quinta-feira, setembro 01, 2016

Carlos Drummond, o poeta que perdeu a filha e morreu 12 dias depois, de desgosto

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Carlos Drummond e Andrade

Já se vão quase 30 anos que Carlos Drummond de Andrade morreu. Para muitos, o maior poeta brasileiro de todos os tempos, Drummond - pouca gente lembra - faleceu 12 dias depois da morte da sua filha, Maria Julieta. E, conta-se, morreu de desgosto, de falta de vontade de viver, aos 84 anos de idade, às 8h45 minutos do dia 17 de agosto de 1987, uma segunda-feira, no Rio de Janeiro, onde morava havia muito tempo. Sepultado sem orações ou discursos - como pediu, já que era ateu (ou agnóstico, como queiram), Drummond estava internado no hospital, vítima de dores no peito. Cardíaco, já havia sofrido infartos anteriores. Foi sepultado no cemitério São João Batista, na presença de quase mil pessoas - entre eles o presidente em exercício, Ulysses Guimarães - Sarney estava no exterior.

Sua única filha - de quem era não só pai, como o maior amigo ("eles se entendiam só pelo olhar", disse um amigo) - não havia resistido a um câncer generalizado. No enterrro, o poeta confidenciou a um amigo: "Não tenho mais futuro, acabou tudo para mim". Doze dias depois, ele se deixou levar. Coisas que acontecem.

LIXO COMO PRESENTE - Homem fechado, reservado, arredio, tímido, meticuloso como todo bom mineiro, Drummond - nascido em Itabira, em 31 de outubro de 1902, em uma família de fazendeiros - publicou 30 livros de poesia (mais os de crônicas), dos quais foram vendidos mais de 500 mil exemplares. Mas não gostava de teorizar sobre poesia (coisa muito comum entre outros poetas) e preferia que o chamassem de jornalista. Expulso do colégio, em Belo Horizonte, aos 19 anos - por "insubordinação mental" - formou-se em Farmácia ("porque era o curso mais curto"), profissão a qual jamais exerceu. Foi, sim, professor de Geografia e Português, jornalista e funcionário público - por sinal muito exigente. Aos 23 anos casou-se com Maria Dolores - e com ela viveu até o final da vida.

COMUNISTA - Carlos Drummond trabalhou no Ministério da Educação durante a ditadura Vargas, a convite do seu amigo Gustavo Capanema, mas - lá pelos anos quarenta, em especial durante a Segunda Grande Guerra - alinhou-se ao Partido Comunista Brasileiro, o velho PCB, na luta contra o fascismo. Chegou, a convite de Luis Carlos Prestes, a dirigir o jornal do partido - o Tribuna Popular - mas, por incompatibilidade, demitiu-se três meses depois de assumir, por não suportar a ortodoxia comunista e stalinista. Mais tarde, explicou: "O que eu escrevia não saía, e o que saía eu não entendia nada".

Nos anos quarenta, durante a Guerra, compôs poemas bem esquerdistas, até de louvor ao staninismo - num deles saúda a resistência de Stalingrado (hoje com outro nome) aos invasores nazistas. Em 1964, já bem decepcionado com a política, com a esquerda e a politicagem, apoiou o Golpe Militar - dois meses depois já estava novamente decepcionado e enojado com aquilo tudo.

Muito abalado com a morte da filha (teve um filho antes, que morreu poucos meses depois do nascimento), ainda mantinha seus hábitos impecáveis e ordeiros, como o de acordar às 7 horas da manhã e dormir tarde, e o de arrumar as cestas de lixo com tal minúcia que "pareciam presentes de Natal", ou "embrulho de presente". Telefonava seguidamente aos amigos, para saber como estavam e dava lá seus palpites e conselhos.

Cético, bom mineiro, Drummon teve outro grande mérito: já reconhecido com o maior poeta brasileiro - aquele que fazia poesia simples, sem firulas, quase na linguagem do povo - recusou-se a se candidatar à Academia Brasileira de Letras (Moacir Scliar também disse isso nos anos 70, depois quis ser "imortal" e hoje participa dos glamourosos chás da "Casa de Machado de Assis").
E como hoje é domingo, é um bom dia para ler Drummond, na cama, entre as cobertas.

"E agora, José?


a festa acabou,


a luz apagou,


o povo sumiu,


a noite esfriou,


e agora, José?


e agora, você?


você que é sem nome,


que zomba dos outros,


você que faz versos,


que ama, protesta?


e agora, José?"
Ronaldo, Jornal do Commercio, PE. A Charge Online.


Hoje Abel Braga completa 68 anos, Heraldo Pereira faz 55 e Rocky Marciano (fal. 1969) faria 93.

quarta-feira, agosto 31, 2016

Agosto, mês dos cachorros loucos

O mês de agosto, antigamente (nem tão antigamente assim) era considerado o mês dos cachorros loucos, em referência ao grande número de raiva canina, ou hidrofobia, que acontecia nesse período do ano. Até mesmo os pais alertavam as crianças para não se aproximarem de cães vadios e observarem, de longe, se tais bichos estavam babando ou com espuma na boca - sintoma da raiva. Hoje, com tantas vacinas e cuidados aos animais, nem mais se fala nisso e não se registram casos de transmissão da raiva do cachorro para o ser humano através da mordida - algo terrível, se não houvesse a imediata aplicação de injeções dolorosas em volta do umbigo. Nesta matéria, de janeiro de 1976 - publicada pelo Correio do Povo noticia-se o grande número de cães hidrófobos que vagavam pela badalada praia do Laranjal, em Pelotas, causando temor entre os moradores e os veranistas. 
Sid, em A Charge Online.

segunda-feira, agosto 22, 2016



Hoje Rodrigo Santoro faz 41 anos, Tarcisio Filho 52 e Ary Toledo 79. E Ruy Guerra faz 85.

quarta-feira, agosto 17, 2016

terça-feira, agosto 16, 2016




Hoje Odair José completa 68 anos, Millor Fernandes faria 93, Madonna faz 58, José Augusto 63 e Charles Bukowsky faria 96.

segunda-feira, agosto 15, 2016

terça-feira, agosto 09, 2016

A surpreendente história de um "mané" da ilha chamado Guga



Pesquisa e texto: Conselheiro X


1997. À exceção dos próprios tenistas profissionais, ninguém no Brasil tinha ouvido falar em Gustavo Kuerten, o Guga. Porém, em junho daquele ano um rapaz de 20 anos (nasceu em 10 de setembro de 1976), 1,91 metro de altura, 76 quilos, cabelos longos, barba rala e um estilo "grunge" de se vestir, conquistava o primeiro e mais importante dos seus muitos títulos - o de campeão do torneio de Roland Garros, na França, um dos mais importantes do mundo do "grand slam" - as competições em Winbledon, na Inglalterra, os abertos dos Estados Unidos e da Austrália e, é claro, esse, na França. Guga havia se profissionalizado havia apenas dois anos.

Não faz muito Guga despediu-se do tênis profissional, na mesma quadra que o viu vencer. Emocionou-se e até ganhou um pouco da terra e do saibro da quadra de seu técnico e "segundo pai", o gaúcho Larry Passos. A diferença é que, agora, o tenista catarinense, fanático torcedor do Avaí, tem algumas dezenas de milhões de dólares de patrimônio e um nome reconhecido no mundo todo. Ao lado de Maria Esther Bueno, tricampeã em Winbledon, Guga tornou-se o maior nome masculino do tênis brasileiro de todos os tempos. E um orgulho para a sua terra, Santa Catarina.

MULTICOLORIDO - Ao vencer o espanhol Sergi Bruguera, naquele torneio, Gustavo Kuerten - o azarão da disputa - ganhava o primeiro dos seus três títulos no "Maracanã do tênis".

Em sua edição de 11 de junho de 1997, ainda antes da final, a revista VEJA - que parecia acreditar que ele já tinha ido longe demais - escreveu: "Nunca o esporte nacional vira antes um azarão desse quilate. Guga chegou a Roland Garros há duas semanas como mais um entre as dezenas de tenistas anônimos que, todos os anos, inscrevem-se para a competição. E, para espanto da imprensa especializada internacional, e dos brasileiros, que nunca tinham ouvido falar no seu nome até segunda-feira, foi abatendo de forma implacável as celebridades que se apresentaram na sua frente. Na sexta-feira, quando venceu o belga Filip Dewulf na semifinal, já computava entre suas vítimas o russo Yegeni Kafelnikov e o austríaco Thomas Muster, respectivamente campeões do torneio em 1996 e 1995. O adversário seguinte, Bruguera, ganhou em 1993 e 1994."

E prosseguia: "Aos 20 anos, Gustavo Kuerten entrou em Roland Garros pela porta dos fundos. Antes de chegar ao torneio, ocupava apenas a 66 posição no ranking dos melhores tenistas do mundo e nunca havia vencido um torneio de primeira classe do circuito internacional. "Ainda não sei se sou uma estrela do tênis ou se continuo o mesmo", disse a VEJA um incrédulo Guga na quinta-feira enquanto brincava num flipperama ao lado do estádio."

Depois das vitórias de Roland Garros, os jornalistas internacionais passaram a chamá-lo de "surfista do saibro". Algo que também chamou a atenção, naquela ocasião, foram as roupas do tenista brasileiro. "Num esporte em que a tradição manda os atletas usar impecáveis roupas brancas, Guga apresentou-se com uniforme berrante, mais apropriado a um jogador de futebol: todo azul e amarelo, incluindo meias e sapatos. Surpresos, os organizadores do torneio procuraram os representantes do fabricante de roupas para pedir que moderassem na profusão de cores do uniforme. Não. Guga limitou-se a colocar na cabeça uma bandana com fundo branco, e manteve sua figura de surfista grunge. "Como pensaram que eu não iria longe no torneio, nem trataram do assunto diretamente comigo", conta o jogador" - escreveu VEJA em sua matéria (capa da edição de 11 de junho de 1997).

A revista dava mais detalhes do comportamento do catarinense: "Fora das quadras, mais surpresas. Enquanto a maioria dos jogadores do torneio se hospedava em hotéis caros e luxuosos de Paris, o brasileiro se escondia no modesto Mont Blanc, 70 dólares a diária. Foi nesse hotel que se hospedou quando esteve em Paris pela primeira vez, há cinco anos. Diz que foi bem tratado e não muda mais. Também costuma frequentar a mesma pizzaria, a Victoria, e se divertir no mesmo flipperama, ao lado do estádio de Roland Garros. Embora não aparente, Guga é sempre assim, metódico e disciplinado. Até hoje, quando joga nos Estados Unidos, dispensa os hotéis reservados pelos organizadores e vai para a casa de tia Vicky, uma inglesa que o recebeu quando lá esteve pela primeira vez para disputar um torneio juvenil. "Ele é uma pessoa de hábitos conservadores", diz João Carlos Diniz, promotor de eventos e amigo da família do jogador de Florianópolis."

Embora desconhecido do grande público, em 1997 Guga já era afamado no circuito do tênis brasileiro, por seu "jogo sólido", com bolas colocadas nos limites da quadra e muita velocidade. "Ele tem talento e personalidade para ficar no topo", afirmou então o americano John McEnroe, um dos maiores tenistas de todos os tempos. Como se vê, acertou: Guga ficou por mais de um ano como o tenista número 1 do mundo.

"Guga tem ainda uma arma poderosa em sua mão direita: o saque", escreveu VEJA. "Segundo o último número do Jornal do Tênis, órgão oficial da Associação do Tênis Profissional, Guga tem o décimo sétimo saque mais veloz do mundo. A bolinha arremessada por sua raquete chega a alcançar 206 km por hora. É uma velocidade tão grande que o adversário não tem tempo de reagir".

ORIGENS - De uma família de classe média, descendente de alemães, Guga tem um irmão mais velho, Rafael, formado em ciências da computação e professor de tênis - é ele quem cuida de seus negócios. O mais novo, Guilherme, já falecido, sofria de paralisia cerebral e vivia sob os cuidados de uma babá. Comerciante de esquadrias de alumínio, o pai, Aldo, havia morrido de ataque cardíaco há 11 anos. Guga disse então: "A ele costumo dedicar cada momento de minha vida". A mãe, Alice, trabalhava como assistente social na Telesc, a empresa telefônica de Santa Catarina, à época, além de dirigir a Fundação de Educação Especial, do Governo do Estado. A avó, Olga, foi a primeira patrocinadora - os primeiros torneios foram bancados pelas Indústrias Schlösser, uma tecelagem da família, em Brusque.

Hoje Fafá de Belém faz 60 anos e Melanie Griffith 59. E hoje Mário Jorge Lobo Zagallo completa 85 anos.

sábado, agosto 06, 2016

Regina Casé fazia o quê na abertura das Olimpíadas?

Assisti mais para o final a cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio. Depois, nos repetecos de tevê, vi que foi algo bonito mesmo - algo que eu tampouco esperava, considerando o fiasco que foi a abertura da Copa do Mundo no Brasil. Só não entendi - não entendi mesmo, juro - o que a Regina Casé estava fazendo no palco, ao lado de Jorge Ben (hoje Benjor) e não sei mais quem. Ué, a moça não canta, não é celebridade internacional e sequer é bonita - bem pelo contrário. Então, o que fazia lá, de fato? Alguém pode me explicar: será que colocaram a jovem senhora, sempre tão efusiva e falante, apenas para mostrar como está feia a situação econômica do Brasil ou talvez, vá lá, como uma contraposição à beleza da Gisele Bunchen? (Vitor Minas) 

quinta-feira, agosto 04, 2016

Colgate e a captura de um tenente

A Colgate é, talvez, a pasta dental mais antiga do mundo, fabricada ainda no século 19. Nesta propaganda, de janeiro de 1942, publicada na Revista do Globo, de Porto Alegre, o produto é tema de uma pequena história em quadrinhos, algo comum nas publicidades da época.
Clayton, O Povo, Ceará

Hoje Barak Obama faz 55 anos e Bruna Marquezine 21.

segunda-feira, agosto 01, 2016

Nixon recebe o rei Pelé na Casa Branca, em 1973

Em 1973 Richard Nixon ainda não estava acuado pelo escândalo Watergate, e certamente nem pensava que um dia teria de renunciar. Pelé, por sua vez, já havia abandonado a seleção brasileira, mas não o futebol - tanto que jogaria pelo clube do Cosmos, dos EUA, no ano de 1975 e 76. Personalidade mundial, considerado o "rei do futebol", Édson Arantes do nascimento, hoje com mais de 70 anos, circulava com desenvoltura no "gran monde" político, conforme se vê nesta notícia do Correio do Povo de primeiro de maio de 1973. 

sábado, julho 30, 2016

Tacho, no jornal NH, de Novo Hamburgo, RS

Paulo Francis denunciou corrupção na Petrobrás já nos anos 90


REPUBLICAÇÃO
Quem não lembra dele, com aquele óculos fundo de garrafa, a fala afetada, dizendo poucas e boas, não raro mentindo e não raro acertando na mosca?

Um dos jornalistas mais cultos e mais lidos do Brasil (escrevia inicialmente na Folha de São Paulo, passando depois para o Estado, que distribuía sua coluna para dezenas de outros jornais brasileiros), considerado arrogante e direitista por muitas, lúcido por outros, Paulo Francis tinha um humor ranzinza - e talvez seja este humor que esteja fazendo falta hoje, onze anos depois da sua morte, em 4 de fevereiro de 1997, em Nova Iorque, aos 66 anos.

Francis - nascido Franz Paulo Trannin Heilborn, em uma família de classe média alta do Rio de Janeiro - nunca fez curso superior, foi trotskista na juventude, dos 14 aos 27 anos leu em média seis horas por dia, participou dos áureos tempos do Pasquim, foi preso pela ditadura militar, ofendeu todo mundo (inclusive Roberto Marinho, que comparou a um emissário cloacal, o "robertoduto". Depois foi trabalhar para as Organizações Globo: Marinho não guardou mágoas do episódio) e, por essas e outras, morreu de infarto em seu apartamento na cidade que ele considerava a Capital do Mundo.

Também parecia não gostar de negros e nordestinos - certa vez chamou o Nordeste "desta região desgraçada do País." Quanto aos seus comentários culturais, era igualmente ácido e pretensioso - simplesmente desprezava o moderno cinema nacional e considerava quase todos os intelectuais como subservientes ao poder. Na esfera política, tornou-se célebre a denominação que deu ao senador Eduardo Suplicy (e sua fleuma) - "Mogadon", o nome de um remédio.

Paulo Francis vivia então (1997) um dos mais complicados períodos da sua vida: estava sendo processado pelo presidente da Petrobrás (do governo FHC), Joel Rennó, e mais outros seis diretores da estatal. Eles pediam nada menos do que 100 milhões de dólares por ressarcimento moral, uma vez que o jornalista havia dito, durante sua participação no programa Manhattan Connection, da Globosat, que`"os diretores da Petrobrás põem dinheiro na Suiça", "roubam em subfaturamento e superfaturamento", "é a maior quadrilha que já existiu no Brasil". Pior: disse isso tudo sem nenhuma prova consistente e certamente iria perder o processo e ter que pagar uma bolada grossa para os acusados. Aliás, já estava gastando os tubos com advogados - ele, o jornalista mais bem pago do Brasil, ainda assim não tinha como fazer frente às despesas com honorários (ele próprio calculou que o processo se arrastaria por uns cinco anos e lhe custaria, só com os advogados, no mínimo 200 mil dólares). Segundo Francis, o objetivo da ação era arruiná-lo financeiramente. Transtornado, passou a ingerir calmantes em doses maciças e a sentir dores nos ombros, o que julgou um sintoma da sua bursite e não de problemas cardíacos, os quais até seu médico desconhecia.

É de se imaginar que, se estivesse vivo hoje, o que ele não diria do governo Lula.

Uma palhinha de Paulo Francis:
"A morte deve ser como a anestesia geral"
"Bebi muitos anos. Para ficar bêbado. Não vejo outra razão. O bebedor social é coisa de pequeno-burguês" (depois parou completamente de beber)
"Fidel Castro é essencialmente um conservador feudal, um feitor de fazenda, a quem a idéia de inovações, de modernidade, horroriza"
"A melhor propaganda anticomunista é deixar os comunistas falarem"
"Acho que a tendência do intelectual é ser de direita. Ele é, por definição, um elitista"
"É preciso meter as mãos na cabeça raspada do Vicentinho língua-presa. Eu lhe daria uma chicotada para ver se reage docilmente como escravo."
"Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. Crítica não é raiva. E crítica, às vezes, é estúpida."
"Nenhum filme brasileiro dá certo porque todos os cineastas tentam demagogicamente se colocar na posição de humildes. É falso, visceralmente. Sempre que vejo algum favelado em filme brasileiro tenho vontade de sair gritando: é um santo! É um santo!"
"O negro africano não tinha língua escrita, como notaram os exploradores da África do século XIX; logo não pode, pela ordem natural das coisas, possuir uma cultura como a entendemos."
"Quero que fique registrado que eu favoreceria o fechamento do Congresso ou qualquer outra dessas instituições reacionárias que impedem o progresso do País."
Foto de Henri Cartier Bresson

A gloriosa e trágica vida de Romy Schneider

Beleza madura de quem foi Sissi, a imperatriz austríaco do cinema.
IVAN CLAUDIO
Extraído da revista Istoé
Segundo o escritor Johannes Thiele, Romy escondia sob a beleza uma profunda infelicidade
A atriz austríaca Romy Schneider morreu no auge de sua carreira há 26 anos. Tinha beleza de deusa, calma de budista e ar de felicidade de quem sorri o tempo todo para os fãs. Foi assim que enfrentou publicamente, por exemplo, a morte precoce e trágica de seu filho David - ele tinha 14 anos quando morreu perpassado pelas pontas da grade do portão de sua casa em Paris. A eterna beleza, a eterna calma e o eterno sorriso eram, no entanto, pura mágica. Romy Schneider, espécie de Marilyn Monroe de cabelos negros, foi um poço sem fundo de infelicidade, e esse é o tom da sua mais nova biografia, Romy Schneider: ihre filme, ihr leben, ihr seele (Romy Schneider: seus filmes, sua vida, sua alma). O livro acaba de ser lançado em Viena e seu autor, o biógrafo Joannes Thiele, caprichou para definir a atriz em poucas palavras: "a vida de Romy daria um filme melhor e mais intenso que todos os filmes que ela fez em vida". Trata-se de um elogio e tanto, uma vez que a filmografia de Romy reúne admiráveis clássicos como Ludwig II, rei da Baviera (Luchino Visconti) e O processo (Orson Welles).
Problemas profissionais ela nunca teve. Filha de um casal de atores (o austríaco Wolf Albach Retty e a alemã Magda Schneider), Romy estreou no cinema aos 15 anos e alcançou o rápido sucesso com a trilogia de filmes sobre a imperatriz austríaca Sissi - papel que está, aliás, na raiz daquela máscara majestosa da qual ela não conseguia se libertar.
O livro de Thiele mergulha em sua personagem justamente para lhe tirar esse véu. O autor detecta na infância da atriz os primeiros sinais dos sentimentos de rejeição e abandono que a acompanhariam ao longo da vida. Os seus pais se separaram e ela sofreu bastante os efeitos dos poucos cuidados que recebia da mãe, mais voltada para a carreira de atriz. O seu pai também a abandonou e era o amor paterno que ela sempre buscou nos homens. O mais famoso de seus parceiros amorosos, o ator francês Alain Delon, deixou-lhe uma marca devastadora. Delon já era uma estrela quando Romy o conheceu nas filmagens de Christine, ela tinha 20 anos, ele, 23. Egocêntrico e narcisista, o ator viu em Romy apenas uma aventura - isso segundo o biógrafo. E assim, como um aventureiro, acabou o relacionamento da forma mais covarde possível: apenas um bilhete colado a um buquê de rosas vermelhas. Romy voltava de uma filmagem nos EUA e, ao entrar em seu apartamento, encontrou o ambiente vazio. Nas flores, a frase que a apunhalou: "Vou para o México com Nathalie." Outras perdas se acumularam com os anos, já aí marcados pelo uso de drogas e álcool. O segundo marido, o diretor de teatro Harry Meyen (pai de David), suicidou-se, e pouco depois morreu-lhe o filho. Também menos infeliz não foi o casamento com o seu secretário Daniel Biasini: ela se separou dele ao descobrir que a única coisa que o interessava era sua fortuna. No dia 29 de maio de 1982 o coração de Romy não agüentou mais. Os jornais da época frisavam que ela morrera de "coração partido".

Talidomida, o erro farmacêutico que custou a deformação humana

REPUBLICAÇÃO
Pesquisa e texto: Conselheiro X
As pessoas mais velhas e bem informadas ainda lembram bem deste nome: Talidomida. Prescrito como calmante e sonífero no final dos anos cinquenta e início dos sessenta, o medicamento (na verdade Talidomida é o seu nome químico e não o de vendas) transformou-se em um sinistro sinônimo da ganância monstruosa da indústria farmacêutica. Lançada sem a devida comprovação de seus efeitos colaterais, testada apenas em ratos, produzida em dezenas de países com nomes comerciais diferentes (Contergan, Distaval, Kevadon, Softnon, Talimol etc), a substância foi sintetizada pelo laboratório Chemie Grünenthal, de Nordrhein-Westfalen, na então Alemanha Ocidental e, dentro em breve, logo após o seu lançamento comercial, em 1956, (como anti-gripal e com o nome de Grippex), transformou-se em uma mina de ouro para a indústria, a qual investiu pesadamente na sua divulgação. Na verdade, a partir de tal substância, fabricava-se inúmeras marcas comerciais que, somente em um ano, na Alemanha, venderam a assombrosa quantidade de 14 toneladas. Mais de 20 outros laboratórios, em diferentes países de todo o mundo, foram licenciados para a sua produção. No Brasil, a Talidomida chegou em março de 1958, nas marcas Ectiluram, Ondosil, Sedalis, Sedim, Verdil e Slip, todas vendidas sem a exigência da receita médica. Era, então, considerado o melhor soporífero jamais inventado, passando também a ser utilizado contra a gripe, a nevralgia, a asma, a tosse e, sobretudo, como antiemético para as mulheres grávidas.
Foi justamente aí que ele fez história - uma tétrica história: receitado para muitas grávidas em início de gestação, ingerido em pílulas brancas, era um sedativo barato que provocava um sono rápido, profundo e natural, sem a característica "ressaca" da manhã seguinte. De igual forma, podia ser ingerido em doses maciças que não causaria a morte do paciente, nem mesmo se este quisesse praticar o suicídio. Ideal, e, como logo se viu, fatal, ou pior que isso, para os fetos em início de formação. Usado nos primeiros 40 dias da gestação, atuava como teratogênico - ou seja, produzia monstros, se é que, infelizmente, assim se pode falar de suas vítimas, calculadas em cerca de 10 mil em todo o mundo. As crianças nasciam muitas vezes sem dois, três ou até quatro membros, dentre tantos outros efeitos observados.
A má-formação dos membros tinha um nome científico: focomelia (do grego "phoke" - foca- e "melos" - membros), ou "membros de foca". Os braços dos recém-nascidos surgiam como tocos abaixo dos ombros, semelhantes às nadadeiras das focas. Também se observou deformação dos olhos, do esôfago e do tubo digestivo. De cada duas crianças nascidas assim, apenas uma sobrevivia. Sem entender o porquê daquilo, com problemas de consciência, algumas mães enlouqueceram e outras chegaram a praticar o suicídio. Em 1961, os casos de "focomelia" já eram tantos que se falava em uma "epidemia".
De início foi extremamente difícil descobrir-se a origem de tal fenômeno, o elo comum. Pensou-se nos alimentos, na água, até em poeira atômica. Porém, graças a duas pessoas precisou-se exatamente a Talidomida como o fator causador. Uma delas, o advogado Karl Schulte-Hillen, de 32 anos, não havia aceito a explicação "genética" como a causadora da focomelia do seu filho recém-nascido. Homem saudável e esclarecido, ele descobriu que, coincidentemente, um casal de amigos seus tivera um filho em condições idênticas. Intrigado e inconformado, Karl passou a fazer investigações por conta própria, conversando com as mães que haviam dado a luz a tais "monstros". Ao tentar chamar a atenção da comunidade médica para o que estava se passando, encontrou uma revoltante indiferença e ignorância. Foi então que surgiu em seu caminho o médico Widukind Lenz, um pediatra especializado em genética que aliou-se a Karl, encampando a causa. Lenz, por fim, achou o nexo causal.
No dia 16 de novembro de 1961, Lenz comunicou oficialmente à indústria fabricante dos efeitos nocivos dos medicamentes a base de Talidomida - Contergan, no caso da Alemanha Ocidental. Ele, pessoalmente, já conhecia 13 casos. A Chemie Grünenthal, porém, não retirou o remédio do mercado - o que de fato só ocorreu quando a história virou manchete de jornal. O Contergan era o carro-chefe das suas vendas, uma verdadeira "galinha dos ovos de ouro", rendendo milhões e milhões de marcos.
Sooou então o alarma em todo o mundo. Nesse tempo, às suas próprias custas, Schulte-Hillen contratou oito fisioterapeutas que, juntamente com ele, passaram a percorrer a Alemanha Ocidental, à procura de vítimas da Talidomida. Entre agosto de 1964 e dezembro de 1965, visitaram 1.600 das 3.000 vítimas vivas da substância. Com seu endereço publicado nos jornais, choveram cartas, narrando novos casos.
A maioria das vítimas da Talidomida estava na Alemanha e na Inglaterra. Nos Estados Unidos, graças a uma mulher, o medicamento (lá chamado de Kevadon), não chegou a causar tantos danos e sofrimentos (não mais do que 20 vítimas). A ser fabricado pela Merrel Co., uma empresa de Cincinati, Ohio (e que ainda hoje é uma das grandes do mercado farmacêutico), não chegou a ser liberado pela Secretaria de Alimentos e Remédios (FDA, sigla em inglês). Apesar das terríveis pressões da indústria, a médica responsável pela aprovação, Dra. Frances Oldham Kelsey, recusou-se a dar o parecer favorável, alegando que as provas de garantias de não havier efeitos colaterais deletérios eram insuficientes. Em agosto de 1961, quando o escândalo veio a público, ela recebeu do presidente John Kennedy a medalha por Destacados Serviços Civis, por reter a aprovação da Talidomida - medalha esta que é uma das mais altas condecorações daquele país.
NO BRASIL - A Talidomida chegou ao Brasil em março de 1958, com os nomes de Ectiluram, Ondosil, Sedalis, Sedim, Verdil, Slip. Em março de 1962, o Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina e Farmácia proibiu o uso da Talidomida em todo o país, mandou apreender os estoques e cassar as licenças de fabricação. A medida, no entanto, não surtiu lá grandes efeitos pois o medicamento continuou ainda a ser usado durante anos devido à falta de informação da população, do descontrole na distribuição e, sobretudo, graças à omissão do governo e ao poder econômico dos laboratórios. Em 27 de novembro de 1973 foi criada, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a Associação Brasileira dos Pais e Amigos das Crianças Vítimas da Talidomida, entidade declarada de utilidade pública.
Nos últimos anos o interesse pela Talidomida trouxe novamente o debate à tona. Conforme alguns testes - ainda não plenamente comprovados - ela teria eficácia na luta contra a lepra, contra a tuberculose e até para aumentar a resistência de pacientes aidéticos. A questão, entretanto, ainda está em aberto.

Mário Quintana aos 36 anos

Mário Quintana, o maior poeta gaúcho, quem diria, se fosse vivo (faleceu em 1994) faria mais de 100 anos de idade. Nascido no Alegrete, trabalhou muito tempo na Editora Globo, onde foi tradutor de importantes escritores mundiais - incluindo Marcel Proust. Nesta foto, de 1940, da Revista do Globo, ele aparece em seu ambiente de trabalho, na Livraria do Globo - que não mais existe - um ponto de encontro dos intelectuais gaúchos da primeira metade  do século 20. Nesta época ele tinha apenas 36 anos. A foto, hoje, é até rara.




No dia de hoje o poeta Mário Quintana completaria 110 anos, Arnold Schwarzenegger faz 69, Paul Anka 75 e Fabricio Verdum 39.