sábado, novembro 09, 2013

Há 24 anos caía o Muro de Berlim, encerrando uma época

Ele foi o símbolo da divisão do mundo - o mundo capitalista e o mundo socialista, ou comunista. Construído em 1961, o Muro de Berlim foi, durante décadas, um marco da opressão, dividindo a hoje unificada Alemanha em duas, a Ocidental, capitalista, e a Oriental, ou "República Democrática da Alemanha", que de democrática não tinha nada.

O ano era 1989, o mês era novembro. Em uma noite de quinta (dia 8) para sexta-feira, 9, todos os meios de comunicação passaram a transmitir, via satélite, ao vivo, as imagens de jovens munidos de martelos, picaretas, porretes, qualquer coisa - jovens, em sua grande maioria, que botaram abaixo uma grossa e extensa murada de concreto que impedia os habitantes da parte oriental da Alemanha de passarem para o outro lado.

Prisioneiros em seu próprio país - na verdade um satélite soviético - eles cantaram, beberam, se abraçaram e festejaram a derrubada de um símbolo da tirania. Na noite de 12 para 13 de agosto de 1961, uma serpente de cimento e arame farpado de três metros de altura foi erguida às pressas pelo regime comunista para evitar a fuga de seus cidadãos. Ao longo de 28 anos, 191 pessoas morreram tentando a arriscada travessia. Mesmo assim, 5 mil berlinenses conseguiram fugir para a liberdade. A fortaleza (66 km de extensão) era ponteada por torres de onde guardas armados com fuzis, metralhadoras, cães amestrados e potentes holofotes fuzilavam quem tentasse escolher a metade ocidental e capitalista da cidade dividida.No Brasil vivia-se a primeira eleição direta para Presidente da República (Collor seria eleito), depois de quase três décadas sem eleições. Gorbachev era o presidente soviético (a República soviética se desintegraria nos anos seguintes) - o pai da "Glasnost" (degelo" e da "perestroika" (reestruturação econômica) da então "superpotência". A queda do Muro não foi algo aleatório: no dia 4, um sábado, o regime comunista alemão liberou a passagem dos seus cidadãos através da Checolosváquia, transformada em longínqua escala da "fuga para a liberdade". Em seis dias, mais de 50 mil pessoas seguiram essa rota. O regime vivia uma crise política, com a demissão coletiva do Politburgo. Em pouco tempo a brecha se transformou num rombo monumental, ampliando-se para a Checoslováquia e até a Polônia, por onde escaparam dezenas de milhares de pessoas. Em pouco tempo, a piada de sentido universal - "O último que sair apague a luz do aeroporto" - começou a ficar perigosamente próxima da realidade. O êxodo em massa provocou uma dolorosa hemorragia social na Alemanha comunista. Os emigrantes eram, em sua maioria, trabalhadores qualificados, jovens no auge de sua capacidade produtiva. Tantos motoristas de caminhões saíram do país que, em muitas cidades, o abastecimento ficou prejudicado. Trinta por cento dos maquinistas de trem e quase 50% dos motoristas de ônibus largaram seus empregos. Soldados do exército foram colocados a dirigir ônibus.

LOUCURA COLETIVA - Em sua edição de 15 de novembro de 1989, a revista Veja escreveu, sob o título "Já Raiou a Liberdade": "Do lado oriental, a loucura é completa", informou Jeans Richter, cidadão de Berlim Oriental, exultando, depois de cruzar o Checkpoint Charlie, o mais conhecido posto de ligação entre os dois lados de Berlim. Loucura - mas loucura de alegria - provavelmente foi a palavra mais adequada para descrever as cenas que se seguiram. Primeiro em pequenos grupos, como se para testar se o anúncio feito pouco depois das 19 horas (o governo anunciava o direito de ir e vir dos cidadãos, além da liberdade de imprensa) era mesmo para valer, depois às centenas, em seguida aos milhares, os berlinenses foram chegando. Por volta da meia noite, já eram uma multidão enorme, incontrolável. Do lado ocidental, outra massa humana os aguardava. Ao se encontrarem, explodiam em gritos e abraços, como se comemorassem o fim de uma dura e longa guerra - uma guerra iniciada há 28 anos e três meses, quando o monstrengo de concreto foi erguido da noite para o dia. "Acabou, acabou, acabou. Eu não consigo acreditar", dizia um berlinense depois de se arrastar sob as barreiras brancas e vermelhas da travessia da Rua Bornholmer - um ato que, até o começo do ano, lhe custaria a vida". (...) "Não há duvida de que a História está sendo escrita agora. Nós, alemães, devemos enfrentar o desafio", declarava, quase à mesma hora, o chefe do governo da Alemanha Ocidental, Hermuth Kohl. Surpreendido, como o resto do mundo, pela abertura do mundo e de todas as fronteiras entre as duas Alemanhas, no início de uma visita à Polônia, Kohl exibiu perplexidade diante da velocidade vertiginosa dos acontecimentos. "Os desdobramentos disso ainda são imprevisíveis", admitiu com franqueza antes de voltar às pressas para o seu país. Kohl não estava sozinho em seu espanto. Desde que o furacão da abertura tomou de assalto a União Soviética de Mikhail Gorbachev e começou a soprar por toda a Europa Oriental, nunca se viu um processo tão acelerado de desagregação de um regime comunista como na Alemanha do Leste. "Considerado como o mais ortodoxo, o mais dura, o mais inflexível membro da combalida família comunista na Europa, o regime alemão liderava a resistência às reformas. (...) "O Muro vai durar um século", costumava dizer o homem que o ergueu e depois assumiu o comando máximo do regime, Erich Honecker." Somente no primeiro dia após a derrubada, 60 mil pessoas cruzaram a fronteira. "Para mim, ir a Berlim Ocidental foi como fazer uma viagem á Austrália", comparou um alemão que, indo na direção contrária à da grande multidão, já tratava de voltar para casa, na madrugada de quinta para sexta-feira. "Ainda não consigo acreditar".

Escreveu VEJA: "As idas e vindas continuaram madrugada adentro e prosseguiram durante toda a sexta-feira. Do outro lado do Muro, os berlinenses orientais eram recebidos com palmas, garrafas de champanhe e 100 marcos alemães - equivalente a 54 dólares - a título de "dinheiro de boas vindas", pois a moeda da Alemanha comunista não é conversível. Um mundo novo aguardava os visitantes, principalmente os que nunca tinham encontrado um jeito de convencer as autoridades de seu país a deixá-los cruzar o muro. "É coisa demais para a primeira vez. Não consegui escolher nada", disse Uwe Michalski, que, com olhos espantados e o "dinheiro de boas-vindas", firmemente seguro na mão, parecia um tanto perdido num dos maiores paraísos de consumo do mundo. "Para mim, é como se estivesse em outro planeta", comparou uma adolescente que namorava a seção de equipamentos de som numa grande loja de departamentos."Em um mês, esses alemães - crianças, puks, donas de casa, estudantes, trabalhadores - realizaram o impossível, o inimaginável, o assombroso", escreveu VEJA. " (Texto e pesquisa: Conselheiro X.)


Hoje a atriz Maria Ribeiro faz 38 anos e o técnico Luis Felipe Scolari completa 65.

sexta-feira, novembro 08, 2013

Dorinha Duval: o crime célebre que expôs a dura vida de uma mulher e atriz da Rede Globo

Aos 15 anos, ela fora violentada. Três anos mais tarde, passou a prostituir-se por enfrentar dificuldades financeiras e sofreu um aborto. Atriz da Rede Globo (atuou em O Bem Amado), casara-se com o ator e diretor Daniel Filho e fora abandonada por ele. Em seu segundo casamento, com o cineasta Paulo Sérgio Alcântara, viveu uma relação conturbada. A dramática retrospectiva da vida de Dorinha Duval, foi exposta em júri, em 1983, pelo advogado Clóvis Sahione, que defendeu a atriz no processo em que ela era acusada de matar Paulo Sérgio.Por sete votos a zero, Dorinha foi condenada a um ano e meio de prisão com sursis (suspensão condicional da pena). Três anos antes, Dorinha matara com três tiros o marido com quem estava casada havia seis anos. Dez dias depois, em declaração para a polícia, disse que iniciou com o marido uma discussão no quarto. Ela conta que o procurou carinhosamente e foi repelida. Aos 51 anos, 16 a mais que Paulo Sérgio, a atriz reclamou da atitude e, como mostra o livro, o marido disse que Dorinha era uma velha e que só apreciava meninas de corpo rijo.

Dorinha na delegacia, em 1980: ex-atriz que matou marido foi para a prisão aos 62 anos e, hoje, sobrevive como artista plástica Dorinha disse que encararia um cirurgia plástica, mas Paulo Sérgio teria respondido: “Você não dá mais, nem com operação”. Para se defender sob argumento de legítima defesa, Dorinha contou que respondeu aos insultos dizendo ao marido que, quando ele precisava de dinheiro, era a ela que ele recorria. E, a partir de então, Paulo Sérgio a teria agredido até que ela pegou o revólver e atirou.Após a primeira condenação mais branda, Dorinha foi a júri novamente. Acabou condenada a seis anos de prisão em regime semi-aberto. “Dorinha tinha de pagar, já pagou e talvez continue pagando”, diz o ator Paulo Goulart, que foi testemunha de defesa da amiga. “Só lamento que tivesse de modificar toda vida em função de uma tragédia.” Aos 62 anos, ela passou a primeira noite no cárcere, em Niterói (RJ). Dorinha está com setenta e poucos anos, é artista plástica, mora no Leme e vive das obras que faz. Procurada por Gente, limitou-se a dizer: “Ainda não quero falar sobre esse assunto”. (Vertudo, postado por Ruy Otto)
Hoje o ator francês Alain Delon completa 78 anos.

terça-feira, novembro 05, 2013

Hoje fariam aniversário Roy Rogers, Vivien Leigh e o escritor e político brasileiro Rui Barbosa



segunda-feira, novembro 04, 2013

O primeiro helicóptero que apareceu em Porto Alegre: 1947


Por um desses acasos do trabalho de pesquisador, descobri exatamente quando pousou em Porto Alegre o primeiro helicóptero, "um espetáculo inédito para a cidade", conforme noticiou o Correio do Povo. Foi no dia 8 de novembro de 1947, um sábado, quando o aparelho da norte-americana Bell Aircraft fez uma demonstração para os porto-alegrenses. No dia seguinte, domingo, repetiu a cena no Parque Farroupilha (Redenção), à vista de populares.
O helicóptero - que era uma novidade recente, e nem sequer fora usado na recente guerra mundial que acabara dois anos antes - vinha de Buenos Aires e seguia para o Rio de Janeiro. O espetáculo foi patrocinado pela Varig e teve até a presença do então governador Valter Jobim.

domingo, novembro 03, 2013

O crime chocante de Charles Manson, o psicopata que matou Sharon Tate


Foi pior e muito, muito mais assustador do que as principais cenas de "O Bebê de Rosemary", filme de Roman Polanski que fez (e faz) um tremendo sucesso no final dos anos sessenta. Assassinada a facadas, pendurada no teto, a atriz e mulher do diretor Polanski foi uma das cinco vítimas de um psicopata chamado Charles Manson (foto) e de sua "família" - na realidade uma seita satânica formada por jovens desajustados, "hippies" do mal, todos na faixa dos vinte e poucos anos, e que viam em Manson o seu profeta e guru, obedecendo-o cegamente.

Na noite de 8 para 9 de agosto de 1969, na cidade de Los Angeles, Califórnia, um grupo de cinco discípulos de CM penetrou na mansão de Polanski (que estava viajando) e Tate, no elegante bairro de Bel Air, e consumou um dos mais chocantes e rumorosos crimes dos anos sessenta. Vestidos com roupas pretas e capuzes, os assassinos (dois rapazes e três moças) cortaram os fios de eletricidade e do telefone e deram início à matança. À exceção de um, que estava armado com um revólver calibre .22, os demais portavam facas. Sharon, 26 anos, teria implorado pela vida de seu filho, pois estava nos dias finais da gravidez de um bebê que se chamaria Paul. Suas súplicas, no entanto, foram inúteis. Os assassinos penduram o corpo da atriz em uma viga no teto, ao lado do de um outro amigo seu, e depois escreveram à sangue, na porta da casa, a palavra "pigs" (porcos).

O crime - chocante, por si mesmo - atraiu a atenção da imprensa internacional por envolver uma jovem, bela e promissora atriz e seu marido, Polanski, que recentemente havia lançado o estrondoso sucesso "O Bebê de Rosemary", com Mia Farrow - a história de uma seita satânica que se apossa de um bebê, considerado o filho do Diabo.Ouvido por uma emissora de TV, o escritor Truman Capote - também recente sucesso com o seu romance de não-ficção "A Sangue Frio" - era da opinião de que havia um só assassino, provavelmente um maníaco sexual.Na verdade, errou feio, embora a polícia, nos primeiros meses, também não conseguisse chegar a resultados palpáveis.Nesse meio tempo, o pai de Sharon visitava acampamentos hippies, fingindo-se de um deles. Nesse mundo à parte, corria à boca pequena a história do crime; todos sabiam que aquilo fora praticado pela seita de Manson, que vivia em um rancho localizado em um vale próximo a Goler Canyon, arredores de Los Angels. Foi dessa comunidade satânica de mais de 20 pessoas - a "família" - que saíram os assassinos àquela noite.Manson, nascido em 11 de novembro de 1934, o líder da seita, tinha uma biografia apropriada para um psicopata: sua mãe foi abandonada pelo pai aos 16 anos de idade, quando estava grávida. Criado por uma avó materna, a princípio, depois por um casal de tios que não o suportava, acabou em reformatórios do Governo. Místico, racista, tinha poder absoluto sobre a seita. Condenado à morte um ano depois, teve sua pena permutada por prisão perpétua.


Hoje aniversariam Charles Bronson (1921-2003), Eike Batista (nas. 1956) e Luciana Gimenez (43 anos).

sábado, novembro 02, 2013

Drummond, o poeta que morreu de desgosto

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer.Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond e Andrade
Já se vão mais de 20 anos que Carlos Drummond de Andrade morreu. Para muitos, o maior poeta brasileiro de todos os tempos, Drummond - pouca gente lembra - faleceu 12 dias depois da morte da sua filha, Maria Julieta.

E, conta-se, morreu de desgosto, de falta de vontade de viver, aos 84 anos de idade, às 8h 45 minutos do dia 17 de agosto de 1987, uma segunda-feira, no Rio de Janeiro, onde morava havia muito tempo. Sepultado sem orações ou discursos - como pediu, já que era ateu (ou agnóstico, como queiram), Drummond estava internado no hospital, vítima de dores no peito. Cardíaco, já havia sofrido infartos anteriores. Foi sepultado no cemitério São João Batista, na presença de quase mil pessoas - entre eles o presidente em exercício, Ulysses Guimarães - Sarney estava no exterior.
Sua única filha - de quem era não só pai, como o maior amigo ("eles se entendiam só pelo olhar", disse um amigo) - não havia resistido a um câncer generalizado. No enterro, o poeta confidenciou a um amigo: "Não tenho mais futuro, acabou tudo para mim". Doze dias depois, ele se deixou levar. Coisas que acontecem.
LIXO COMO PRESENTE - Homem fechado, reservado, arredio, tímido, meticuloso como todo bom mineiro, Drummond - nascido em Itabira, em 31 de outubro de 1902, em uma família de fazendeiros - publicou 30 livros de poesia (mais os de crônicas), dos quais foram vendidos mais de 500 mil exemplares. Mas não gostava de teorizar sobre poesia (coisa muito comum entre outros poetas) e preferia que o chamassem de jornalista. Expulso do colégio, em Belo Horizonte, aos 19 anos - por "insubordinação mental" - formou-se em Farmácia ("porque era o curso mais curto"), profissão a qual jamais exerceu.

Foi, sim, professor de Geografia e Português, jornalista e funcionário público - por sinal muito exigente. Aos 23 anos casou-se com Maria Dolores - e com ela viveu até o final da vida.
COMUNISTA - Carlos Drummond trabalhou no Ministério da Educação durante a ditadura Vargas, a convite do seu amigo Gustavo Capanema, mas - lá pelos anos quarenta, em especial durante a Segunda Grande Guerra - alinhou-se ao Partido Comunista Brasileiro, o velho PCB, na luta contra o fascismo. Chegou, a convite de Luis Carlos Prestes, a dirigir o jornal do partido - o Tribuna Popular - mas, por incompatibilidade, demitiu-se três meses depois de assumir, por não suportar a ortodoxia comunista e stalinista. Mais tarde, explicou: "O que eu escrevia não saía, e o que saía eu não entendia nada".
Nos anos quarenta, durante a Guerra, compôs poemas bem esquerdistas, até de louvor ao staninismo - num deles saúda a resistência de Stalingrado (hoje com outro nome) aos invasores nazistas.

Em 1964, já bem decepcionado com a política, com a esquerda e a politicagem, apoiou o Golpe Militar - dois meses depois já estava novamente decepcionado e enojado com aquilo tudo.
Muito abalado com a morte da filha (teve um filho antes, que morreu poucos meses depois do nascimento), ainda mantinha seus hábitos impecáveis e ordeiros, como o de acordar às 7 horas da manhã e dormir tarde, e o de arrumar as cestas de lixo com tal minúcia que "pareciam presentes de Natal", ou "embrulho de presente". Telefonava seguidamente aos amigos, para saber como estavam e dava lá seus palpites e conselhos.
Cético, bom mineiro, Drummon teve outro grande mérito: já reconhecido com o maior poeta brasileiro - aquele que fazia poesia simples, sem firulas, quase na linguagem do povo - recusou-se a se candidatar à Academia Brasileira de Letras (Moacir Scliar também disse isso nos anos 70, depois quis ser "imortal" e hoje participa dos glamourosos chás da "Casa de Machado de Assis").
Hoje Monica Iozzi, atriz e jornalista, completa 32 anos

quarta-feira, outubro 30, 2013



Hoje Maradona faz 53 anos. Paulo Nunes faz 42. Fiodor Dostoievski, escritor russo, nascido em 1821, também faria aniversário.

terça-feira, outubro 29, 2013

segunda-feira, outubro 28, 2013

Hoje a cantora Zelia Duncan faz 49 anos, Bill Gates 58 e Julia Roberts completa 46



Em novembro de 1949 o incêndio que destruiu milhares de processos da Justiça do Rio Grande do Sul

No dia 19 de novembro de 1949, sábado, aconteceu aquele que seria um dos mais ruinosos incêndios para o Rio Grande do Sul - ruinoso não em vítimas humanas, que não existiram, e sim no duro baque para o judiciário gaúcho: o incêndio do Tribunal de Justiça, onde funcionava o Foro central e também a Secretaria Estadual do Interior, destruiu milhares de processos e criou um tremendo transtorno para a Justiça do Rio Grande do Sul. O fogo iniciou às 5 horas da manhã de sábado, no prédio localizado na Praça da Matriz, bem no centrão da cidade, e em poucos minutos tornou-se incontrolável. Tudo indica que tenha sido provocado, assim como tantos outros que ocorreram em prédio públicos de Porto Alegre nos anos seguintes. Dois meses depois do que aconteceu com o Foro, a sede da Repartição Central de Polícia, na rua Duque de Caxias, também foi consumida pelo fogo - e mais uma vez teve-se a quase certeza da intencionalidade. Nos dois casos, ninguém foi preso, embora um sujeito meio lunático e mitômano tenha tentado assumir a autoria dos fatos.
O sinistro beneficiou muitas pessoas e liberou das garras da Justiça muitos criminosos. A reprodução vista aqui é do Diário de Notícias, de Porto Alegre, jornal que pertencia aos Diários Associados e que não mais existe.

sexta-feira, outubro 25, 2013

O "verão da lata" deixou saudades para muitos...

No dia 22 de setembro de 1987 um navio chamado Solana Star estava sendo perseguido pela Marinha Brasileira, apoiada por agentes do Drug Enforcement Agency ((DEA), órgão anti-drogas norte-americano. Acuados no litoral do Rio de Janeiro - Angra dos Reis - eles largaram toda a sua carga ao mar, a uma distância de 100 milhas marítimas do litoral e, em seguida, se dirigiram sorrateiramente ao porto do Rio, onde abandonaram o navio. A bordo ficou apenas o cozinheiro da embarcação, o norte-americano Stephen Shelkon - imediatamente detido e, depois, condenado a 20 anos de cadeia, cumpridos no presídio Ari Franco, do RJ.
O episódio do Solana Star virou lenda: navio procedente da Austrália (outros dizem que da Indonésia), com destino aos Estados Unidos, carregado com cerca de 20 mil latas de maconha (22 toneladas), (1,25 kg cada lata), das quais apenas 10% foram apreendidas - o restante foi jogado ao mar e acabou chegando às praias brasileiras, no trecho entre o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul.
As latas continuaram chegando à costa até o mês de março, fazendo daquele verão (1988) o "verão da lata". Acondicionados em latas de alumínio, fechadas a vácuo, com canabis sativa de altíssima qualidade, foram - dizem muitos - o "último suspiro hippie do Rio de Janeiro" ("A maconha vinha do mar, como dádiva de Deus", comentou um consumidor). O carregamento teria sido feito no porto de Cingapura - o Solana Star tinha bandeira panamenha.
O "verão da lata" jamais foi esquecido pelos apreciadores do produto, dentre os quais se incluem muitos gaúchos e catarinenses. Levada pelas correntes oceânicas, a maconha chegou com fartura ao litoral do Rio Grande do Sul e ensejou viagens alucinadas à sua procura. Muitos a revenderam e, ilegalmente, ganharam dinheiro com isso. A maioria, porém, apenas fumou uma erva de elevado teor de THC. O Verão da Lata acabou virando filme - com o diretor João Falcão - e livro ("O Verão da Lata", de Oscar Cesarotto, editora Iluminuras, 2005). Muitos comentam que "fora do País, ninguém acredita que isso aconteceu". Mas aconteceu. Veja o depoimento de alguns que viveram esse episódio e assumem que o fizeram.

"Eu encontrei em Cidreira, naquele tempo ia pros butecos todo dia. Encontrei uma lata, o restante do pessoal pegou o resto. Aí veio a Polícia Civil. Mas não tinha como segurar todo mundo. A maconha vinha vedada, totalmente vedada, se abria com abridor de lata. Da nossa turma só pegamos uma, mas a notícia se espalhou. Quem tinha automóvel em Porto Alegre saiu adoidado percorrendo a orla e se deu bem. A lata era amarelada. Foi a melhor maconha que até hoje entrou no Brasil".
Hélio, "Mão", 46 anos, morador do Jardim Botânico.


"Encontrei surfando, em Magistério. Vi a lata boiando, peguei e fui ver o que era. Fechamos dois e fumamos. Foi de dia. De noite é que soubemos da notícia. Era uma paulada. Coisa boa"
Alex, 40 anos, morador do Jardim Botânico


"Me falaram que tinha um bagulho forte na praia, em Pinhal. Fui de moto ver e encontrei. Trouxe umas cinco latas de lá. Era só camarão. Peguei um quase nada e ele molhou. Foi o melhor bagulho que eu fumei em 50 anos, dizem que era indiano, era melhor que manga-rosa e cabeça-de-negro. A cor do bagulho era amarela, tinha que abrir com abridor de lata. Dava um cheirão, era prensada a vácuo."
G.B., morador do Jardim Botânico


"Fumei a da lata. Daquele, nunca mais vai aparecer. Eram umas latas parecidas com azeite, amarelas. O efeito era melhor do que cocaína. Não existia coisa melhor. Era um tempo de curtição. Tinha gente que saía de carro daqui, para ir ao litoral, buscar".
C.P., morador do Jardim Botânico.
Hoje a socialite Narcisa Tamborideguy completa 47 anos

quinta-feira, outubro 24, 2013

Péssima telefonia adiou a chegada da Internet no Brasil: dezembro de 1995

Era dezembro de 1995, e o Brasil ainda enfrentava grandes dificuldade para entrar com tudo no mundo da Internet. A culpa - em uma época sem banda larga - era do precário sistema de telefonia do Brasil, que ainda não havia sido privatizado. O presidente da República era Fernando Henrique Cardoso, e Sérgio Motta, o seu ministro das Comunicações.
A Internet não contava - vejam só - nem com 100 mil usuários.
Leia a matéria "Confusão na rede", transcrita de VEJA de 27 de dezembro de 1995.
 
"Houve até quem tentasse alcunhar 1995 como o ano de entrada do Brasil no mundo da Internet. Mas, com um número de usuários que não chega a 100 000, não colou. A partir de primeiro de janeiro de 1996, o sonho de se conectar ao universo da comunicação digital será jogado ainda mais para longe. Na entrado do ano novo, fecha-se uma das maiores portas de acesso à Internet no Brasil, a administrada pela Embratel. O prazo para a estatal interromper seu serviço de conexão de usuários à Internet foi dado pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta, em abril. Sua intenção era boa. Ele imaginava, à época, que no final deste ano a rede já estaria funcionando a pleno vapor e a Embratel poderia deixar a função de provedora de acesso para as empresas particulares e dedicar-se apenas ao trabalho de expandir a infraestrutura necessária.
 
"Sete meses depois, a situação é bem diferente da pretendida. A principal estrutura de fios e computadores, que deveria estar cobrindo todo o país em setembro, só ficou pronta há poucos dias. Mesmo assim, não está completa. Falta criar centrais de atendimento para receber as chamadas telefônicas dos usuários e encaminhá-las ao destino na rede Internet, seja ele nos Estados Unidos, seja na Austrália, seja no Amazonas. Por conta desse atraso, várias empresas interessadas em servir de porta de acesso à rede ficaram em compasso de espera. Agora, com a saída da Embratel dessa função, ainda não estarão aptas a absorver os 6 000 clientes deixados na mão, muito menos a captar novos.
"Jogo de Paciência - Mesmo com a infra-estrutura básica resolvida em breve, as provedoras terão de enfrentar outro obstáculo: a falta de linhas telefônicas. Não adianta a Embratel ter um sistema de transmissão para a rede internacional impecável, se as provedoras não tiverem linhas disponíveis para que seus clientes a acessem. Elas precisam de dezenas ou mesmo centenas de números de uma só vez. "A carência de linhas é tanta que, apesar de termos separado uma verba de 1 milhão de dólares para investir em telefones, não conseguimos estar nem na metade", lamenta Marcelo Lacerda, um dos diretores da Nutec, empresa provedora de acesso à Internet, hoje com 1 500 assinantes. "Se aceitarmos muito mais clientes com esse número de linhas, corremos o risco de deteriorar a qaualidade do serviço", diz Lacerda. Algumas empresas colocam até 200 usuários para disputar uma mesma linha de acesso, o que torna a entrada na Internet um jogo de paciência insuportável. "Tenho muita curiosidade, mas não consegui uma senha de entrada e tenho receio de ecolher um provedor de acesso de péssima qualidade", diz o analista de recursos humanos Roberto Santanna.

"Ao grupo de ansiosos por entrar na rede, no qual se inclui o analista, provavelmente se juntarão os clientes da Embratel. Isso só não acontecerá se a pressão que a estatal está fazendo para não largar o serviço der resultado. Em outros países, como a França, onde o sistema de telecomunicações também é gerido pelo monopólio estatal, a empresa cuida da infra-estrutura e também é provedora de acesso à Internet. Apenas seguem uma rígida regulamentação que tenta tornar justa a concorrência entre a iniciativa privada e a estatal responsável por traçar os projetos de expansão da telefonia. No Brasil, pelo ritmo em que as decisões sobre Internet andam, isso é assunto para 1997."

terça-feira, outubro 22, 2013

Em outubro de 1976, a inauguração do Condomínio Felizardo Furtado

Estava lá, na contracapa da edição de sábado, 30 de outubro de 1976 do jornal Correio do Povo, sob o título “Inaugurados Hospital da PUC e Bloco de 944 Apartamentos”:
“O Presidente da República presidiu, na manhã de ontem, os atos de inauguração do Núcleo Habitacional Felizardo Furtado, com 944 apartamentos, e o Hospital Universitário da PUC. Acompanhado pelo governador Sinval Guazzelli, pelo chefe do gabinete militar da Presidência da República, general Hugo de Abreu, e pelos ministros Rangel dos Reis e Arnaldo da Costa Prietto, o presidente chegou ao bairro Jardim Botânico, onde foi construído o núcleo habitacional, às 9 horas e 30 minutos, sendo aguardado pelo prefeito Guilherme Socias Villella, pelo diretor-superintendente do INOCOOP, Renato Eickstaed, e demais autoridades. Estudantes de todo o bairro e bandas marciais saudaram o chefe da Nação em sua chegada ao Núcleo Habitacional Felizardo Furtado. No local, o presidente Ernesto Geisel solicitou amplas informações sobre a obra que custou 130 milhões de cruzeiros, interrogando principalmente o diretor-superintendente da INOCOOP. A seguir entregou a chave de um apartamento a Eduardo Araújo, o primeiro morador do Núcleo”.

Na verdade o presidente Geisel havia chegado ao Estado na quinta-feira, seguindo imediatamente a Santo Ângelo, onde abriu oficialmente a colheita do trigo. Em seguida foi a Caxias do Sul e lá inaugurou o Centro de Tecnologia e Pesquisa da Universidade de Caxias do Sul, UCS.
Era, em essência, uma agenda política, pois estava-se às vésperas das eleições municipais (as únicas permitidas para cargos executivos) e Geisel queria dar “um empurrãozinho” no seu partido, a Aliança Renovadora Nacional, Arena. Ele também esteve em Estrela, sua terra natal, e em Bom Retiro, onde inaugurou outras obras e fez um discurso sobre a importância de “se votar bem”.
No Conjunto Felizardo Furtado, Geisel e comitiva descerraram a placa de inauguração, conheceram um apartamento e depois seguiram para o Hospital da PUC.
Durante a inauguração do conjunto habitacional, o Presidente da República foi saudado pelo presidente da Cooperativa Habitacional que construiu o “núcleo” (INOCOOP), Gilberto Rodrigues. Segundo transcreveu o Correio do Povo, Rodrigues, ao se referir à obra e ao presidente Geisel, falou em “libertação” dos trabalhadores:
“Esse momento, consagrado com a presença de Vossa Excelência, significa a libertação de 944 famílias de trabalhadores que passam da condição de inquilinos e peregrinos de tetos alheios, a proprietários da casa própria”.
Na verdade o Conjunto de 944 unidades, 8 prédios, 62 mil metros quadrados de obras (iniciadas em fevereiro de 1974), beneficiava famílias com renda mensal de cinco a oito salários mínimos – ou seja, era um condomínio para a classe média baixa. As prestações eram relativamente suaves (menores que o aluguel correspondente) e longas, o que atraiu um grande número de interessados.
A maioria dos apartamentos, de um, dois e três dormitórios (poucos), havia sido vendida na planta, antecipadamente. Um empreendimento dessa magnitude, é claro, atraiu a atenção do mercado imobiliário e de muitos especuladores que viram uma boa oportunidade de lucrar com a revenda dos imóveis, como se pode ver pelos anúncios classificados do Correio do Povo (o maior jornal da época). No domingo, 31 de outubro, lia-se no CP:
“Transfere-se vários apartamentos com um, dois e três dormitórios, living, banho social, cozinha e área de serviços. Conjunto novo com play-graud, estacionamento e área verde. Conj. Residencial Felizardo Furtado. Chaves em nosso poder. Diversos preços e condições. Tratar Riachuelo, 1513, s/loja, f.244471.” Outro anúncio, na mesma edição, dizia: “Preciso urgente de um apto no parque residencial FF. Negócio direto. Tratar f. 255004”. Dezenas de anúncios desse tipo – bem antes da data oficial da inauguração – saíam regularmente na imprensa.

Neusa Brizola teve uma vida marcante e sofrida


Ela foi a grande companheira de Leonel Brizola (falecido) - e, em toda a sua vida, habituou-se a conviver com o poder. Isso, porém, não a impediu de ter uma existência sofrida, cheia de altos e baixos, e de, por uns tempos, tornar-se alcoólatra.
Neuza Goulart Brizola, mulher do ex-governador gaúcho e fluminense - o amado e odiado homem que garantiu a Legalidade e a posse de Jango, seu irmão - faleceu em 7 de abril de 1993, uma quarta-feira, aos 71 anos de idade, na clínica Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, onde morava. O laudo atestou infecção generalizada e sérios problemas respiratórios. Foi enterrada em São Borja, assim como Jango, assim como Getúlio Vargas (que foi seu pardinho de casamento), assim como Leonel, também falecido (sem ter nunca ter realizado o seu sonho de se presidente).
Elegante, discreta, bonita, Neuza conheceu Leonel em uma convenção do Partido Trabalhista Brasileiro, em São Borja, onde nasceu, ainda nos anos quarenta. Conta-se que trocou um outro pretendente rico por um jovem engenheiro em início de carreira política. Quando casaram-se, ela tinha 28 anos - e nunca se arrependeu da opção: a união dela com o temperamental Brizola parece ter sido amorosa, senão apaixonada. O marido chamava-a de "queridinha", era seu confidente e amigo. Foram apaixonados por toda a vida e tiveram três filhos - João Vicente, João Otávio e a problemática Neusinha - recentemente falecida.
Não era para menos: ao lado do líder trabalhista, Neuza suportou muitos anos de exílio (15 longos anos) e perseguições políticas em terras estranhas, sem jamais esmorecer. Antes, quando Brizola era governador do Rio Grande do Sul, chegou a doar uma de suas sete fazendas - que herdou dos pais - para a reforma agrária que seu marido promoveu no Estado, e vendeu outras quatro para garantir o sustento da família, no período da Ditadura, quando viveram no Uruguai e depois em Portugal e nos Estados Unidos. Vendeu mais uma, quando voltaram ao Brasil, em 1979, para comprar o apartamento na avenida Atlântica, em Copacabana - o QG de Brizola, e onde morou até a sua morte.
DEPRESSÃO - Os primeiros seis anos de exílio foram duros. No frio Uruguai, viveram em um apartamento sem calefação ou ar condicionado. Depois a família mudou-se para uma fazenda, a 250 km de Montevidéo - lá não havia energia elétrica ou telefone. Mulher prendada, pela primeira vez obrigou-se a cozinhar. Disse mais tarde, sobre isso: "Só quem passou pelo exílio sabe como é triste ser brasileiro fora de sua pátria".
Em 1983, no Brasil, tratou-se durante 75 dias, nos Estados Unidos, de uma crise de depressão, algo cada vez mais comum - sequer chegou a asistir à posse do marido no Palácio Laranjeiras. Mais tarde internou-se em uma clínica para recuperação de alcoólatras, na Espanha.
Em 7 de janeiro de 1993, em Nova York, foi internada às pressas em um hospital, com uma úlcera perfurada. Permaneceu dois meses na UTI, sedada. Carinhoso, Brizola a visitava duas vezes por dia e passava longas horas à beira da cama, afagando seus cabelos. Alguns dias antes da sua morte, sem poder falar, trocava bilhetes com o marido.
Talvez por tudo isso, Neuza abusava dos calmantes e antidepressivos, bebia muito e fumava. Em 1986, ela e Leonel combinaram de parar de fumar - o que ele conseguiu, ela não. A esse tempo já havia se submetido a uma operação para a retirada de um tumor em um dos seios. Sofreu também com as brigas entre seu marido e o irmão Jango - reconciliados enfim em 1976, pouco antes do presidente deposto morrer.
Seu maior sonho, no entanto, nunca aconteceu: voltar e envelhecer junto ao marido, na sua São Borja, de preferência bem longe da política.

segunda-feira, outubro 21, 2013

Paulo Francis: exagerado, ególatra e polêmico, está fazendo falta

Quem não lembra dele, com aquele óculos fundo de garrafa, a fala afetada, dizendo poucas e boas, não raro mentindo e não raro acertando na mosca?

Um dos jornalistas mais cultos e mais lidos do Brasil (escrevia inicialmente na Folha de São Paulo, passando depois para o Estado, que distribuía sua coluna para dezenas de outros jornais brasileiros), considerado arrogante e direitista por muitas, lúcido por outros, Paulo Francis tinha um humor ranzinza - e talvez seja este humor que esteja fazendo falta hoje, anos depois da sua morte, em 4 de fevereiro de 1997, em Nova Iorque, aos 66 anos.

Francis - nascido Franz Paulo Trannin Heilborn, em uma família de classe média alta do Rio de Janeiro - nunca fez curso superior, foi trotskista na juventude, dos 14 aos 27 anos leu em média seis horas por dia, participou dos áureos tempos do Pasquim, foi preso pela ditadura militar, ofendeu todo mundo (inclusive Roberto Marinho, que comparou a um emissário cloacal, o "robertoduto". Depois foi trabalhar para as Organizações Globo: Marinho não guardou mágoas do episódio) e, por essas e outras, morreu de infarto em seu apartamento na cidade que ele considerava a Capital do Mundo.

Também parecia não gostar de negros e nordestinos - certa vez chamou o Nordeste "desta região desgraçada do País." Quanto aos seus comentários culturais, era igualmente ácido e pretensioso - simplesmente desprezava o moderno cinema nacional e considerava quase todos os intelectuais como subservientes ao poder. Na esfera política, tornou-se célebre a denominação que deu ao senador Eduardo Suplicy (e sua fleuma) - "Mogadon", o nome de um remédio.

Paulo Francis vivia então (1997) um dos mais complicados períodos da sua vida: estava sendo processado pelo presidente da Petrobrás (do governo FHC), Joel Rennó, e mais outros seis diretores da estatal. Eles pediam nada menos do que 100 milhões de dólares por ressarcimento moral, uma vez que o jornalista havia dito, durante sua participação no programa Manhattan Connection, da Globosat, que`"os diretores da Petrobrás põem dinheiro na Suiça", "roubam em subfaturamento e superfaturamento", "é a maior quadrilha que já existiu no Brasil". Pior: disse isso tudo sem nenhuma prova consistente e certamente iria perder o processo e ter que pagar uma bolada grossa para os acusados. Aliás, já estava gastando os tubos com advogados - ele, o jornalista mais bem pago do Brasil, ainda assim não tinha como fazer frente às despesas com honorários (ele próprio calculou que o processo se arrastaria por uns cinco anos e lhe custaria, só com os advogados, no mínimo 200 mil dólares). Segundo Francis, o objetivo da ação era arruiná-lo financeiramente. Transtornado, passou a ingerir calmantes em doses maciças e a sentir dores nos ombros, o que julgou um sintoma da sua bursite e não de problemas cardíacos, os quais até seu médico desconhecia.

É de se imaginar que, se estivesse vivo hoje, o que ele não diria do governo Lula.

Uma palhinha de Paulo Francis:
"A morte deve ser como a anestesia geral"
"Bebi muitos anos. Para ficar bêbado. Não vejo outra razão. O bebedor social é coisa de pequeno-burguês" (depois parou completamente de beber)
"Fidel Castro é essencialmente um conservador feudal, um feitor de fazenda, a quem a idéia de inovações, de modernidade, horroriza"
"A melhor propaganda anticomunista é deixar os comunistas falarem"
"Acho que a tendência do intelectual é ser de direita. Ele é, por definição, um elitista"
"É preciso meter as mãos na cabeça raspada do Vicentinho língua-presa. Eu lhe daria uma chicotada para ver se reage docilmente como escravo."
"Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. Crítica não é raiva. E crítica, às vezes, é estúpida."
"Nenhum filme brasileiro dá certo porque todos os cineastas tentam demagogicamente se colocar na posição de humildes. É falso, visceralmente. Sempre que vejo algum favelado em filme brasileiro tenho vontade de sair gritando: é um santo! É um santo!"
"O negro africano não tinha língua escrita, como notaram os exploradores da África do século XIX; logo não pode, pela ordem natural das coisas, possuir uma cultura como a entendemos."
"Quero que fique registrado que eu favoreceria o fechamento do Congresso ou qualquer outra dessas instituições reacionárias que impedem o progresso do País."

Salve Grêmio, campeão de 1949!



Em 1949 o Grêmio foi campeão da liga metropolitana. Em 1954 inauguraria o seu novo e grandioso estádio, o Olímpico, na época o maior estádio particular do mundo. Também em 1949, no final do ano, o glorioso time tricolor excursionaria pela América Central, enfrentando selecionados de vários países e voltando invicto, depois de vários jogos. A excursão do Grêmio às repúblicas centro-americanas foi "coroada de glória", como escreveram os jornais. Mas o time - em um "périplo" incrível - teve de enfrentar desgastantes e perigosas viagens de avião (imaginem o que era isso naquela época) e enfrentou a truculência e a violência, sem se deixar abater. Até revólveres foram usados para amedrontar o time.
Nesta reprodução do Diário de Notícias, o título de 1949.

sexta-feira, outubro 18, 2013

A Internet nasceu no Brasil faz 19 anos

A Internet hoje faz parte do dia-a-dia da população brasileira - queiram ou não, tudo gira em torno dela. Mas, 19 anos atrás, a rede mundial ainda era um sonho que somente uma meia dúzia de pessoas desfrutava. Veja nesta matéria da revista Veja, que é praticamente o certificado de nascimento da rede no Brasil.
* Clique em cima da imagem para ler a matéria perfeitamente.

quarta-feira, outubro 16, 2013

Barão do Amazonas, mas pode chamar de Almirante Barroso

A rua Barão do Amazonas é a artéria central do Jardim Botânico e corta a Avenida Bento Gonçalves, com um comércio em expansão. Mas nem todos sabem quem foi, afinal, o Barão do Amazonas.
Barão do Amazonas é, na realidade, o Almirante Barroso, que ganhou tal título por ter sido herói na Guerra do Paraguai e se celebrizado ao vencer a Batalha do Riachuelo, que decidiu os rumos da Guerra em favor do Brasil. Estrategista destemido, ele ordenou aos comandantes dos navios que se jogassem diretamente contra o inimigo, abalroando-os. Fez o mesmo, inclusive, com o seu próprio navio, a fragata "Amazonas". Barroso gostava de lutar "de perto".
Nascido em Lisboa, Portugal, em 23 de setembro de 1804, com o nome de Franscisco Manuel Barroso da Silva, chegou ao Brasil com cinco anos de idade. Formou-se pela Academia da Marinha do Rio de Janeiro em 1821 e participou das campanhas militares do Rio da Prata e do Pará. Condecorado pelo governo imperial, recebeu a Ordem do Cruzeiro e o título de "Barão do Amazonas". Faleceu em Montevidéo, Uruguai, a 8 de agosto de 1882. Seus restos mortais foram transladados para o Rio de Janeiro.

terça-feira, outubro 15, 2013

Um pombo-correio unindo dois Estados

A comunicação usando-se os pombos foi algo comum no passado, e a criação e adestramento de pombos também, tanto que existia até mesmo uma sociedade de columbofilia no Rio Grande do Sul e, provavelmente, em outros Estados do Brasil. Nesta matéria, extraída do Correio do Povo, noticia-se um pombo que é solto em Vacaria, no Rio Grande, e viaja até Joinvile em apenas sete horas. Solto pelo saudoso ex-prefeito Marcos Palombini, foi recebido em terras catarinenses pelo futuro governador Pedro Ivo Campos, que também não mais vive.

O Último Tango foi censurado na Itália e seus atores condenados à prisão

Velhos tempos: apesar de ter sido lançado alguns anos antes, o Último Tango em Paris, com Marlon Brando e Maria Schneider, causou escândalo - até pela cena da manteiga. O certo é que o filme de Bertolucci gerou reações da sociedade conservadora daqueles anos setenta, e, mesmo na Itália, foi proibido e censurado. Aliás, seus atores e autores responderam a processo. Vejam só.
Esta notícia eu encontrei no Correio do Povo de janeiro de 1976 e achei que valia a pena ser transcrita. Da coleção do Arquivo Histórico de Porto Alegre.

segunda-feira, outubro 14, 2013

Galos maconheiros não perdiam as lutas

Dar canabis sativa a galos de rinha pode ser um tremendo doping para os bichos - isso no tempo em que as rinhas eram mais ou menos legais e não davam cana, como hoje. Pois foi o que fez, em 1975, um gaúcho muito experto, ou que pelo menos assim se julgava. Mas os outros concorrentes desconfiaram da euforia dos seus galos e a trama foi descoberta: o "galista" chapava seus bípedes para que vencessem todas as lutas.

O detetive Kojak em terras brasileiras: novembro de 1975

O cara fez sucesso, e muito. Ou melhor, o seu personagem, o tal do "careca charmoso" que permaneceu anos em exibição na telinha da Globo, naqueles anos setenta.  Com sua careca lustrosa, digna de um Esperidião Amim, Telly Savalas usava chapéu, chupava pirulito e encarnava, digamos assim, uma espécie de machão sensível. Kojak foi um dos seriados de maior sucesso da televisão brasileira.
No final de 1975 o ator veio ao Brasil, trazendo consigo um grupo de belas mulheres norte-americanas. Eles se exibiram no Rio e em São Paulo, em despretensiosos shows caça-níqueis que não deixavam de ser divertidos. Esta matéria é do Correio do Povo de novembro de 1975.

Usina nuclear será construída no Rio Grande do Sul

Quem pesquisas jornais antigos invariavelmente se depara com notícias impactantes, e que, no entanto, são apenas meros factoides que rendem manchetes - nada mais que isso. Em 1963, por exemplo, quando Ieda Maria Vargas conquistava o título de Miss Universo, o Grêmio era campeão gaúcho e o Brasil vivia uma fase de agitação e radicalização política que desembocaria no golpe de 64, saiu esta manchete no Correio do Povo, de Porto Alegre: uma usina nuclear a ser construída no Rio Grande do Sul... Somente na segunda metade da década de 70 é que isso aconteceu, e não foi no Rio Grande do Sul e sim no Rio de Janeiro, com as usinas Angra do acordo Brasil-Alemanha do general-presidente Ernesto Geisel.
Há muitos fatos assim - factoides depois esquecidos pelos próprios jornalistas, categoria de curta memória. Outro factoide que poucos lembram é o projeto de se abrir um canal, ligando Porto Alegre ao oceano Atlântico, na década de setenta, algo que encurtaria a distância para as viagens de navios, que não mais precisariam descer a Lagoa dos Patos e sair pela Barra de Rio Grande. Ou o túnel debaixo do Guaíba, que também chegou a ter um projeto técnico e teve a aprovação do presidente Eurico Gaspar Dutra, em 1950. É claro que não saiu disso.