sábado, julho 21, 2018


7 de Novembro de 1935: morre Eurico Lara, a lenda tricolor

“Porto Alegre, ontem, quando despertava para a sua atividade diária, recebeu uma notícia contristadora: no hospital da Beneficência Portuguesa, falecera, às 7:10 horas, o grande arqueiro Eurico Lara, indiscutivelmente a maior glória desportiva do Rio Grande do Sul”.
A notícia, publicada com grande destaque na página 9 do Correio do Povo de 7 de novembro de 1935, quinta-feira, tinha um título emblemático que resumia o significado desse homem nascido em Uruguaiana e que se tornou uma lenda do futebol gaúcho: “Eurico Lara, o player mais glorioso do Rio Grande do Sul, faleceu ontem, nesta capital”.
Ontem, no caso, era uma quarta-feira do histórico ano do centenário da Revolução Farroupilha e o Lara imortal que falecia na Porto Alegre de menos de 250 mil habitantes e três emissoras de rádio, contava apenas 37 ou 38 anos de idade – na página da Wikipédia, enciclopédia digital, consta que havia nascido 24 de janeiro de 1897, enquanto os jornais, inclusive o Correio, lhe davam um ano a menos – teria nascido em 1898. Seja como for, em sua curta e gloriosa existência, Eurico Lara Fonseca, casado com dona Maria Cândida e pai da menina Odessa, de 12 anos, defendeu apenas as cores de um clube de futebol – o Grêmio Futebol Portoalegrense, agremiação na qual jogou durante 15 anos e onde era tão amado e idolatrado a ponto de Lupicínio Rodrigues, ao compor o hino tricolor em 1953, ter nele incluído os seguintes versos: “Lara, o craque imortal, soube o seu nome elevar, hoje com o mesmo ideal, nós saberemos te honrar”.
Lara chegou ao Grêmio em 1920, ainda na época romântica em que não havia futebol profissional no Brasil, indicado por olheiros tricolores impressionados com aquele “goal-keeper” do Sport Clube Uruguaiana que pegava todos os chutes e era aplaudido de pé até pelos adversários. Em 1922, já famoso por aqui, foi ao Rio defender o selecionado do Exército nacional nas comemorações esportivas pelo centenário da Independência do Brasil, e saiu-se tão bem que, ao final do torneio, recebeu um telegrama do próprio Ministro militar, cumprimentando-o por sua incrível atuação. Também quase lendários foram os mais de 20 chutes que defendeu de Friendereich, o maior craque e primeiro grande astro esportivo brasileiro. O jogo foi realizado no Parque Antartica entre os selecionados paulista e gaúcho e ao final uma multidão invadiu o gramado para cumprimentar o incrível arqueiro gaúcho capaz de tantas proezas milagrosas.
Em crônica não assinada, publicada no Correio do Povo daquele 7 de novembro de 1935, e intitulada “A Glória de Lara”, um repórter escreveu: “Lara morreu pobre, sem nada deixar além de um nome, na época precisa em que o futebol está recheando o bolso dos utilitaristas. Quando meio mundo se locupleta com os proventos da profissão, o jogador mais querido e mais glorioso dos pampas deixa apenas uma trilha limpa, percorrida à custa de muito sacrifício e de incomum espírito de abnegação e de renúncia. Ídolo brasileiro, acima de tudo, esse moço jamais perdeu a modéstia que trouxe do berço, da gloriosa Uruguaiana. Nasceu pobre para morrer entre os humildes. Vezes sem conta atuou sob influência do mal que lhe minava o corpo. Sob dores hepática, saltava como um felino dentro daquele retângulo que só ele sabia defender. E nunca teve uma imprecação, nem deixou transparecer o menor sofrimento. E ontem finalmente morreu como morrem os bons: sem um gemido, de mansinho, sem mesmo ter tempo para um último gemido. O Rio Grande do Sul, envolto em crepe, antes de chorar canta e exalta no dia de hoje a glória imortal de Eurico Lara.”
Lara tinha tuberculose havia três anos, em um tempo em que não havia penicilina ou estreptomicina e a chamada doença dos poetas e dos artistas dizimava milhões de pessoas em todo o mundo.  Sua última atuação pelo Grêmio foi mais uma página de glória: o histórico Grenal de setembro de 1935, decidindo o campeonato da cidade no ano festivo do centenário da Revolução Farroupilha, vencido heroicamente pelo Grêmio por dois a zero. Lara saiu de campo para ser hospitalizado na Beneficência Portuguesa, onde encerrou a vida como o maior mito da história do imortal tricolor – a bem da justiça, nem Renato Portalupi, ídolo da era modera, o supera na linha do tempo.



No dia 8 de novembro, ainda repercutindo a morte do mito, o Correio do Povo publicou uma foto em que Lara aparece no momento em que sofreu o último gol da sua vida – precisamente o dia 15 de setembro de 1935, data da comemoração dos 32 anos do chamado “clube da Baixada”. Em jogo contra o Força e Luz pelo campeonato da Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Atléticos, AMGEA, uma espécie de liga dos clubes de Porto Alegre e arredores, Lara, atrás de Luiz Luz, não consegue defender o chute de Negrito.
Eurico Lara foi campeão citadino de 1920, 21, 22, 23, 25, 26, 1930, 31, 32, 33 e 35 e campeão gaúcho dos anos de 1921, 22, 26, 1931 e 32. Ídolo das famílias e das crianças, que sonhavam um dia “ser Lara”, foi sepultado com a bandeira do Grêmio e o seu funeral em carro público praticamente parou Porto Alegre. Infelizmente, não existe qualquer registro fonográfico ou cinematográfico deste homem incrível que dizem ter sido o maior goleiro que o Rio Grande do Sul e que entrou para a história como “o goleiro dos goleiros”, simplesmente “a Lenda”.

1953, ano do futebol a portas fechadas em Porto Alegre

Reprodução da Revista do Globo, publicação que durou de 1929 a 1967, editada em Porto Alegre.


1953 foi um ano de ouro para o futebol gaúcho, brasileiro e sul-americano. Ou, como escreveu Cid Pinheiro Cabral na Revista do Globo de 17 de outubro de 53, “foi o primeiro grande ano para o futebol profissional de Porto Alegre”. Cabral, na reportagem intitulada “Futebol a Portas Fechadas”, comemorava: “Neste ano atinge o futebol profissional de Porto Alegre uma prosperidade jamais sonhada”. Em seguida, contudo, observou: “Infelizmente, a popularidade alcançada está muito além da capacidade dos nossos estádios”.
O título da matéria “Futebol a Portas Fechadas” era uma referência ao fato de que, pela primeira vez na história futebolística da capital rio-grandense, parte dos torcedores que havia comparecido aos estádios para assistir aos jogos não conseguira entrar, por absoluto esgotamento da capacidade de acomodação nos diminutos e acanhados centros esportivos de então. E prosseguia o cronista: “Antigamente, lá de vez em quando, fechavam os portões em Porto Alegre antes das 14 horas. Mas isso só acontecia nos clássicos transcendentais, como Grêmio X Internacional, realizados em estádios que mal comportavam 10 mil pessoas. Em 1953, não. Em 1953, por ocasião do centésimo trinta Grêmio X Internacional, os portões do estádio dos Eucaliptos, com 22.500 expectadores, fecharam-se na cara de uns 2 mil a mais. E pela primeira vez isso aconteceu também em outros jogos.” Cid destacava o fato de a disputa Internacional versus Nacional (o da Chácara das Camélias) ter recebido cerca de 12 mil pessoas “em um estádio longínquo e sem acomodações, e ficaram na rua 2 mil retardatários”. O fenômeno se repetiu em outra partida – Internacional versus Força e Luz, o jogo do líder invicto contra o último colocado. Também a partida entre Renner e Internacional teve lotação esgotada.
Segundo o jornalista, “chegou, portanto, a hora de Porto Alegre – a hora do futebol a portas fechadas. Por paradoxal que pareça, futebol a portas fechadas quer dizer super popularidade. E super popularidade, em linguagem profissionalista, é um estado de bem aventurança.”
O fato do Grêmio estar quase concluindo as obras do Olímpico chegava em excelente hora, festejava o cronista: “A sorte de Porto Alegre é que o estádio do Grêmio Porto-alegrense, que abrigará, concluída a primeira parte do projeto, umas 35 mil pessoas, está andando a passos de gigante. A sorte é que o Internacional, cujo estádio na situação atual, apanha no máximo 23 mil pessoas, promete para breve uma nova forçada, no sentido de concluir o seu pavilhão central, o que ampliará em 12 mil a sua capacidade.”
É importante salientar que o futebol no Rio Grande do Sul, em 1953, tinha apenas meio século anos de existência esportiva e que só haviam sido realizadas quatro copas do mundo. Em todo o mundo, aliás, pela primeira vez se descobrira que ele, à exceção de alguns países, era agora o esporte mais popular de todos, superando o boxe, o remo e até o turfe.
Logo na abertura da sua matéria, Cid Pinheiro Cabral diz: “Positivamente, a loucura do futebol chega ao auge”, lembrando que, durante a construção do Maracanã, muitos dos seus idealizadores estimavam que o hoje Maraca só lotaria dali a muitos anos, o mesmo acontecendo com o Pacaembu, este com capacidade para 80 mil pessoas. E no entanto os dois já tinham lotado seus jogos muitas vezes nos últimos anos.
O fenômeno não era brasileiro e sim sul-americano, apontava o jornalista: “Eis que agora começa o problema a afligir também os mentores do futebol uruguaio, argentino e chileno. O Estádio Municipal de Santiago, remodelado em 1945 para o Campeonato Sul-Americano (atual Copa América), não corresponde mais ao interesse que está despertando, no Chile, o mais popular dos esportes.”
E prosseguia em sua matéria na Revista do Globo daquele ano de 53: “A Argentina tem dois grandes estádios recentemente construídos – o do Racing e o do Huracan. Mas ainda o do River Plante conserva a primazia. É o mais amplo mas começa a tornar-se pequeno. Mas também o velho estádio Centenário, inaugurado em Montevidéu por volta de 1930 sem estar concluído, torna-se objeto de atenção dos dirigentes do futebol uruguaio. Já não comporta mais o interesse que certas temporadas internacionais começam a despertar e por isso vai ser ampliado em mais 30 mil lugares.”
Fechando sua matéria “Futebol a Portas Fechadas”, Cid Pinheiro Cabral ironizava, um tanto acidamente: “Ao depararmos com esse espetáculo – que é continental – da luta da popularidade do futebol contra a relativa exiguidade dos estádios, lembramo-nos daqueles apressados e mal inspirados profetas que, por volta de 1933-34, preconizavam o fim do futebol no Brasil por haver cometido o imperdoável pecado de profissionalizar-se. Paz à alma dos que já morreram.”

quinta-feira, julho 19, 2018

Friendenreich, o mito, esteve em Porto Alegre em outubro de 1953

Arthur Friendenreich, filho de pai alemão e mãe negra, foi o primeiro grande astro do futebol brasileiro e um dos jogadores mais habilidosos de todos os tempos - dizem aqueles que o viram jogar, especialmente no Paulistano e no São Paulo. Nascido em 18 de julho de 1892 - portanto, faria 126 anos este mês - El Tigre - Friendenreich foi um centro-avante de rara inteligência, tendo feito muitos gols entre as décadas de 10 e 30 do século passado, quando abandonou o futebol, já devido à idade e ao fato de não concordar com a profissionalização da atividade. Pertencente à época romântica do "esporte bretão", não ganhou nenhum dinheiro com o futebol, tanto que, ao se afastar dos campos, passou a trabalhar em uma fábrica de bebidas. Morreu em setembro de 1969, morando em uma casa que o São Paulo, clube, lhe havia dado. 
Em outubro de 1953, já com 51 anos de idade, Friendenreich esteve em Porto Alegre, onde assistiu a um jogo do Grêmio contra o Floriano (Novo Hamburgo) e foi alvo de uma série de homenagens. A reprodução acima é da Revista do Globo. El Tigre faleceu em 1969, aos 77 anos

quarta-feira, julho 18, 2018

Força e Luz, outro clube que desapareceu do cenário esportivo de Porto Alegre

Um dos pequenos grandes clubes da capital, o Força e Luz é outra agremiação esportiva que não mais existe. Formado, em sua origem, por funcionários da Carris - empresa pública de bondes - o Força e Luz chegou a ter o melhor estádio de Porto Alegre - localizado onde, dizem, será mais um hipermercado Bourbon, entre a Ipiranga e a Protásio Alves, nas proximidades do quartel dos Bombeiros. O "estádio" da Timbaúva - esse era o nome - sediou grandes jogos, embora fosse uma modestíssima quadra de esportes, como eram todos os centros esportivos da primeira metade do século 20 em Porto Alegre. Mas o "ferrinho" tem suas glórias e sua história, como se vê nesta matéria do Correio do Povo de 1935.

Grêmio é campeão de 1960 goleando o Pelotas por 7 a 0

Em 8 de fevereiro de 1961 o Grêmio e o Pelotas, de Pelotas, fizeram a final do campeonato gaúcho de futebol do ano de 1960, que, naquela época, era disputado por regiões, com quatro finalistas - o Grêmio, primeiro da Região Metropolitana, o 14 de Julho, de Santana do Livramento, classificado pela região da Fronteira, o Nacional, de Cruz Alta, da região da Serra, e o Pelotas, representando o Litoral. No dia 8 de fevereiro, no estádio Olímpico, o time da capital aplicou a implacável goleada de 7 a 0 no Pelotas, sagrando-se campeão do Estado. Gessy fez três gols, Juarez dois, Élton um e Cardoso também um. O tricolor formou com Henrique, Sérgio, Airton Pavilhão e Ortunho; Élton e Enio Rodrigues; Cardoso, gessy, Juarez; Milton Kuelle e Vieira. O técnico era Osvaldo Rolla. Airton, que faleceu em 3 de abril de 2012, foi considerado por Pelé o maior zagueiro que ele viu jogar em todos os tempos.

terça-feira, julho 17, 2018

A "ampliação" do "estádio" dos Eucaliptos para a Copa de 1950 no Brasil

Sessenta e quatro anos antes da Copa dos 7 a 1 no Brasil, o nosso país sediava a quarta edição do evento, a primeira depois da Segunda Grande Guerra e que contava unicamente com paises convidados - muitos deles se recusaram a vir, alegando as mais variadas razões. Tal como  hoje, o torneio internacional foi dividido entre várias capitais, incluindo Porto Alegre, que sediou jogos da Suíça Iugoslávia e México. A "sede" era o modestíssimo estádio dos Eucaliptos, do Inter, remodelado e ampliado para tais jogos,Na verdade, Porto Alegre - em que pese ser a terceira força futebolística brasileira já então - não contava com nenhum estádio digno desse nome, o que envergonhava os gaúchos e motivava a campanha pela construção de um estádio municipal, nos moldes do Pacaembu e Maracanã. Algo que pode se perceber, perfeitamente, nesta foto do Correio do Povo de abril de 50.
J. Bosco, Amazônia Jornal. A Charge Online.

Renner X Floriano: um mudou de nome, o outro foi extinto

Estão aí, no velho Correio do Povo de 1953 - ano do cinquentenário gremista - dois clubes de futebol que, nominalmente, não mais existem, embora tenham deixado saudades e muita história no esporte do Rio Grande do Sul: o Esporte Clube Novo Hamburgo, que existe sim, e muito bem, mas queentão se chamava Floriano, e o Renner, campeão gaúcho de 1954, com Ênio Andrade e companhia. O Novo Hamburgo, ex-Floriano, chegou ao seu máximo quando, em 2017, conquistou o título estadual gaúcho - também disputou o campeonato brasileiro de 1979, em única participação (aquela em que o Inter foi campeão). Já o Renner simplesmente foi extinto no final da década de 50, por decisão de seu grande patrono, o industrial A.J.Renner. Já o Nóia, apelido carinhoso, com sua cores branco e azul anil, tem mais de 100 anos de história, tendo se chamado, originalmente, Novo Hamburgo. Obrigou-se a usar o nome Floriano em decorrência da Segunda Grande Guerra, quando qualquer coisa que lembrasse os países do eixo era mal vista pelas autoridades. O Renner - talvez devido ao poderio econômico da grande empresa que ainda existe - conservou-se como Renner.
*O Esporte Clube Novo Hamburgo foi fundado em primeiro de maio de 1911, em NH, e só passou a se chamar Floriano em 1942. No final da década de 60 voltou à sua denominação original. Curiosamente, o site oficial do clube, bem pobrezinho, não registra nada disso. 

sábado, julho 14, 2018

A primeira emissora de televisão de Alagoas só foi inaugurada em 1975

O Rio Grande do Sul inaugurou a sua primeira emissora de televisão em dezembro de 1959 - foi a TV Piratini, canal 5, hoje SBT. Ao longo do tempo, os demais estados da federação passaram a contar com tais emissoras, mas Alagoas só inauguraria o seu no ano de 1975, 25 anos depois da primeira transmissão de tevê no Brasil, feita pela Tupi, de São Paulo, em setembro de 1950.
Reprodução do Correio do Povo

terça-feira, julho 10, 2018

Friendenreich, o mito, é homenageado em Porto Alegre: 1953

Arthur Friendenreich, filho de pai alemão e mãe negra, foi o primeiro grande astro do futebol brasileiro e um dos jogadores mais habilidosos de todos os tempos - dizem aqueles que o viram jogar, especialmente no Paulistano e no São Paulo. Nascido em 18 de julho de 1892 - portanto, faria 126 anos este mês - El Tigre - Friendenreich foi um centro-avante de rara inteligência, tendo feito muitos gols entre as décadas de 10 e 30 do século passado, quando abandonou o futebol, já devido à idade e ao fato de não concordar com a profissionalização da atividade. Pertencente à época romântica do "esporte bretão", não ganhou nenhum dinheiro com o futebol, tanto que, ao se afastar dos campos, passou a trabalhar em uma fábrica de bebidas. Morreu em setembro de 1969, morando em uma casa que o São Paulo, clube, lhe havia dado. 
Em outubro de 1953, já com 51 anos de idade, Friendenreich esteve em Porto Alegre, onde assistiu a um jogo do Grêmio contra o Floriano (Novo Hamburgo) e foi alvo de uma série de homenagens. A reprodução acima é da Revista do Globo. El Tigre faleceu em 1969, aos 77 anos.

domingo, julho 08, 2018

No tempo em que Walter Casagrande era jovem, rico, libertário e viciado




Walter Casagrande, hoje comentarista de futebol da Rede Globo, gordo e pai de família, teve a coragem de reconhecer, publicamente, em rádio, jornal, revista e tevê, e também no livro em que conta a trajetória da sua vida, os problemas que enfrentou com drogas e álcool no início da carreira. Nascido na capital em abril de 1963, hoje com 55 anos, Casagrande marcou época nos anos oitenta no futebol paulista  por suas belas jogadas e suas posições políticas libertárias e de esquerda - bem ao estilo da época que precedeu a redemocratização do Brasil. Com apenas 18 anos ele foi atuar no Corinthians, clube que, por sua rebeldia, o emprestou à Caldense, de Poços de Caldas, MG, reintegrando-o à equipe em 1982. Foi por essa época que surgiu a "democracia corintiana", liderada, entre outros, pelo "doutor Sócrates". Jovens e rebeldes, imaturos, ricos e famosos, eles se envolveram com muitas coisas extra-campo - no caso de Casagrande, com o uso de cocaína, como se vê nesta matéria do Correio do Povo de 1983, quando o atacante paulista contava apenas 20 aninhos. Hoje, o "Casa", como chamam, é um conhecido comentarista esportivo e renega grande parte do seu passado turbulento e autodestrutivo.  

sábado, julho 07, 2018

José Luiz Datena brigou com Maradona e foi preso em Roma por se vestir de imperador durante a Copa de 90


Em março de 2003 - portanto, 15 anos atrás - a revista Veja publicou uma matéria com José Luiz Datena, o comentarista e radialista que hoje é um dos rostos mais conhecidos da televisão brasileira. Na reportagem, Datena revela que tem como vícios tomar refrigerante toda hora (talvez, nos dias de hoje, tenha abandonado o hábito) e colecionar relógios. Outras curiosidades, é que o apresentador, então com 45 anos de idade (hoje tem 61), envolveu-se em uma quase briga física com Diego Maradona e foi preso pela polícia italiana, durante a Copa de 90, ao aparecer defronte ao Coliseu romano vestido de imperador. Reprodução da coleção do Conselheiro X.
Cláudio Paiva. A Charge Online.

terça-feira, julho 03, 2018

O Vasco de Barbosa e Heleno de Freitas enfrenta o Pelotas no seu aniversário: 1949


No final de 1949, mais exatamente a 16 de outubro, um domingo frio, por ocasião das comemorações do quadragésimo primeiro aniversário do Esporte Clube Pelotas - tradicional agremiação da Princesa do Sul - mais de 10 mil pessoas assistiram a uma partida de futebol que, hoje, pode ser considerada histórica - até mesmo pelo renome dos seus protagonistas. Convidado para se apresentar na terra do arroz, o "campeão dos campeões" - como era então chamado o Vasco da Gama, do Rio, a base da seleção de 1950 - trouxe sua equipe titular, a qual incluía nada menos do que Flávio Costa (treinador da seleção de 50) Heleno de Freitas (a "Gilda") e o goleiro Barbosa, aquele que entraria para a história depois de ter levado o gol de Gighia no Maracanã, na final da Copa do Mundo em que a seleção brasileira perdeu para o Uruguai por 2 a 1. O Vasco, um timaço, venceu o jogo - realizado em um domingo - por 3 a 2. note-se que Pelotas, a segunda maior cidade do Rio Grande do Sul naquela época, já desfrutava de prestígio futebolístico e econômico, tanto que se falou, em tom de brincadeira, que se o Vasco não viesse a Pelotas esta deixaria de vender arroz para o Rio de Janeiro...  A reprodução é da Revista do Globo.

sábado, junho 30, 2018

A inauguração do Beira-Rio: o grande acontecimento esportivo de 1969.


A inauguração do Gigante da Beira-Rio, em abril de 1969, quando o inter completava 60 anos de fundação, foi um acontecimento e tanto. Construído ao longo de muitos anos, com a importante colaboração do torcedor colorado, o novo estádio era, então, o maior estádio particular do mundo - o São Paulo já tinha o Morumbi, mas ainda não havia inaugurado as ampliações que lhe garantiram o primeiro posto (aconteceu em 1970). Moderna, ampla, a nova casa do Inter teve uma semana de festejos e disputas esportivas, inclusive com a participação do selecionado brasileiro - as "feras de Saldanha" - que iria ser tricampeão mundial no México e que trouxe seu time titular, incluindo Pelé. Vários clubes foram convidados para jogar no Beira-Rio, incluindo, como jogo inaugural, a disputa contra o Benfica de Portugal - um dos grandes times mundiais de então. O Benfica trouxe para cá um jogador que se tornaria lenda - nada menos que Eusébio - e perdeu para o Inter por 2 a 1. O Selecionado brasileiro jogou aqui contra o Peru. A reprodução é do Correio do Povo.

quinta-feira, junho 28, 2018

Tesourinha, um dos mitos do futebol gaúcho



Osmar Fortes Barcelos, mais conhecido como Tesourinha, é um dos mitos do futebol gaúcho. Falecido em 1979, Tesourinha - ponteiro-direito - desconcertava os adversários com suas investidas e dribles, algo que fez magistralmente de 1940 a 1945, quando integrou o mítico Rolo Compressor, escrete do Sport Clube Internacional que se sagrou hexacampeão gaúcho. Tesourinha foi vendido ao Vasco da Gama, do Rio, no final de 1949, naquela que foi, então, considerada a maior transação do futebol brasileiro. Convocado muitas vezes para a seleção, em 1946 foi escolhido pela imprensa sul-americana o "maior ponteiro do continente". No Rio, Tesourinha teve o azar de estourar um dos meniscos, o que fez com que ficasse fora da Copa de 1950 no Brasil - alguns dizem que isso contribuiu para o nosso fracasso. No final de 1952, o ex-craque do Inter foi comprado pelo rival Grêmio, tornando-se o primeiro atleta negro no tricolor gaúcho - o Grêmio de então era fortemente racista. Mas foi no velho Internacional que ele jogou o fino, tendo sido homenageado quando da inauguração do Gigante da Beira-Rio, em 1969. A foto ao alto, reprodução da Revista do Globo de 1946, mostra o craque sorridente, como era característico seu. Ele tinha então 29 anos. No dia 17 de junho de 2019 completam-se os 40 anos do falecimento desse astro do futebol gaúcho e brasileiro. Na foto acima, Tesourinha pela lente de Santos Vidarte, do Correio do Povo.

quarta-feira, junho 20, 2018

Luscar, em A Charge Online.

Ticiane Pinheiro aos 15 anos: julho de 1991

Filha da célebre Helô Pinheiro - a garota de Ipanema de Tom e Vinícius do início dos anos sessenta - Ticiane Pinheiro tem hoje 42 anos e é apresentadora de tevê, entre outras atividades profissionais. Mas, em julho de 1991 - portanto, há quase 27 anos - Ticiane era apenas uma adolescente de 15 anos, porém já com um currículo de atriz em novelas e peças infantis, além de apresentar a TV Criança, na TV Bandeirantes. A reprodução é da revista Veja, coleção do autor. 

segunda-feira, junho 18, 2018

Nani, em A Charge Online.

Em 1976 o Inter, campeão brasileiro, já convidava o Barcelona para um amistoso em Porto Alegre

Em 1975 o Sport Clube Internacional conquistou o seu primeiro título brasileiro - feito que repetiria no ano seguinte. Considerado a grande equipe brasileira dos anos setenta, o Inter, no final de 1975, não baixou a guarda e tratou de se reforçar, trazendo novos valores. O tíme, dirigido por Rubens Minelli, foi buscar, na Espanha, o zagueiro Marinho Peres. O Barcelona, que detinha seu passe, concordou em vendê-lo ao Inter por 170 mil dólares - mesmo na época, um valor pouco significativo. Os dirigentes colorados passaram um tempo, em Barcelona, em tratativas - e lá, na maior cidade basca, tentaram acertar um amistoso entre o clube de Porto Alegre e o Barcelona, o que, no fim das contas, não acabou se concretizando. O que eles - e nem a torcida - imaginavam é que, trinta anos depois, os dois clubes iriam duelar pelo título mundial de clubes, sendo que o Inter acabou levando a melhor e vencendo o Barça por 1 a 0. A reprodução é do Correio do Povo, de janeiro de 1976.
Dizem que Marinho Peres só voltou ao Brasil pois não queria fazer o serviço militar na Espanha, país do qual tinha nacionalidade. Ele foi titular da seleção brasileira na Copa do Mundo de 74. Nascido em Sorocaba, São Paulo, Peres tem hoje 71 anos e vive na Europa, onde treinou alguns clubes

sábado, junho 16, 2018

Alecrim, em A Charge Online.

Luiz Carvalho, o tricolor "rei da virada", faz aniversário e todos comemoram: novembro de 1935

Luiz Carvalho é hoje o nome do centro de treinamentos do Grêmio Football Portoalegrense. Mas o que poucos sabem é que Luiz Leão de Carvalho foi um dos maiores jogadores do tricolor gaúcho - e depois também do Vasco da Gama e do Botafogo do Rio - tendo integrado a seleção gaúcha várias vezes nos anos vinte e trinta e também a seleção brasileira. Considerado o "rei da virada", por suas fintas desconcertantes, grande atleta, Carvalho mais tarde se tornou treinador e um dos dirigentes da "tradicional agremiação da Baixada", que depois se transferiu para o Olímpico, casa própria, e para a sua residência atual - a Arena. nesta reprodução do Correio do Povo é noticiado o seu aniversário, ocorrido a primeiro de setembro. Luiz Carvalho nasceu em Cachoeira do Sul e faleceu em Porto Alegre, a 17 de janeiro de 1985, aos 77 anos. Curiosamente, poucos dias depois de completar seus 28 anos, em 1935, aconteceu a morte do maior ídolo gremista de todos os tempos - Eurico Lara.

quinta-feira, junho 14, 2018

A última visita de Getúlio Vargas a Porto Alegre: 1952


A morte de Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954 foi um dos mais traumáticos acontecimentos da história política brasileira. Acuado por todos os lados, sem apoio nas forças armadas, envelhecido e decepcionado, Vargas deu um tiro no peito e, como escreveu em sua Carta Testamento, saiu da vida para ficar na eternidade. Revoltas, depredações, saques, ataques contra empresas de nome estrangeiro, mortos, confrontos, choros, multidões nas ruas, toque de recolher, prédios ardendo - isso tudo faz parte do cenário daquele dia fatídico. Em sua edição diário, o jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, relatou o que foram aqueles dias de caos na capital gaúcha, tomada por um frenesi de vingança. E também reportou à última vez em que GG esteve em Porto Alegre, dois anos antes da sua morte, como se vê nas reproduções acima. Na foto, ao alto, ele aparece ao lado de Arquimedes Fortini, um dos nomes mais conhecidos da imprensa gaúcha nas décadas iniciais do século 20.

quarta-feira, junho 13, 2018

No tempo das "provas de resistência" do ciclismo gaúcho; Porto Alegre a Taquara

Andar de bicicleta, hoje, é uma atividade corriqueira, especialmente em grandes cidades e centros urbanos. Vista como uma alternativa sustentável e saudável frente ao poluente e agressivo automóvel, ela reúne grupos de ciclistas e aficcionados desse meio de transporte que, na primeira metade do século 20, era visto bem mais como um esporte. E nisso o Rio Grande do Sul também se destacava, com a realização de inúmeras provas de pequeno, médio e longo curso que atraíam muitas pessoas - os "circuitos ciclísticos". Um dos mais famosos de então era a prova "de resistência" Porto Alegre-Taquara, ligando as duas cidades que distam cerca de 70 quilômetros. Eventos como esse eram amplamente noticiados nos jornais, como se vê nesta matéria do Correio do Povo de julho de 1950.

sábado, junho 09, 2018

Clayton, O Povo, Ceará. A Charge Online.

Everaldo Marques, o tricampeão mundial de futebol que virou uma estrela dourada na bandeira do Grêmio e um dos maiores ídolos tricolores


A morte de Everaldo e familiares chocou o Rio Grande do Sul naquele final de outubro de 1974. Um ano e meio mais tarde a família Marques foi vítima de outra tragédia: Sidnei, irmã do jogador, jogou-se do alto do edifício da Renner, durante o incêndio que matou mais de 40 pessoas em abril de 1976.



Pesquisa e texto: Vitor Minas


    Às 22h30min de 27 de outubro de 1974, domingo, o ex-lateral esquerdo do Grêmio e tricampeão mundial de futebol pela seleção brasileira na Copa de 1970, no México, Everaldo Marques da Silva, colidiu seu automóvel Dodge-Dart contra a traseira de uma carreta Mercedes-Benz carregada com 24 toneladas de arroz e com placas de Santa Maria. Ou melhor - não colidiu, foi colidido. 
   Muito popular em todo o Estado, homenageado e paparicado depois da Copa (negro em um clube e em um Estado considerados racistas, foi o único representante gaúcho no selecionado), Everaldo havia, na prática, encerrado a carreira nos gramados e fazia então campanha eleitoral para eleger-se deputado estadual nas eleições de 15 de Novembro de 1974 pela Aliança Renovadora Nacional, ARENA, partido governista.

    Conduzido ainda com vida ao Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, faleceu a caminho – com ele morreram sua esposa, Cleci Helena, e sua filha Deise, de apenas três anos. Cleci teve morte instantânea – foi arremessada para fora do carro. No dia 3 de maio, também um domingo, morreu a irmã de Everaldo, Romilda, totalizando quatro vítimas fatais. O acidente aconteceu em uma grande reta, na altura do quilometro 43 da BR-290 (Porto Alegre-Uruguaiana), município de Cachoeira do Sul.  Tripulado por sete pessoas – Everaldo, Cleci e Deise e a filha mais velha, de seis anos, Denise, a irmã do jogador, Romilda, o tio Jardelino e a cunhada Maria Madalena Pereira da Silva, o carro havia sido presente de uma concessionária de Porto Alegre pelo tri conquistado no México.

   Apesar de todos, no calor do momento, culparem o caminhoneiro Vergilio Broglio (que se confessou “um gremista doente”), de 48 anos, motorista do Mercedez, residente em Santa Maria e que seguia em direção a Porto Alegre, constatou-se que Everaldo, cansado e na pressa de chegar logo a Porto Alegre, dirigia em alta velocidade (cerca de 160 km por hora, segundo apurou a perícia). Já o caminhoneiro não calculou corretamente a manobra de saída do restaurante e posto de gasolina “Constante”, retornando bruscamente à rodovia – ele também não prestou socorro às vítimas e, segundo testemunhas, tentou fugir do local do acidente, sendo interceptado por outro carro que o perseguiu. A rodovia, à época, apresentava pistas em bom estado e era bem iluminada.

   O campeão mundial tinha ido a Cachoeira participar de um jogo dos veteranos do Grêmio contra a equipe de um ginásio local dos Irmãos Maristas – os veteranos venceram por 6 a 3, Everaldo teve uma participação discreta, mas, sem dúvida, foi o responsável pelo bom público pagante. Ele chegou com a família em seu Dodge amarelo (os demais jogadores vieram de ônibus fretado), distribuiu santinhos da sua campanha, deu autógrafos, posou para fotos e, no início da noite, participou de uma confraternização.  Na saída, Loivo – jogador do Grêmio que o apoiava no corpo-a-corpo político - gritou-lhe do interior do seu Chevette: “Nos encontramos em Minas do Butiá pra tomar uma champanha!”.

   Apesar de já não estar mais relacionado entre os titulares do Grêmio ele ainda mantinha contrato de trabalho com o clube (ganhava 15 mil cruzeiros mensais). Havia, inclusive, acertado com os dirigentes a realização de um jogo de despedida, igualmente comemorativo dos seus 15 anos de casa, marcado para julho do próximo ano. No sábado – lembraram depois seus colegas e amigos – Everaldo ainda esteve no Olímpico, participando de trabalhos físicos e treinamentos leves.

   Surgido no Grêmio ainda criança, ele assinou seu primeiro contrato com o tricolor em janeiro de 1961, na categoria infantil - era alto, magro e canhoto no chute. Everaldo foi campeão estadual em 66, seguindo-se os títulos de 67 e 68 (o hepta tricolor). De junho de 1965 a outubro de 1966, esteve emprestado ao Juventude de Caxias do Sul.  Foi convocado para a seleção de 1970, sem nenhuma garantia de ser titular, o que acabou de fato acontecendo graças, sobretudo, à sua aplicação tática e ao seu jogo simples, discreto e eficiente. Na definição do seu ex-técnico Carlos Froner, “era um jogador que crescia de acordo com a importância da partida”. Era também considerado um atleta viril, mas leal em suas disputas, o que lhe valeu o prêmio disciplinar Belfort Duarte da Confederação Brasileira de Desportos.

   Naquele domingo à tarde, no Olímpico, o time da casa, treinador por Sérgio Moacir, havia vencido a equipe do Caxias por 1 a 0, gol de Dionísio. O ataque gremista, formado por Luis Freire, Iúra, Tarciso e Bolívar, teve grandes dificuldades para superar a retranca grená.

   Em meio à grande comoção, Everaldo foi enterrado no cemitério João XXIII, junto com a mulher e a filha – coincidência ou não, o local havia sido campo do Esporte Clube Cruzeiro de Porto Alegre. Mais tarde, em homenagem ao jogador, o Grêmio inseriu uma estrela dourada em sua bandeira oficial.