Jardim Botânico, Porto Alegre. Fundado em 2006 por Vitor Minas. Email: vitorminas1@gmail.com
sábado, outubro 08, 2016
Agricultor morre por causa do uso continuado de pesticidas nas lavouras: janeiro de 1976
A consciência e também a vigilância a respeito dos pesticidas que são usados nas lavouras melhorou muito nas últimas décadas, embora continue a ser um problema preocupante. No Rio Grande do Sul, Estado agrícola e fabricante de tais produtos agrotóxicos, a questão do uso de tais venenos estava em pauta, diariamente, na imprensa diária, devido ao grande número de trabalhadores que eram acometidos de doenças, distúrbios nervosos - alguns até se suicidaram - e outras consequências nocivas desses inseticidas usados para combater as pragas das lavouras. Nesta matéria, de janeiro de 1976, o Correio do Povo, através de seus correspondentes no interior, noticia a morte de um agricultor e quase 80 reses em função de tais produtos químicos extremamente potentes.
sexta-feira, outubro 07, 2016
O primeiro ar condicionado para a Santa Casa de Porto Alegre: março de 1975
Ter um aparelho de ar condicionado, nos dias de hoje, é algo relativamente comum e acessível a um grande número de pessoas. Mas, em março de 1975 - a coisa não era bem assim, tanto que virava notícia. Foi o que aconteceu quando a Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre, ganhou o seu primeiro aparelho, por doação, como se vê nesta foto do Correio do Povo, noticiando o fato como uma grande novidade. Imaginem, nos dias atuais, entrar em um hospital e não encontrar lá sequer uma "modernidade" dessas?
quinta-feira, outubro 06, 2016
O início das transmissões oficiais a cores de TV: 1975
A televisão a cores, no Brasil, iniciou oficialmente em 1972, quando houve a retransmissão da Festa da Uva, de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Mas, antes, mesmo no início da década de 60, aconteceram experimentos que só não foram avante por falta de viabilidade comercial. Na Copa do Mundo de 1970, no México, por exemplo, algumas dezenas de televisores receberam sinais a cores dos jogos do mundial, a maioria de autoridades, em Brasília. Porém, a bem da verdade, o sistema colorido na TV brasileira foi sendo implantado aos poucos, gradativamente, à medida que os novos aparelhos de recepção iam substituindo os antigos, a preto-e-branco, algo que quem viveu a adolescência e juventude na década de 70 sabe muito bem. Nesta reprodução de uma notícia do CP de 1975 informava-se que as transmissões oficiais do governo, a cargo da Agência Nacional, a partir daquele momento, seriam a cores.
terça-feira, outubro 04, 2016
Campanha da Delegacia de Costumes contra os "engraçadinhos" dos cinemas: 1955
Em 1955 a Porto Alegre de pouco mais de 500 mil habitantes e mais de 100 quilômetros de linhas de bondes (uma das maiores do mundo, proporcionalmente) tinha na Rua da Praia a sua "cinelândia". Era nessa via central, então aberta ao trânsito de veículos, que se localizavam os principais cinemas de uma cidade que tinha quase 40 deles. Como assistir aos filmes, ou "películas", era um dos principais programas de lazer dos porto-alegrenses, naturalmente ali, no escurinho, aconteciam as mais variadas cenas - muitas delas mal-vistas pelo conservadorismo dos costumes da época (embora, até hoje, ninguém goste de "engraçadinhos"). Pois os tipos chamados de "engraçadinhos", ou "rapazes bonitos", protagonizavam cenas de desconforto às senhoras e senhoritas, não raro falando palavrões ou fazendo piadinhas durante a projeção. Como naquele tempo havia a tal "Delegacia de Costumes", os policiais passaram a vigiar e prender os tais folgados, que eram levados à delegacia de polícia para ouvir admoestações nada gentis da parte das autoridades da segurança pública. Pior: tinham seus nomes e endereços publicados no jornal de maior circulação da Capital, o Correio do Povo, como se vê nesta reprodução.
segunda-feira, outubro 03, 2016
Dom Elias Figueroa, craque do Inter, participa da campanha contra o cigarro: 1976
Se hoje o fumante tem, a cada dia, restringido o espaço para dar as suas tragadas, há 40 anos isso não acontecia - ainda podia-se fumar em ambientes fechados, lojas, bancos, estabelecimentos comerciais e até em aviões. Mas, naquele ano, as autoridades governamentais e da área da saúde (AMRIGS, Associação Médica do Rio Grande do Sul) iniciavam uma forte campanha antitabagista que ganhava força nas grandes capitais brasileiras - Porto Alegre, onde até hoje mais se fuma - era uma delas. O então jogador colorado,o zagueiro chileno Elias Figueroa - que seria bicampeão nacional pelo incrível time do Inter 75/76 - aderiu à iniciativa e emprestou seu nome a uma série de peças publicitárias que alertavam o cidadão a respeito dos malefícios do cigarro. É o que se vê nesta notícia do Correio do Povo.
sábado, outubro 01, 2016
Neusa, a companheira do político que suportou as dores do exílio e as perseguições políticas
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Neusa, quando jovem:trocou pretendente rico por um jovem engenheiro chamado Leonel. |
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O casal permaneceu junto até o final. |
Ela foi a grande companheira de Leonel Brizola (falecido) - e, em toda a sua vida, habituou-se a conviver com o poder. Isso, porém, não a impediu de ter uma existência sofrida, cheia de altos e baixos, e de, por uns tempos, tornar-se alcoólatra.
Neuza Goulart Brizola, mulher do ex-governador gaúcho e fluminense - o amado e odiado homem que garantiu a Legalidade e a posse de Jango, irmão de Neusa - faleceu em 7 de abril de 1993, uma quarta-feira, aos 71 anos de idade, na clínica Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, onde morava. O laudo atestou infecção generalizada e sérios problemas respiratórios. Foi enterrada em São Borja, assim como Jango, assim como Getúlio Vargas (que foi seu pardinho de casamento), assim como Leonel, também falecido (sem ter nunca ter realizado o seu sonho de se presidente).
Elegante, discreta, bonita, Neuza conheceu Leonel em uma convenção do Partido Trabalhista Brasileiro, em São Borja, onde nasceu, ainda nos anos quarenta. Conta-se que trocou um outro pretendente rico por um jovem engenheiro em início de carreira política. Quando casaram-se, ela tinha 28 anos - e nunca se arrependeu da opção: a união dela com o temperamental Brizola parece ter sido amorosa, senão apaixonada. O marido chamava-a de "queridinha", era seu confidente e amigo. Foram apaixonados por toda a vida e tiveram três filhos - João Vicente, João Otávio e a problemática Neusinha - recentemente falecida.
Não era para menos: ao lado do líder trabalhista, Neuza suportou muitos anos de exílio (15 longos anos) e perseguições políticas em terras estranhas, sem jamais esmorecer. Antes, quando Brizola era governador do Rio Grande do Sul, chegou a doar uma de suas sete fazendas - que herdou dos pais - para a reforma agrária que seu marido promoveu no Estado, e vendeu outras quatro para garantir o sustento da família, no período da Ditadura, quando viveram no Uruguai e depois em Portugal e nos Estados Unidos. Vendeu mais uma, quando voltaram ao Brasil, em 1979, para comprar o apartamento na avenida Atlântica, em Copacabana - o QG de Brizola, e onde morou até a sua morte.
DEPRESSÃO - Os primeiros seis anos de exílio foram duros. No frio Uruguai, viveram em um apartamento sem calefação ou ar condicionado. Depois a família mudou-se para uma fazenda, a 250 km de Montevidéo - lá não havia energia elétrica ou telefone. Mulher prendada, pela primeira vez obrigou-se a cozinhar. Disse mais tarde, sobre isso: "Só quem passou pelo exílio sabe como é triste ser brasileiro fora de sua pátria".
Em 1983, no Brasil, tratou-se durante 75 dias, nos Estados Unidos, de uma crise de depressão, algo cada vez mais comum - sequer chegou a asistir à posse do marido no Palácio Laranjeiras. Mais tarde internou-se em uma clínica para recuperação de alcoólatras, na Espanha.
Em 7 de janeiro de 1993, em Nova York, foi internada às pressas em um hospital, com uma úlcera perfurada. Permaneceu dois meses na UTI, sedada. Carinhoso, Brizola a visitava duas vezes por dia e passava longas horas à beira da cama, afagando seus cabelos. Alguns dias antes da sua morte, sem poder falar, trocava bilhetes com o marido.
Talvez por tudo isso, Neuza abusava dos calmantes e antidepressivos, bebia muito e fumava. Em 1986, ela e Leonel combinaram de parar de fumar - o que ele conseguiu, ela não. A esse tempo já havia se submetido a uma operação para a retirada de um tumor em um dos seios. Sofreu também com as brigas entre seu marido e o irmão Jango - reconciliados enfim em 1976, pouco antes do presidente deposto morrer.
sexta-feira, setembro 30, 2016
Argentina só teve televisão colorida em maio de 1980
Comparado com a Argentina, o Brasil perde feio em quase todos os setores da cultura - na literatura e no cinema, por exemplo. Com um índice de analfabetismo muito menor do que o Brasil, uma imprensa importante e um índice de leitura por habitante incomparavelmente superior ao dos brasileiros, os hermanos porém ficam atrás na área televisiva, tanto em termos técnicos como de qualidade. Para se ter uma ideia, somente em 1980, durante a ditadura militar, a população argentina passou a contar com televisionamento a cores, algo que no Brasil - ainda que de forma parcial - já existia desde 1972. Ao contrário do sistema brasileiro, de origem norte-americana, lá eles adotaram o sistema alemão, de custo maior, o que fez - como se vê nesta reprodução do Correio do Povo - encarecer os aparelhos de TV a serem vendidos.
O início da televisão no Rio Grande do Sul, vista por Sampaulo, chargista
Sampaulo - ou Paulo Brasil Gomes de Sampaio - nasceu em Uruguaiana e, por seu talento no humor e nos traços, tornou-se um dos mais importantes e conhecidos chargistas da imprensa gaúcha. O seu personagem Sofrenildo fez grande sucesso no antigo Correio do Povo, onde ganhava grande espaço e destaque. Sampaulo faleceu em fevereiro de 1999. Nesta reprodução da Revista do Globo, de 1960, diverte-se com os primeiros anos da televisão no Rio Grande do Sul - a TV Piratini, Canal 5, a pioneira, foi inaugurada no final de dezembro de 1959. Hoje transmite o SBT.
quinta-feira, setembro 29, 2016
Caio Fernando Abreu aos 27 anos: ator e roteirista, ainda longe da fama
Em maio de 1976 o escritor e artista Caio Fernando Abreu, nascido em Santiago do Boqueirão, na região fronteira, não tinha completado ainda 28 anos. Caio, que também foi jornalista, fazia então a elogiada peça Sarau das Nova às Onze, com roteiro dele próprio e direção de Luís Arthur Nunes. A peça estava em cartaz no Teatro de Câmara, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, onde o escritor então morava, como se noticia nesta matéria do Correio do Povo. Caio Fernando Abreu morreu em 25 de fevereiro de 1996, deixando uma sólida obra que continua a ser objeto de admiração literária. Ele completaria 68 anos de idade no dia 12 de setembro que passou.
quarta-feira, setembro 28, 2016
Mulheres gregas não podiam subir ao Monte Athos, por lei governamental: esse era o mundo feminino em 1976.
Passaram apenas quatro décadas, e fica um pouco difícil entender o mundo daqueles anos setenta, especialmente no caso de ser mulher hoje em dia. Pois na Grécia, em 76 (45 anos atrás, portanto), as mulheres não podia subir ao Monte Athos, um dos lugares mais referenciais daquela nação que é considerada o berço da civilização ocidental. A proibição era oficial e, a despeito do veemente protesto dos movimentos feministas (1975 havia sido declarado, pela ONU, o Ano Internacional da Mulher), não foi revogada pelo parlamento da época. Hoje isso parece absurdo, mas tal era a realidade em uma época na qual o bicho fêmea tinha um status inferior ao bicho homem. Reprodução do Correio do Povo, Arquivo Histórico Moysés Vellinho, da Prefeitura de Porto Alegre. Data de 11 de Junho de 1976.
terça-feira, setembro 27, 2016
Simonal irá a julgamento por sequestro e tourtura: 1976
Wilson Simonal de Castro faleceu em junho de 2000, aos 62 anos, doente e amargurado, já uma sombra do espantoso sucesso que fora no passado, quando chegou a lotar o Maracanã, que cantava em uníssono suas músicas mais conhecidas. Grande cantor e ritmista, negro que "chegou lá", arrogante, algo ingênuo e certamento sem cultura e preparo para tudo o que estava vivendo, ele viu-se envolvido em um dos episódios mais lembrados da música brasileira - justamente por sua conotação negativa. Desconfiado de que estava sendo roubado por seu contador, Simonal teria apelado para elementos do DOPS - o órgão da política política da então ditadura militar - para dar "uma prensa" no acusado. Nessa ocasião, teria dito que era informante do DOPS - ou seja, alcaguete de seus companheiros de trabalho. Em um meio fortemente esquerdista, isso foi suficiente para que caísse em desgraça e fosse retratado na imprensa da época como um tipo detestável, um, digamos, traidor. Essa fama perdurou por muito tempo, mas já não é prevalente hoje. Nelson Mota foi um dos primeiros a garantir que Simonal nem poderia ser informante, pois pouco sabia das coisas que ocorriam à sua volta - era o que, no velho jargão, se chamaria de "alienado". Mas ele pagou um preço caro, inclusive respondendo um processo criminal por sequestro e tortura, como se vê nesta reprodução de uma matéria do Correio do Povo, de janeiro de 1976. Nessa época o cantor já estava em franca decadência, bebendo muito, certamente a causa principal da sua morte.
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