Se hoje tanto se reclama das pixações (ou pichações?) em épocas de campanha eleitoral - algo que a justiça tenta atenuar, aplicando multas - em 1950 (portanto, há 68 anos) o fenômeno já era usual. Na campanha que acabou por reconduzir Getúlio Vargas à presidência, desta vez pelo voto direto, as paredes de Porto Alegre (que elegeria Ernesto Dorneles, da coligação PSD-PTB) como governador, em substituição à Walter Jobim), já eram pixadas - como se vê nesta carta de um assinante do Correio do Povo, que assinou com o pseudônimo de "Catão", tribuno romano que fazia apologia da decência. No caso, a frase era pró-Getúlio: "Ele voltará" - e de fato voltou.
Jardim Botânico, Porto Alegre. Fundado em 2006 por Vitor Minas. Email: vitorminas1@gmail.com
quinta-feira, março 15, 2018
quinta-feira, fevereiro 08, 2018
Floresta Aurora, o clube dos negros de Porto Alegre no carnaval de 1936
Porto Alegre já foi bem mais animada e, por que não dizer, ingênua em um distante passado, no tempo em que não contava ainda com 300 mil habitantes. No carnaval de 1936 - portanto, há 82 anos - blocos populares se espalhavam pela cidade, em uma folia que tomava conta das ruas e salões. Um dos blocos mais animados era o da Sociedade Floresta Aurora, clube que congregava a população negra e mestiça da capital gaúcha (ainda fortemente discriminatória) e que ainda existe, tendo sua sede social no bairro Belém Velho. Nesta reprodução do Correio do Povo aparece a foto da rainha da entidade naquele ano em que Getúlio Vargas era presidente do Brasil e o país vivia sua era de ouro da rádio e das marchinhas de carnaval. A Floresta Aurora foi fundada em 1872, antes da Abolição da Escravatura, na rua Aurora do bairro Floresta, pelos chamados "pretos forros".
Vera Fischer, quando se tornou a Miss Brasil 1969
Em 1969, na época em que o mundo comentava a viagem da Apolo 11 que levou pela primeira vez homens a Lua - a catarinense de Blumenau Vera Lúcia Fischer, de 18 anos, era notícia por ser a miss Brasil que iria embarcar como representante do nosso país no concurso Miss Universo a acontecer dali a alguns dias, em Miami, nos Estados Unidos. Naquele complicado ano, de fechamento político, guerrilha e repressão, a "loirinha catarinense" estava apenas iniciando a sua agitada vida de celebridade, modelo, socialite, atriz de pornochanchadas, vip escandalosa envolvida com drogas e, finalmente, atriz respeitada de filmes e novelas. Hoje com 66 anos, mãe de dois filhos, é uma senhora ainda com certa beleza, porém de formas bem mais roliças do que as exibia quando era apenas a "Verinha" da charmosa e bela terra do chope, da salsinha e do chucrute. Reprodução do Correio do Povo, de Porto Alegre.
quarta-feira, março 14, 2018
1950: otimistas, uruguaios anunciam que ganharão a Copa do Mundo, por estarem melhor preparados fisicamente, "arma que o Brasil não possui"
A derrota para o Uruguai, no recém construído (e ainda incompleto) Maracanã, no Rio, em julho de 1950, na quarta Copa do Mundo, desta vez sediada no Brasil (com jogos também em Porto Alegre, no estádio dos Eucaliptos, do Inter), marcou a alma do povo brasileiro e ainda é lembrada como o "maracanazo" pelos uruguaios. Eles, que já haviam sido campeões em 1930, em seu próprio país, haviam chegado confiantes ao Brasil, prometendo que seriam campeões. Em 8 de julho de 1950, depois de aplicarem 8 a 0 sobre o selecionado da Bolívia, os "orientais" esbanjavam otimismo e garantiam que chegariam às finais - e que a ganhariam, por estarem melhor preparados fisicamente, "arma que o Brasil não possui", como de fato aconteceu.
quinta-feira, março 08, 2018
A Casa Lyra inaugura uma nova loja em Porto Alegre: agosto de 1950
Em 1950 Porto Alegre era uma cidade de cerca de 400 mil habitantes, onde quase todos do mesmo meio social se conheciam e conviviam. Nessa cidade - muito diferente do que é hoje - os casais passeavam na Rua da Praia, onde ainda aconteciam o "footing". O centro dominava o grande comércio e as lojas mais chiques da capital. Uma delas - que não sei se sobreviveu aos tempos - era a Casa Lyra. Em agosto de 1950, conforme esta notícia reproduzida do Correio do Povo, a Lyra inaugurava uma nova loja, desta vez na Rua do Rosário, onde aconteceu uma grande promoção de mercadorias.
terça-feira, fevereiro 27, 2018
Dom Elias Figueroa, o melhor da América, na campanha contra o fumo: 1976
Dom Elias Figueroa, quase lendário futebolista do Sport Clube Internacional na década de setenta, conquistou o bicampeonato brasileiro pelo Inter no ano de 1976, quando também foi escolhido pelo prestigioso jornal El Mundo, de Caracas, o melhor jogador da América. Zagueiro imponente e capitão do time, Elias Ricardo Figueroa Brander nasceu em Valparaíso, no Chile, e fez seu nome no incrível time do Peñarol, de Montevidéu, ainda nos anos sessenta e início dos setenta - transferiu-se para o Internacional em 1972. Eleito o melhor zagueiro da Copa do Mundo de 1974, ele conquistou dois títulos brasileiros, antes de regressar ao seu país, no final do ano de 1976 (era então o mais bem pago atleta do Brasil), quando tinha 30 anos. Em Porto Alegre o zagueiro colorado - galã futebolístico - estrelou diversos comerciais e também fez campanhas educativas, como esta contra o fumo, conforme reprodução do Correio do Povo. Figueroa naturalizou-se brasileiro e transita com a mesma desenvoltura pelo Chile e Brasil.
domingo, fevereiro 25, 2018
Poucos lembram de Rejane Vieira da Costa, gaúcha que foi segunda colocada no Miss Universo de 1972
Rejane Vieira da Costa, Miss Brasil 1972, quase ganhou o título de Miss Universo em Porto Rico
Todo o Rio Grande, sobretudo Pelotas, receberam a Miss de maneira apoteótica. |
Ela foi dona de uma beleza marcante, a mesma beleza que a fez Miss Pelotas, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil (em 23 de junho) e vice-miss Universo, tudo isso em 1972 - 45 anos atrás, portanto. Rejane Vieira da Costa (Goulart, depois de casada) era uma moça simples que trabalhava em uma loja de calçados, em Pelotas, ainda menor de idade, quando foi incentivada a concorrer em concursos de beleza. Não deu outra: a cachoeirense de nascimento (nasceu em Cachoeira do Sul, em 1954) tornou-se a quarta brasileira a ser vice mundial em concursos de misses, desta vez em Porto Rico. Ela perdeu o título máximo para a australiana Kerry Anne Wells.
De volta ao Brasil, aclamada e paparicada, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar em programas de humor da Rede Globo, além de participações em novelas da mesma emissora, seriados e filmes.Trabalhou, no final, na Rede Record.
Faleceu no dia 26 de dezembro de 2013, vítima de um AVC, quando se recuperava de uma cirurgia na perna causada por uma queda, seguida de trombose. Rejane tinha apenas 59 anos e deixou dois filhos e a lembrança de uma das mais belas mulheres de um Estado pródigo nessa área.
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A beleza marcante de Rejane, Miss Brasil 1972. |
sexta-feira, maio 30, 2014
REPUBLICAÇÃO
O trânsito de Porto Alegre é um espetáculo anárquico, triste e perigoso
Vitor Minas
Porto Alegre faz toscas maquiagens para receber os milhares de turistas que aqui aparecerão durante os dias da Copa do Mundo que se aproximam. Uma pintura aqui, uma placa lá, uma calçada modernizada mais adiante, um bar que muda a fachada e o cardápio, gramas aparadas nos canteiros da avenida Ipiranga, muita polícia nas ruas e avenidas principais.
Mas a capital gaúcha, em que conte algumas inegáveis qualidades, é uma cidade provinciana e isolada cujas autoridades e população ruminam a sua bovina e plácida satisfação conformista. Um lugarejo conservador e um tanto sonolento e inodoro: aqui ninguém quer ultrapassar os sinais, ir muito adiante, propor modificações maiores. Digamos, um clube restrito e de regras tácitas, uma espécie de Portugal salazarista, uma Espanha franquista na qual não se quer mudar a posição dos móveis e nem sequer trocar os mais usados ou avariados, até porque dá trabalho. Quem faz isso acaba se dando mal e é ou ignorado ou hostilizado, com o surgimento de grupos radicais, discursos e ofensas pessoais.
Fala-se no espetáculo da Copa e de tudo o que ela representa. A palavra legado - que nem o Felipão sabia o que era conforme demonstrou na televisão - talvez seja representada pelo grande número de obras inacabadas locais e pelo transtorno dos ônibus urbanos que passaram a mudar drasticamente seu itinerário devido à obstrução das ruas e avenidas nos últimos meses. Em termos coletivos e públicos, não é muito mais do que isso. Até o tal metrô, que se falou tanto há pouco tempo, já foi inteiramente esquecido por todos, nem se fala mais nele. Pior ainda: nem sequer se falou na despoluição do arroio Dilúvio e nem na cloaca do rio Guaíba, como se fazia nos anos setenta, o que talvez fosse querer muito, já que somos um povo pouco imaginativo.
Mas há algo em que deveremos, sem sombra de dúvida, surpreender os visitantes de países ditos de primeiro mundo - o nosso trânsito, a nossa "mobilidade urbana", como gostam de dizer.
A Espanha tem as suas touradas sangrentas e vibrantes, herança "cultural", mas nós, gaúchos e porto-alegrenses, temos bem mais do que isso - temos o nosso trânsito, a peculiar riqueza humana do nosso trãnsito. E que trânsito, torcida brasileira, que trânsito!... O mais espantoso e medieval trânsito de todo o Brasil (alguém contestará?), onde os motoristas, novos e velhos, homens e mulheres, dirigindo como loucos, não respeitam pedestres, sinais de parar, faixas de segurança, nada. Uma gente que, no momento em que passa a pilotar um veículo motor, seja ele carro, caminhão, ônibus ou moto, se julga o destemido e invencível centauro dos pampas, um lanceiro vingador e inatingível enrolado na bandeira do Rio Grande, investindo contra o inimigo, na certeza da vitória prometida.
Sem querer me vangloriar da pretensa qualidade, mas sou um inveterado, ainda que inócuo e inútil, pesquisador das atualidades do passado, de antigos jornais e revistas, especialmente as da nossa província. Ou seja, procuro ter memória, mesmo daquilo que não vivi. E nisso, nas páginas amarelecidas e dormidas que retratam os fatos acontecidos, o que sobremodo sempre me chamou a atenção é a permanência da impune e despreocupada mentalidade selvagem dos nossos motoristas, naquilo que o jornal Correio do Povo de 1950, com feliz exatidão, chamou de "mentalidade de cancha-reta" dos gaúchos. Ou seja, o nosso querido e altaneiro povo acha que as nossas (?) ruas e avenidas são locais de disputa de provas, cancha-retas onde o carro é o cavalo que está disputando as célebres carreiras do nosso interior Em um país semi-bárbaro, em que o trânsito é esse horror sanguinolento que todos bem conhecem, conseguimos ser ainda piores..
Para se dar um exemplo de como isso é crônico: em dezembro de 1974, portanto há 40 anos e quando havia bem menos veículos na cidade, o Correio observava, em editorial: "O trânsito de Porto Alegre é um espetáculo anárquico, triste e perigoso. Jogam-se os carros nas ruas e avenidas sem muita preocupação com os demais. O pedestre parece que se tornou simplesmente um obstáculo que deve ser afastado a qualquer preço. E os veículos usados para a condução das massas, quando não se encontram em condições precárias, são conduzidos com um mínimo de cuidado e o máximo de velocidade possível."
Imaginem então: um holandês, um francês médio que aqui chega para assistir a um jogo do selecionado de futebol do seu país - a princípio nem melhor e nem pior do que os nossos grossos xirus - e passa, por exemplo, na rua Guilherme Alves, bem defronte ao Bourbon Ipiranga, o que esse sujeito observará da nossa bela terra sulina?
Pois eu respondo: observará este escrevinhador brigando com motoristas que saem dos subterrâneos do shoping sem respeitar quem está atravessando a faixa de pedestres, tocando o veículo por cima, xingando, rindo, debochando. E às vezes também atropelando, ferindo, mutilando e matando. Mas isso é assunto para depois, para amanhã, que o espaço já se esgotou.
Pedro Carneiro Pereira, histórico narrador da Guaíba, em julho de 1968
Em 1968 a Companhia Jornalística Caldas Júnior, com seus veículos líderes - Correio do Povo e Rádio Guaíba - virtualmente detinha o controle da opinião pública gaúcha, graças à incrível penetração da emissora e do jornal, esta último então o maior da região sul do Brasil. A Guaíba, com seu padrão elegante e sua grande potência e credibilidade, ditava as regras do bom gosto em rádio e contava com os melhores profissionais também no esporte. Era o caso do narrador Pedro Carneiro Pereira, o maior nome das transmissões futebolísticas da rádio de Breno Caldas. Além de radialista, Pedro tinha também o hobby de pilotar carros de corrida, o que lhe foi fatal no domingo, 21 de outubro de 1973, quando veio a falecer devido a um terrível acidente no autódromo de Tarumã, recentemente inaugurado. Ele tinha 35 anos e deixava mulher e filhos. Nesta reprodução do Correio, de 1968, Carneiro é notícia pela Copa do Mundo do México, que se avizinhava e a qual ele transmitiria diretamente pela Caldas Júnior
Gisele aos 14 anos, sonhando com o estrelato no mundo da moda
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sexta-feira, fevereiro 23, 2018
As impressões elogiosas de uma turista paulista em visita a Porto Alegre de 1954
Quem anda pelas ruas de Porto Alegre hoje se depara com um quase completo abandono - mato crescendo e tapando as calçadas, telefones públicos depredados, prédios pichados, sujeira em todas as vias, sem contar a presença de moradores de rua, pedintes, viciados em crack, assaltantes e motoristas agressivos. Em 1954, porém, uma turista vinda de São Paulo escreveu uma carta ao jornal Correio do Povo relatando as suas impressões sobre a capital dos gaúchos, quase todas enaltecedoras e elogiosas (à exceção dos nomes de praias, que considerou plágios de mau gosto, e ao "tráfego desordenado"). Ela gostou sobretudo do Parque Farroupilha, dos edifícios públicos e da beleza da nossa gente. À parte esse último item, o resto, tudo indica, desapareceu miseravelmente nestes tempos em que até o funcionalismo público municipal está com os salários atrasados.
O candidato a deputado estadual Leonel Brizola comunica aos seus eleitores
1950 foi um dos mais movimentados anos da política brasileira, com as eleições gerais - presidente, governador, deputados e senado - que aconteceram a 3 de outubro, reconduzindo Getúlio Vargas ao poder, desta vez pelo voto popular. Naquele ano, de grande polarização, o jovem engenheiro Leonel Brizola, do Partido Trabalhista Brasileiro, PTB, de apenas 28 anos, tentava o seu segundo mandato como deputado estadual no Rio Grande do Sul, o que conseguiu ao obter mais de 16 mil votos. Recém casado com Neusa Goulart, irmã de João Goulart, radical e candente em seus discursos, Brizola certamente não imaginava que se tornaria um ícone da cena política brasileira, gerando amores e ódios quase em igual proporção. Neste anúncio, publicado no Correio do Povo, meses antes do pleito, o candidato avisa sobre as "chapas" em seu nome - na verdade cédulas que iriam ser depositadas nas urnas, como era a sistemática adotada então. Note-se que há um erro de português: "obitidas".
quinta-feira, fevereiro 22, 2018
quarta-feira, janeiro 29, 2014
Everaldo Marques, o tricampeão mundial de futebol que virou uma estrela dourada na bandeira do Grêmio e um dos maiores ídolos tricolores
Pesquisa e texto: Vitor Minas
Às 22h30min de 27 de outubro de 1974, domingo, o ex-lateral esquerdo do Grêmio e tricampeão mundial de futebol pela seleção brasileira na Copa de 1970, no México, Everaldo Marques da Silva, colidiu seu automóvel Dodge-Dart contra a traseira de uma carreta Mercedes-Benz carregada com 24 toneladas de arroz e com placas de Santa Maria. Ou melhor - não colidiu, foi colidido.
Muito popular em todo o Estado, homenageado e paparicado depois da Copa (negro em um clube e em um Estado considerados racistas, foi o único representante gaúcho no selecionado), Everaldo havia, na prática, encerrado a carreira nos gramados e fazia então campanha eleitoral para eleger-se deputado estadual nas eleições de 15 de Novembro de 1974 pela Aliança Renovadora Nacional, ARENA, partido governista.
Muito popular em todo o Estado, homenageado e paparicado depois da Copa (negro em um clube e em um Estado considerados racistas, foi o único representante gaúcho no selecionado), Everaldo havia, na prática, encerrado a carreira nos gramados e fazia então campanha eleitoral para eleger-se deputado estadual nas eleições de 15 de Novembro de 1974 pela Aliança Renovadora Nacional, ARENA, partido governista.
Conduzido ainda com vida ao Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, faleceu a caminho – com ele morreram sua esposa, Cleci Helena, e sua filha Deise, de apenas três anos. Cleci teve morte instantânea – foi arremessada para fora do carro. No dia 3 de maio, também um domingo, morreu a irmã de Everaldo, Romilda, totalizando quatro vítimas fatais. O acidente aconteceu em uma grande reta, na altura do quilometro 43 da BR-290 (Porto Alegre-Uruguaiana), município de Cachoeira do Sul. Tripulado por sete pessoas – Everaldo, Cleci e Deise e a filha mais velha, de seis anos, Denise, a irmã do jogador, Romilda, o tio Jardelino e a cunhada Maria Madalena Pereira da Silva, o carro havia sido presente de uma concessionária de Porto Alegre pelo tri conquistado no México.
Apesar de todos, no calor do momento, culparem o caminhoneiro Vergilio Broglio (que se confessou “um gremista doente”), de 48 anos, motorista do Mercedez, residente em Santa Maria e que seguia em direção a Porto Alegre, constatou-se que Everaldo, cansado e na pressa de chegar logo a Porto Alegre, dirigia em alta velocidade (cerca de 160 km por hora, segundo apurou a perícia). Já o caminhoneiro não calculou corretamente a manobra de saída do restaurante e posto de gasolina “Constante”, retornando bruscamente à rodovia – ele também não prestou socorro às vítimas e, segundo testemunhas, tentou fugir do local do acidente, sendo interceptado por outro carro que o perseguiu. A rodovia, à época, apresentava pistas em bom estado e era bem iluminada.
O campeão mundial tinha ido a Cachoeira participar de um jogo dos veteranos do Grêmio contra a equipe de um ginásio local dos Irmãos Maristas – os veteranos venceram por 6 a 3, Everaldo teve uma participação discreta, mas, sem dúvida, foi o responsável pelo bom público pagante. Ele chegou com a família em seu Dodge amarelo (os demais jogadores vieram de ônibus fretado), distribuiu santinhos da sua campanha, deu autógrafos, posou para fotos e, no início da noite, participou de uma confraternização. Na saída, Loivo – jogador do Grêmio que o apoiava no corpo-a-corpo político - gritou-lhe do interior do seu Chevette: “Nos encontramos em Minas do Butiá pra tomar uma champanha!”.
Apesar de já não estar mais relacionado entre os titulares do Grêmio ele ainda mantinha contrato de trabalho com o clube (ganhava 15 mil cruzeiros mensais). Havia, inclusive, acertado com os dirigentes a realização de um jogo de despedida, igualmente comemorativo dos seus 15 anos de casa, marcado para julho do próximo ano. No sábado – lembraram depois seus colegas e amigos – Everaldo ainda esteve no Olímpico, participando de trabalhos físicos e treinamentos leves.
Surgido no Grêmio ainda criança, ele assinou seu primeiro contrato com o tricolor em janeiro de 1961, na categoria infantil - era alto, magro e canhoto no chute. Everaldo foi campeão estadual em 66, seguindo-se os títulos de 67 e 68 (o hepta tricolor). De junho de 1965 a outubro de 1966, esteve emprestado ao Juventude de Caxias do Sul. Foi convocado para a seleção de 1970, sem nenhuma garantia de ser titular, o que acabou de fato acontecendo graças, sobretudo, à sua aplicação tática e ao seu jogo simples, discreto e eficiente. Na definição do seu ex-técnico Carlos Froner, “era um jogador que crescia de acordo com a importância da partida”. Era também considerado um atleta viril, mas leal em suas disputas, o que lhe valeu o prêmio disciplinar Belfort Duarte da Confederação Brasileira de Desportos.
Naquele domingo à tarde, no Olímpico, o time da casa, treinador por Sérgio Moacir, havia vencido a equipe do Caxias por 1 a 0, gol de Dionísio. O ataque gremista, formado por Luis Freire, Iúra, Tarciso e Bolívar, teve grandes dificuldades para superar a retranca grená.
sexta-feira, agosto 15, 2014
Portais de notícias agridem o leitor com erros crassos
Vitor Minas
Não é de hoje que tenho observado os disparates, leviandades, desleixos e erros crassos que acometem esses grandes portais de notícias da Internet. Tudo bem que a informação on-line é obviamente instantânea, e isto não é o mesmo que escrever para uma revista semanal, mas é indesculpável que o sujeito (no caso o jornalista ou redator) ao menos não faça a revisão básica do que escreveu há pouquinho e que afinal será lido por milhares de pessoas em todo o Brasil e até fora dele.
Hoje, sexta-feira, 15 de agosto de 2014, consta este título no portal UOL, um dos mais lidos da rede, e que trata de um jogador chamado Aloísio Chulapa, o qual estaria encerrando a carreira nos campos de futebol. Pois o título da matéria é o seguinte, ipsis literis:
"Idolo do São Paulo"
"Aloísio Chulapa, 39, encerrará carreira em casa e regular cerveja".
Confesso que não entendi nada, nihil, principalmente o tal "regular cerveja".
Esse tal portal UOL, que tem muitas coisas boas, precisa urgentemente de um editor.. Se tem um, não trabalharia no meu jornal: "Encerrará carreira".
sábado, agosto 23, 2014
Getúlio, ou me engana que eu gosto
Vitor Minas
A Globo anunciou que irá passar amanhã, domingo, 24 de agosto, data da morte de Getúlio Vargas em 1954 - portanto, há 60 anos - o filme "Getúlio", que aliás já foi exibido nos cinemas.
Bom, não vi e não pretendo ver a tal grande produção. Antecipadamente, tenho a quase certeza (só falta o quase) de que é mais uma dessas produções caça-níqueis do cinema nacional, idealizada e boladas para pegar uma grana preta de grandes patrocinadores, via isenção fiscal e essas coisas. Algo parecido com o filme do Lula, com o do Chico Xavier, etc. O diretor eu não conheço mas um filme que tem Toni Ramos como Getúlio e um tal Alexandre Borges como Carlos Lacerda chega a ser risível. Nem é por serem da Globo mas porque, sobretudo no caso do galã Borges, não são bons atores. Borges, no caso, é casado com uma boa atriz, mas ele, como ator, é um canastrão de marca maior. Só perde para aquele cara que foi namorado ou marido da filha da autora de novelas e que foi barbaramente assassinada no início dos anos noventa.
Por essas e outras o cinema brasileiro, de um modo geral, é isso que está aí: picaretagem, ou quase isso, para ser generoso. Aqui no Rio Grande do Sul fizeram um filme sobre a revolução farroupilha, também com atores globais, com muita grana de patrocínio, que é sempre o grande objetivo. A gauchada foi em peso ver a película, que enaltecia a "fibra guerreira" do gaúcho, patente em uma revolução pra lá de questionável e que só atendia os latifundiários (não me chamem de esquerdista, que não sou mesmo, mas é verdade). O ator, também galã da Globo, é somente galã e não um ator propriamente dito. Mas nós, gaúchos - que somos historicamente parvos nisso tudo e perfeitos otários quando se trata de nos engambelarem com ufanismos e elogios farrapos - fomos lá e compramos ingressos nos cinemas. Nós quer dizer eles. Por acaso vi esse povo sair do cinema aqui perto, alguns com cara de decepção, outros bradando, orgulhosos: "Nós somos de fato aquilo tudo!" Nos dois casos, eles merecem: ao contrário do que dizia o tal Chico Xavier, o mundo é mesmo dos muito vivos. Me engana que eu gosto. E o Millor, hein?, com seu espiritismo cardecista: cada vez mais os vivos são governados pelos muito vivos...
quarta-feira, julho 12, 2017
Posso dar descontos às mulheres, sim senhor
Vitor Minas
Desde que eu me conheço por gente, se é que me conheço, as mulheres pagam menos em festas noturnas, bailes, boates, o que é uma centenária forma de atrair os homens, que sempre tiveram mais dinheiro que elas - isso, claro, em um tempo em que as chamadas damas não eram independentes e dependiam quase totalmente dos machos. Como se sabe, ou se sabia, mulher atraí os homens, ao menos a maioria, que gastam com elas, gerando uma boa corrente de lucro.
Pois agora alguém entrou com uma ruidosa ação judicial, pedido que isso acabe, que se considere tal coisa como discriminação, o que, a rigor, é mesmo. E aí um juiz de direito acata o pedido e, num canetaço, ordena que a partir de agora, em todo o Brasil, a mulher haverá de pagar o mesmo que o homem, e ponto final. Não descobri qual é a punição, ou se ela existe (acho que na prática não existe, que o que vai dar é só muito bolo na portaria).
Para os homens é ótimo, e parece que a maioria das mulheres também acha (pelo menos da boca pra fora), à exceção das bonitinhas e pobres, que não têm dinheiro mas querem se divertir, gastando pouco, quando gastam - mas essas não foram entrevistadas pelos repórteres. Vi na tevê várias moças, todas de classe média, dizendo: "É isso mesmo, é justo, tem que pagar a mesma coisa que o homem!"
O que eu não vi nenhum veículo de imprensa ou da mídia foi questionar por que o Estado tem que se intrometer numa questão dessa, que diz respeito unicamente à iniciativa privada, aos donos de casa noturna, que estão ali ofertando um serviço, que são donos e soberanos em seus estabelecimentos. De repente surge uma medida judicial e diz que o desconto para o belo sexo é, a partir de agora, proibido e estamos conversados.
Penso o seguinte: qualquer comerciante tem o direito de dar descontos a qual categoria ou gênero quiser, seja mulher, homem, gay, transformista, anão albino, professor de história grega, aprendiz de tipógrafo, escritor primitivista, pós graduado em sânscrito, estudante, policial, militar, bombeiro, deficiente físico, sonâmbulo, portador do vírus da hepatite C, afro-brasileiro, boliviano, torcedor do Anapolina, do Grêmio, vegano, carnívoro, vegetariano etc. Por acaso não há, faz tempo, descontos para estudantes e professores?
Então, meu amigo? Se eu fui salvo de um incêndio por um bombeiro e quero retribuir isso dando desconto de 50% a ele e sua família em minha casa noturna, qual é o problema? Será que o governo (a Justiça faz parte), que no Brasil se intromete em tudo e em todos, tem o direito de dizer que isso é ilegal, que não posso adotar tal atitude dentro do meu estabelecimento, sendo que já pago impostos e tudo o mais, recebendo, aliás, muito pouco em troca?
Acho que não, acho que o empresário, seja ele qual for, pode fazer isso sim. Que os outros, os consumidores, não gostem, rosnem, reclamem, prometam nunca mais voltar, isso é problema deles - que procurem outro local e se acalmem. Se eu quiser dar um bom abatimento para anões pernetas ou domadores de leões, será que não posso fazê-lo?
Posso sim, no meu preclaro entendimento. Quanto ao Governo, ao Sistema, esse enxerido, que vá cuidar de coisas mais importantes, como, por exemplo, vistoriar essas casas noturnas e ver se estão com os sistemas de segurança contra incêndio em dia e se os banheiros têm a mínima condição de higiene. O resto é intromissão, abuso de autoridade. Já chega a tal proibição de saleiros nas mesas na hora do almoço, supostamente para preservar a saúde da população brasileira, essa mesma que morre nas filas de emergências dos pardieiros públicos e não tem a tal Justiça a seu favor.
sábado, outubro 17, 2015
Na morte de Miéle, ninguém lembrou de Sandra Bréa
A morte de Miéle, aos 77 anos, como destacaram, em clichê, todos os telejornais, me fez pensar em outra figura emblemática da minha adolescência e início de juventude, naqueles anos setenta: Sandra Bréa. Notei que todos - absolutamente todos - os canais que noticiaram o fato, lamentando o falecimento desse cara que sempre teve a mesma cara (é espantoso como sempre se pareceu fisicamente consigo mesmo, ao longo de décadas, da juventude à velhice), deixaram de falar naquela que foi a musa da sensualidade, o objeto de desejo masculino, a mulher invejada por outras mulheres, não só nos anos setenta como nos oitenta. Quando se via a bela Brea, imediatamente se pensava e se sentia: sexo, desejo, tesão.
Miéle fez um programa na Globo, na segunda metade dos anos setenta, chamado "Sandra e Miéle", em que os dois, em parceria e sintonia, dividiam a apresentação, ela com sua beleza, ele com seu talento. Não recordo bem como era o programa, até porque o tempo passou e meu Alzeimer evoluiu, mas achei no mínimo um lapso, para não dizer uma injustiça, sequer citarem o programa que ele, Miéle, fez com Sandra. Aliás, a imagem dela aparece somente ampassã, de longe, sem identificação, e fica-se por aí mesmo. Brea sequer é citada em algum momento.
Miéle fez um programa na Globo, na segunda metade dos anos setenta, chamado "Sandra e Miéle", em que os dois, em parceria e sintonia, dividiam a apresentação, ela com sua beleza, ele com seu talento. Não recordo bem como era o programa, até porque o tempo passou e meu Alzeimer evoluiu, mas achei no mínimo um lapso, para não dizer uma injustiça, sequer citarem o programa que ele, Miéle, fez com Sandra. Aliás, a imagem dela aparece somente ampassã, de longe, sem identificação, e fica-se por aí mesmo. Brea sequer é citada em algum momento.
Sandra Bréa, como se sabe - ou não se sabe mais - morreu de Aids, uns quinze anos atrás, pobre e abandonada. Foi capa de todas as revistas, e a imprensa usou muito a sua imagem para vender seu peixe e atrair leitores. Não deixou filhos, parece. Oficialmente, morreu de câncer, pois fumava muito, e a imunodeficiência não perdoou. Mais no final da sua curta vida (morreu antes dos cinquenta) foi casada, ou viveu, com o empresário gaúcho Artur Guarisse, também já falecido - aliás, dizem que foi ele que pagou os funerais da atriz.
Não conheci Sandra Bréa, não posso falar sobre ela além do que vi na telinha. Mas sei que foi uma das mulheres mais desejadas do país, certamente ganhou muito dinheiro, viveu uma vida holiudiana - e acabou pobre e quase esquecida. Posso estar sendo sentimental, mas acho que a Globo, a mídia e a imprensa não deveriam esquecê-la assim tão deliberadamente, enquanto se dedicam à vida amorosa de uns tais Chumbinho e Joelma. Também lembro do caso da Vanja Orico, atriz de talento, mulher culta, uma celebridade nos anos cinquenta com o filme O Cangaceiro (o primeiro premiado brasileiro no circuito internacional, com uma fotografia espetacular e uma trilha sonora idem), que morreu recentemente, e não li uma mísera linha em lugar nenhum. (Vitor Minas)
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2 comentários:
tambem em homenagem ao tricampeonato da selecao conquistado poe ele