fiquei tempos sem ver nenhum desses programas de "sociedade", que em geral aconteciam na madrugada - hoje infestaram todos os horários da grade, em praticamente todos os canais, e são uma praga quase comparável aos programas religiosos pagos.
Mas como a carne é fraca, de vez em quando assisto sim. Esses dias vi o tal Amauri Junior de novo e fiquei espantado com a aparência do sujeito. De tantas plásticas - isso é obviamente visível - ficou com a cara toda esticada e as bochechas reluzentes como as de um bebê. Além do mais pinta o cabelo, e o aspecto geral - em que pese ser ele, como disse, levemente simpático e até natural - faz a gente repudiar qualquer pensamento de um dia fazer o mesmo.
Mas tem coisa pior: aquele Trapalhão, Dedé, o único sobrevivente da antiga troupe, junto com Didi, fez tantas plásticas na lata, mas tantas, que virtualmente se transformou em um ET, um quase monstrinho. Tá tão repuxado que eu fico imaginando que deva até sentir dor. Não sei como funciona a coisa, mas desconfio que tais plásticas causem dor sim. Dor e feiura. É o suprassumo da breguice e da falta de sentido estético.
Os nobres ingleses se recusam a pintar os cabelos, quando estes ficam grisalhos ou brancos, por considerar isso prova de vulgaridade. Sabem das coisas.

terça-feira, dezembro 21, 2010

A velha e saudosa máquina de escrever

Das profissões, ou atividades, que se extinguiram, uma das que mais me chamam a atenção pela ausência é a exercida pelo velho, bom e chato vendedor de enciclopédias, muito presente na minha infância e adolescência no interior. Com a Internet e com as facilidades da vida de hoje, ele simplesmente sumiu - se existe, nunca mais o vi em lugar algum.
O vendedor de enciclopédias batia na porta das casas das famílias, ia no serviço da gente, ou nos pegava pelo braço na rua, apregoando as vantagens de se possuir aquele produto. Se o cara era estudante, ótimo, nada mais necessário que aqueles livros grossos e respeitáveis, "tem de tudo aqui", "é uma maravilha" etc etc. Se o cara era pai de estudante, aí sim é que deveria comprar para os filhos no colégio, para "pesquisa". Dentre as enciclopédias mais vendidas, estava a Barsa, a Mirador e a Delta Larousse, todas elas boas até hoje.
Pois esse ilustre profissional - que não largava do pé do sujeito enquanto não comprasse o seu produto (e era algo caro, que poderia ser financiado a prestações e que representava um investimento oneroso para a maioria das famílias) - desapareceu, como disse, assim como desapareceu o vendedor de bilhetes de loteria.
O vendedor de bilhetes de loteria geralmente fazia ponto nas rodoviárias do interior, e era um tipo inconfundível. Óbvio, não entendia de nada do que vendia, mas que chutava, chutava. Também percorria o comércio, os bares e especialmente as barbearias - tradicional ponto de se fazer uma fezinha. Hoje, com tudo modernoso e automatizado, o vendedor de bilhetes lotéricas (federal, estadual) - quase sempre um sujeito de certa idade, aposentado ou encostado - faz parte da história medieval. Muitos pais de família, se não sustentaram os lares, pelo menos deram uma boa melhorada na sua renda familiar exercendo essa tarefa.
Outro que foi para as cucuias é o engraxate - na maioria dos casos garotos pobres, das vilas, que faziam ou ganhavam uma caixa de madeira e saíam pelas ruas e pelo comércio para dar um belo lustro em um outro produto que, hoje, perdeu grande parte do seu espaço - o sapato. Restaram alguns, ainda, a maioria com ponto determinado, em praças, no centro das cidades. Porém, como profissão - ou ofício - a categoria pode ser considerada extinta.
Extinto mesmo, no entanto, é o velho linotipista de jornal e de gráficas. Esse sim está morto.
Lembro do primeiro jornalzinho em que eu trabalhei, no interior, em uma cidadezinha que não teria nem cinco mil habitantes na metade dos anos setenta. Chamava-se Atualidade, e ainda existe. Era um semanário municipal, o típico jornalzinho da cidade, feio, desengonçado, mas que muitos assinavam, por ser "o nosso jornalzinho" (era bem essa a expressão que eles usavam: "Colaborar com o nosso jornalzinho"). Composto a linotipo, tinha um sujeito que não recordo o nome, um alemão forte e que trabalhava quase sempre sem camisa, compondo as matérias naquela máquina imensa, preta, pesadíssima e resfolegante, a qual me fascinava observar.
A linotipo era pré-histórica - assim como, para muitas pessoas com vinte e poucos anos (adultos formados, portanto, e não crianças), é, hoje, a máquina de escrever.
Tive muitas, e mantive uma relação quase carnal, quase sexual, com todas elas. O legal da máquina de escrever era o carinho com que nos relacionávamos. Um bicho que nos sujava a mão com a tinta da fita, que as teclas acavalavam, que estragava frequentemente, e que por isso mesmo, por ser meio humano, era tão próximo de nós, os escribas e os escrivinhadores.
Com o computador de hoje é diferente: é uma coisa amorfa, sem vida, sem alma, sem personalidade, um conjunto de peças e chips eletrônicas que não nos inspiram nada. É como se fossem garotas de programa com quem fazemos sexo pago, e depois pagamos e saímos fora, sem sequer perguntar o nome. Simplesmente jogamos fora ou trocamos por outro, sem problemas, sem dilemas de consciência. Já a máquina de escrever - para quem era do ramo - era a namorada, a verdadeira namorada.
Ainda hoje, quando por acaso vejo uma delas (o que é raro), fico meio nostálgico e tocado por babaquices do passado. Lembro das minhas Olivetti (as preferidas) portáteis e da Lettera 32. Onde andarão elas? Terão morrido no ferro velho? Terão sido exportadas para a África? E recordo também dos velhos textos em papel, das folhas brancas, das laudas, das anotações que fazia, das folhas que amassava e jogava na cesta de lixo, das noites de trabalho, de café, de olhos vermelhos.
Ouvi dizer que os decoradores de hoje indicam máquinas de escrever como acessórios chiques e de bom gosto para as residências, um item que "valoriza" o ambiente. Bom, quanto a isso não restam dúvidas: máquinas de escrever, câmeras fotográficas e armas antigas estão entre os objetos de mais belo desenho que o homem produziu, na minha nada modesta opinião.(Vitor Minas)

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Calor abafado em Porto Alegre, o típico clima de beira de rio que caracteriza esta cidade neste período.
Ronaldinho no Grêmio? Sei lá, de início fui contra, agora já não sei mais nada. Talvez seja bom, talvez ruim. A princípio sou contra a volta de ex-jogadores, de jogadores voltarem. Paulo Nunes não deu certo, Renato Gaúcho também não - como jogador.
Ronaldinho ainda joga bem, ainda dá passes de incrível precisão, colocando o atacante na cara do gol. Vi isso esses dias, em um jogo do Milan.
Mas não será mais o mesmo - e trará dinheiro, como trouxe Ronaldo?
Sei lá, vamos ver. De qualquer maneira a bola está com a direção gremista.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Fui invadido por hakers. Sério mesmo. Essas duas fotos que estão aqui abaixo não foram postadas por mim. Mas como sou gremista, e como adorei a derrota do Inter, tá liberado: é África no pedaço, mano! Viu só como estou!
Tecnicamente é que me preocupa.
Viva a Mama África! Viva o Congo!!

terça-feira, dezembro 14, 2010

Ninguém merece

Há coisa mais ridiculamente asquerosa do que aquele "Doctor Rey" da rede TV, o tal cirurgião plástico-bichinho da goiaba que dá conselhos sobre tudo, vende toda espécie de produtos suspeitos e tem sempre uma mecha do cabelo de mauricinho caído sobre a testa?
Perto dele, aquele andrógino do "Ligue Djá!" que aparecia em tudo que é canal, uns dez anos atrás, ganha de dez a zero. Como é que era mesmo o nome dele, ou dela?

Bahia, campeão brasileiro

Encontro, por acaso, em um exemplar da revista Veja de primeiro de março de 1989 - o ano das eleições diretas para Presidente - uma matéria a respeito do Bahia - Esporte Clube Bahia, melhor dizendo. O time de Bobô e Charles, treinado por Evaristo Macedo, ganhou as finais contra o Inter, vencendo na Fonte Nova por 1 a 0 e ampatando em Porto Alegre.
O que achei estranho é que o jogo foi em março de 1989, decidindo o título da "Copa União" de 1988. Vê só a bagunça que era o campeonato brasileiro de então.
Diz a Veja a respeito do carnaval que tomou conta de Salvador: o prefeito Fernando José liberou o funcionalismo público e 20 mil pessoas lotaram o aeroporto 2 de Julho (que ACM depois rebatizou com o nome do filho morto). Os torcedores do Vitória se uniram à festa, que consideraram uma vitória do futebol baiano e não apenas do Bahia. Vejam se isso seria possível no Rio Grande do Sul!
A propósito: hoje - aliás, daqui a pouco - o Inter joga contra aquele time do Congo, pelo Mundial de Clubes. Não vou secar, propriamente, porque não adianta. Mas bem que eu gostaria que eles sifu. O colorado bicampeão do mundo será insuportável. Precisaremos mudar de Estado.
Pior que eles tiveram que nos aguentar por muitos anos, e olhe que nós éramos extremamente arrogantes e nojentos. Agora a roda girou e estamos nessa, infelizmente. Dá-lhe, Congo!

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Galinhólogo

Ari de Oliveira, 21 anos, com sólida e precoce reputação em serviços de gatunagem na praça paranaense, foi capaz de resistir às técnicas de interrogatório da polícia, mas sucumbiu às ameaças de desmoralização diante dos colegas de ofício, ao ser autuado como "ladrão de galinhas", quarta-feira passada, na Delegacia de Roubos e Furtos de Curitiba. E escolheu o próprio gabinete do delegado para rememorar as glórias de sua carreira - um ano e meio de detenção, incontáveis assaltos, alguns arrombamentos - e fazer a defesa de sua tradicionalmente desacreditada especialidade. "É preciso muita técnica e coragem", discursou Oliveira do alto do seu título de "Oficial do Roubo de Galinhas". Ensinou a apanhar primeiro o galo, porque "se a gente começa pelas galinhas, ele começa a gritar e acorda todo mundo"; a segurar os animais sempre pelo pescoço e as asas, "nunca pelos pés"; e por fim "colocar a cabeça da bichinha debaixo da asa que ela continua dormindo". Com essa requintada arte, visitou impunemente durante dois meses os galinheiros curitibanos. Agora, vai provavelmente estudar a etiqueta comercial, pois foi preso por vender aves abatidas acima da tabela da Sunab.
(Revista Veja, página 19, 4 de setembro de 1974)
Os Trabalhadores do Mar, romance de Victor Hugo: "A solidão faz gênios ou idiotas".
Comprei esse livro em 1977, na livraria Cultura, em Ijuí.

Lembranças de Pelotas

Estavam falando em Pelotas e nas peculiaridades da cidade, quando então perguntei se ainda havia por lá o bar Cruz de Malta, na rua XV.
Muito campari tomei ali, na época do Diário Popular, que fica quase em frente. Isso foi lá por 94, 95, quando o balcão ainda era de madeira.
O Cruz de Malta bombava todas as noites, especialmente nas sextas. Havia um outro Cruz de Malta, na avenida Bento, mas parece que não tinha nada a ver com o da XV.
Pelotas, nessa época, era uma cidade extremamente agradável, com mulheres bonitas e bem vestidas e uma vida noturna que nunca iniciava antes da uma hora da matina.
Não adiantava sair antes dessa hora. E a coisa mesmo só iria esquentar lá pelas três.
O Andrade era o editor do Diário Popular. Bon vivant, tinha um barco, em sociedade com um amigo que era delegado de polícia em outro município. O barco era uma espécie de matadouro, para usar a expressão machista.
Nunca cheguei a frequentar. Mas lembro do dia em que o Andrade, com uns uísques a mais nas idéias, meteu o seu carro na traseira de um caminhão parado no escuro, sem sinalização. Ficou alguns dias entre a vida e a morte, sendo que esta última prevaleceu.
Acho que ele não tinha mais que quarenta e dois ou três anos.
Figuraça, sempre vestido de preto, bonitão, cabelos grisalhes, bonachão, sempre brincando, foi ele quem me admitiu.
Trabalhar no Diário era ótimo. Empresa séria, dificilmente alguém era demitido dali - para isso teria que fazer muitas lambanças. Pagamento no dia certo, muitas vezes até antecipado, direito sociais garantidos, respeito. Boas lembranças.

Estrelas do mar

Na foto eu tenho três anos de idade, no início dos anos sessenta, e sou uma criança morena com os pés dentro da água do mar e um barco de pesca ao fundo. Mais adiante, casas e chalés de madeira.
Tá aqui a data - 1964. Local: praia de Itapema.
Itapema não era nada, então. Aluguava-se a casa dos pescadores por merrecas, e se ficava por lá o verão inteiro. Comprava-se peixe dos próprios pescadores e à noite não havia luz elétrica - só milhares de estrelas refulgindo contra o profundo céu escuro. Uma grande lua surgia de repente, e todos passeava na beira da praia, que era segura e silenciosa.
Havia muitas conchas, conchas enormes e lindas, além de estrelas do mar, também imensas. catávamos aquilo e trazíamos como souvenir para a nossa casa, em um posto indígena no interior do Rio Grande do Sul.
Hoje não há mais casas de madeira na beira mar de Itapema, e as conchas e as estrelas do mar praticamente desapareceram. Quem comprou terrenos e casas no litoral catariense, naquela época de simplicidade e barateza, hoje está rico.

Três vítimas

Já tenho três seguidores, o que me obriga a fazer postagens mais frequentes. Bobagens por bobagens, deixa eu me expandir.

Nova Idade do Gelo

Nova idade glacial em Porto Alegre na véspera da chegada do verão. Nesta madrugada de domingo para segunda a temperatura desabou por aqui. Hoje, ao acordar, liguei o rádio na Band News, como geralmente faço, e descobri que estava fazendo 13 graus na maior parte da cidade. Achei que era bola fora da repórter, mas, ao levantar e abrir a janela - com direito a uma visão panorâmica do Presídio Central ao longe - vi que fazia frio mesmo e que o negócio era botar uma jaqueta.
A propósito de radio, radialistas e jornalistas, a gente ouve cada coisa de doer: não é que a moça repórter da Band falava em algo que estava acontecendo na "Capital carioca".
Capítal carioca! Tá bom. E a capital fluminense fica aonde?
Lembro de um colega meu, que hoje mora e trabalha em Brasília, que, ao fazer uma matéria policial, com um morto caído, perguntou ao delegado "quem era o suspeito de ser a vítima". Bom, mas esse meu amigo era atrapalhado mesmo, e além do mais era fotógrafo e não repórter de texto. Aliás, gente boa, vacariano, fumava uma maconha que vou te contar - dizia que ajudava na hora de fotografar.
Uma vez, em Santa Catarina, quando o Esperidião Amim era governador, em pleno palácio, durante uma coletiva ou solenidade, ele deixou cair um tubo de filme, daqueles pretos, e o governador achou e abriu a tampa. Adivinhe o que tinha dentro? "É de alguém?", perguntou Amim. A história é lembrada até hoje por quem trabalhou em Santa nos anos oitenta.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Não sou eu

Descobri que tem um Vitor Minas, que não sou eu, no Twitter. O cara mora em São Paulo.

O ridículo dos Pardais de Porto Alegre

Porto Alegre é gozada.
Vejam o caso dos tais "pardais", aquela maquininha que fotografa a placa do veículo de quem ultrapassa a velocidade máxima em determinados pontos das ruas e avenidas da cidade.
Pois é, no meu modesto entendimento o tal pardal foi feito pra disciplinar e punir, para dar incerta nos motoristas, iguais aqueles guardas americanos que, sirena ligada, saem do nada para abordar e multar os infratores. Pardal só tem sentido, na verdade, se ficar escondido, amoitado, e de preferência mudar de local a cada semana, como de fato acontece na gloriosa capital gaúcha.
Só que nesta civilizada e amada cidade as nossas apedeutas e sifocantas autoridades divulgam exatamente os locais onde estarão tais pardais. Divulgam pelos jornais, pelas rádios, sites, por todos os meios de comunicação possíveis. Divulgam repetidamente, e divulgam até com um mês de antecipação, pra não dar erro ou prejudicar ninguém que anda sobre quatro rodas.
Vejam que coisa surrealista, ou burra e imbecil mesmo: você, motorista arrogante, o rei do carro, o Todo Poderoso, sabe com horas e até dias ou semanas de antecipação os locais onde estão os tais passarinhos eletrõnicos. Naturalmente, quando chega uns 300 metros antes do ponto marcado, diminui a velocidade, para não ser pego e pagar multa (se é que paga). Passado o local, uns 200 metros adiante, mete o pé no acelerador e volta a andar igual um louco, dando bananas a todos. Essa é a nossa cidade.
Pode? É, verdadeiramente, coisa de português de anedota, a coisa mais sem sentido que existe, um autêntico "me engana que eu gosto", enganação, engrupição, disparate, ofensa, piada.
E ninguém da imprensa fala a respeito, é claro, até porque a maioria é tapada mesmo, e também porque eles fazem parte da tchurma ou, quase todos, não moraram em outras capitais e acham o que se passa aqui natural, algo que faz parte da ordem das coisas.
Aliás todo mundo sabe que o motorista gaúcho - e bem especialmente o porto-alegrense - é o tipo mais boçal e ignorante do Brasil, que por sua vez é um dos piores do mundo.
Aqui, na Mui Leal e Valerosa, pedestre não vale nada, é animal para ser caçado e exterminado igual no filme Laranja Mecânica. Agora, com essa campanha da Prefeitura, melhorou um pouco. Mas o pedestre, repito e trepito, continua a ser caça em Porto Alegre e sua vida vale menos do que a de uma galinha ou de um cachorro sarnoso.

O envelhecimento do Casseta e Planeta

Em qualquer atividade, o cara tem que saber a hora de parar, diz o velho e surrado clichê. Li que o programa Casseta e Planeta sairá do ar no próximo ano, depois de muito tempo na tela da Globo.
Acho que eles estão certos, se tocaram: o Casseta envelheceu e perdeu grande parte da velha graça. A morte de Bussunda, é claro, contribuiu para isso, embora eu ache que tudo e todos tenham o seu ciclo, especialmente na tevê. Pensando bem, duraram muito, e duraram porque eram bons. Mas agora, com o Pânico, o CQC e outros programas do gênero humor proliferando em vários canais, as noites de terça na Globo já não nos atraem mais. O Casseta se tornou repetitivo e aquelas caras que nos divertiam hoje são manjadas demais. É assim que a coisa funciona, em qualquer parte do mundo.
Desses que estão aí gosto mais do Pânico, à exceção de alguns quadros. São ousados e representam um passo à frente em relação ao Casseta. E são, em quantidade, mais criativos e diversificados. Também pararam um pouco de humilhar, ou escrachar, os populares. Porem irão envelhecer também - e o Charles Henrique já é a prova. Se continuar naquela de narrar o currículo do artista entrevistado, e não criar algo mais, já era.
O CQC não me agrada muito. Não consigo gostar inteiramente de um programa de humor escrachado em que os apresentadores e humoristas andam de terno e gravata, como se fossem executivos. Aliás, o Tom Cruise disse isso a eles, quando foram entrevistá-lo.
Outra coisa: os caras são bobinhos demais. Bobinhos de classe média, infantis, garotões. Bom, é o que penso. Mas assisto a esses dois últimos e ainda dou boas risadas.

terça-feira, dezembro 07, 2010

Hoje, pelo que lembro, é o dia em que os japoneses atacaram Pear Harbor, em 44.
Fizeram bem feito: oito horas da manhã (um pouco menos) de um domingo.
É um bom horário pra telefonar pros nossos amigos.
É, meus amigos, daqui a um mês esta cidade de Porto Alegre estará às moscas.
Hoje a avenida Ipiranga estava tapada de carros, como nunca vi antes. Passadas as festas de final de ano, esse povo todo se mandará para "as praias", como dizíamos lá no interior do cafundó do Locha.
Sobrarão os fudidos e os que por algum motivo mais forte não puderam tirar o time.
Verão em Porto Alegre ninguém merece: calor dos infernos, umidade. E o trem bala, hein? Bala em nós, e traçante.
E a filhota lá em Londres, num frio de lascar, neve caindo. Bom, nem tanto ao mar e nem tanto à terra.
Há um livro intitulado "Lima Barreto Toda Crônica", editado pela Agir em 2004, que é uma delícia de leitura. Para quem, como eu, nunca leu nenhum de seus romances ou novelas, só alguns contos, ler as crônicas escritas por ele no início do século XX, indo até até 1922, quando morreu, foi surpreendente. Até porque ele é, realmente, aquilo que eu pensava que é: bom. A linguagem ainda tem aqueles rebuscos antigos, mas não chega a comprometer. Quase todas as crônicas foram publicadas na revista Careta.
O cara denuncia todos os pernósticos da época e nutria implicante e recorrente ojeriza por Coelho Neto, um sujeito pomposo e que se achava. Tambén não gostava de Rui Barbosa e do Marechal Rondon, a quem dizia ter um "rosto cruel". Outras coisas que Lima Barreto ironizava era o futebol - ele, pelo visto, achava aquilo coisa da elite. E era, de fato, um esporte onde negro não tinha vez.
Procurem esse, aliás, esses livros, já que são dois grossos volumes. As crônicas mostram o que a gente já sabia: a merda sempre foi essa aí, as moscas é que eram outras.

terça-feira, novembro 30, 2010

Millor Fernandes tem 86 anos. Não é incrível? O cara está aí, durando igual rocha.
Passei minha vida toda lendo e admirando o Millor, quase um gênio. Pasquim, Veja, isso tudo. E agora vejo que o cara tem 86 anos, caramba!
Mudando pra pior - acho eu: o Delfim Neto também tem mais de oitenta anos!
Passei e minha juventude achando que ele era a personificação do mal, da direita, da ditadura, da concentração de renda.
E não é que o cara agora aparece na tevê Bandeirantes, dando opinião sobre tudo, moderado, racional, até simpático.
Millor, frase: o supremo mistério?
É quando o soldado desconhecido recebe uma carta anônima.
Porto Alegre não tem um milhão e meio de habitantes. Foi o que constatou o IBGE, nesse último censo. Não me surpreende, parece natural. A capital gaúcha é a que menos cresce no Brasil, felizmente. Quando cheguei aqui, em 1979, verão, ela tinha um milhão e cem mil habitantes. O que cresceu mesmo foi a zona metropolitana.
Tem gente que duvida das estatísticas do IBGE. Trabalhei no IBGE, censo 2000, e eles eram bem rigorosos. Foi, aquele, um censo bem feito, acho que bem melhor do que este de 2010, que, pelo que todo mundo sabe, teve vários problemas.
Coordenei uma equipe de seis recenseadores, que no final era de somente dois ou três.
Censo é um negócio incrível, tudo acontece, inclusive com recenseadores. Os caras entram de casa em casa, vêem tudo, anotam tudo.
A minha zona era a Bela Vista, a Boa Vista, as Três Figueiras. Zonas de ricos, ou quase. Gente que não gosta de reponder a nenhuma pergunta, e muito menos de abrir a porta. Mas, há dez anos atrás, a coisa era bem mais fácil do que agora. Pelo que vi em reportagens, o medo da violência - que aumentou muito - dificultou ainda mais as coisas.
Naquela época nos diziam que todo mundo era obrigado a responder ao censo. Se quiséssemos, poderíamos até chamas a Brigada. Um exagero, mas tudo bem, ótimo. Agora parece que muita gente simplesmente ignorou o censo, fechou, bateuas portas. Novos tempos etc etc.
O IBGE é sério, eu disse. É mesmo, verdade. Mas trabalhar com o público é foda, tem suas variantes. Muita gente mente, e você tem que anotar as suas mentiras, mesmo sabendo que aquilo que ele diz é uma mentira descarada.
Por exemplo, notei, e comprovei, que o pessoal da grana diminui a renda, sempre. No ano de 2000 todos eles diziam que ganhavam 2 mil reais - mais ou menos 4 mil hoje. Claro que você sabia que o sujeito ganhava muito mais do que isso, bstava ver o apartamento ou a casa em que ele morava. Nos recebiam com um pé atrás, sempre temendo que aquilo que diziam fosse utilizado pelo imposto de renda. Bom, nos diziam, então, que nada do que o entrevistado declarasse seria utilizado por outra fonte. Acho que era verdade - hoje não sei mais.
Falei que o pessoal da grana "minimizava" a renda. Pois é, e o pessoal mais pobre - incrustados entre eles - já agia ao contrário. Com vergonha do pouco que ganhavam, aumentavam a renda.
Disso tudo concluí uma coisa: renda declarada é uma ficção, não existe, não corresponde à realidade. Quando divulgam que o brasileiro ganha isso ou aquilo, dou risada:ficção, simplesmente.
A propósito: não entendi essa de não ter uma pergunta sobre o nível de escolaridade. No censo 2000 existia essa pergunta, indispensável a meu ver.
Fui recenseado também. Apareceu lá uma menina meio andrógina que me endereçou meia dúzia de perguntas, inclusive aquela de "o senhor tem luz elétrica?" Mandei ela olhar para a lâmpada que nos alumiava.