sábado, junho 20, 2020

O tempo passa e eles mudam para pior


Plínio Marcos, autor de Dois Perdidos em uma Noite Suja
Ainda hoje - e sempre - os estudantes de Jornalismo das tantas faculdades de Comunicação do Brasil - com a imaturidade e a insegurança própria da pouca idade, ficam deslumbrados com os grandes medalhões da imprensa tupiniquim, quando não são de direita, claro, ou quando seguem a cartilha do que os seus professores dizem. 
Também fui assim, pois também tive 19, 20 ou mais anos, idade que ninguém merece. Conheci, por essa época, o Plínio Marcos (ele, mesmo ganhando uma bela grana na época, fazia questão de se mostrar ostensivamente com um dente a menos à plena vista, talvez uma espécie de troféu por ser tachado "maldito") e o Hélio Fernandes, jornalista e irmão do Millor - o Plínio, anos depois, encontrei na frente de um cinema, em São Paulo vendendo seus livros, e aí até que gostei). 
Mas havia um, no final dos anos setenta - quando comecei, digamos, a ser gente - e nos oitenta que era uma quase unanimidade entre essa garotada. Chamava-se (e chama-se ainda) Mino Carta, o italiano que veio para o Brasil, foi editor da Veja na fase mais braba da ditadura, resistindo sempre e publicando matérias desafiadoras ao regime. Mino era, por assim dizer, um exemplo da "boa imprensa", da "resistência à ditadura", entre tantas apregoadas qualidades. Também era um coroa boa pinta, o que conta muito para as estudantes das PUCs da vida. Pois um dia o PT e o Lula chegaram ao poder e, como se sabe, fizeram todos os disparates que hoje sabemos, prostituiram-se, traíram seus ideais e, óbvio, esqueceram da "nova política" em oposição ao "toma lá-dá cá". O Mino, que saíra da Veja, fundara a Istoé e depois a Carta Capital, nunca - mesmo com todas as evidências - sequer fez uma crítica ao que se tornara o PT e Lula. Pelo contrário, passou a atacar seus adversários e críticos com grande virulência e ferocidade. Assim como o Chico Buarque, transformou-se em fiel escudeiro do sistema que já se demonstrara podre e corrupto. Naturalmente, aos poucos, a sua máscara foi caindo - ele até se beneficiou financeiramente do novo regime. Sendo alguém que preza, acima de tudo, a autocrítica, decepcionei-me e até me irritei com ele ao ponto de jogá-lo na lata do lixo da história da imprensa.
Outro que fazia trotoá nas faculdades, dando palestras e "debates" com estudantes imberbes foi o Pedro Bial, jornalista inteligente e com qualidades, sem dúvida, mas com suas distorções e interesses pessoais, mostrando-se, assim como o Mino, pouco confiável e pouco coerente. Um exemplo disso é ele, Bial, funcionário e medalhão da Globo, ter escrito uma biografia do Roberto Marinho, na qual a personagem - para dizer o mínimo - é colocada com grande e intrépida figura - talvez seja mesmo, em certos aspectos, mas aí é outra história. Na real, não sei bem o que ele queria com isso, não sei mesmo. Dinheiro acho que não era, embora o livro tenha sido patrocinado. E dinheiro ele já tem bastante, embora essa gente sempre queira mais. Aí, no cerne da questão, eu te pergunto: será que ele queria estabilidade total de emprego, ad eternum? Naturalmente ninguém da Globo vai demitir quem fez tantos elogios ao histórico Big Boss da Vênus platinada. Não sei, com sinceridade, mas duvido que alguém vá mandar embora um cara assim, Bial está aí, com seu programa de entrevistas, e o Mino Carta, com mais de oitenta, também está na ativa. Mas já não enganam mais - pelo menos a mim.(V.M.)

quarta-feira, junho 17, 2020

O plástico nas águas que Ararigbóia navegou séculos atrás



Se ter febre significa Covid-19, estou passando bem no teste. Toda vez, quando vou ao supermercado aqui próximo comprar o leitinho para as crianças que não tenho, um segurança engravatado e muito educado aponta uma pistola futurista para a minha testa e diz: Tudo certo! Depois do tiro silencioso e indolor na testa eu entro em uma fila indiana - no tempo em que essas filas verticais eram chamadas de "indianas" - e entro nas dependências disso que já foi chamado de "templo do consumo" - na verdade o tal templo é o shopping todo, agora com metade das lojas fechadas.
Bom, vou lá, escolho meus itens - a moça do caixa sempre me faz aquela inteligentíssima pergunta "mais alguma coisa" (qualquer hora vou mandar ela buscar um tapete persa ou um vaso da dinastia Ming) - e saio fora, carregando uma invariável sacola de plástico com as compras dentro.
De tanto ir ao super - afinal, estamos na pandemia - acumulei uma bateria de sacolas plásticas, centenas delas, que uso para revestir a lixeira da cozinha. É uma quantidade realmente impressionante que descarto quando possível. Como é redundante dizer que vivemos a civilização do plástico, iniciada ainda antes da Segunda Guerra, nos EUA - no Brasil demorou um pouco mais - acho que agora, atingimos o paroxismo do fenômeno. É tanto plástico (e o gaúcho, conservador e insensível, recusa-se a levar sacolas de pano ou qualquer outra coisa) que imediatamente a gente se pergunta para onde vai todo esse sintético à base do petróleo e o qual, dizem, leva centenas de anos para se decompor, isso quando se decompõe. Nem o fogo põe fim a tal produto - fica uma gosma resiliente e que nos acompanhará até o fim dos tempos, como a maldição da múmia egípca.
Pois, nesse supermercado, há uma peixaria, com as mais variadas criaturas coméstíveis do mar e dos rios e lagoas, todos em meio ao gelo picado. Há salmões, traíras, tainhas, trutas, tilápias, além de camarão e outras frescuras deliciosas.
Sin embargo, como diriam os castelhanos, toda ocasião em que passo pela peixaria penso nesses peixes, agora defuntos, e no que eles são no mar e em água doce. São belos e convidativos ao paladar, como todos os peixes. Porém, nessa hora, sempre imagino tais espécies aquáticas em sua vida no mar e também nas tartarugas, que agora estão morrendo de tanto plástico que ingerem, confundindo-os com alimento do dia a dia. E aí lembro da barca da Cantareira, de onde eu seguia de Niterói para o Rio, anos atrás, viagem maravilhosa pela Baía de Guanabara, vendo aquela cloaca salgada repleta de toda sorte de imundícies, incluindo, claro, lindos e plácidos sacos plásticos a boiar sobre as águas que o cacique Ararigbóia atravessou, séculos atrás, em pirogas, sobre um mar limpo como chão de farmácia. (Vitor Minas)

As peculiariedades dos coreanos

Vitor Minas

No condomínio onde moro havia muitos coreanos. Digo havia, pois não vejo mais nenhum, ou nenhuma (quase todos eram mulheres jovens, estudantes, possivelmente de intercâmbio universitário). Devem ter dado no pé, certamente, e voltado para seu país por conta da onda do coronavírus.
Essas coreanas chamavam a atenção pois viviam em um mundo à parte, e não interagiam com os nativos - até pela barreira linguística e cultural. Porém todas eram bem vistas, pela educação e por cumprir fielmente as regras de convivência social. Aqui, maravilhadas, aprenderam a comer churrasco - a carne de gado é caríssima na Coréia do Sul, pelo que sei de quem teve parentes que estiveram lá, em visita. Outra coisa que chamava a atenção - todas eram bonitas, magras e com uma pele perfeita, além de pernas maravilhosas, que não mostravam muito. Não havia nenhuma acima do peso, o que pode ser atribuído, acho, à alimentação saudável.
Como disse, adoravam churrasco e adoravam os gatos que ficam estirados ao sol nos peitoris das janelas, aos quais acariciavam e brincavam. Bom, esses tempos li que na Coréia, assim como na China, até não faz muito (ainda há "restaurantes especializados"), se comia carne de cachorro e de gato. Deve ser uma herança do tempo em que a Coréia era um país pobre, bem diferente de hoje. Desenvolvida e capitalista, a parte Sul - o país é bem pequeno - não tem nada a ver com a Coréia do Norte, onde o povo passa fome e tem que fazer cumprimentos para aquele baixinho chamado Kim, senão leva até uma cana federal. Pois, acidentalmente ou não - por conta da doutrina anticomunista da Guerra Fria - os coreanos têm uma dívida de gratidão com os Estados Unidos, que derramaram o sangue de seus soldados para livrar, pelo menos a metade, do totalitarismo. Os americanos fizeram o diabo e lançaram milhões de bombas sobre os campos, planícies e montanhas, matando centenas de milhares de civis, algo do qual até hoje a população guarda ressentimentos. Mas - repito, por interesses geopolíticos etc - salvaram o Sul de ser igual ao Norte. É por isso que agora compramos celulares e televisores coreanos, que eram de qualidade ruim não faz tanto tempo assim (igual aos japoneses, no início) mas hoje são produtos de excelência. O mundo dá voltas mesmo.

segunda-feira, junho 15, 2020

A desorientação do brasileiro



Sempre me impressionou o fato dos norte-americanos se orientarem tão bem pelos quatro pontos cardeais, aquela coisa que vemos nos filmes, quando o sujeito informa, ao visitante desorientado, "siga a sudeste e depois dobre a noroeste mais 5 milhas", ou quando, nos filmes de faroeste, eles dizem "os bandidos seguiram para o norte". Bom, milhas também é outra coisa exótica para nós, já que os "ianques" (diga isto para um sulista!) adotam outras medidas. Mas voltemos à questão orientativa: siga para sudeste, por exemplo, para um brasileiro é o mesmo que dizer "vá pra casa da Tia Maroca". Aqui se diria, "vá em frente e quando encontrar um taquaral, dobre à esquerda e siga toda a vida" - o toda a vida é mais coisa de catarinense. Nesse belo Estado, pelo menos no litoral, eles mandam o desinformado "seguir toda a vida". Como assim? Não vou parar nunca?

Dito isto sobre os americanos - não sei se com os europeus é a mesma coisa - faço uma analogia com a desorientação cartográfica do brasileiro, para não falar da mental, neste momento. Raras pessoas aqui sabem sequer, a partir de um determinado ponto, onde fica o sul e o norte, o leste e o oeste. Nem eu, que sou um gênio da raça, sabia muito até recentemente, quando comprei uma pequena e baratíssima bússola na Galeria Rosário, em Porto Alegre, e às vezes me divirto com ela. Pois descobri, consultando o tal instrumento tão útil aos antigos viajantes e navegadores (apesar que estes iam mais pelas estrelas mesmo), que o sul absoluto fica mais para o o oeste, e o oeste fica mais para o norte do que eu pensava. É meio doideira isso. Bom, no final das contas, no frigir dos ovos, conclui que nós brasileiros realmente não sabemos nos orientar, o que talvez explique o atraso nacional, naquela base do "ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil". Em compensação os gringos, tão racionais em tudo, parecem carregar uma bússola embutida no rabo desde que nasceram

Durango Kid e a máscara negra

Durango Kid só existe no gibi, garantia Raul Seixas, em uma referência aos pretensos e patéticos heróis e um elogio ao homem comum. Não só existia nos gibis como na série de TV que levava seu nome e que passava, aqui, pela TV Gaúcha, hoje RBS. Foi uma das personagens da minha infância, no tempo dos televisores a válvulas - as quais seguidamente queimavam e cujos aparelhos tinham botões de vertical, horizontal, brilho, etc, todas entremeadas de chuviscos. Encontrei fotos e imagens suas no tio Gugle, todas com a indefectível máscara preta, semelhantes a essas que usamos hoje em tempos de peste. Descobri que era estrelada por Charles Starret, que morreu em 86, com 83 anos de ideade. Pois, nos tempos sombrios em que vivemos, com todo mundo mascarado, às vezes me sinto como o Durango Kid, não o do seriado mas o do Raul Seixas, aquele personagem comum e frágil que só existe no gibi. Mas como dizia o velho Ibrahim Sued, ademã que vamos em frente e cavalo não desce escadas.

O Pão que o Diabo Amassou

Daqui do meu apartamento, no quinto andar, até há pouco tempo, eu tinha a vista longíngua do Presídio Central de Porto Alegre - o mais sórdido do Brasil, com mais de 4 mil presos. Aos poucos, novos edifícios cobriram essa paisagem, da qual não sinto falta. Pois agora, com a pandemia, a reclusão e o tal isolamento social, fico pensando nessa gente que está lá, alguns certamente inocentes, outros que deviam a pensão dos filhos e pagaram por isso com a privação da liberdade. Devem estar comendo o pão que o diabo amassou. Particularmente (palavrinha irritante e redundante, e existe alguém que não seja particular?) não consigo me imaginar preso - em casa ao menos tenho a infra necessária e também posso sair às ruas quando quiser, devidamente mascarado é claro. Pois tive um grande amigo, já falecido, pessoa boa mas que na adolescência entrou para a vida torta - ao final, havia cumprido cinco anos recluso, dos quais um no Central. Viu de tudo lá e, mesmo assim, quando saiu continuou sendo uma pessoa alegre e de grande capacidade de trabalho, desta vez honesto - tornou-se um excelente vendedor de anúncios para jornais. Cinco anos em cana, imaginem! Se esta pandemia já está nos deixando de cabeça virada, imaginem cinco anos fechado em uma cela imunda, ao lado da pior espécie de gente. Não é mole não. Mas tem coisa ainda pior nesta área - o Nelson Mandela, por exemplo, que passou 27 anos preso, quase sempre incomunicável. Saiu sorrindo, com aquele seu sorriso aberto, e se tornou presidente do seu país. Eu, se tivesse que enfrentar cinco anos na gaiola - nem falar em 27 - enroscava uma corda no pescoço e pulava para o fechamento das contas. Há gente forte mesmo.

quarta-feira, junho 03, 2020

Uma epidemia muito pior do que o Coronavírus: a Gripe Espanhola no Rio Grande do Sul

Na Inglaterra, quem saía às ruas, para pegar o bonde, levava consigo máscaras e lenços, na tentativa de proteger-se do vírus. No Brasil não foi diferente.
Pesquisa e texto de Vitor Minas. Especial para o Conselheiro X. Inédito.

* Baseado nos jornais e revistas da época.




Nunca se viu nada igual: a rua da Praia vazia, as casas comerciais fechadas, os bares e os cafés desertos, os bondes elétricos paralisados, os colégios sem alunos ou professores e a entrega de correspondência suspensa. O desabastecimento atingia toda a cidade – faltavam remédios, leite, lenha, gasolina e gêneros alimentícios e tudo encarecia do dia para a noite. Cortejos fúnebres se encontravam nas esquinas; nos cemitérios detentos condenados substituíam os coveiros que morriam em serviço. Mesmo assim, os caixões disponíveis eram insuficientes para tantos óbitos e centenas de pessoas eram sumariamente enterradas em valas coletivas, enquanto dezenas de corpos amontoavam-se à espera de sepultamento.

A cada edição os jornais publicavam a relação oficial dos mortos. Havia cenas de histeria pública, os casos de suicídio aumentavam e ninguém se sentia seguro em parte alguma. Quem podia abandonava a cidade em busca de ares mais saudáveis. Nas calçadas os raros transeuntes seguiam a passos apressados. Dos sinos da igreja matriz partiam dobres tristes anunciando novas vítimas da “influenza espanhola”, a maior pandemia da história da Humanidade, com um bilhão de infectados, a metade da população da época, e cerca de 20 milhões de mortos. Somente no Brasil foram mais de 300 mil óbitos, dos quais18 mil no Rio de Janeiro.

A Grande Guerra Mundial iniciada quatro anos antes estava para terminar. Faminto e debilitado, o Velho Continente transformara-se em um território propício a toda espécie de doenças. Na América, no Brasil arcaico e rural da Velha República, grassavam a tuberculose, a varíola, a varicela, o tifo, a escarlatina, a malária, a sífilis, a lepra. Em Porto Alegre, de cada 1.000 bebês mais de 300 morriam antes de completar 2 anos.

LEITE FALSIFICADO - A capital gaúcha , com 170 mil habitantes, era então um amontoado de casas velhas e vielas estreitas e escuras. A água municipal não recebia qualquer tratamento e, nos dias de chuva, as torneiras despejavam uma desagradável mistura da cor do barro, embora a maioria da população se valesse do serviços dos aguadeiros - ou “pipeiros”.

A rede de esgoto servia tão somente os bairros nobres – Independência, Duque de Caxias, parte do Menino Deus - o recolhimento de lixo não seguia nenhuma diretriz rigorosa e as fétidas “casinhas” externas desempenhavam o papel de vasos sanitários. Comerciantes inescrupulosos vendiam alimentos falsificados ou deteriorados: carne velha, pão feito de fava e milho, pimenta do reino misturada a pó de sapato, leite aguado e manteiga rançosa. Não bastasse, vivia-se uma aguda crise econômica, com carestia, endividamento, inflação, greves operárias em São Paulo e insatisfação generalizada.

A “influenza” chegaria ao País em meados de setembro a bordo dos navios que vinham da Europa. Das capitais litorâneas ou portuárias – Belém, São Luís, Fortaleza, Recife, Salvador, Rio - rapidamente estendeu-se para os quatro cantos do território nacional. Chegou a pontos remotos da “hinterland” brasileira, não poupando cidades, vilas, de sul a norte, matando e dizimando tribos inteiras da região amazônica. Com quase 1 milhão de habitantes, clima insalubre e alta densidade demográfica, a Capital da República transformou-se em um vasto hospital. Centenas de pessoas morreram diariamente entre outubro e novembro e 70% da população caiu de cama, acometida da estranha moléstia cuja origem, afinal, ninguém precisava. Em São Paulo foram 350 mil infectados – 65% da população – e 5100 mortos oficialmente contabilizados. Da virulenta peste sabia-se apenas que era diferente de tudo o que até então se vira e que provavelmente se originasse da Espanha, convencionando-se então chamá-la de “gripe” ou “influenza hespanhola”, embora nenhuma nação - muito menos a própria Espanha (que a cognominou “febre russa”), assumisse a paternidade. Na Rússia foi denominada de “febre siberiana”, na Sibéria de “febre chinesa” e na França de “catarro hespanhol”. Fez 5 milhões de vítimas fatais na Índia e 450 mil nos Estados Unidos. Espalhando-se rapidamente pelos quatro cantos do Mundo, matou os primeiros brasileiros na costa da África, em setembro de 1917. Do efetivo de 2 mil militares da Divisão naval brasileira – dois navios de patrulha e uma missão médica - que, tardiamente, iriam participar da Grande Guerra(o conflito acabou um dia depois da chegada ao front), 90% foram atingidos pela doença e mais de cem morreram nas proximidades de Dakar, no Senegal.

Por mar a moléstia aportou na costa brasileira e logo fez morada nas principais cidades litorâneas. No início de outubro a Capital Federal sucumbiria à doença. Em seu livro de memórias “Chão de Ferro”, o médico e escritor Pedro Nava descreve o que foram aqueles dias na cidade do Rio de Janeiro.

“Além da fome, da falta de remédio, de médicos, de tudo, as folhas noticiavam o número nunca visto de doentes e cifras pavorosas de obituário. As funerárias não davam vazão – havia falta de caixões. Até de madeira para fabricá-las(...) Era muito defunto para os poucos coveiros do trivial – assim mesmo desfalcados pela doença. Foram contratados amadores a preços vantajosos. Depois vieram os detentos. (...) Era de ver as ruas vazias cortadas de raro em raro pelos rabecões e caminhões de cadáveres(...) Um ou outro passante andando como se estivesse fugindo e trazendo no rosto a expressão das figuras do quadro de Eduard Munch: Angst. Isso mesmo, angústia: faces de terror, crispações de pânico, vultos de luto correndo, pirando, dando o fora e, no fundo, um céu vangogue sangue ocre.”

ELA CHEGOU A BORDO DOS NAVIOS - Oficialmente, a espanhola chegou ao Rio Grande do Sul no dia 9 de outubro, uma quarta-feira, a bordo do navio Itajubá, vindo do Rio de Janeiro: 38 de seus tripulantes apresentavam os sintomas da febre. Ao atracar em Rio Grande, seu comandante comunicou o fato às autoridades portuárias, descrevendo, sucintamente, uma febre de “caráter benigno”. Por sua vez as autoridades sanitárias gaúchas limitaram-se a examinar os tripulantes, para isolá-los em seguida. O navio foi desinfetado e – como de praxe - o fato comunicado ao Palácio Piratini.

Três dias depois o navio Itaquera – que, devido à doença, havia sido impedido de atracar em portos do Paraná e Santa Catarina – chegou a Rio Grande, transferindo-se seus 32 doentes para o lazareto da cidade. Cumpridas as formalidades sanitárias, o vapor prosseguiu viagem pela Lagoa dos Patos, chegando a Porto Alegre a 14 de outubro. Dois dias após, com outros 7 doentes confirmados, atracava no cais da Capital o navio de cabotagem Mercedes, do Lloyd Brasileiro, procedente de Rio Grande. Não havia nenhum médico a bordo e somente 48 depois da chegada seus tripulantes seriam postos em isolamento. No dia 17 finalmente atracou na Capital o Itajubá, trazendo consigo os tripulantes que haviam sido submetidos a uma curta quarentena em Rio Grande.

No dia 18, por fim, surgiram notícias de alguns casos da estranha gripe, com três registros em pontos diferentes; um funcionário da higiene Pública e mais dois homens pediram espontaneamente para serem isolados. Uma moça também compareceu à Diretoria de Higiene do Estado apresentando os mesmos sintomas dos demais: calafrios em todo o corpo; prostração intensa; febre que chegava a 40 graus; dores musculares, dores de cabeça e na barriga, nos olhos, nos ombros, nas costas, nos rins e nas pernas; catarro abundante e muita tosse, bem como sensibilidade extrema à luz, náuseas, vômitos, calor no rosto, vertigens e lágrimas.

A tais sintomas acrescentava-se uma profunda depressão psíquica e, muitas vezes, sensíveis alterações cardíacas ou respiratórias que levavam à morte.

Nos dias 20 e 21 seriam notificados mais 12 casos suspeitos, todos, ressaltavam as autoridades gaúchas, “benignos”. Outros quatro caixeiros viajantes recém chegados à cidade também apresentavam os mesmos sintomas. No dia 23, somavam 21 pessoas recolhidas ao isolamento. Em outra porta de entrada do Estado, na mesma data, comunicava-se o fato extraordinário às autoridades da Capital: à exceção de um telegrafista, todos os funcionário da estação de trens de Marcelino Ramos, na divisa com Santa Catarina, haviam caído vítimas da “influenza”. Em poucos dias, no Hospital da Brigada, na Capital, baixaram, vítimas da febre, mais de 30 praças. Outros 130 soldados foram colocados em isolamento compulsório. Depois de percorrer mundo, a gripe espanhola era também gaúcha.

A “IMUNDICIE” DA SANTA CASA- Em 1918 o intendente José Montaury, do Partido Republicano Riograndense, comandava a municipalidade. Espécie de títere do presidente do Estado, o caudilho Antonio Augusto Borges de Medeiros, Montaury, um fluminense nascido em Niterói, assumiu o cargo em 1897 e exerceu-o por longos 27 anos, período no qual não faltaram os mais variados surtos epidêmicos. A última fora a de varicela, em 1916.

Ainda que uma das mais populosas cidades brasileiras a Capital do Rio Grande do Sul resumia-se então ao centro e alguns bairros de difícil acesso. Os carros de praça “motorizados” competiam com outros movidos a parelhas de cavalos e aos bondes elétricos. Via-se as comédias mudas de Carlitos e no final da tarde fazia-se o “footing” na rua da Praia, com homens de chapéu e bengala e mulheres de grandes e pesados vestidos. A Confeitaria Rocco, o Café Colombo, na Andradas, o Chalé da Praça XV, a Livraria do Globo, os cine-teatros Guarani – o mais “luxuoso” – e o popular Apolo, o Petit Casino, o Clube do Comércio, o Germania, o Caixeiral, o Clube dos Caçadores (na verdade, um cabaré) e o Hipódromo do Moinhos de Vento incluíam-se entre os pontos de referência da sociedade mundana da época – industriais, comerciantes, funcionários públicos, advogados, jornalistas, poetas, boêmios e desocupados em melhor situação financeira.

Os principais jornais - Correio do Povo, A Federação, A Gazeta do Povo e O Independente, recebiam, via cabo submarino, os acontecimentos do restante do mundo que os leitores liam com dias de atraso. As revistas Kodak e “Máscara” – de entretenimento, cultura e variedades - douravam a vida social e cultural da capital e das principais cidades gaúchas: Pelotas, Rio Grande, Bagé, Santa Maria. Havia futebol – ou “matchs” - aos domingos e pescarias e esportes náuticos no rio Guaíba, cujas águas, limpas e calmas, espraiavam-se até a Cidade Baixa. As noites eram previsivelmente calmas e escuras – a iluminação elétrica ainda convivia com os velhos lampiões dos postes. Comandadas pelo doutor Mário Totta, as famílias mais chiques veraneavam no “arrabalde” da Tristeza e a praia da Pedra Redonda, um dos cartões postais da cidade, servia de cenário para concorridas festas e saraus onde não faltavam intelectuais e escritores como Augusto Meyer, Olyntho Sanmartin, Teodomiro Tostes e afetados poetas parnasianos.

No centro, à noite, pontificavam os discretos “rendez-vous” e cabarés mais caros com as necessárias mulheres francesas e polacas. Quase tanto quanto a tuberculose, a sífilis impunha cuidados e cobrava seu preço aos moços desprevenidos. A cidade dispunha de seis precários hospitais e quatro médicos voltados ao atendimento público em igual número de postos de saúde. Por seu lado, o Departamento de Higiene, com 56 funcionários em todo o Estado e duas ambulâncias e seis carroças na Capital, pouco tinha a oferecer. Os médicos mais renomados – Sarmento Leite, Mário Totta, Jacinto Gomes, Ivo Corseuil, Landell de Moura e Protásio Alves, hoje nomes de ruas e avenidas – dividiam-se entre a clínica estabelecida e o atendimento familiar a domicílio.

Os portoalegrenses abastados, contudo, tratavam-se em casa, evitando a promiscuidade, a sordidez, as infecções e a imundície dos quartos da Santa Casa, “um atentado à higiene”, na descrição do doutor Mário Totta. Fiel ao imaginário da época e às noções da medicina do início do século, as mães fortificavam e depuravam seus filhos com Emulsão de Scott e óleo de rícino, reputação milagrosa e restauradora dividida com os “banhos de mar” (naquele ano inaugurava-se o “luxuoso” balneário do Cassino), e os bons ares da serra e do litoral, embora todo o cuidado fosse pouco para evitar-se os mortíferos “golpes de ar”.

Na última semana de outubro esta simplória Porto Alegre transformou-se subitamente em uma cidade enferma. Nem mesmo os esforços irritantes e patéticos do Governo positivista de Borges de Medeiros, para o qual não havia motivos de alarma ou pânico, já que a gripe, a princípio, não mostrava-se tão virulentamente fatal, evitaram que a população se apercebesse claramente da extensão da epidemia: chegara à cidade a peste que viera da Europa.

De súbito, hordas de populares aglomeraram-se às portas das farmácias, disputando toda espécie de medicamentos indicados para a prevenção da doença, em especial o quinino, que havia se mostrado eficaz em outras ocasiões. Os estoques do produto, de purgantes, de óleo de rícino e mesmo as sortidas de limão e pencas de cebola vendido nas feiras e armazéns sumiram do mercado ou encareceram de forma exorbitante. Os balconistas das farmácias – aqueles que mantinham-se de pé - não descansavam um só instante. Hospitais como a Santa Casa de Misericórdia – abrigando um terço dos doentes do Estado – recebiam levas de novos pacientes, acomodados à maneira possível. À falta de leitos improvisavam-se toscas enfermarias e o Governo – finalmente reconhecendo a situação mas fugindo à sua real extensão e gravidade – passou a organizar hospitais improvisados e equipes de emergência para percorrer as residências e levar assistência médica à população pobre.

Recomendava-se, a princípio, cama, higiene e repouso, além de limpar a boca e as fossas nasais várias vezes ao dia com uma lavagem de água e sabão, sem esquecer dos proverbiais gargarejos com água oxigenada ou boricada. Os portoalegrenses, no entanto, apelavam para tudo que estivesse ou não estivesse à mão – chá de eucalipto, cachaça com mel e limão, aspirina, suco de cebola, vinho, caldo de galinha, purgantes, infusões, preces, benzimentos, promessas, talismãs. O uso abusivo do quinino não raro causava intoxicações, com prejuízos irreparáveis à audição e à visão. Charlatões, curandeiros e vivaldinos encontravam terreno fértil para a venda dos mais bizarros produtos ou receitas: pílulas, chocolates, filtros de água e até cigarros que “preveniam ou afastavam o mal”.

A partir de 21 de outubro haviam sido registrados os primeiros óbitos. Os jornais da Capital, habitualmente voltado à cobertura da Grande Guerra e aos acontecimentos políticos no Rio de Janeiro, abriram suas páginas para a evolução da “peste”. No início de novembro informava-se que a Escolha de Engenharia, o colégio Sevigné, o colégio Militar, Ginásio Anchieta e outros estabelecimentos de ensino da cidade haviam decidido suspender as aulas e adiar os exames finais. Sem movimento de público, o comércio e as repartições fechavam suas portas e os teatros e os cinemas comunicavam a suspensão dos espetáculos. Na tradicional Confeitaria Rocco a maioria dos empregados caíra doente.

CIDADE TINHA "ASPECTO FÚNEBRE" - Na Livraria do Globo 62 funcionários contraíram a influenza e o Correio do Povo passou diariamente a oferecer vagas de entregador em substituição àqueles que iam sendo atingidos pela epidemia. O “turbilhão’ da rua da Praia deu lugar a calçadas vazias. Sem carteiros, os Correios suspenderam as entregas e a Companhia telefônica, desfalcada de 285 funcionários, pediu à população que só fizesse uso do telefone em caso de extrema urgência. Os guardas desapareceram das esquinas, os horários dos bondes foram suspensos ou adiados, a Assembléia Legislativa cancelou as suas sessões ordinárias. A Companhia Força e Luz ficou sem foguistas. Todos se recolhiam mais cedo, evitando contatos.

“A cidade tem durante o dia um aspecto doloroso e à noite este aumenta, tornando-se fúnebre. Raro é o transeunte que anda. Os cafés, os bares, tudo escuro, dando à Capital a forma de uma cidade morta e sem vida”, escreveu o jornal O Independente em seu número de primeiro de novembro.

Temendo o contágio ou já atingidos pela doença, até os costumeiros leiteiros que vinham da periferia deixaram de vender o produto às portas das residências.À aproximação do feriado de Finados, as autoridades alertavam as pessoas para que não fossem aos cemitérios, a fim de evitar aglomerações e o possível contágio. Inicialmente pensou-se que o vírus pudesse ser transmitido pela água, ou até mesmo pelo ar.

“O pavor coletivo, o alarma social, se está tornando mais grave do que a própria epidemia. Alguns suicídios o demonstram”, escrevia o jornal A Federação, vinculado ao governo de Borges de Medeiros. O Dr. Mário Totta advertia: “Em todas as epidemias são justamente os que mais medo têm são os que mais depressa são levados de lufada”. Os padres oficiavam missas, pedindo a Deus o afastamento da “peste”, os clubes decidiram suspender as partidas de futebol e nas páginas dos jornais surgiam anúncios de remédios miraculosos contra a doença.

Já as autoridades municipais e estaduais insistiam em pedir calma à população, ao mesmo tempo em que apregoavam que a situação estava sob controle e que a epidemia já mostrava sinais de refluxo. “Povo! Não devemos entregar-nos à morte, sem nada fazer pela vida: devemos esforçar-nos para combater o mal”, concitava o boletim da União Metalúrgica distribuído à população.

Em sua edição de 5 de novembro a revista Máscara insistia na tese de que o pior já passara e que dentro em breve a cidade voltaria à normalidade.

“E esqueçamos...

“Conforme previmos em nosso número passado, a epidemia entrou em declínio em princípios desta semana. As notas fornecidas pela Diretoria de Higiene da imprensa foram sempre as mais animadoras, o que faz supor a estas horas que os casos novos da gripe sejam raros. E agora, que tudo promete voltar à normalidade, agora que a nossa cidade lembra um hospital, tal é o número de convalescentes que se arrastam pelas calçadas, com as faces cavadas e pálidas, os olhos fundos e abatidos, agora que um frisson de vitória abafa a nossa alma, mesmo os que fremem em corpos combalidos, e nosso dever afastar o mais possível da recordação popular esses tristíssimos dias de angústia e sobreexcitação nervosa a fim de que possamos beber novamente a grandes haustos a vida que o “anjo da paz ‘ promete dulcificar.(...)”


A realidade, contudo, revelava-se bem diferente, e a própria imprensa tornaria a adotar tons sombrios. A 9 de novembro o Correio do povo noticia: “Das 18 horas de ante hontem às 18 horas de hontem foram registrados nesta Capital 32 óbitos de pessoas que faleceram em consequência da “influenza hespanhola”.

Na lista dos falecidos “em domicílio” constavam pessoas de todas as idades e moradores das principais ruas da cidade: Juvenal Faria Dias, de 29 anos, residente à rua General Auto, 35; Sabina Antonia da Silva, 50 anos, moradora do número 123 da rua José de Alencar; Angela Teixeira Nunes, da rua Ramiro Barcelos, 133, "menina Catharina, filha de Ariosto Menezes, rua Lima e Silva, 147-B; Jorge Anto, residente no Hotel Lagache; Rubens Santos, de 32 anos, morador da rua Aquidaban, 9; “menino Alziro”, filho de Frederico Castro, com endereço à rua Santa Luíza, 66; Antonio Monteiro, morador da rua Moinhos de Vento, 70; Antonieta Rabello Gorfmann, residente à rua Fernandes Vieira, 36; Bibiana Rodrigues, 20 anos, “mixta, solteira, residente à rua Santana, 7”. Na edição do dia 11 a lista incluía, dentre os óbitos em domicílio, os seguintes nomes: Carlos Albuquerque, 52 anos, residente à rua Andrade Neves, 6; Carlos Haesbaeri, 39 anos, morador da rua Garibaldi, 32; Dante Matteoli, 17 anos, rua Castro Alves, 156; Mathilde de Michaelsen Wolff, 43 anos, da rua General Vitorino, 13. Na mesma data nominava-se a ocorrência de novos casos da doença: “Ontem enfermaram sete pessoas da família do major Edmundo Arnt; a exma. Esposa do Dr. Joaquim Gaffrée; o Dr. Gaspar Saldanha, sua senhora e três filhos; sete pessoas da família do major Labieno Jobim; “o nosso colega Lourival Cunha, da Kodak”(revista); as senhoritas Aracy, Júlia, Odette e Nayr Bacellar, filhas do capitão Bacellar Júnior”.

Uma pequena nota, vinda de Buenos Aires, onde também grassava a gripe, informava de uma campanha de combate às moscas – “veículo de imundícies de toda espécie e transmissora de várias moléstias”- desencadeada pelas autoridades portenhas junto à população.

A GRIPE ATRÁS DAS GRADES - Dos mais de 600 detentos da casa de Correção metade estava enferma, informava o Dr. Ivo Corseuil, médico da diretoria de Higiene. Nas residências, a gripe não poupava vítimas mais ilustres: o Dr. Jacinto Gomes, diretor da enfermaria de Gripados da Santa Casa de Misericórdia, contraíra a gripe e teve que ser substituído. No dia 10 de novembro o Correio do Povo, em sua coluna de necrologia, destacava o sepultamento de algumas figuras da sociedade portoalegrense:“Com grande acompanhamento, realizou-se ontem o enterro do doutor Álvaro Nunes Furtado, clínico residente, nesta capital, e que, como noticiamos, faleceu vitimado pela influenza hespanhola”. “Faleceu ontem, nesta capital, vitimado pela influenza hespanhola, o jovem Antenor Maciel Júnior, filho do tenente Antenor Maciel.“O infortunado jovem que, com bastante brilho, fazia o curso do Colégio Militar, deixa profunda saudade entre o grande número de seus colegas, no seio dos quais se fazia estimar.“Ele era natural de Uruguaiana, onde também contava com um grande círculo de relações.“O enterro, realizado ontem mesmo às 16 horas, esteve bastante concorrido, vendo-se sobre o caixão mortuário grande número de coroas”.

Dia 13, uma quarta-feira, a Empresa de navegação Cahy comunicava a suspensão de todas as viagens ao longo do rio “visto a maior parte dos seu empregados estarem enfermos”. No mesmo dia um anúncio de rodapé, na capa do Correio do Povo, oferecia um novo e rápido serviço de impressão: “Nas oficinas desta folha apromptam-se com presteza convites para enterro”. Vários funcionários da casa – incluindo jornalistas – estavam enfermos.

Da distante Europa vinham notícias mais alentadoras, publicadas pelo mesmo diário, e que repercutiam em todo o Estado, especialmente na região colonial italiana: fora assinado o armistício no dia 11 e a Grande Guerra que matara mais de 10 milhões de pessoas chegara ao seu final. A Itália estava entre os países vencedores.

“Garibaldi, 12 – Esta vila está em festa com a notícia da assinatura do armistício com a Alemanha. Sobem ao ar girândolas de foguetes. Os sinos repicam. Bandas de música percorrem as ruas. Quase todas as casas estão embandeiradas. Reina grande alegria.”

Os jornais noticiavam a derrota da Alemanha, a fuga do kaiser Guilherme II e, no Rio Grande do Sul, a influenza espanhola que, em vez de declinar, seguia em crescendo. Cortejos fúnebres de pessoas a pé, segurando os caixões aos ombros, cruzavam-se a caminho dos cemitérios, os coveiros trabalhavam sem interrupção, nas casas e cortiços improvisavam-se rápidos velórios. Prostrados e reclusos em seus barracos, os moradores mais pobres viravam-se como podiam em tais circunstâncias. Famílias inteiras adoeciam e os poucos em condições de caminhar percorriam quilômetros a pé para disputar os donativos distribuídos às portas de algumas instituições filantrópicas – igreja católica, maçonaria, centros espíritas.

À peste somava-se agora a falta de alimentos e a especulação desenfreada dos preços praticada por comerciantes e aproveitadores. “Está tudo pela hora da morte”, constatou o jornal Gazeta do Povo em 11 de novembro. Leite e aves sumiram do mercado, a canja de galinha passou a custar os olhos da cara, a lenha para os fogões dobrou de preço e até os aluguéis dispararam. Os diários locais imploravam por entregadores, os médicos não dispunham de gasolina suficiente para abastecer seus carros e visitar os doentes mais distantes e as farmácias vendiam quinino e óleo de rícino como se fossem especiarias. A cadeia produtiva fora interrompida pela epidemia e a cidade, paralisada, não encontrava forças para reagir. O que havia em remédios e alimentos não bastava para uma época , sob todos os aspectos, absolutamente anormal.

AUTORIDADES CENSURARAM A IMPRENSA - A censura à imprensa imposta pelas autoridades estaduais(incomodadas pelas críticas à ineficiência e morosidade das medidas de combate à epidemia) a partir de primeiro de novembro não calava o pavor coletivo e – em evidente efeito contrário - só fazia aumentar os boatos a respeito da mortandade.

O Correio do Povo que, assim como os demais veículos, recebera a ordem de não publicar a lista diária das vítimas da gripe, após informar da determinação aos seus leitores optara, em protesto, por deixar colunas em branco. Particularmente visado pela censura borgista, o jornal insistia em apontar as ineficiências e morosidades no combate à epidemia e as falhas no socorro à população mais pobre, que, a par da doença, sofria com a fome e da desassistência. Famílias inteiras estavam acamadas, sobrevivendo do pouco que ainda possuíam em casa. Os que encontravam forças de sair às ruas apelavam para os donativos – feijão, café, açúcar, banha – distribuídos pela Maçonaria, pela Federação Operária do Rio Grande do Sul ou por alguns comerciantes mais generosos ou em melhor situação financeira. O clima geral era de pânico.


“O boato no Coração da Cidade“

(...) Eu vi com estes olhos cinco mortos na rua dos Andradas, disseram-me que os coveiros cavam noite e dia as sepulturas; “Fulano(que está vivo e um poucochinho doente) acaba de morrer...” e outras e outras afirmações que só a polícia correcional podia evitar.“Desta forma andam pelas ruas, ilesos, os ‘boateiros”, explorando a situação enferma da cidade, acendendo perigo onde não existem(...)”( Máscara, 23 de novembro)


A partir da segunda metade de novembro, descrente das autoridades, a população falava em centenas ou mesmo milhares de mortos diários. A epidemia fugia a qualquer controle e a relação dos óbitos fornecida pela Secretaria de Higiene voltou às páginas dos diários. Ignora-se contudo os falecimentos sem assistência médica, numerosos nos bairros pobres.

Se até ali, de modo geral, a imprensa oficialista insistia no progressivo recuo da epidemia, atribuindo todas as culpas aos espíritos alarmistas e boateiros de plantão, a partir de quinta-feira, 14, tornou-se impossível mascarar a realidade visível, que, se não era tão terrível – afinal, não morria-se aos milhares - tampouco conferia com a versão das autoridades: entre as 18 horas de terça e as 18 horas de quarta-feira 34 pessoas haviam morrido em decorrência da influenza. Outras 24 faleceram sem assistência médica no mesmo período, totalizando 58 óbitos. No Domingo, 17, o Correio do Povo listaria mais 62 mortos nas últimas 24 horas, e, na terça, outros 49 óbitos entre o final da tarde de Sábado e o final da tarde de Domingo – o jornal não circulava às segundas.

Notícias enviadas pelos correspondentes do interior apontavam nos estragos que a espanhola estava causando em Passo Fundo, Santa Maria, Rio Grande, Pelotas, Arroio Grande, Tapes, São Gabriel, Encruzilhada, Carlos Barbosa, Rio Pardo, Taquari, Cruz Alta, Ijuí. Em Quaraí lamentava-se o suicídio do comandante do Sétimo Regimento de Cavalaria, que desferiu um tiro de revólver contra a própria cabeça. O major, informou o correspondente, “se achava doente, atacado de forte neurastenia, tendo ficado muito impressionado com o número de soldados enfermos na unidade que comandava, e ainda pela falta de recursos”. Cacequi, noticiava o jornal, “está transformada num vasto hospital. Há ali um número superior a 150 doentes, não havendo sequer uma pequena farmácia de campanha”. Em cada local a intensidade do surto epidêmico variava de acordo com as condições sanitárias, a densidade populacional e o clima, muito embora praticamente nenhum município do Estado tenha escapado ao flagelo.

Confundido inicialmente com o tifo, o vírus mutante da influenza gerava infecções bacterianas e punha em evidência moléstias latentes em cada organismo, afetando em especial os cardíacos, os asmáticos e os fracos de pulmão. A moléstia ia e vinha, com melhoras e recaídas. Para curá-la recomendava-se tão somente o repouso, a assepsia, quinino, purgantes e bons ares.

DE REPENTE ELA FOI EMBORA - Quase tão repentinamente como havia chegado, sem aviso, sem lógica ou explicação, a epidemia rapidamente declinou no final do mês de novembro. No dia 21, Quinta-feira, os diários da Capital já falavam em seu progressivo recuo. A reabertura de muitas lojas no centro, a crescente afluência de transeuntes às calçadas antes desertas, a volta dos rangidos dos bondes e dos apitos dos guardas de trânsito refletiam as estatísticas do Departamento de Higiene – números reais, desta vez: os casos novos eram cada vez mais raros e a mortandade estava em queda livre.

O Club Monte Carlos, o Brazil Club e o Clube dos Caçadores voltaram a funcionar. O teatro Apolo apresentava, aqueles dias, em matiné, episódios de a “Garra de Ferro”, em oito atos e, à noite, “uma grandiosa obra americana em sete belíssimos atos: New York.”. Na terça-feira, 26, reabriram suas portas o cine-teatro Coliseu e o Petit Casino. O Hipódromo do Moinhos de Vento também anunciava o retorno das atividades.

Na Sexta-feira os jornais noticiaram apenas 8 óbitos e a 3 de dezembro as autoridades informaram não ter conhecimento de novos casos de influenza espanhola. Na mesma data um pequeno anúncio publicado na capa do Correio do Povo atestava o final da tempestade.


Leitaria

“Previno a minha distinta freguesia que reabri minha leitaria pelo nome Barroza Número 4. O motivo de estar fechada foi meu empregado estar doente”.


Em poucos dias reabriram-se as repartições públicas, os principais colégios chamaram de volta alunos, funcionários e professores, os cafés do centro festejavam a volta da velha clientela e a rua da Praia foi novamente tomada por moças e rapazes ao final do dia. No dia 29 apenas 8 óbitos foram registrados nas últimas 24 horas e, finalmente, a 3 de dezembro, a Diretoria de Higiene afirmou não ter conhecimento de nenhum novo caso da doença - as mortes registradas diziam respeito aos já infectados.

Notícias alvissareiras vinham do interior do Estado e, a exemplo do que faziam antes da peste, os jornais direcionavam novamente suas atenções aos informes vindos da Europa, à fuga do Kaiser e a redefinição das fronteiras nacionais no Velho Continente. Os correspondentes do Correio do Povo já expressavam tons de otimismo.

Durante 57 longos dias, sitiada pela doença, a capital gaúcha convivera com a morte de uma maneira jamais observada em sua História. As qualidades dos homens e mulheres, postas à prova, diferenciaram grupos, revelaram aproveitadores e heróis, contrastando à prática real cotidiana as propaladas boas intenções de muitos. Desse jogo de luz e sombra emergiram algumas verdades.

“A hespanhola, de súbito, fez-nos ir até essas pobres vítimas da fome e da indigência, quando não no-los trouxe até as nossas portas”, reconheceu a elegante revista Máscara( “Os Nossos Pobres”, 23.11.1918), ao comentar a procissão sombria de homens e mulheres fracos e famintos que vinham dos subúrbios da cidade “com as faces covadas e pálidas, os olhos fundos, se arrastando pelas calçadas”.

Foram eles – cidadãos anônimos, desempregados, operários, comerciários, biscateiros, moradores dos bairros São João, Navegantes, Colônia Africana, no Quarto Distrito - as principais vítimas da influenza espanhola.No tocante ao total de óbitos, a historiadora Janete Silveira Abrão – autora da(infelizmente pouco conhecida) dissertação de Mestrado do curso de pós-graduação em História do Brasil do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica, “Banalização da Morte na Cidade Calada: a Hespanhola em Porto Alegre, 1918(Edipucrs, 1995), tese universitária transformada em livro – observa: “Todavia é impossível precisar as taxas de morbidade e de mortalidade ocorridas, visto que muitos casos não foram notificados pelas autoridades sanitárias”.

Oficialmente foram 1316 óbitos em Porto Alegres causados pela influenza, dos quais 1209 na cidade e o restante na zona rural. Ainda segundo as estatísticas oficiais, até 31 de dezembro de 1918 a gripe matara 3971 pessoas em todo o Estado. Somente em Rio Grande morreram 343, em Pelotas 321, em Bagé 191, em Cruz Alta 132 e em Itaqui, 40.

Algo parece certo: são números “chutados” e nunca se soube e jamais se saberá efetivamente o número exato, ou mesmo aproximado, das vítimas causadas pela gripe espanhola de 1918. Dois mil? Quatro mil? Cinco mil? Se as estatísticas oficiais falam em cerca de 70 mil infectados - “talvez abaixo da realidade”, nas palavras de Protásio Alves - e pouco mais de 1300 mortos em todo o município de Porto Alegre podemos, sem temor ao exagero, somar a isso um número impreciso de óbitos não contabilizados que aconteceram longe das vistas das autoridades sanitárias, em casebres, cortiços ou em esquecidas casinhas da zona rural, sem contar os enterros clandestinos – comuns a uma época em que os recém nascidos tornavam-se adultos sem portar qualquer documento. Alia-se a isso o fato de que somente aqueles aos quais os médicos reconheciam a morte em função da epidemia eram inclusos nas listas dos vitimados pela peste, excluindo-se destas quem falecia - de acordo com o ponto de vista médico - de outras causas: doenças cardíacas ou tuberculose, para citarmos dois exemplos que no entanto poderiam ter sua origem no vírus da própria gripe.

Segundo a historiadora Janete, um simples cotejar dos dados oficiais do período demonstra números subestimados: o Livro de Óbitos da Santa Casa de Misericórdia registrou, de 21 de outubro de 1918 a 11 de janeiro de 1919 2420 mortes e o Departamento de Higiene do Rio Grande do Sul contabilizou naquele ano 30.219 falecimentos no Estado. Nos últimos três meses de 1918, aconteceram 12.811 óbitos, dos quais 5840 na Capital. Ainda segundo o Governo, 42% das mortes decorreram de moléstias transmissíveis.

Porém, passado o furacão, no início do verão de 1918/19, poucos queriam voltar os olhos às dores passadas. Epidemias vinham e iam, estar vivo e era o que contava e tentava-se a todo custo recuperar a alegria e o tempo perdidos. A gripe, todavia, ainda não morrera em definitivo. Depois de abandonar Porto Alegre e outras cidades às quais chegara de forma quase simultânea, dirigiu-se em seguida às localidades da Serra e lá fez mais uma nova legião de vítimas. Dela, contudo, já se falara muito, e a ordem era esquecer.

Dava-se início ao período de festas de final de ano. Alinhados no clube do Jocotó e centrados na figura do doutor Mário Totta – médico e bom vivant - com alívio redobrado, homens e mulheres da sociedade portoalegrense reencontrava-se agora nos elegantes saraus do arrabalde da Tristeza. Ali, à beira do Guaíba, embalados por orquestras típicas especialmente contratadas, em meio a barulhentas batalhas de confetes, poucos lembravam da epidemia que, sozinha e silenciosa, em menos de dois meses fizera mais vítimas do que todos os combates da Grande Guerra e causara a todos um prejuízo econômico dificilmente mensurável.

Em “Solo de Clarineta”- primeiro volume de suas memórias(1974), Érico Veríssimo recorda:


“Em 1918 a influenza espanhola atirou na cama mais da metade da população de Cruz Alta, matando algumas dezenas de pessoas. Não se dignou, porém, contaminar-me. Lembro-me da tristeza de nossas ruas quase desertas durante o tempo que durou a epidemia, e dos dias de calor daquele dramático novembro bochornoso. Era como se os próprios dias, as pedras, a cidade inteira estivessem amolentados pela febre. A escola achava-se em recesso e eu podia passar dias inteiros a ler romances.(...) Foi durante a influenza em 1918 que li pela primeira vez Eça de Queirós (Os Maias), Dostoiévski (Recordações da Casa dos Mortos e Crime e Castigo).(...) Passada a epidemia a cidade entrou em lânguida e trêmula convalescença.”


Tardiamente, quando tudo parecia encerrado, em janeiro de 1919, a “influenza hespanhola” faria a sua vítima mais ilustre em terras brasileiras: o presidente eleito Rodrigues Alves, que já havia exercido este mandato de 1902 a 1906, período em que incumbiu Osvaldo Cruz de sanear o Rio de Janeiro e livrá-lo da febre amarela, morreu justamente deste mal que vacina nenhuma conseguiu evitar e que em poucos meses matou mais do que todos os combates da Primeira Grande Guerra.

A Influenza Espanhola foi a última grande epidemia globalizada com altíssimo poder de contágio e mortandade da História mundial. Para a capital do Rio Grande do Sul teve, ao menos, um efeito benéfico – a partir daí passou-se a dar atenção à qualidade da água servida à população, com a construção de uma grande hidráulica ainda no governo de José Montaury.

segunda-feira, novembro 11, 2019

Luz del Fuego, uma das pioneiras do naturismo no Brasil


Hoje ela é pouco lembrada, até esquecida, mas nos anos quarenta e cinquenta uma mulher rica, culta e bonita chocava a sociedade conservadora da época com a sua nudez e o seu "naturismo" - a defesa de um estilo de vida natural que não excluía a luz dos holofotes e shows por todo o Brasil e até exterior. Nascida em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, com o nome de Dora Vivacqua, filha mulher de uma família capixaba rica e tradicional, a 21 de fevereiro de 1917, ela estaria hoje com 102 anos. Mas Luz del Fuego - nome artístico que adotou - foi assassinada no seu paraíso naturista, na Baía de Guanabara, em 19 de julho de 1967, aos 50 anos, juntamente com seu caseiro, sendo os dois corpos lançados ao mar. Os assassinos eram, supostamente, pescadores e pretendiam roubar a propriedade, embora um crime encomendado também tenha sido uma hipótese aventada - ela anunciou que estava escrevendo um livro, nomeando todos os seus amantes, muitos dos quais políticos e medalhões da sociedade.  
Apresentando-se nua, com uma grande serpente enrolada em seu corpo, Luz Del Fuego foi considerada uma "ameaça à sociedade" do seu tempo. Existencialista, defendia os direitos da mulher, a liberdade sexual e a livre expressão e denunciava os preconceitos sociais. Escreveu dois livros e foi tema de um documentário de 1954, A Nativa Solitária. Estranhamente poucos hoje lembram dela como uma das precursoras dos direitos da mulher - no mínimo uma grande injustiça. A reprodução é do Correio do Povo de maio de 1950, quando a musa existencialista tinha 33 anos.
Nani. A Charge Online.

A catarinense que foi a primeira miss brasileira eleita pelo Rio Grande do Sul






Quem a viu pessoalmente diz que era de uma beleza invulgar e estonteante (morena com olhos azuis esverdeados) no gênero Ava Gardner - se bem que um tanto tímida. O certo é que a primeira Miss Brasil gaúcha escolhida por um júri nasceu em São Francisco do Sul, no litoral catarinense e se mudou ainda pequena para o Rio Grande do Sul, Estado que representou no concurso Miss Brasil 1956, realizado no hotel Quitandinha, em Petrópolis, Rio de Janeiro, a 16 de junho.
Maria José Cardoso tinha apenas 21 anos de idade e estudava no Instituto de Belas Artes, em Porto Alegre, mas, para os mais íntimos, era tão somente a "Zezé da rua Vicente da Fontoura", em Petrópolis, onde pegava diariamente o bonde que a levava ao centro. Foi,aliás, como representante do Petrópole Tenis Clube que se elegeu Miss Porto Alegre;
Eleita Miss Brasil, depois de ter vencido o certame estadual, teve um retorno apoteótico a Porto Alegre, sendo recebida no aeroporto pelo prefeito Leonel Brizola e, ao término de um desfile em carro aberto que teve multidões a acompanhá-lo (inclusive na Rua da Praia), acenou para os gaúchos na sacada do Palácio Piratini - o governador Ildo Meneghetti estava a seu lado (por coincidência, a esposa de Meneghetti aniversariava naquele dia). 
Maria José Cardoso, a Zezé, não venceu o concurso Miss Universo daquele ano, mas chegou perto. Alguns atribuem o fato à sua timidez. As reproduções acima são da Revista do Globo da segunda quinzena de julho de 1956.

Aniversariantes do dia 11 de Novembro

Demi Moore faz 57 anos.

Leonardo Dicaprio faz 45.
Bruna Linzmeyer faz 27 anos.

Alexandre Garcia faz 79.

terça-feira, outubro 22, 2019

Tacho, no jornal NH, RS. A Charge Online.

Festival de Cinema de Gramado, em 1976, acontecia em pleno verão da Serra gaúcha



Pouca gente lembra, mas o Festival de Cinema Brasileiro de Gramado, no RS, já foi realizado em pleno verão, isso nos seus primórdios, nos anos setenta, como se vê nesta edição de número 4, em janeiro de 1976. Talvez com maior importância e glamour do que hoje, o Festival - naquela data - homenageou Grande Otelo, um dos maiores nomes do cinema, do teatro e da televisão brasileira. As reproduções são do Correio do Povo.

Montevidéu, uma cidade sem problemas, dizia a Revista do Globo em 1948



O Uruguai sempre fascinou os gaúchos, que dedicam ao país vizinho um especial apreço. No passado, a pequenina pátria platina encantava ainda mais, por ser uma nação próspera, ordeira e cuja população desfrutava de um alto nível de vida, a ponto do Uruguai ser chamado de "Suiça da América do Sul" - algo de certa forma exagerado, é verdade. Mas no distante ano de 1948, a Revista do Globo - um quinzenário com sede em Porto Alegre, editado pela livraria do Globo, e com razoável penetração nos demais Estados brasileiros - publicou esta reportagem sobre Montevidéu, dizendo ser "uma terra sem problemas". Tal como hoje, o turismo era um dos carros-chefes da economia "oriental", com destaque natural para Punta Del Este, já um grande e chique balneário que atraía quase 40 mil brasileiros durante o verão. O texto é de José Amádio, um dos jornalistas mais importantes do Brasil naquela época.

sexta-feira, outubro 18, 2019

Tramandaí em 1959

A Capital das Praias, como se autodenomina Tramandaí, estava longe de ser o que é hoje naquele distante janeiro de 1959 - 60 anos atrás. Mesmo assim, o balneário - tradicional havia décadas - já era um dos preferidos dos veranistas gaúchos, especialmente dos porto-alegrenses nos finais de semana, como se vê nesta foto que ilustra uma matéria a respeito publicada pela Revista do Globo em janeiro daquele último ano da década de 50. Carros, que hoje seriam cobiçados pelos colecionadores e aficcionados, estacionavam à beira das calçadas, aparentemente alheios ao perigo moderno dos furtos de veículos. Os homens e mulheres passeavam em pleno verão com calças compridas e saias, e os mais jovens preferiam, é claro, as lambretas.
Cazo, Comércio de Jahú, SP. A Charge Online.

sexta-feira, outubro 11, 2019

Trágico incidente no comício dos integralistas em Porto Alegre

Na noite de 9 de agosto de 1937 a capital gaúcha assistiu a um forte tiroteio por motivos políticos, quando um popular, talvez simpatizante do comunismo ou do socialismo, atirou contra participantes de um comício da Ação Integralista Brasileira dos "camisas-verdes". de Plínio Salgado Em uma época de forte radicalização política entre direita e esquerda, e quando a guerra civil espanhola matava milhares de pessoas, o Rio Grande do Sul não ficaria imune a tal estado de coisas. O tiroteio aconteceu na avenida Osvaldo Aranha e teve uma vítima fatal, como se vê nesta notícia. Note-se que, a 10 de novembro daquele ano, Getúlio anunciou a ditadura do Estado Novo e, no ano seguinte, os integralistas tentaram um golpe, no qual Vargas quase morreu.

quarta-feira, outubro 02, 2019

Táxi Aéreo Guarany ao seu dispor: 1949

No final da década de 40, logo depois do término da Segunda Grande Guerra, o Brasil era o segundo país em linhas aéreas em todo o mundo, chegando a ter mais de 60 empresas nessa área. Em tal época heroica da aviação os aviões eram pequenos, barulhentos e desconfortáveis, transportando muitas vezes quatro ou cinco passageiros em viagens perigosas e emocionantes que terminavam em precárias e quase impraticáveis pistas de pouso. Os acidentes eram muitos e os pilotos se orientavam por referências geográficas ou inscrições que as comunidades colocavam no alto das casas e dos prédios.
O Rio Grande do Sul, pioneiro na navegação aérea com a Varig, destacava-se neste aspecto. O aeroporto São João, atual Salgado Filho, movimentava uma média de 60 vôos diários, com aeronaves de grandes companhias e de pequenos táxis aéreos ou linhas regionais. Nesta reprodução do Correio do Povo de julho de 1949 vemos o anúncio da empresa Táxi Aéreo Guarani, que seguiria em "vôos especiais" para "qualquer lugar onde haja campo de pouso" - leia-se, locais de terra batida e nenhuma infraestrutura. Para a cidade de Estrela, por exemplo, a Guarany voava diariamente. T

quinta-feira, setembro 26, 2019

Aniversariantes do dia 26 de Setembro

Luis Fernando Veríssimo faz 83.
Gal Costa faz 74 anos.

Dan Stulbach faz 50 anos.

Linda Hamilton faz 63.

Olívia Newton-John faz 71.

Eduardo Tornaghi faz 68.

Serena Willians faz 38.

Leandro Hassum faz 46.

sexta-feira, setembro 13, 2019

Deu Pra Ti Anos Setenta estreia em Porto Alegre, 50 anos atrás

É, o tempo voa!... Já se passaram 40 anos desde que o espetáculo musical Deu Pra Ti Anos 70 estreou em Porto Alegre, naquele mês de dezembro de 1979. Estavam lá, jovenzinhos, o hoje sessenta Ney Lisboa e Augusto Licks, entre outros. Ainda se vivia o regime militar, Porto Alegre era uma cidade de 1 milhão de habitantes, com telefones públicos movidos a fichas, os discos eram os de vinil (long-plays e compactos) e havia poucas rádios FMs no Rio Grande do Sul. Deu Pra Ti depois se transformou em peça de teatro e - naqueles deliciosos tempos precários - teve sua divulgação feita com pichações escritas nos muros e fachadas da Capital. Foi um marco na despedida da década de setenta e no sonho de uma melhor que viria em seguida. A reprodução é do Correio do Povo.

segunda-feira, setembro 09, 2019

Aniversariantes do dia 9 de Setembro

Adam Sandler faz 53.

Ailton Graça faz 55.

Ana Carolina faz 45.

Daniel faz 51.

Neto faz 53.

Renato faz 57 anos.