Wilson Simonal, com seu estilo de negro norte-americano, estava por cima da onda em 1972, e o mesmo acontecia com Victor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, chamando então de O Rei do Disco. Em maio de 1972 Simonal veio a Porto Alegre, onde se apresentaria no ginásio do Grêmio, em um show com a participação - vejam só - de Teixeirinha. Indagado sobre a estranheza de tal encontro, Simonal justificou, argumentando que, em sua recente turnê pela Europa, tinha constatado o sucesso do gaúcho por lá, especialmente na Inglaterra - na terra da rainha, Teixerinha chegou,sim, talvez bem brevemente, a fazer sucesso. Não se sabe se o show dos dois de fato aconteceu (provavelmente sim), mas vai aqui o registro do Correio do Povo daquela época.
Jardim Botânico, Porto Alegre. Fundado em 2006 por Vitor Minas. Email: vitorminas1@gmail.com
sexta-feira, agosto 23, 2019
sexta-feira, junho 28, 2019
quarta-feira, junho 26, 2019
La Dolce Vita faz sua estreia em Porto Alegre, no Cine Rex
Em janeiro de 1961 - portanto, há 58 anos - estreava em Porto Alegre um novo filme do diretor italiano Federico Fellini que deveria entrar para a história cinematográfica mundial: La Dolce Vita, com, entre outros, Marcelo Mastroiani e a belíssima e sensual sueca Anita Ekberg. Produzido em 1960, retrato de uma época em que muitos dos valores iam perdendo o sentido, com um forte vazio existencial de seus personagens, a produção de Fellini é digna do seu gênio e tornou-se um dos filmes mais comentados de todos os tempos. na Capital gaúcha, com seus pouco mais de 700 mil habitantes, La Dolce Vita, ou A Doce Vida, foi projetada inicialmente no Cine Rex, uma belíssima casa de espetáculos na Rua da Praia. A reprodução é do jornal Correio do Povo, da coleção do Arquivo Histórico Municipal Moyses Vellinho.
terça-feira, junho 25, 2019
Palmeiras, o primeiro campeão mundial de clubes: sim ou não?
Na Revista do Globo, de Porto Alegre, o reconhecimento do Palmeiras como o primeiro campeão mundial de clubes,em 51 |
Alguns colorados dizem que o Grêmio não é campeão mundial de clubes. Essa discussão bizantina e sem muito sentido – pois na verdade o torneio intercontinental, fosse Copa Toyota ou qualquer outra coisa, era, sim, um campeonato mundial – não se restringe a colorados e gremistas, santistas ou são-paulinos, flamenguistas ou quaisquer outros clubes da América do Sul e da Europa. Ela, na verdade, começa com aquele que pode, sem dúvida alguma, ser considerado o primeiro torneio mundial de clubes, que aconteceu em julho de 1951, tendo por palcos os gramados brasileiros do Maracanã e do Pacaembu. E o resultado é um só: goste-se ou não, o Palmeiras foi o campeão e seu título lavou um pouco da honra desgastada pela derrota do selecionado brasileiro em 1950.
Em sua edição da primeira quinzena de agosto de 1951, um ano depois da Copa do Mundo disputada no Brasil, a Revista do Globo dedicava várias páginas sobre a Copa Rio, ou “Torneio Mundial de Campeões”, vencido pelo Palmeiras. O jogo final foi contra a Juventus de Turim terminou empatado em 2 a 2, com um público pagante de 150 mil pessoas, o que garantiu, pelo regulamento, o título ao esquadrão do Parque Antartica, já que antes este havia vencido o escrete italiano, também no Maracanã, por 1 a 0. Foi a culminância de 22 jogos realizados, sendo 11 no Maracanã e 11 no Pacaembu. E o número de participantes era bem mais elevado que o moderno sistema da Fifa: estavam lá o Palmeiras, campeão paulista, o Vasco da Gama, campeão carioca, base da seleção brasileira e considerado favorito ao título, o Áustria, campeão da Áustria, o Sporting, campeão português, o Nacional de Montevidéu, campeão uruguaio, o Estrela Vermelha, campeão iugoslavo, o Olympique Gymnastique, de Nice, campeão da França e a Juventus de Torino, vice-campeã italiana, que veio em lugar do campeão Milan, mas que era talvez o melhor time da Europa. A reportagem adianta que o torneio era uma iniciativa da então CBD, Confederação Brasileira de Desportos, com anuência da Fifa. Já de entrada, a reportagem afirma: “A Copa Rio finalmente ficou no Brasil, graças ao feito brilhante do Palmeiras, que conquistou assim a maior vitória do futebol brasileiro. Arrebatando a cobiçada taça ao categorizado esquadrão italiano do Juventus, o quadro paulista completou uma série de triunfos futebolísticos magníficos: campeão do Estado de São Paulo, campeão do Torneio Rio-São Paulo, campeão da cidade de São Paulo e, agora, campeão do Mundo. Com este último título elevou ainda nosso futebol à posição que lhe compete.”
A reportagem lamenta apenas a ausência de clubes espanhóis, atribuindo isso ao fato de que eles, enquanto seleção, haviam sido goleados pelo Brasil na Copa do Mundo de 50 e receavam apanhar de novo. Outra ausência lamentada era do Tottenhan, campeão inglês, que não quis vir alegando o desgaste causado por uma viagem tão longa.
Em uma página que dedica ao assunto, a enciclopédia eletrônica Wikipédia fala sobre a Copa Rio, esclarecendo muitas coisas: “A Copa Rio tem a sua importância em virtude de ser a primeira tentativa de organização de uma copa do mundo de clubes de futebol que na prática teve alcance intercontinental, antes mesmo da Copa Intercontinental e da Copa do Mundo de Clubes da FIFA.” A ideia, então, era reunir em um torneio os clubes campeões dos países que haviam participado da Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil. Aliás, o artilheiro da competição, Giampiero Boniperti, da Juventus, declarou não faz muito que tanto ele como seus colegas de equipe entendiam, sim, que aquele era um torneio mundial de clubes.
O torneio também transformou-se um sucesso de público e de rendas e, ao que tudo indica, foi bem organizado. Os lucros foram de mais de 4 milhões de cruzeiros, algo difícil de mensurar hoje, sendo que cada clube recebeu 93 mil cruzeiros e mais 200 mil pagos como garantia por partida. A CBD auferiu 10% do total e mais 10% sobre a renda de cada partida, em um total de 2 milhões e 400 mil cruzeiros. Segundo a Revista do Globo, “os paulistas fizeram uma invasão em massa da Capital do país a fim de assistir no Estádio Municipal de Maracanã ao embate decisivo entre as equipes do Palmeiras, campeão de São Paulo, e o Juventus de Turim, vice-campeão italianos, os dois finalistas do torneio. Foi tal o afluxo de visitantes paulistas na Cidade Maravilhosa que as passagens de avião para o regresso ficaram esgotadas até três dias depois do jogo. Os torcedores palmeirenses não se decepcionaram. O espetáculo desportivo que puderam apreciar no Maracanã correspondeu plenamente a tudo o que dele se esperava. Numa tarde de gala, o Palmeiras escreveu uma página de glória para o esporte nacional, sagrando-se campeão mundial.”
A Revista do Globo, editada em Porto Alegre mas com relativo alcance nacional, emendava a reportagem sobre a Copa Rio com outra, detalhando a trajetória e a história do Palestra Itália, que só passou a se chamar Palmeiras em 1942, quando o Brasil já era hostil às potências do Eixo, o que incluía a Itália. A matéria era assinada por Gustavo Renó. “Mas essas são histórias do passado que de modo algum interessam hoje, salvo como simples registro, já que estamos recordando de passagem, enquanto a cidade vibra com as suas vitórias, a trajetória brilhante desse “periquito infernal” que ludibriou as melhores esperanças dos bambas da Áustria, da Iugoslávia, da França, da Itália, de Portugal, do Uruguai, e que, como autêntica transfiguração do Zé Carioca, passou a perna no próprio Vasco da Gama, arrebatando-lhe o título de “campeão mundial de futebol.
Como se vê, o Palmeiras – que ainda não era porco e sim periquito - pode, com direitos, mesmo que de forma isolada, se considerar o primeiro campeão mundial de clubes, a despeito da arrogância e das ciumeiras mesquinhas da FIFA e seus dirigentes. A entidade, aliás, reconhece e não reconhece o Palmeiras como o primeiro campeão mundial de clubes. Reconhece pois o alviverde foi, de fato, o legítimo campeão, e não reconhece, talvez, porque ela, FIFA, não recebeu dinheiro algum pelo torneio. Curiosamente, a mesma entidade considera o Corinthians campeão do mundo em 2000, sem que ele sequer tenha sido campeão continental. (Pesquisa e texto: Vitor Minas)
segunda-feira, junho 24, 2019
sexta-feira, junho 21, 2019
Carlos Nobre, o humorista gaúcho que deixou saudades
José Evaristo Villalobos Júnior - mais conhecido como Carlos Nobre - faleceu no dia 16 de dezembro de 1985 e deixou saudades em quem tem hoje mais de meio século de vida. Natural de Guaíba, Nobre foi, sem dúvida, o maior humorista gaúcho depois do Barão do Itararé, ou talvez até rivalizasse com ele. Sua página na Zero Hora, sempre com fotos de muitas mulheres bonitas e preferencialmente com pouca roupa, era a mais lida do jornal. Suas tiradas e aforismos hilários misturam o humor gaiato do povo com a crítica social e a sofisticação da inteligência crítica. Por exemplo, nada mais atual do que esta, de um humor amargo: "Já está na hora do Brasil voltar a brincar de "pega ladrão".
Nesta reprodução da Revista do Globo, de abril de 1961, Nobre aparece assinando o contrato de sua renovação com a Rádio Gaúcha, já que era um humorista completo, de jornal, rádio e televisão.
Maníaco do Parque mantinha um diário e foi transformado em celebridade brasileira
REPUBLICAÇÃO (original: 24 DE SETEMBRO DE 2008)
O nome dele é Francisco de Assis Pereira e tinha 30 anos quando se tornou conhecido como o "Maníaco do Parque". Francisco foi preso na cidade de Itaqui, no Rio Grande do Sul, acusado de ter assassinado oito mulheres em São Paulo. Condenado, cumpre pena e até se casou na cadeia.O caso do Maníaco do Parque foi um dos mais comentados, senão o mais, do ano de 1998. Foragido durante 23 dias, ele foi reconhecido por pescadores, em Itaqui, para onde havia viajado, usando documentos falsos.
Os crimes, que aconteciam no Parque do Estado, na capital paulista, desafiavam a polícia: no local foram encontrados os corpos das mulheres, que ele estuprava, enforcava e roubava e depois largava, mortas, em clareiras de uma das maiores áreas verdes de SP.À polícia informou terem sido, na realidade, nove vítimas, e falou do seu "lado negro":"Eu tenho um lado ruim dentro de mim. É uma coisa feia, perversa, que eu não consigo controlar. Tenho pesadelos, sonho com coisas terríveis. Acordo todo suado. Tinha noite em que não saía de casa porque sabia que na rua ia querer fazer de novo, não ia me segurar. Deito e rezo, pra tentar me controlar."
Os atos de Francisco ganharam as manchetes em 12 de julho de 1998, quando os jornais publicaram o primeiro retrato falado do maníaco. No mesmo dia, a manicure Selma Rodrigues Goes, 35 anos, afirmou ter visto uma fumaça saindo de dentro da empresa J.R. Express, na rua Alcântara Machado, em São Paulo. O morador do local era ele: Francisco de Assis Pereira, o único funcionário que trabalhava e dormia na empresa.
Ao chegar ao trabalho, o empresário Jorge Sant' Ana, o patrão, encontrou um bilhete sobre a mesa, com um recorte do jornal em que havia o retrato falado. No bilhete, Francisco lamentava ter ido embora e pedia desculpas pela partida. No mesmo dia o empresário percebeu que havia algo de errado com o vaso sanitário da empresa. No conserto foi encontrado um bolo de papéis queimados, que entupira o esgoto. Junto, estava a carteira de identidade de Selma Ferreira Queiroz, uma das vítimas.
Alguns dias depois, a estudante Sara Adriana Ferreira reconheceu na polícia a voz do homem que, no dia 4 de julho, telefonou para a sua casa, na cidade de Cotia, exigindo mil reais pela libertação de sua irmã Selma. Ela identificou a voz ao ver uma entrevista que Francisco havia dado a uma rede de televisão, em 1994, sobre um grupo de patinadores noturnos: era ele. Todas as mulheres mortas foram namoradas ou se relacionaram com o maníaco, um motoboy que adorava patinação, usava roupas coloridas, era jovial e alegre e, segundo alguns mulheres, era também carinhoso e brincalhão. O tipo comum, que não desperta desconfianças e com quem pode se puxar conversa no elevador.
Ao fugir, Francisco passou pela Argentina e voltou ao Brasil. Em Itaqui, RS, na fronteira com a Argentina, chegou a frequentar missas e se tornou familiar aos pescadores do rio Uruguai, que logo desconfiaram dele e imediatamente o associaram ao retrato falado que saía na televisão. Por outro lado, o motoboy era popular no Parque do Ibirapuera, onde costumava fazer malabarismos sobre patins, esporte que ele dominava e ensinava a outras pessoas. Era querido e respeitado até pelas crianças, que costumavam cercá-lo e falar com ele.
Em depoimento de muitas horas à polícia paulista, o Maníaco do Parque confessou os oito assassinatos e mais um. Também admitiu outros cinco estupros. Foi nesse momentos que falou de seu "lado ruim", de sua "fixação em seios" e contou uma dramática história de relacionamentos, de molestamento sexual na infância, de um ex-patrão, com quem teria um relacionamento homossexual.
O maior caso policial do ano logo se transformou em um grande circo midiático. Um encontro entre Francisco e os pais foi transmitido ao vivo no programa do Ratinho e alcançou 38 pontos no Ibope - quase o mesmo da novela da Globo em horário nobre. Cinco mulheres se apresentaram à polícia identificando o homem que as havia violentado no Parque do Estado - as sobreviventes. Todas indicaram Francisco como o autor.Entre as vítimas fatais do Maníaco, estava Elisângela Francisco da Silva, de 21 anos, cujo corpo foi encontrado no Parque em 28 de junho. Ela estava nua. Paranaense, de família humilde, Elisângela era conhecida pela excessiva timidez e pertencia à igreja Batista e, depois, à igreja Deus é Amor.
Outra, Raquel Rodrigues, de 23 anos, era "uma moça muito ingênua", como diziam suas amigas. Sua família vivia em Gravataí, na grande Porto Alegre. Nos finais de semana, em São Paulo, Raquel costumava frequentar barzinhos com suas amigas e trabalhava como vendedora, no bairro de Pinheiros. No dia da sua morte, telefonou para uma prima, dizendo que conhecera um rapaz e que aceitara posar de modelo para ele. Seu corpo foi encontrado em um matagal do Parque, no dia 16 de janeiro. Outra, Selma Ferreira Queiroz, balconista, ainda não havia completado 18 anos. Desapareceu em uma sexta-feira. No dia seguinte, um homem telefonou para sua irmã, dizendo que ela havia sido sequestrada e exigindo mil reais de resgate. Mas não ligou de volta. O corpo foi encontrado no dia seguinte: ela estava nua, com sinais de estupro e espancamento. Nos ombros, seios e interior das pernas havia marcas de mordidas. Francisco também fazia sexo anal com a maioria de suas vítimas. Ele não usava armas, apenas as mãos. Já Patrícia Gonçalves Marinho, 24 anos, saiu da casa da avó, onde morava, e nunca mais foi vista com vida. Seu corpo só foi encontrado no dia 28 de julho, em uma área erma do Parque do Estado. Morreu por estrangulamento e foi estuprada. Seu sonho era se tornar modelo e, segundos seus conhecidos, tinha uma confiança ingênua nas boas intenções de todo mundo. O Maníaco do Parque mantinha um diário onde falava de suas conquistas amorosas, romances impossíveis e momentos de muita agressividade. Em um desses dias, ele escreveu: "Quando lembro daqueles momentos fico completamente excitado, malvado, carente, as coisas de englobam de uma só vez. (...) Estou procurando uma criança de 12 ou 13 anos que eu possa dominar" (...) Transformado em superestar do Mal, Francisco deu entrevistas coletivas, falou em Deus, em Igreja - uma de suas fixações - e disse aos repórteres: "Eu sou ruim, gente, muito ruim."
Há dez anos trancafiado, Francisco foi um dos mais conhecidos seriall killer do Brasil - um clube que inclui Chico Picadinho, esquartejador, e Marcelo de Andrade, que estuprou e degolou nada menos do que 14 crianças e foi preso no Rio de Janeiro, em 1991.
Condenado a 269 anos de prisão, ele cumprirá, no máximo, 30 anos, como prevê a lei brasileira. (Pesquisa: Conselheiro X.)
quinta-feira, junho 20, 2019
Futebol eficiente, aplicação, valentia e preparação: o Grêmio é campeão mundial de 1983
Correio do Povo: chamada de página inteira para a transmissão de Tóquio |
Um jogo de muita aplicação e pouca inspiração. Assim a revista Veja de 21 de dezembro de 1983 noticiou a conquista, pelo Grêmio Porto-alegrense, do título mundial de clubes disputado em Tóquio, no Japão. A final, de uma só partida, sem interferência da Fifa, se chamava Copa Toyota – em alusão ao patrocinador – e também Copa Intercontinental, por envolver os dois grandes continentes futebolísticos, Europa e América. Em 2017, a entidade reconheceu o Grêmio como legítimo campeão mundial de clubes daquele ano.
Sob o título “Carnaval em dezembro – o Grêmio Ganha o campeonato Mundial de Clubes e brilha na entre-safra do futebol”, a revista semanal de maior circulação do País, destacou o contexto desanimador do futebol brasileiro de então, que vinha da decepcionante derrota da seleção na Copa de 82, disputada na Espanha. “Qual o País que, vivendo uma crise de entressafra como a que estamos atravessando, consegue fazer dois campeões mundiais em apenas três anos?”, perguntava, em tom de desafio, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Giulite Coutinho. Ele se referia não só à conquista do tricolor gaúcho como também, dois anos antes, a do Flamengo, do Rio, que havia se sagrado campeão mundial na capital do Japão ao vencer do Liverpool da Inglaterra por 3 a 0. Desta vez, ao superar o Hamburgo da Alemanha por 2 a 1, o Grêmio de Porto Alegre – ainda segundo Veja – “teve competência suficiente, além de muita valentia, para vencer um adversário que ganhou o campeonato europeu e acaba de ser eleito pela revista inglesa Word Soccer a melhor equipe do ano em todo o mundo”. O Hamburgo havia sido campeão da Liga dos campeões da UEFA ao vencer a Juventus de Turim por 1 a 0. O Grêmio, por sua vez, conquistara pela primeira vez a Libertadores ao bater o Penharol de Montevidéu, no Olímpico Monumental, por 2 a 1 no segundo jogo.
Veja apontava que “sempre exigentes, torcedores de outros clubes lamentaram a falta de grandes jogadas e toques mágicos ao longo de uma partida transmitida pela TV para milhões de espectadores em todo o planeta”, para em seguida ressaltar a apoteose que foi a chegada da delegação tricolor à capital gaúcha: “Os gremistas não tinham do que se queixar: fiéis ao código das paixões do futebol, eles improvisaram um carnaval em dezembro para festejar, em Porto Alegre, o mais luminoso título já alcançado em toda a história do clube”. Traçando uma analogia do futebol eficiente do Grêmio no Japão, no dia 11 de dezembro, com o da seleção canarinho que brilhou na Espanha, mas não chegou ao título ao perder para a Itália no estádio de Sarriá, em Barcelona, a 5 de julho de 82, a revista sentenciou: “De que adianta formar um time de artistas se a vitória não viera?”
O feito do Grêmio, 35 anos atrás, tinha também explicações extra-campo, como destacou a publicação da Editora Abril, ao referir-se à minuciosa preparação do escrete tricolor e à custosa – para a época – infraestrutura que precedeu o confronto no Estádio Nacional de Tóquio: “Até que o zagueiro uruguaio Hugo de León, capitão do Grêmio, pudesse levantar a taça em Tóquio, o time gaúcho teve de cumprir uma dura, demorada trajetória, durante a qual se viu compelido a mexer no time e nos cofres. O atacante Tita, por exemplo, um dos heróis da conquista da Libertadores da América, em julho, foi requisitado pelo Flamengo, que o emprestara ao Grêmio, e abriu vaga para o veterano Paulo César Caju, responsável por uma bisonha atuação no jogo de Tóquio.
A preparação do Grêmio para a decisão em Tóquio havia durado quatro meses, com um gasto de mais de 300 mil dólares, pagos pelos patrocinadores japoneses, e incluía concentrar os jogadores em uma estância climática em Gramado, importar teipes das partidas do Hamburgo e fretar um avião para levar 300 pessoas ao Japão.
Veja aproveitou a ocasião para entrevistar um gremista ilustre que, já longe do poder, pouco falava com a imprensa – o ex-presidente brasileiro, general Emílio Garrastazzu Médici, então com 78 anos. Médici interrompeu o seu retiro de verão em Dom Pedrito, na campanha gaúcha, para seguir de carro, em companhia da mulher, até Porto Alegre, onde, segundo explicou, a televisão pegava bem melhor do que em sua fazenda. Gremista fiel, o general torcia também pelo Flamengo, e pelo São Paulo, que naquele ano havia perdido o título estadual para o Corinthians. Feliz e aliviado, Médici considerou que “o jogo foi muito duro, emocionante durante todo o tempo”, especialmente na prorrogação. Mas comemorou: “Também não é brincadeira, o Grêmio é campeão do mundo!”. E ainda alfinetou a torcida colorada: “O Inter só é campeão gaúcho porque o Grêmio preferiu se poupar para o título mundial.” Para o ex-presidente do regime militar, o Grêmio já tivera times melhores: “O dos últimos anos, por sinal, eram superiores ao atual”.
Com a taça de campeão mundial de clubes nas mãos, uma comitiva gremista seguiu para Brasília no dia 29 de dezembro de 1983 a fim de mostrar ao então presidente João Batista Figueiredo e ao chefe da casa civil da presidência da República e conselheiro do Grêmio, Leitão de Abreu, o troféu conquistado no Oriente. Estavam lá o novo presidente, Alberto Galia, o recém saído Fábio Koff, o patrono Fernando Kroeff e o presidente do conselho deliberativo, Flávio Obino, além de Pajheu Macedo Silva e Pedro da Silva Pereira. (Pesquisa e texto: Vitor Minas)
quarta-feira, junho 19, 2019
Moça de 25 anos recebe palmatórias do sargento baiano por usar minissaia: 1970.
A mini-saia, quando surgiu, causou escândalos e trouxe sérios problemas às mulheres que ousavam adotar essa nova moda surgida na Inglaterra e que depois se espalhou pelo mundo, na onda dos movimentos feministas e libertários daqueles anos sessenta.
Contraditoriamente, muitos países - incluindo o Brasil - viviam regimes políticos fechados e repressivos, o que satanizava ainda mais o costume generoso de mostrar as pernas, bonitas ou não. Em julho de 1970, quando os militares e a guerrilha de esquerda se digladiavam, com assassinatos, torturas, da parte do governo, e sequestros de aviões e assaltos a bancos por parte da extrema esquerda - tudo isso em meio à euforia pela conquista do tricampeonato mundial de seleções, no México - aconteciam coisas como a noticiada acima, pelo jornal Correio do Povo, de Porto Alegre: em Ipira, no interior da Bahia, um sargento da PM aplicou palmatória em uma moça de 25 anos, pelo fato de usar simplesmente a diminuta peça. "Quem usa roupa de deixar as pernas de fora é mulher de vida fácil", justificou a "autoridade".
Contraditoriamente, muitos países - incluindo o Brasil - viviam regimes políticos fechados e repressivos, o que satanizava ainda mais o costume generoso de mostrar as pernas, bonitas ou não. Em julho de 1970, quando os militares e a guerrilha de esquerda se digladiavam, com assassinatos, torturas, da parte do governo, e sequestros de aviões e assaltos a bancos por parte da extrema esquerda - tudo isso em meio à euforia pela conquista do tricampeonato mundial de seleções, no México - aconteciam coisas como a noticiada acima, pelo jornal Correio do Povo, de Porto Alegre: em Ipira, no interior da Bahia, um sargento da PM aplicou palmatória em uma moça de 25 anos, pelo fato de usar simplesmente a diminuta peça. "Quem usa roupa de deixar as pernas de fora é mulher de vida fácil", justificou a "autoridade".
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