Jardim Botânico, Porto Alegre. Fundado em 2006 por Vitor Minas. Email: vitorminas1@gmail.com
sábado, agosto 04, 2018
A primeira partida de
futebol a cores da tevê brasileira: Caxias e Grêmio
A tarde do dia 20 de fevereiro de 1972, um domingo, marca a
primeira transmissão televisiva pública e regular de um jogo de futebol a cores
no Brasil. E mais uma vez a primazia coube ao Rio Grande do Sul, em um amistoso
entre os times da Associação Caxias de Futebol, o Caxias, e o Grêmio Futebol Portoalegrense.
O local era a chamada Baixada Rubra e o público, em grande parte formado por
turistas que visitavam a décima segunda Festa da Uva, iniciada no sábado, foi
considerado excelente. A partida, porém, não foi lá essas coisas, com o Caxias
mostrando até uma certa superioridade sobre o tricolor e tendo mais chances
reais de abrir o placar. Associação Caxias que era o resultado da recente fusão
do Juventude com o Flamengo local, desfeita três anos depois.
O Grêmio – que havia três anos não ganhava o campeonato
gaúcho – teve então a sua bela camisa vista pela primeira vez a cores nas
telinhas e nas telonas dos pesados televisores a válvulas da época. E não só no
Rio Grande do Sul como em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, locais em que o
jogo foi retransmitido pelas TVs Rio de Record – afinal, era um momento de
modernidade para as telecomunicações tupiniquins e uma conquista do chamado Milagre
Brasileiro.
A transmissão pioneira foi da Tevê Difusora, canal 10, hoje Bandeirantes
de Porto Alegre, sendo acompanhada pelos poucos privilegiados que haviam
comprado os então caríssimos aparelhos a cores. Transmissão pública colorida em
caráter nacional que, aliás, iniciou lá mesmo em Caxias do Sul, pela mesma
Difusora, no dia anterior, na abertura da décima segunda Festa da Uva, embora
ela tenha existido, de forma experimental, no início dos anos sessenta e
durante a Copa do Mundo no México. A propósito, Médici era gaúcho e gremista e
seu ministro das Comunicações, Higyno Corsetti, era, além de gaúcho, caxiense
de nascimento.
O histórico mas pouco emocionante embate sem gols entre o
clube da capital e o do interior talvez tenha passado despercebido pelos seus
protagonistas e remanescentes, os gremistas treinados pelo velho Oto Glória: Deca,
Espinosa, Ancheta, Beto, Everaldo, Jadir, Dacunto, Torino, Flecha, o argentino Oberti,
Caio, Mazinho e Loivo. Os caxienses Nadir, Luis Alberto, Roberto, Antonio
Carlos, Paulinho, Zangão, Ênio Chaves, Sidnei, Osvaldo, Fernando e Técchio, todos
comandados pelo técnico Pedro Figueiró. A arbitragem daquele 20 de fevereiro de
1972 foi de Agomar Martins, auxiliado por Zeno Barbosa e Airton Bernardoni.
sexta-feira, agosto 03, 2018
O Último jogo de Everaldo
Everaldo Marques da Silva é hoje uma estrela dourada na
bandeira do Grêmio, forma encontrada pelo então tricolor da Azenha para homenagear
esse lateral esquerdo aplicado, eficiente e discreto que se consagrou
tricampeão mundial de futebol pela seleção brasileira no México em 1970. A sua
morte trágica, na noite de domingo, 27 de outubro de 1974, comoveu o povo
gaúcho, o mesmo que o havia recebido em apoteose quando a seleção canarinho voltou
do México trazendo consigo, em definitivo, a cobiçada Taça Jules Rimet. Único
dos nossos no selecionado nacional, titular na lateral-direita quase de última
hora em lugar de Marco Antonio, virou um ídolo popular acima das paixões
clubísticas, motivo de orgulho em uma época em que os jogadores de futebol andavam
nas ruas, não ganhavam milhões e nem andavam em Ferraris e Lamborguinis.
Foi, aliás, dirigindo um Dodge-Dart nacional que havia ganho
de presente de uma concessionária de veículos, ao retornar da Copa, que
Everaldo encerrou precocemente a sua vida, pouco mais de um mês depois de
completar 30 anos de idade. E nem foi na
Porto Alegre onde havia nascido e onde crescera e sim na terra do arroz,
Cachoeira do Sul, a quase 200 quilômetros da capital. Com ele faleceram sua esposa Gleci, a filhinha
Deise, de apenas 3 anos e, mais tarde, a irmã de Everaldo, Romilda, tripulantes
de um automóvel lotado com sete pessoas. O culpado pelo acidente foi um
motorista de Santa Maria chamado Vergílio, com 48 anos de idade e mais de 20 de
profissão, casado, pai de três filhos, por ironia, um “gremista doente”, como
diria mais tarde aos jornalistas. O caminhoneiro havia abastecido seu Mercedes-Benz,
carregado com 24 toneladas de arroz, em um posto de gasolina à margem da BR-290
e retornou abruptamente para a rodovia, sem ver o Dodge que seguia no sentido
de Porto Alegre. Eram 22 horas e 30 minutos de 27 de outubro daquele ano em que
o Brasil apenas havia se classificado em quarto lugar na Copa vencida pela
Alemanha, iniciando um jejum de títulos que duraria duas décadas.
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Everaldo: estrela no pavilhão tricolor. |
O lateral-esquerdo impecável, o marcador cerrado da Copa de
70 nem sequer teve chance de desfrutar a sua aposentadoria – que na verdade já
acontecera, precocemente. Everaldo, agora, pretendia trocar os gramados por uma
cadeira na Assembleia Legislativa do Estado, pela Arena, Aliança Renovadora
Nacional, o partido situacionista que disputava as eleições no próximo dia 15
de novembro. Para isso tinha ido a Cachoeira com a família, participar do jogo
dos veteranos do Grêmio contra um time do colégio marista local, evento que lhe
seria útil na busca de mais votos. Transmitida pela rádio local, a Princesa, a
partida atraiu um grande público e terminou com 6 a 3 para o Grêmio, às 18
horas e 15 minutos. Everaldo teve uma atuação discreta, jogou além dos 15
minutos prometidos e meteu uma bola na trave. Depois participou de um coquetel,
deu autógrafos, distribuiu a revista do Grêmio e santinhos da sua candidatura,
visitou alguns amigos e partiu no seu “Dojão” amarelo de volta a Porto Alegre.
Mal sabia que havia jogado o seu último jogo e fazia agora a sua última viagem.
Loivo, ponteiro esquerdo gremista, que o acompanhava como
amigo e cabo eleitoral, hoje com 73 anos de idade, foi o último colega de clube
e profissão a falar com o ídolo tricolor. Abastecendo o seu Chevete no Posto
Constante, no entroncamento da BR-153 com 290, Loivo gritou para o amigo: “Nos
encontramos em Butiá para tomar uma champanha com os amigos”. Não deu
tempo.
Poster da Revista do Globo: Seleção Brasileira na Copa de 1954, na Suíça
Com 16 participantes, a Copa do Mundo de 1954 foi realizada na Suíça, em homenagem aos 50 anos da Fifa, que tem lá a sua sede. Foi a Copa do célebre time da Hungria, de Puskas e companhia, que acabou em segundo lugar, tendo se sagrado campeã a Alemanha. A Áustria ficou em terceiro lugar, seguida pelo Uruguai.A final aconteceu em 4 de julho, com um público de cerca de 60 mil pessoas, no estádio Wankdorf, em Berna. A Hungria fez 2 a 0 sobre a Alemanha, mas acabou levando uma virada de 3 a 2. Uma das curiosidades desta Copa foi o fato de ser, pela primeira vez, transmitida pela televisão e ter a maior média de gols de todas as copas. O Brasil, que ficou em sexto lugar, pela primeira vez usou a atual camisa canarinho - já que, nas anteriores, usava a azul. Julinho Botelho (ponteiro direito), Djalma Santos e Didi foram destaques pelo Brasil, mas o craque escolhido da competição foi mesmo Ferenc Puskas.
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Julinho Botelho fez história também na Itália, sendo campeão pela Fioretina. |
1971, um ano
de ouro para o futebol gaúcho e brasileiro
No início de 1972, o jornalista João Carlos Belmonte, da
Caldas Júnior, traçou, no Correio do Povo, um interessante levantamento
estatístico do que tinha sido o futebol gaúcho em 1971, justamente quando
iniciou o moderno campeonato brasileiro, vencido pelo Atlético Mineiro, e
também o ano seguinte à euforia nacional pela conquista do tri na Copa do Mundo
do México. E concluiu o jornalista: “Em
matéria de futebol, no ano que passou, o gaúcho não pode ter queixa: foram disputadas
no Rio Grande do Sul, em 1971, 439 partidas de futebol. Pelo campeonato
nacional de clubes a dupla Grenal jogou 44 vezes, enquanto o certame regional
ficou com um total de 353 partidas.”
Belmonte também lembrava que “o futebol rendeu muito dinheiro
em 1971, porque muitos foram os jogos”. Segundo ele, tinham sido arrecadados,
nos jogos envolvendo clubes gaúchos, mais de 5 milhões de cruzeiros –
obviamente, algo difícil de mensurar nos dias de hoje. Nesse total não estavam
computados os valores da Copa Governador do Estado, que ia de setembro a
dezembro, certame este envolvendo clubes menores e vencido naquele ano pela
Associação Almirante Barroso-São José Futebol e Regatas.
Outra novidade de 1971 dizia respeito à contratação pela
dupla Grenal de treinadores famosos vindos de fora, algo que há muito tempo não
acontecia no futebol do Rio Grande do Sul. O Grêmio saiu na frente, trazendo
Otto Glória, seguido, alguns meses depois, por Dino Sani, no Inter, que
substituía Daltro Menezes no comando da equipe colorada. Segundo o jornalista, “o trabalho de Otto e Dino modificou muita
coisa em nosso futebol e tanto isso é verdade que eles ficarão durante 1972
dirigindo a dupla Grenal”.
Quanto aos jogadores e à parte técnica das equipes, o
destaque daquele ano de 1971 era a contratação de jogadores famosos, craques de
seleções estrangeiras, como era o caso de Ancheta, pelo Grêmio, integrante do
selecionado uruguaio, e de Figueroa, pelo Inter, zagueiro da seleção chilena,
vindo do Penharol de Montevidéu. Belmonte lembrava ainda que o colorado tinha
conseguido o tricampeonato gaúcho e havia chegado à frente do Grêmio no
campeonato brasileiro, embora a equipe tricolor tivesse sido a mais regular. O
craque do ano, conforme escolha da crônica esportiva, tinha sido Carbone, do
Internacional. Quanto aos clubes do interior, o destaque era o Esportivo de
Bento Gonçalves, que se firmava, em 1971, como a terceira força do Estado.
João Carlos Belmonte informava que, dali a alguns dias,
iniciaria o campeonato brasileiro de 1972, ou seja, mais espetáculos para o
público, mais dinheiro para os clubes gaúchos: “A proporção de jogos parece alarmante, e a tendência é aumentar. Ano
passada foram disputadas 439 partidas, totalizando 39.510 minutos de futebol,
ou melhor explicando: se terminasse um jogo e imediatamente iniciasse outro, em
1971 tivemos quase 27 dias ininterruptos de jogos. Que tal a ideia de ficar 27 dias sentado na
arquibancada de cimento para assistir a 439 jogos de futebol?”
quinta-feira, agosto 02, 2018
Caçapava exibe seus luxos: um fusca "incrementado" com rádio FM e toca-fitas...
Que diferença! Se hoje qualquer jogador, mesmo de nível médio, desfruta de um altíssimo padrão de vida e ganha salários astronômicos - sem falar os carrões - em 1976, quando o Inter conquistou o seu segundo título nacional, Caçapava, volante, "exibia-se" com seu fusca "incrementadíssimo", com direito a rádio FM e até, vejam só, toca-fitas... A nota foi dada na coluna de João Carlos Belmonte, no Correio do Povo de 12 de setembro de 1976. Caçapava se chamava Luiz Carlos Melo Lopes, nasceu em Caçapava do Sul e lá morreu, em 2016, aos 61 anos, vítima de um infarto fulminante. Ele ainda jogou por outros grandes clubes, como o Corinthians e o Palmeiras, até retornar à sua terra natal.
Endividamento do Rio Grande do Sul começou, vejam só, com a Revolução de 30
Não é futebol mas é bom saber...
Na sua edição de 28 de outubro de 1950 a Revista do Globo, da editora Globo, de Porto Alegre, um quinzenário com alguma penetração nacional - publicou uma interessante reportagem do ótimo jornalista Rubens Vidal a respeito do então já crônico endividamento do Estado gaúcho. Aquele ano foi emblemático: aconteceram as eleições que levaram Getúlio Vargas de volta ao poder, agora pelas urnas, e, no Rio Grande do Sul, Ernesto Dornelles elegeu-se governador - Salgado Filho, escolhido para concorrer pela coligação liderada pelo PTB no pleito de outubro faleceu, no final de julho, em um célebre acidente aéreo. O Rio Grande, então, vivia um ciclo de otimismo, e Porto Alegre modernizara-se e crescera muito, atingindo mais de 400 mil habitantes. Mesmo assim o Estado devia muito dinheiro para o governo federal, e não tinha como pagar tal conta de "um bilhão" de cruzeiros. Buscando saber os motivos e a origem dessa colossal dívida, Rubens Vidal - autor de um belo livro sobre Getúlio e seu clã, "Os Vargas", editado pela Globo (e, tudo indica, não mais reeditado, o que é lamentável) - fez uma extensa investigação e localizou, exatamente, a data e o fato que originaram tal estado de coisas, o qual pode ser assim resumido: os gaúchos pagaram com dinheiro do seu próprio bolso toda a conta das despesas militares da Revolução de 1930 que deu fim à Velha República e implantou uma nova era no Brasil.
Encontrei tal matéria na coleção do Arquivo Histórico Moysés Vellinho, da Prefeitura de Porto Alegre, e achei muito oportuno transcrevê-lo na íntegra, sobretudo neste momento em que assumiu um novo governador e que o Estado, sem dinheiro para nada, se vê, como sempre, às voltas com a falta de recursos e com a terrível inadimplência. (Vitor Minas). REPUBLICAÇÃO
"Um Bilhão!"
Honesto, mas sem dinheiro, o Estado gaúcho remata o maior drama financeiro da sua história encaminhando-se (horrorizado) para a casa de um bilhão (em déficit).
"Há vinte anos que o Estado do Rio Grande do Sul não paga as suas dívidas. E não as paga por uma razão muito simples: não tem dinheiro. A posição da Província gaúcha é análoga à de um honesto devedor sem recursos cujos esperançosos amigos e credores repetem.
- Fulano é muito direito. Quando tiver dinheiro, paga.
Tranquilizados por esse argumento, os credores do Estado (principalmente o Banco do Brasil) esperam pacientemente um milagre que encha de um momento para outro as vazias arcas do Tesouro Estadual. Enquanto isso, e apesar dos vigorosos esforços de seus governadores, desde 1930 o Rio Grande do Sul vem arrastando, para desespero da administração, a fama de devedor crônico, tanto no comércio interno como externo.
Todos os fins de ano, ao encerrar-se o balanço das angustiosas finanças gaúchas, quando o Tribunal de Contas remete á Assembleia Legislativa a relação geral dos gastos, comentada em relatório minucioso, surgem acusações e esclarecimentos. Mas aos olhos do povo o problema continua confuso. E nem por isso é mais claro nas altas esferas administrativas, onde há queixas veladas, acusações abertas e inculpações agressivas.
- Afinal, quem está com a razão? - exclamou atônito um estudante de economia e finanças da Universidade de Porto Alegre, após uma erudita dissertação do professor sobre orçamentos, balanços, relatórios e exposições de motivos.
É possível responder a essa pergunta direta do estudante gaúcho (e dos seus conterrâneos) se historiarmos rapidamente a vida tormentosa de um déficit que tem agora vinte anos de idade. (Déficit é uma palavra latina que, na linguagem dos economistas, significa "o que falta numa conta". Assim, se ganho mil cruzeiros e gasto ou devo mil e quinhentos, o meu déficit, isto é, o que falta na minha conta, são quinhentos cruzeiros).
A FILHA DA REVOLUÇÃO
Em 1950, falta nas contas do Rio Grande do Sul 300 milhões de cruzeiros. E em 1952 tudo indica que faltará 1 bilhão.
Essa diferença, hoje tão grande, nasceu com a Revolução de 1930. Ao assumir o governo do Estado, logo após a vitória das armas outubrinas, o general Flores da Cunha enfrentou o primeiro desequilíbrio financeiro. É que o Tesouro do Estado tinha emitodo "bônus", isto é, tinha impresso dinheiro para atender às despesas com as forças revolucionárias. Os compromissos resultantes dessas emissões começaram a pesar no orçamento. O Interventor federal, para retirar de circulação esse "dinheiro frio", viu-se obrigado a fazer um empréstimo no Banco do Brasil. Desse modo, conseguiu aliviar o Tesouro de tão pesada carga. Melhor: repartiu-a entre o Estado e o Banco do Brasil, pois até hoje o empréstimo não foi pago, e todos os anos mais de 5 milhões de cruzeiros são gastos de amortização.
Contudo, a situação financeira agravou-se de tal sorte que a administração gaúcha teve de interromper subitamente o pagamento dos juros sobre as dívidas do Estado, ou seja, sobre as apólices da dívida pública. E mais ainda: teve de seguir o triste exemplo de outros Estados brasileiros e suspender o pagamento do que devia no estrangeiro.
HONESTO MAS INGÊNUO
A administração seguinte, que foi a do general Daltro Filho, herdou esses desequilíbrios vindos da Revolução de Outubro: orçamento deficitário em alguns milhões de cruzeiros, atrasos no pagamento da dívida interna e externa. Na sua honesta simplicidade, o novo Interventor, esmagado por estes problemas financeiros, pensou ter encontrado a grande solução com um "programa de austeridade" que eliminou auxílios de qualquer natureza e descarregou o fardo nos débeis ombros do funcionalismo público, cujos vencimentos foram indiretamente reduzidos.
Mas o déficit continuou aumentando.
E aumentou de tal maneira que outro general, o sr. Cordeiro de Farias, ao substituir o colega Daltro Filho na governança do Estado, viu-se na contingência de vender ao governo federal uma parte dos bens do Estado: a frota mercante gaúcha, que tinha um alto valor econômico.
PAPEL, PAPEL, PAPEL
A Segunda Guerra Mundial, provocando um enorme aumento do comércio interno e o subsequente desenvolvimento dos negócios, trouxe uma espécie de agradável embriaguez financeira. O Estado começou a arrecadar mais dinheiro e a crise interrompeu-se momentaneamente.
Enquanto isso, como o conflito internacional impedia a vinda de produtos estrangeiros, a indústria e a agricultura gaúcha começaram a produzir mais para o consumo regional e nacional. Todas estas circunstâncias e mais uma rotunda emissão de papel-moeda, contribuíram para dar aos rio-grandenses uma impressão de progresso. Era no entanto um progresso artificial e marcava o início do período inflacionista em que ainda nos encontramos. (Inflação é o excesso dos meios de pagamento em relação às necessidades das trocas, ou seja, a existência de mais crédito ou dinheiro impresso do que coisas a trocar por ele. E se nesta relação há mais dinheiro e menos mercadorias, é lógico que sobe o preço destas).
BANCARROTA E GENEROSIDADE
Para evitar, ou ao menos adiar, o ressurgimento da crise, a mesma administração aumentou sucessivamente (de 1,25% para 2,0) o imposto direto sobre os negócios, que é o de vendas e consignações. Era uma medida de precaução, já que as finanças estaduais pareciam desafogadas.
Pareciam mas não estavam. Porque, ao terminar a Guerra, em 1945, normalizando-se o comércio internacional, os produtos estrangeiros voltaram a concorrer com os nacionais e retraíram-se os mercados consumidores. A consequência imediata foi um brusco desequilíbrio na economia e nas finanças rio-grandenses. O Estado do Rio Grande do Sul ficou ameaçado de pura e simples falência.
A crise estourou na administração Cilon Rosa. Mas as consequências não foram imediatas, graças a um clássico empréstimo, que no caso foi de 150 milhões de cruzeiros (inicialmente destinados à execução do Plano de Saneamento do Estado). Generosas subvenções a obras de benemerência (cerca de 90 milhões) marcaram esta administração.
EMPRÉSTIMO ARMA
No governo constitucional do sr. Walter Jobim a crise, contida temporariamente nos diques de papel da inflação, irrompeu com dobrada violência. Nos termos de nossa história administrativa, crise significa empréstimo - e um novo empréstimo de 150 milhões de cruzeiros foi prometido pelo governo federal (destinados ao Plano de Eletrificação do Estado). No entanto, a abertura dos créditos sofreu sucessivas prorrogações por motivos políticos, uma vez que o empréstimo ficou sando a arma do governo central contra a "fórmula Jobim" à sucessão presidencial. (Essa fórmula sugeria um entendimento entre todos os partidos, mas não o desejava o presidente Dutra sem a exclusão dos trabalhistas de Getúlio Vargas e dos populistas de Ademar de Barros).
SACRIFÍCIO MUNICIPAL
Enquanto isso, o governo gaúcho via-se na contingência de "gastar por conta", e utilizava-se de verbas que pertenciam aos municípios ou eram destinadas ao pagamento do funcionalismo. Segundo a lei, o Tesouro do Estado tem que devolver aos cofres municipais 15% de sua arrecadação quando esta exceder em dobro à do município. Tal determinação ainda não pode ser atendida pelo Estado.
A demora dos dinheiros federais causou uma situação angustiosa e difícil à administração rio-grandense, e houve até vários meses de atraso no pagamento de funcionários de alguns departamentos estaduais (DAER e Brigada Militar).
O Governo do Estado, pelo seu secretário da Fazenda, que na época era o sr. Gastão Englert, enfrentou a crise com uma medida simples, antiga e perigosa: aumento os impostos. Os aumentos foram os mais elevados até agora propostos por qualquer gestor das finanças gaúchas.
O FALSO ALÍVIO
Tais aumentos deram um ano de aparente desafogo ao Tesouro, e o balanço de 1948 mostrou um déficit relativamente pequeno de 40 milhões de cruzeiros (o menor nos últimos cinco anos). Mas, correndo o tempo, como o Estado não fiscalizasse rigorosamente a sua arrecadação, esta diminuiu a ponto de anular aqueles aumentos. Um ano depois, recrudescia a crise.
Finalmente, coincidindo com uma espécie de trégua na "fórmula Jobim", veio a primeira quota do empréstimo federal (60 milhões). Esperava-se de tal soma um alívio à pressão financeira sofrida pelo Rio Grande do Sul. mas o governo central teve a sorrateira prudência de descontar dela a dívida estadual. Resultado: apenas uma quarta parte (15 milhões) chegou ao erário gaúcho.
E assim chegamos à situação atual. Como se vê, todas estas medidas foram modestos analgésicos aplicados periodicamente à crônica dor-de-cabeça estadual.
DE DÉFICIT EM DÉFICIT
Ora, o desequilíbrio financeiro da província gaúcha há muito já ultrapassou a fase da dor-de-cabeça. Do ponto de vista financeiro, o Estado é um organismo doente, quase às portas do desenlace.
O déficit crônico de que vem sofrendo as finanças gaúchas culminou no desastroso resultado do exercício de 1949, e desbordou-se neste ano em 300 milhões de cruzeiros. Quando verificamos que essa soma corresponde a mais de 25% da arrecadação total do Estado, temos toda a sua dramática significação.
Nos últimos cinco anos, a receita foi inferior à despesa de 680 milhões de cruzeiros. Para cobrir essa diferença o Estado teria de empregar mais da metade do que arrecada de impostos e taxas durante um ano.
Em face de tal situação, a dívida pública do Rio Grande do Sul, que em 1945 era de 660 milhões de cruzeiros, saltou espetacularmente para 1 bilhão e 200 milhões de cruzeiros em 1949. Assim, se a administração gaúcha quisesse pagar tal dívida teria de empregar toda a sua arrecadação de um ano e fazer um empréstimo para atender aos milhões que ainda ficaria a dever. E o mais grave é que a metade da dívida estadual é "flutuante", isto é, dívida cujo pagamento os credores podem exigir a qualquer momento.
TEM 280 E DEVE 460
Segundo o balanço de 1949, os recursos do Estado montavam a 280 milhões de cruzeiros, ao passo que os seus compromissos vencidos ou em fase de vencimento correspondiam a 460 milhões. Isso significa que o governo gaúcho, para pagar uma dívida de CR$ 1,64 dispõe somente de 1 cruzeiro.
E ainda de acordo com as cifras do ano passado, se o Rio Grande do Sul, em delírio de honradez, resolvesse vender todo o seu patrimônio, ou seja, tudo o que possui, inclusive os edifícios, as terras, os móveis, utensílios, maquinarias, veículos, portos, acessórios técnicos, etc, e recebesse também o que lhe devem, a fim de pagar as suas dívidas, apenas lhe sobraria a quantia aproximada de 350 milhões de cruzeiros. Para compreendermos a irrisão deste saldo, basta dizer que com tal soma o Estado não poderia comprar duas usinas iguais à da Companhia Energia Elétrica de Porto Alegre.
ALGUÉM DEVE PARA ALGUÉM
Está claro que o Estado não é e nem pode ser administrado como uma firma comercial: a gestão de suas finanças não visa o lucro mas o equilíbrio. E os encargos sociais, quando atendidos, oneram forçosamente a sua estrutura financeira. Mas, quando sofre um desequilíbrio, um Estado sofre-o mais gravemente do que qualquer empresa comercial, e com repercussão infinitamente maior.
Assim, se o Rio Grande do Sul arrecada 1 bilhão e 700 milhões de cruzeiros, e gasta 2 bilhões, a diferença de 300 milhões equivale a uma rotunda dívida sem cobertura, cujo pagamento não se pode dizer se, e quando, será feito.
Naturalmente, se alguém deve, há alguém que não recebe o que lhe é devido. Neste caso, são as prefeituras gaúchas sacrificadas pelo Estado, que não lhes paga o que deve pagar, conforme já o expusemos acima. E o Estado não lhes paga simplesmente porque não tem dinheiro. Resultado: as prefeituras fazem verdadeiros malabarismos para enquadrar os seus gastos obrigatórios e necessários (pagamento de funcionários, conservação das ruas, redes de esgotos etc) dentro da minguada arrecadação municipal. Quanto ao funcionalismo, é um problema que o Estado do Rio Grande do Sul compreende perfeitamente, pois anualmente paga aos seus funcionários a quantia de 765 milhões de cruzeiros, ou seja, 45% da receita pública. Mas não basta compreender quando não se tem os recursos para pagar.
A GRANDE PERGUNTA
Procurando minorar a situação do tesouro estadual, a atual administração deseja entregar à União a Universidade do Rio Grande do Sul e economizar desse modo alguns milhares de cruzeiros. Tal medida ainda não foi concretizada, e se não o for em breve, crescerá o déficit no orçamento de 1951, que já exclui a despesa com a educação superior dos gaúchos.
Qual é (perguntará o rio-grandense médio para o qual escrevemos) a causa fundamental de tudo isso?
A SIMPLES RESPOSTA
Na verdade a causa é de ordem econômica. Se houve um aumento em cruzeiros na produção gaúcha (ocasionado pela inflação), não houve um aumento na quantidade das coisas produzidas. Assim, durante os vinte anos de crise que estamos analisando, a produção rio-grandense não aumentou mais do que o correspondente ao acréscimo de sua população. Desde 1930, não houve até agora um aumento substancial na produção por habitante.
Ora, não havendo maior produção a receita pública não pode aumentar, uma vez que o Estado tira os seus dinheiros do que lhe é dado arrecadar de cada contribuinte, produtor ou consumidor.
O progresso industrial e agrícola, tão agudamente necessário para o Rio Grande do Sul, está por sua vez, e como em toda a parte, condicionado à energia mais abundante e barata e melhores transportes. Na situação em que se encontram, as nossas fontes de combustível (como as minas de carvão), os nossos transportes ferroviários (Revista do Globo, número 514), e a nossa rede elétrica (Revista do Globo, número 509) ainda não podem conduzir a esse progresso. A agricultura, consequentemente, está impossibilitada de distribuir nos mercados consumidores os gêneros alimentícios por um preço razoável - e jamais o fará enquanto a produção agrícola tiver, como agora, um exorbitante preço no custo.
O CAMINHO E O EXEMPLO
Os encargos do Estado multiplicam-se de ano para ano. Mas o seu desequilíbrio financeiros vem acusando a falta de escolas (Revista do Globo, número 508), de hospitais, de estradas, de transportes, etc, falta essa que é uma constante preocupação dos nossos administradores.
Diante da impossibilidade de aumentar a receita pública, os encarregados das finanças gaúchas só tem dois caminhos a escolher: diminuir as despesas (o que equivale a cruzar os braços) ou fazer gastos indispensáveis (o que importa em déficits continuados). Tem sido este último caminho escolhido pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul - e o exemplo vem de quase todas as províncias brasileira
Todos os fins de ano, ao encerrar-se o balanço das angustiosas finanças gaúchas, quando o Tribunal de Contas remete á Assembleia Legislativa a relação geral dos gastos, comentada em relatório minucioso, surgem acusações e esclarecimentos. Mas aos olhos do povo o problema continua confuso. E nem por isso é mais claro nas altas esferas administrativas, onde há queixas veladas, acusações abertas e inculpações agressivas.
- Afinal, quem está com a razão? - exclamou atônito um estudante de economia e finanças da Universidade de Porto Alegre, após uma erudita dissertação do professor sobre orçamentos, balanços, relatórios e exposições de motivos.
É possível responder a essa pergunta direta do estudante gaúcho (e dos seus conterrâneos) se historiarmos rapidamente a vida tormentosa de um déficit que tem agora vinte anos de idade. (Déficit é uma palavra latina que, na linguagem dos economistas, significa "o que falta numa conta". Assim, se ganho mil cruzeiros e gasto ou devo mil e quinhentos, o meu déficit, isto é, o que falta na minha conta, são quinhentos cruzeiros).
A FILHA DA REVOLUÇÃO
Em 1950, falta nas contas do Rio Grande do Sul 300 milhões de cruzeiros. E em 1952 tudo indica que faltará 1 bilhão.
Essa diferença, hoje tão grande, nasceu com a Revolução de 1930. Ao assumir o governo do Estado, logo após a vitória das armas outubrinas, o general Flores da Cunha enfrentou o primeiro desequilíbrio financeiro. É que o Tesouro do Estado tinha emitodo "bônus", isto é, tinha impresso dinheiro para atender às despesas com as forças revolucionárias. Os compromissos resultantes dessas emissões começaram a pesar no orçamento. O Interventor federal, para retirar de circulação esse "dinheiro frio", viu-se obrigado a fazer um empréstimo no Banco do Brasil. Desse modo, conseguiu aliviar o Tesouro de tão pesada carga. Melhor: repartiu-a entre o Estado e o Banco do Brasil, pois até hoje o empréstimo não foi pago, e todos os anos mais de 5 milhões de cruzeiros são gastos de amortização.
Contudo, a situação financeira agravou-se de tal sorte que a administração gaúcha teve de interromper subitamente o pagamento dos juros sobre as dívidas do Estado, ou seja, sobre as apólices da dívida pública. E mais ainda: teve de seguir o triste exemplo de outros Estados brasileiros e suspender o pagamento do que devia no estrangeiro.
HONESTO MAS INGÊNUO
A administração seguinte, que foi a do general Daltro Filho, herdou esses desequilíbrios vindos da Revolução de Outubro: orçamento deficitário em alguns milhões de cruzeiros, atrasos no pagamento da dívida interna e externa. Na sua honesta simplicidade, o novo Interventor, esmagado por estes problemas financeiros, pensou ter encontrado a grande solução com um "programa de austeridade" que eliminou auxílios de qualquer natureza e descarregou o fardo nos débeis ombros do funcionalismo público, cujos vencimentos foram indiretamente reduzidos.
Mas o déficit continuou aumentando.
E aumentou de tal maneira que outro general, o sr. Cordeiro de Farias, ao substituir o colega Daltro Filho na governança do Estado, viu-se na contingência de vender ao governo federal uma parte dos bens do Estado: a frota mercante gaúcha, que tinha um alto valor econômico.
PAPEL, PAPEL, PAPEL
A Segunda Guerra Mundial, provocando um enorme aumento do comércio interno e o subsequente desenvolvimento dos negócios, trouxe uma espécie de agradável embriaguez financeira. O Estado começou a arrecadar mais dinheiro e a crise interrompeu-se momentaneamente.
Enquanto isso, como o conflito internacional impedia a vinda de produtos estrangeiros, a indústria e a agricultura gaúcha começaram a produzir mais para o consumo regional e nacional. Todas estas circunstâncias e mais uma rotunda emissão de papel-moeda, contribuíram para dar aos rio-grandenses uma impressão de progresso. Era no entanto um progresso artificial e marcava o início do período inflacionista em que ainda nos encontramos. (Inflação é o excesso dos meios de pagamento em relação às necessidades das trocas, ou seja, a existência de mais crédito ou dinheiro impresso do que coisas a trocar por ele. E se nesta relação há mais dinheiro e menos mercadorias, é lógico que sobe o preço destas).
BANCARROTA E GENEROSIDADE
Para evitar, ou ao menos adiar, o ressurgimento da crise, a mesma administração aumentou sucessivamente (de 1,25% para 2,0) o imposto direto sobre os negócios, que é o de vendas e consignações. Era uma medida de precaução, já que as finanças estaduais pareciam desafogadas.
Pareciam mas não estavam. Porque, ao terminar a Guerra, em 1945, normalizando-se o comércio internacional, os produtos estrangeiros voltaram a concorrer com os nacionais e retraíram-se os mercados consumidores. A consequência imediata foi um brusco desequilíbrio na economia e nas finanças rio-grandenses. O Estado do Rio Grande do Sul ficou ameaçado de pura e simples falência.
A crise estourou na administração Cilon Rosa. Mas as consequências não foram imediatas, graças a um clássico empréstimo, que no caso foi de 150 milhões de cruzeiros (inicialmente destinados à execução do Plano de Saneamento do Estado). Generosas subvenções a obras de benemerência (cerca de 90 milhões) marcaram esta administração.
EMPRÉSTIMO ARMA
No governo constitucional do sr. Walter Jobim a crise, contida temporariamente nos diques de papel da inflação, irrompeu com dobrada violência. Nos termos de nossa história administrativa, crise significa empréstimo - e um novo empréstimo de 150 milhões de cruzeiros foi prometido pelo governo federal (destinados ao Plano de Eletrificação do Estado). No entanto, a abertura dos créditos sofreu sucessivas prorrogações por motivos políticos, uma vez que o empréstimo ficou sando a arma do governo central contra a "fórmula Jobim" à sucessão presidencial. (Essa fórmula sugeria um entendimento entre todos os partidos, mas não o desejava o presidente Dutra sem a exclusão dos trabalhistas de Getúlio Vargas e dos populistas de Ademar de Barros).
SACRIFÍCIO MUNICIPAL
Enquanto isso, o governo gaúcho via-se na contingência de "gastar por conta", e utilizava-se de verbas que pertenciam aos municípios ou eram destinadas ao pagamento do funcionalismo. Segundo a lei, o Tesouro do Estado tem que devolver aos cofres municipais 15% de sua arrecadação quando esta exceder em dobro à do município. Tal determinação ainda não pode ser atendida pelo Estado.
A demora dos dinheiros federais causou uma situação angustiosa e difícil à administração rio-grandense, e houve até vários meses de atraso no pagamento de funcionários de alguns departamentos estaduais (DAER e Brigada Militar).
O Governo do Estado, pelo seu secretário da Fazenda, que na época era o sr. Gastão Englert, enfrentou a crise com uma medida simples, antiga e perigosa: aumento os impostos. Os aumentos foram os mais elevados até agora propostos por qualquer gestor das finanças gaúchas.
O FALSO ALÍVIO
Tais aumentos deram um ano de aparente desafogo ao Tesouro, e o balanço de 1948 mostrou um déficit relativamente pequeno de 40 milhões de cruzeiros (o menor nos últimos cinco anos). Mas, correndo o tempo, como o Estado não fiscalizasse rigorosamente a sua arrecadação, esta diminuiu a ponto de anular aqueles aumentos. Um ano depois, recrudescia a crise.
Finalmente, coincidindo com uma espécie de trégua na "fórmula Jobim", veio a primeira quota do empréstimo federal (60 milhões). Esperava-se de tal soma um alívio à pressão financeira sofrida pelo Rio Grande do Sul. mas o governo central teve a sorrateira prudência de descontar dela a dívida estadual. Resultado: apenas uma quarta parte (15 milhões) chegou ao erário gaúcho.
E assim chegamos à situação atual. Como se vê, todas estas medidas foram modestos analgésicos aplicados periodicamente à crônica dor-de-cabeça estadual.
DE DÉFICIT EM DÉFICIT
Ora, o desequilíbrio financeiro da província gaúcha há muito já ultrapassou a fase da dor-de-cabeça. Do ponto de vista financeiro, o Estado é um organismo doente, quase às portas do desenlace.
O déficit crônico de que vem sofrendo as finanças gaúchas culminou no desastroso resultado do exercício de 1949, e desbordou-se neste ano em 300 milhões de cruzeiros. Quando verificamos que essa soma corresponde a mais de 25% da arrecadação total do Estado, temos toda a sua dramática significação.
Nos últimos cinco anos, a receita foi inferior à despesa de 680 milhões de cruzeiros. Para cobrir essa diferença o Estado teria de empregar mais da metade do que arrecada de impostos e taxas durante um ano.
Em face de tal situação, a dívida pública do Rio Grande do Sul, que em 1945 era de 660 milhões de cruzeiros, saltou espetacularmente para 1 bilhão e 200 milhões de cruzeiros em 1949. Assim, se a administração gaúcha quisesse pagar tal dívida teria de empregar toda a sua arrecadação de um ano e fazer um empréstimo para atender aos milhões que ainda ficaria a dever. E o mais grave é que a metade da dívida estadual é "flutuante", isto é, dívida cujo pagamento os credores podem exigir a qualquer momento.
TEM 280 E DEVE 460
Segundo o balanço de 1949, os recursos do Estado montavam a 280 milhões de cruzeiros, ao passo que os seus compromissos vencidos ou em fase de vencimento correspondiam a 460 milhões. Isso significa que o governo gaúcho, para pagar uma dívida de CR$ 1,64 dispõe somente de 1 cruzeiro.
E ainda de acordo com as cifras do ano passado, se o Rio Grande do Sul, em delírio de honradez, resolvesse vender todo o seu patrimônio, ou seja, tudo o que possui, inclusive os edifícios, as terras, os móveis, utensílios, maquinarias, veículos, portos, acessórios técnicos, etc, e recebesse também o que lhe devem, a fim de pagar as suas dívidas, apenas lhe sobraria a quantia aproximada de 350 milhões de cruzeiros. Para compreendermos a irrisão deste saldo, basta dizer que com tal soma o Estado não poderia comprar duas usinas iguais à da Companhia Energia Elétrica de Porto Alegre.
ALGUÉM DEVE PARA ALGUÉM
Está claro que o Estado não é e nem pode ser administrado como uma firma comercial: a gestão de suas finanças não visa o lucro mas o equilíbrio. E os encargos sociais, quando atendidos, oneram forçosamente a sua estrutura financeira. Mas, quando sofre um desequilíbrio, um Estado sofre-o mais gravemente do que qualquer empresa comercial, e com repercussão infinitamente maior.
Assim, se o Rio Grande do Sul arrecada 1 bilhão e 700 milhões de cruzeiros, e gasta 2 bilhões, a diferença de 300 milhões equivale a uma rotunda dívida sem cobertura, cujo pagamento não se pode dizer se, e quando, será feito.
Naturalmente, se alguém deve, há alguém que não recebe o que lhe é devido. Neste caso, são as prefeituras gaúchas sacrificadas pelo Estado, que não lhes paga o que deve pagar, conforme já o expusemos acima. E o Estado não lhes paga simplesmente porque não tem dinheiro. Resultado: as prefeituras fazem verdadeiros malabarismos para enquadrar os seus gastos obrigatórios e necessários (pagamento de funcionários, conservação das ruas, redes de esgotos etc) dentro da minguada arrecadação municipal. Quanto ao funcionalismo, é um problema que o Estado do Rio Grande do Sul compreende perfeitamente, pois anualmente paga aos seus funcionários a quantia de 765 milhões de cruzeiros, ou seja, 45% da receita pública. Mas não basta compreender quando não se tem os recursos para pagar.
A GRANDE PERGUNTA
Procurando minorar a situação do tesouro estadual, a atual administração deseja entregar à União a Universidade do Rio Grande do Sul e economizar desse modo alguns milhares de cruzeiros. Tal medida ainda não foi concretizada, e se não o for em breve, crescerá o déficit no orçamento de 1951, que já exclui a despesa com a educação superior dos gaúchos.
Qual é (perguntará o rio-grandense médio para o qual escrevemos) a causa fundamental de tudo isso?
A SIMPLES RESPOSTA
Na verdade a causa é de ordem econômica. Se houve um aumento em cruzeiros na produção gaúcha (ocasionado pela inflação), não houve um aumento na quantidade das coisas produzidas. Assim, durante os vinte anos de crise que estamos analisando, a produção rio-grandense não aumentou mais do que o correspondente ao acréscimo de sua população. Desde 1930, não houve até agora um aumento substancial na produção por habitante.
Ora, não havendo maior produção a receita pública não pode aumentar, uma vez que o Estado tira os seus dinheiros do que lhe é dado arrecadar de cada contribuinte, produtor ou consumidor.
O progresso industrial e agrícola, tão agudamente necessário para o Rio Grande do Sul, está por sua vez, e como em toda a parte, condicionado à energia mais abundante e barata e melhores transportes. Na situação em que se encontram, as nossas fontes de combustível (como as minas de carvão), os nossos transportes ferroviários (Revista do Globo, número 514), e a nossa rede elétrica (Revista do Globo, número 509) ainda não podem conduzir a esse progresso. A agricultura, consequentemente, está impossibilitada de distribuir nos mercados consumidores os gêneros alimentícios por um preço razoável - e jamais o fará enquanto a produção agrícola tiver, como agora, um exorbitante preço no custo.
O CAMINHO E O EXEMPLO
Os encargos do Estado multiplicam-se de ano para ano. Mas o seu desequilíbrio financeiros vem acusando a falta de escolas (Revista do Globo, número 508), de hospitais, de estradas, de transportes, etc, falta essa que é uma constante preocupação dos nossos administradores.
Diante da impossibilidade de aumentar a receita pública, os encarregados das finanças gaúchas só tem dois caminhos a escolher: diminuir as despesas (o que equivale a cruzar os braços) ou fazer gastos indispensáveis (o que importa em déficits continuados). Tem sido este último caminho escolhido pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul - e o exemplo vem de quase todas as províncias brasileira
quarta-feira, agosto 01, 2018
Mino Carta e a histórica final Inter e Corinthians: se fosse
marciano não estaria entendendo nada
Matéria da revista Veja, já sem o jornalista Mino Carta. |
Em 12 de dezembro de 1976, quando o Internacional conquistou
o bicampeonato brasileiro e, pela segunda vez, o respeito e a admiração de todo
o Brasil ao vencer o Corinthians por 2 a 0 no Beira-Rio, o jornalista Mino
Carta – então um dos mais admirados homens de imprensa do País, fundador do
Jornal da Tarde, da revista Quatro Rodas, ex-editor da Veja e já então comandando
a recém fundada Istoé – escreveu para a Folha de São Paulo uma crônica daquela
final que ele julgava “histórica”. Mino Carta pouco entendia de futebol e não
costumava se aventurar nesse campo. Mas, depois de assistir à partida entre
gaúchos e paulistas, ele garantiu “Se
fosse marciano, não estaria entendendo nada” – este o título do seu
trabalho, que merece ser transcrito tantos anos depois. O texto é quase
literário, faz referências veladas à situação política da época e compara o
futebol do Inter com o moderno futebol europeu.
Assim o jornalista descreveu o que viu aquela tarde no
Gigante da Beira-Rio: “O calor é tropical
mas o panorama que cerca o Beira-Rio, apinhado de elevações bem penteadas,
poderia ser europeu. Falta ao cenário deste jogo um toque luxuriante, uma
reminiscência, ao menos, de mato desvairado, como talvez conviesse ao supremo
conflito das esperanças nacionais. Alguém, leitor de bons livros e frequentador
do raciocínio límpido, me dizia ainda ontem que o corintianismo, esse singular
e forte sentimento que tomou conta da nação, é a forma mais eficiente de
solidariedade hoje no Brasil. Diga-se que se trata de alta autoridade da
política situacionista. Pois a oportunidade de pôr à prova essa solidariedade,
o momento em que ela é confrontada, talvez merecesse um palco tropical. Em
compensação, há muito de surrealismo no clima do estádio e nas bombas e nas
bandeiras das torcidas, frenéticas quando a esperança entra em campo. Um
marciano ficaria pasmo.”
E prossegue o jornalista:
“Mas a torcida colorada não é a do Fluminense, nem Porto Alegre é como o Rio. O
Beira-Rio é diferente do Maracanã. O estádio pulsa com os gritos dos homens que
são “machos” – e pronuncie a palavra com o sotaque dos pampas. O Corinthians
hoje exibe-se numa ribalta muito pouco corintiana.
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Mino Carta, hoje. |
“E o Corinthians começa
tímido, o Inter agride a bola com fúria vermelha. Os colorados estão em todas
as divididas. Aos 10 minutos o Corinthians praticamente ainda não saiu do seu
campo. Parece um encontro entre o mais recente futebol europeu e o mais
tradicional sul-americano. Falcão domina o centro do campo e sua passada lembra
Beckenbauer. A defesa corintiana está confusa, a bola filtra nela como um peixe
numa rede lacerada. Falcão está em todos os lugares, finta Vaguinho no bico da
área, enfia a bola entre as pernas de Romeu e sai com os cabelos ao vento.
Em seguida Mino Carta descreve o primeiro gol do Inter:
“E quase aos 29 minutos
vem, inexoravelmente, o gol do Inter. Nasce dos pés de Valdomiro que já foram
infelizes no mundial de 74. Mas o seu chute é sempre potente. E uma falta de Zé
Maria no onipresente Falcão, que amaciou a sua amada no peito, na boca da área,
Valdomiro bate, o tiro ricocheteia na barreira, sobe a bola maligna para a
cabeça de Dario e é gol. Onde estão os orixás? Estão chorando, suponho. Mas os
deuses da fúria gaúcha sorriem. Voltam a sorrir oito
minutos depois, quando o Corinthians perde um gol que parecia decretado. A bola
passa por vários pés corintianos, mas ninguém chuta enquanto Manga já está no
chão, batido. Os deuses gaúchos estão segurando estas chuteiras lerdas. A
torcida corintiana de vez em quando ergue-se e agita as suas bandeiras. Mas
esses instantes são cada vez mais raros, nesse primeiro tempo. Nele ficaram
evidentes, para mim, duas coisas. Primeira, que Russo é um gladiador tropical,
um homem cheio de fé e uma musculatura disforme, talvez porque feita de arroz e
feijão. Segunda, porque Falcão não é Rivelino, Falcão é “macho”.
Agora Mino carta descreve o segundo tempo da partida: “Mas no segundo tempo a torcida corintiana e
seu time sabem que agora é tudo ou nada. Será que os orixás sabem? Os deuses
dos pampas sabem de certo quando desviam de leve a falta cobrada por Romeu e
fazem com que a bola se choque com o travessão para que a desdita corintiana
seja mais gorda. Em campo há muitas faltas, nas arquibancadas muitos gritos e
gestos de raiva e tensão. E numa dessas faltas, na entrada da área corintiana,
aos 12 minutos Valdomiro cobra por sobre a barreira e os deuses colorados
reaparecem e em tempo abaixam, sempre de leve, a trajetória do chute, e fazem
com que bata na parte inferior do travessão, e quique depois dentro do gol,
poucos centímetros além da chamada linha fatal. Centímetros? Milímetros, para a
desdita alvinegra continuar engordando. Os corintianos protestam, cercam o
juiz, e um bolo de gente forma-se numa das extremidades da divisória do campo,
e lá se discute, aos berros, aos empurrões, se a bola entrou ou não. Entrou,
entrou, a sentença é irremediável, e o bolo se desfaz e o jogo recomeça com
dois a zero no marcador.
“Ah, se eu fosse marciano
me perguntaria se tanta energia não poderia ser canalizada para outras
empreitadas, mais proveitosas do que esta, capaz de criar raivas e alegrias tão
grandes, no peito de cada um e de todos, e tão inúteis. E voa uma garrafa em
campo e fogos são dirigidos contra o gramado que já não brilha ao sol. No ocaso
as garrafas chovem e o jogo para de novo, o campo é invadido por dirigentes,
repórteres, alguns assistentes dispostos a pular o alambrado, policiais e seus
cachorros. Ah, se eu fosse um marciano não estaria entendendo coisa alguma.
“O vento não agita mais
as bandeiras corintianas, talvez elas estejam molhadas pelo pranto dos que
vieram até o Beira-Rio e de todos aqueles milhões que neste momento estão
diante do vídeo ou com os ouvidos colados em um rádio de pilha, alimentando a
mesma fé rigorosamente desperdiçada. Eles talvez estejam anotando um nome, o do
bandeirinha que confirmou o segundo gol colorado. Que os fados se compadeçam
dele.
“O jogo recomeça mas a
sorte está selada. A pressão corintiana serve apenas para mostrar a força dos
deuses gaúchos e as habilidades de um velho profissional da bola, o goleiro
Manga. O jogo acabou, a solidariedade desfeita se recompõe em torno daqueles
que ainda saberão esperar por uma vitória. Não tenho dúvidas sobre o caráter
histórico deste jogo. É mais uma derrota de uma antiga e nebulosa esperança.
Mas valeria a pena ganhar.”
O temível
Daison Pontes e seu futebol nada amistoso
Daison Pontes. O nome desse jogador está na memória dos mais
antigos, aqueles que acompanhavam o futebol gaúcho nas décadas de 60 e 70. O
motivo não era exatamente a sua técnica futebolística, embora todos
reconhecessem que era, sim, um jogador habilidoso e excelente no trato com a
bola. Só não era excelente no trato com os adversários, aos quais não media
gentilezas quando se aproximavam da grande área. Pontapés, caneladas,
encontrões , cotoveladase socos faziam parte do, digamos, estilo “daisoniano”
de praticar futebol. Assim, ao longo do tempo, Daison Pontes se tornou um
símbolo do futebol violento e detentor de um recorde no futebol brasileiro: foi
expulso de campo nada menos do que 18 vezes. Chegou a jogar no Flamengo do Rio,
mas foi dispensado ao final de três meses, pelas entradas violentas até mesmo
nos treinos.
Daison – que era irmão mais velho de Bibiano Pontes, daquele
time de ouro do Internacional, e também de João Pontes – certamente é lembrado
pelo árbitro José Luís Barreto, se este estiver vivo depois de tantos anos. Era
o domingo de 20 de novembro de 1974, pelo campeonato gaúcho – e o Gauchão,
naqueles tempos, tinha uma certa ferocidade que alguns entendiam como
virilidade, ou a tal “macheza gaúcha”. E naquele ano a vida dos árbitros não
estava sendo nada fácil dentro de campo. Tudo bem que as arbitragens deixavam
muito a desejar, mas o futebol é um esporte praticado com as pernas e não com
os braços, ou, sobretudo, os punhos.
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Daison, violento mas grande zagueiro. |
Talvez Daison Pontes não entendesse bem isso durante aquele
jogo, em Santa Maria, entre o Inter de Santa Maria e o Gaúcho de Passo Fundo,
apitado por Barreto. O time visitante vencia por 1 a 0 quando o árbitro,
irritado com as jogadas duras da zaga do Passo Fundo, advertiu seus jogadores,
pedindo que maneirassem nas divididas, caso contrário teria que marcar alguns
pênaltis. Nove minutos antes do Gaúcho fazer o seu gol José Luis Barreto
cumpriu a promessa, marcando uma penalidade máxima a favor do Inter de Santa
Maria, cobrada e desperdiçada por Tadeu. Vendo que seu apelo de não-violência não
surtira nenhum efeito e que a zaga do Gaúcho continuava a baixar o sarrafo, aos
14 minutos do segundo tempo o árbitro marcou novo pênalti a favor do time da
casa, desta vez praticado por ele, o temível e famoso zagueiro das entradas
duras. Daison atingiu violentamente, por trás, o santa-mariense Edson,
derrubando-o no gramado.
Acontece que Daison já havia dito a seus companheiros que,
caso Barreto prejudicasse seu time, iria até ele e lhe daria um soco na cara. E
foi exatamente o que fez: marchou até o juiz da partida e acertou-lhe um soco
no rosto, abaixo do olho esquerdo e mais alguns pontapés nas canelas. Tonto e
sangrando, o árbitro ainda conseguiu sacar o cartão vermelho, expulsando o
zagueiro do Gaúcho de Passo Fundo. Em meio à confusão que se seguiu, com
dirigentes e brigadianos invadindo o campo, Daison escapou e não mais foi visto
naquele dia: dizem que fugiu da prisão em flagrante, pegando um táxi e se
mandando para a vizinha cidade de Júlio de Castilhos. Quanto a José Luís
Barreto, recusou ser medicado, passou um lenço no rosto e continuou apitando. O
pênalti foi cobrado e desta vez convertido. Mas o jogo – que terminaria em 1 a
1 – ainda teve o jogador Leivinha, também do Gaúcho, expulso de campo.
Ao contrário do que provavelmente ocorreria nos dias de hoje,
o zagueiro brigão não foi execrado e sim cumprimentado pelo seu ato de
pugilismo, conforme descreveu o correspondente da Companhia Jornalística Caldas
Júnior em Passo Fundo. “O zagueiro Daison
Pontes só recebeu aplausos quando apareceu, ontem pela manhã, no centro da
cidade. Durante todo o dia foi cumprimentado pelo soco que deu no juiz José
Luís Barreto.” O diretor de futebol do Gaúcho foi mais adiante em suas
declarações à imprensa: “Infelizmente eu
não estava em Santa Maria, senão o Barreto apanharia de mim também. Todo mundo
está roubando do Gaúcho e alguém tem que tomar providências. Nós compreendemos
a atitude de Daison pois demonstrou que é um jogador que atua com garra, sangue
e amor à camiseta. Se alguém não modificar as arbitragens, muito juiz vai
apanhar”. Até mesmo o comedido comentarista esportivo, Ruy Carlos
Ostermann, em sua coluna no Correio do Povo, disse entender as razões de
Daison: “O futebol exige a violência.
Zagueiro que joga apalpando acaba se machucando, serve apenas para incentivar
os maus propósitos do centro-avante. Gosto de uma frase de Moisés, do Vasco:
zagueiro não pode querer o Belfort Duarte (prêmio
para os jogadores mais disciplinados) É preciso impor respeito, jogar
na bola e palmo e meio adiante dela. A dificuldade é pequena: quem sabe, bate e
se faz respeitado”.
Em janeiro de 1976, quando da despedida de Bibiano Pontes do
Inter, Ruy Carlos Ostermann citou Daison Pontes em outra crônica: “Conheci o irmão de Bibiano, o Daison, um
imenso zagueiro de área prejudicado por inúmeras contradições pessoais, mas de
grande personalidade. Não a personalidade comum, organizada: era a
personalidade para o gesto forte, para a empolgação.”
O soco em Barreto custou caro a Daison, punido com 1 ano e
meio de afastamento dos campos, dos quais seis meses acabaram perdoados. Daison
Pontes morreu em 2012, aos 74 anos, vítima do mal de Alzáimer, em sua casa em
Passo Fundo, onde era funcionário público aposentado.
quinta-feira, julho 26, 2018
Mister Barrick, o Velho Jack, deixou saudades nos gramados gaúchos
Luís Fernando Veríssimo lembra dele apitando grenais, e o citou em uma de suas crônicas. Carlos Heitor Cony, jornalista e escritor, já falecido, recordava o gol do Brasil contra o Uruguai que ele anulou pela antiga Copa Rio Branco. O certo é que sua figura faz parte da história do futebol gaúcho, brasileiro e sul-americano nos anos que se seguiram ao término da Segundo Guerra Mundial.
Seu nome: Cyril John Barrick, o “velho Jack”, que o Correio do Povo definiu como “o consagrado e fleumático árbitro britânico que tanto bem anda fazendo ao futebol gaúcho”, o “número 1 do mundo”.
Ninguém sabe exatamente – ou talvez alguém ainda saiba – como o “velho Jack” chegou ao Rio Grande do Sul naquela segunda metade dos anos quarenta, já consagrado como um juiz de primeira grandeza no futebol inglês. O que se presume é que numa Inglaterra devastada e empobrecida pela Segunda Grande Guerra ele tenha resolvido procurar trabalho em querências mais pacíficas e ensolaradas e onde o esporte bretão também era amado, o que já acontecia com colegas seus. O velho Jack, a julgar pelas fotos, já deveria contar os seus quarenta e tantos anos quando deixou a Velha Albion castigada pelos bombardeios nazistas e veio para a América do Sul ganhar uns trocados para sustentar a família que ficara na Europa.
O certo é que aqui o “velho Jack” ganhou respeito e deixou saudades por onde passou e apitou, em especial no Rio Grande do Sul, estado que foi, tudo indica, sua porta de ingresso no mundo futebolístico sul-americano. Versátil e disposto a tudo por um punhado de libras que remetia todo mês para a família, Mister Barrick apitou tanto jogos da seleção brasileira como partidas amistosas em surrados e toscos campos de futebol. Ter Mister Barrick apitando era uma espécie de certificado de qualidade. Exótico e famoso, o Velho Jack virava uma atração à parte.
Ao que parece, Mister Barrick foi inicialmente contratado pela Federação Rio-grandense de Futebol para apitar os jogos do campeonato citadino. Mas, malandramente, bem no jeitinho brasileiro, esta passou a emprestá-lo a outros centros do País. Assim o velho Jack apitou nos Eucaliptos, na Baixada, em São Januário, no Pacaembu, no Maracanã, no estádio da Timbaúva, na Chácara das Camélitas, na Colina Melancólica... Apitou jogos do Brasil contra outras seleções e apitou clássicos platinos, onde também tinha fama. A Federação gaúcha o emprestava, cobrava por isso, e nem sempre repassava o dinheiro ao fleumático e tolerante inglês.
Quantos anos ficou Mister Barrick no Brasil? Será que voltou para a sua Inglaterra ou resolveu se aclimatar nos trópicos? O mais provável é que tenha voltado: cansado da desorganização do futebol brasileiro e das promessas não cumpridas, às vezes o Velho Jack botava a boca no trombone, como em abril de 1950, alguns meses antes da Copa no Brasil. Conforme o Correio do Povo noticiou, Barrick estava insatisfeito e, pior, sentia-se explorado pelos dirigentes esportivos gaúchos:
“Por ocasião de sua recente ida a Caxias do Sul, a convite do presidente do Nacional, que é também presidente do Departamento de Futebol da Capital, o laureado apitador britânico queixou-se amargamente da maratona a que estava sendo submetido, atuando várias vezes em uma semana, por ocasião da temporada do Peñarol em nossos gramados. A um dos nossos cronistas, Mister Barrick alegou sentir dores na coxa direita, à altura dos rins, dizendo a impossibilidade em que se achava de continuar a apitar partidas fora dos termos do compromisso, ou seja, mais de três durante uma semana. Mister Barrick chegou a falar em rescisão do contrato, caso fosse obrigado a trabalhar além das suas forças. Agora o Departamento de Futebol da Capital acaba de tomar outra deliberação que está merecendo crítica nos círculos esportivos. É que os clubes uruguaios, Nacional e Peñarol, solicitaram por empréstimo a presença do Velho Jack em campos orientais para um torneio quadrangular que pretendem realizar juntamente com clubes brasileiros. Os maiorais do nosso futebol de pronto aquiesceram, condicionando-o a uma questão de data e, mais, exigiram 25 mil cruzeiros por arbitragem, devendo o apitador, por sua vez, perceber 5 mil cruzeiros em cada uma.”
“Isso quer dizer, pura e simplesmente, que o Departamento de Futebol da Capital resolveu que os clubes uruguaios venham a pagar os honorários de Mister Barrick pelos próximos quatro meses, com a visível economia de 100 mil cruzeiros para os clubes”
E assim conclui o Correio do Povo: “Ora, Mister Barrick não é nenhuma criança, e qualquer dia, quando achar que está sendo mal empregado, não terá dúvida alguma em pedir a rescisão do seu contrato a fim de continuar o seu verdadeiro apostolado esportivo em qualquer outro centro mais adiantado do que o nosso e onde não sirva unicamente de atração para rendas, ou – o que é pior – para evitar que os clubes tenham que entrar com dinheiro para suprir as modestas arrecadações auferidas com as não menos modestas exibições de seus esquadrões de profissionais..."
É, o Velho Jack, o apitador número 1 do Mundo, deixou saudades em terras gaúchas, mas será que nós deixamos saudades nele?
quarta-feira, julho 25, 2018
O jovem Renato despejando refrigerantes nas cabeças das moças... Anos oitenta.
O Renato Portalupi de hoje é um ajuizado e ponderado senhor
de mais de 50 anos, pai de uma filha e ídolo da nação gremista. Nos vestiários
e nos campos é um técnico de futebol de grande competência que sabe lidar com
crises e conflitos.
É, o tempo amadureceu aquele craque boa pinta que veio de
Bento Gonçalves ainda jovenzinho e logo se tornou campeão da América e do Mundo
pelo Grêmio Portoalegrense. Exibicionista, imaturo e vaidoso, com pinta de
pleiboi, o jogador dos anos oitenta e noventa parece ter pouco a ver com o treinador
de 2018.
No início de janeiro de 1983 o jovem Renato, que ainda não
havia completado 21 anos, virava notícia de jornal por suas brincadeirinhas de
mau gosto tendo por cenário a praia de Tramandaí, no litoral gaúcho, onde
alguns atletas do tricolor passavam dias das férias. Brincadeirinhas de mau
gosto que acabaram causando tumulto na madrugada quente e movimentada da Rainha
das Praias. Com o título “Renato Provoca
Confusão na Praia”, o Correio do Povo descrevia: “Os jogadores do Grêmio Renato, Paulo Roberto e Paulo César chamaram a
atenção dos veranistas, em Tramandaí, às primeiras horas da madrugada de ontem,
quando se encontravam sentados em uma mesa no bar e Restaurante Casa Branca, na
calçada da avenida Emancipação. A presença deles acabou se transformando numa
confusão, com ameaça de briga, envolvendo o ponteiro-direito Renato, exigindo a
intervenção da Brigada Militar, sem que o fato tivesse se transformado em
ocorrência policial.
“Todos alegres e
brincalhões, os veranistas se divertiam com as extravagâncias de Renato. Ele
apanhou uma garrafa de guaraná que duas garotas tomavam numa mesa e despejou no
chão. Foi a uma outra mesa e bebeu o suco de laranja de outras duas veranistas,
cuspindo o suco na cabeça de uma delas. Os veranistas riam e logo passaram à
condição de torcedores provocando os jogadores e gritando “Geraldão!” Renato
até se irritou com a provocação dos torcedores e deu uma de querer tirar
satisfações. Os jogadores brincavam ainda com a toalha da mesa e bar e num
determinado momento um copo de vidro quebrou-se quando Renato o levava à boca.
Não demorou muito e logo surgiu uma correria do público quando os jogadores se
afastavam, mas eles discutiam em altos brados entrei si e o lateral Paulo
Roberto tentava acalmar Renato. Os
soldados da Brigada Militar chegaram e trataram de isolar os jogadores do
público, conduzindo-os para a parte dos fundos do Hotel Strassburguer e
fechando um portão de madeira. A confusão não ficou bem esclarecida. Mas, ao
final, um policial da Brigada Militar dizia que se os jogadores quisessem
brigar entre si,
isso era com eles, e poderia acontecer nos fundos do hotel, mas longe do
público”.
A propósito: Geraldão era o atacante do Inter de então e um
grande fazedor de gols.
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver, a frase que os tricolores levavam aos estádios
Com o Grêmio, onde o Grêmio estiver. Muita gente pode
imaginar que tal verso, contido no hino do imortal tricolor, é de autoria de
Lupicínio Rodrigues: “Até a pé nós iremos, com o Grêmio onde o Grêmio estiver”
Na verdade os torcedores mais antigos – bem mais antigos – devem recordar da
faixa que a torcida levava, religiosamente, a todos os jogos do Grêmio, fosse
onde fosse, e que Lupi – no ano de 53, o cinquentenário do clube da Baixada,
modificou um pouco da frase original “Com o Grêmio onde estiver o Grêmio”.
Com o Grêmio onde estiver o Grêmio, aliás, é o título de uma
grande reportagem que Cid Pinheiro Cabral fez para a Revista do Globo em
dezembro de 1951: “Com o Grêmio onde
estiver o Grêmio: é o lema da torcida do clube gaúcho mais vezes campeão”.
Acima do título, uma grande foto de Santos Vidarte mostrava os jogadores em
campo sendo abraçados pela torcida. Ao lado, lia-se a legenda feita por Cid: “Esta comemoração é pela conquista de um
campeonato? Não, trata-se apenas de um gol do Grêmio. Não raro a torcida
tricolor, que é a torcida gaúcha de maior espírito de colaboração, rompe os
cordões de isolamento, escapa ao controle da polícia e vai comemorar o feito em
pleno gramado com os autores diretos da façanha.”
Cid Pinheiro Cabral, que, como todos sabem, era colorado,
enchia o tricolor de elogios e o chamava de “autêntico papão de campeonatos”. Na verdade, a Revista do Globo
estava publicando uma série chamada Os
Grandes do Futebol, na qual contava a história dos clubes do Rio e de São
Paulo e também, é claro, da dupla Grenal.
Em uma época em que tanto Grêmio como Internacional eram
olhados com certo desdém pelo centro do País e não faziam parte do chamado
“futebol arte” e sim da viril escola platina, o Grêmio, sobretudo, representava
essa fibra gaúcha. Foi assim na famosa excursão que o tricolor realizou por
vários países da América Central no final de 1949. Os gaúchos jogaram contra
selecionados nacionais, como da Guatemala, Honduras e El Salvador, e não
perderam nenhum dos nove jogos que disputados. Ou melhor, venceram oito e
empataram um. Até os presidentes de tais países compareciam aos estádios, onde
o Grêmio era tratado como um inimigo a ser caçado.
O cronista Cid lembrava desse feito, ainda tão recente: “O maior feito em serie de um clube gaúcho
no exterior cumpriu-o o Grêmio, em 1949, quando passou invicto, na América
Central, por nada menos de nove cotejos. Sua enorme e entusiástica legião de
admiradores recebeu-o com uma das maiores e mais carinhosas manifestações de
que já foi teatro a Rua da Praia de Porto Alegre”. O jornalista lembrava o fato do Grêmio ter
ganho 25 campeonatos em 48 anos de vida.
Na época da reportagem o Estádio Olímpico já estava em fase
de construção, e Cid lembrava que isso – ter um grande estádio - era uma
necessidade: “Há vários decênios que o
clube mais vezes campeão do Brasil se acomoda num recanto, histórico e
tradicional na verdade, mas incompatível com as necessidades mínimas atuais, de
agremiação modelar, praticante de quase todas as modalidades de esporte
terrestre, o “Fortim da Baixada”.
Naquele ano de 51 estavam iniciando as obras de terraplanagem
do Olímpico Monumental, e muitas campanhas vinham sendo feitas para tornar a
nova casa do Grêmio uma realidade. Quanto à torcida tricolor, o mais lido
jornalista esportivo daquela época confessava sua admiração: “Quem for assistir a um jogo do Grêmio
Porto-alegrense verá, como tela de fundo do cenário onde se aglomera a sua
grande torcida, enorme faixa de pano onde se lê: “Com o Grêmio onde estiver o
Grêmio.” Esse slogan, consagrado já entre os torcedores do clube das três
cores, caracteriza perfeitamente as relações entre a veterana e tradicional
agremiação e seus simpatizantes”.
Como se vê, o grande Lupicínio Rodrigues, com seu senso
estético e ouvido musical, apenas adaptou a velha frase para a hoje conhecida “com
o Grêmio onde o Grêmio estiver”.
terça-feira, julho 24, 2018
Os 50 anos do Inter, a máquina fornecedora de craques para a seleção brasileira
No dia 4 de abril de 1959 o Sport Clube Internacional
festejou os seus 50 anos de fundação, data que já havia sido comemorada por seu
grande rival, seis anos antes. E assim como o Grêmio, em seus festejos de
cinquentenário, não vivia um bom momento futebolístico, o mesmo se deu como o
“clube do povo”. O Grêmio, a partir de 1956, começou a enfileirar títulos
metropolitanos e estaduais, dando fim a uma era de hegemonia dos “diabos
rubros”, como alguns então chamavam o escrete do Estádio dos Eucaliptos.
Na Revista do Globo de abril de 59, o jornalista Valter
Galvani – um dos nomes mais conhecidos da imprensa gaúcha, e não somente na
área de esportes – recordou detalhes curiosos da fundação do Inter, lembrando
que o colorado iniciou como uma “dissidência” do Grêmio e tinha até nome de
Grêmio. Galvani – que é colorado – diz em seu texto sobre o cinquentenário do
clube: “A nota curiosa vem da fundação.
Tal como o Flamengo do Rio, que nasceu de uma dissidência do Fluminense, o
Sport Clube Internacional brotou de um “Sport Clube XV de Novembro, que
funcionava como uma espécie de filhote do Grêmio Portoalegrense. As cores eram
branca e preta. O campo era provisório, na Redenção, local onde hoje funciona o
Parque Esportivo da Escola de Cadetes. Um grupo desligou-se do tal XV de
Novembro e criou o Grêmio Football Internacional. Tinha alguns meses de
existência com o tal nome o clube que reunia nomes como Arquimedes Fortini,
Julio Hanke, Irmãos Karl e outros quando, de São Paulo, chegaram os irmãos
Poppe. Júlio Poppe, o mais velho dos dois, foi o autor da ideia. Propôs que
fosse extinto o Grêmio Internacional e se reunissem os rapazes com os irmãos
Poppe no Sport clube Internacional, nos mesmos moldes do idêntico Sport Clube
Internacional que então existia em São Paulo, com as mesmas cores: encarnado e
branco. E no dia 4 de abril de 1909 surgia oficialmente o clube. Como um
pequeno regato. Ninguém suspeitaria o grande rio que ali estava em embrião.”
Prossegue Valter Galvani, agora se referindo aos primeiros
grenais: “O Grenal, todos sabem, é a
festa do povo por excelência em nosso meio. Sua tradição, já profundamente
arraigada, divide família, amigos, irmãos, na separação das águas que
obrigatoriamente se faz.” Em seguida o jornalista passa a citar Arquimedes
Fortini, famoso jornalista, intelectual e historiador da primeira metade do século
20: “Tinha poucas semanas a fibra crioula
mas logo quis pôr à prova o seu ardor, sob as ordens de José Poppe,
enfrentando, em julho de 1909, o mais poderoso elenco da Capital, o Grêmio. Foi
vencido, como é natural, mas os componentes do quadro não desanimaram com o
batismo de fogo. E então trabalharam cada vez mais. Um dos irmãos Poppe dizia:
- Reconheço existir uma grande diferença de nível entre o nosso clube e os
demais daqui. Mas um dia ainda será um grande clube. E eram proféticas as suas
palavras.”
Valter Galvani lembrava que o Inter havia sido fundado
exclusivamente para o futebol mas em breve se dedicava também ao atletismo,
conquistando muitas glórias: “Quatro anos
depois de fundado já chegava ao título máximo do futebol da cidade. E decidido a não largar: ficou cinco anos no
poder. Não foi a última vez que o Internacional exerceu a ditadura no esporte
da capital gaúcha e do Rio Grande.”
E o jornalista prosseguia, falando sobre o famoso rolo
compressor dos anos quarenta e que conquistou um feito inédito no futebol
brasileiro: foi hexacampeão estadual, conquistando os títulos de 1940, 41, 42,
43, 44 e 45.
“Durante seis anos
seguidos mantivera-se no poder. Cedeu a posição no ano seguinte ao seu rival
tradicional, ficando no segundo posto, mas em 1947 e 48 já voltava ao poder.
Nomes como Tesourinha, Adãozinho, Vilalba, Rui, Carlitos, Russinho, Ávila,
Alfeu, Nena, jamais deixarão a memória de quantos os conheceram e viram em
ação. Eram craques fabulosos do famoso e inesquecível Rolo Compressor. Mas o
“Rolo” envelhecera. Era preciso renovar. Pensava-se em reconstituir o
quadro. Seria impossível. Só criando
algo novo, gente nova. Foi assim que surgiu o novo quadro, com Florindo, Oreco,
Paulinho, Salvador, Odorico, Luizinho, Bodinho, Airton, e tanta gente mais. A
famosa “cortina de ferro”, por onde nada passava, era a linha de “halfes”:
Paulinho, Salvador, Odorico. E mais quatro campeonatos sucessivos: 50, 51, 52 e
53.”
A reportagem da Revista do Globo chamava o Inter daquela
época de “fornecedor da seleção”, em
alusão aos craques que o colorado cedia para a seleção brasileira: “Desde os velhos tempos de Nelson Grant que
o Sport Clube Internacional vem fornecendo jogadores para a seleção do Brasil.
Da grande fábrica dos Eucaliptos tem saído gente capaz e que logo vai confirmar
seu prestígio nas grandes batalhas internacionais. De 1940 para cá a coisa
quase chegou ao exagero. Não havia seleção que não contasse com um jogador, ao
menos, oriundo do reduto colorado. Começando por Tesourinha e passando por
Paulinho, Salvador, Odorico, Larri, e chegando a Chinezinho, Oreco, etc.”
A reportagem concluía o seguinte sobre a grandeza do Inter
nas comemorações do seu cinquentenário: “Talvez
nem o próprio grupo de fundadores que, no longínquo 1909, resolveu criar um
clube que reunisse a pequena “aristocracia crioula”, imaginasse que o seu
pequeno sonho se projetaria tão longe. Que o seu clube viesse a se tornar com o
tempo uma das maiores expressões do Rio Grande do Sul esportivo. Que viesse a
se tornar o “clube do povo. Que no terreno do futebol profissional pudesse ir
tão longe, tornando-se uma espécie de fornecedor oficial de craques para a
seleção do Brasil”.
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