Izabela Camargo faz 43 anos.Ronda Rousley faz 37.
Hoje Clark Gable faria 123 \boz.
Jardim Botânico, Porto Alegre. Fundado em 2006 por Vitor Minas. Email: vitorminas1@gmail.com
Neste momento em que eclodem rebeliões em penitenciárias de quase todos os Estados brasileiros - com destaque para o que aconteceu no Amazonas, com cerca de 60 mortos - vale a pena lembrar que o sistema prisional brasileiro sempre foi um horror, uma fábrica de criminosos, engrenagem que transforma, de dentro para fora, delinquentes comuns em terríveis assassinos - homens que perdem a humanidade e se bestializam por força do que vivenciam nessas "casos dos horrores". O Rio Grande do Sul nunca foi diferente. A antiga Casa de Correção, na Ponta do Gasômetro, era, na primeira metade do século 20, um dos presídios mais sórdidos do Brasil. Leia abaixo a republicação da matéria saída neste blog em anos anteriores.
Mike Freeman: "A pior cadeia do mundo". |
Major Aragón, o "incendiário" e vigarista, foi assassinado na Casa de Correção (foto da Revista do Globo) |
Nestes dias em que as chuvas, e a consequente possibilidade de novas enchentes, atormentam Porto Alegre e região metropolitana, nunca é demais lembrar que tal flagelo - as cheias do Guaíba - são um dilema que remonta aos primórdios da colonização da cidade e que tiveram seu ápice na primeira metade do século 20, quando as inundações desalojavam dezenas de milhares de pessoas e se constituíam no principal problema para a população e a economia porto-alegrense. Nestas reproduções, vê, em primeiro, a matéria do Correio do Povo de 1937 (um ano antes ocorrera uma cheia extraordinária) cujo título "infelicidade que não tem fim" bem representa a gravidade do problema. Na segunda foto, da Revista do Globo, aparece o Interventor Federal (governador nomeado), Osvaldo Cordeiro de Farias, em visita à fábrica da Renner, então o maior estabelecimento industrial do Estado. A Renner, em maio de 1941, durante a histórica cheia, ficou com quase dois metros de água em seus interiores e teve grande parte das partidas de lã destruídas.
Sou um fã um tanto descrente de todas as profecias e teorias da conspiração, inclusive, claro, das de Nostradamus, que acertou em quase tudo. Quase. Por exemplo, não acertou em predizer a pandemia mundial do Coronavírus, emboramente - como diria o prefeito de Sucupira - alguns, em fake news, tenham forçado a barra para dizer que o francês previu sim o acontecimento, em seus versos apocalípticos. Confesso que a cotação do profeta do caos caiu muito junto a mim por essa falha. Afinal, ele previu até a morte de Johnn Kennedy - bem menos impactante do que a pandemia (disse que o Lee Oswald era apenas o bode expiatório, e aí concordo com ele). Porém não prever a grande epidemia mundial é uma falha grave.
Devo ainda acreditar em Mostradamus (tudo bem, pode ter cochilado na hora da pajelança)? Sei lá, depois que o Luizito Soares chutou aquele pênalti para a Lua fico sempre com uma pulga atrás da orelha.
Florinda Bolkan foi uma celebridade nos anos setenta, para quem, por exemplo, lia revistas como Manchete, onde a atriz brasileira - que vivia e atuava na Itália - estampava páginas e mais páginas, sem contar dezenas de outras publicações. Cearense, bela e talentosa, ganhou por três vezes o prêmio Donatello, o Oscar italiano, e foi dirigida, entre outros, por Visconti. Sua amizade - ou caso de amor - com a Condessa Cicogna abriu-lhe muitas portas no jet-set internacional, o qual frequentou com desenvoltura por muito tempo. Hoje vive novamente no Brasil e já não atua mais como atriz. Injustamente esquecida, as novas gerações sequer sabem quem ela é, o que não surpreende em um país sem memória. Seja como for, Florinda foi um dos grandes nomes internacionais do mundo cinematográfico de origem brasileira, antes de Sônia Braga e de Gisele Bundchen. Nesta reprodução do Correio do Povo, de maio de 1971 noticia-se que Bolkan foi escolhida a melhor atriz da Itália naquele ano, por sua atuação em Anônimo Veneziano, de Salerno. Com ela foi premiada - como melhor atriz italiana - nada menos do que Monica Vitti.
Em 1976, e durante grande parte dos anos setenta, a Itália viveu um período de agitação e instabilidade política, com grupos de esquerda declarando guerra ao Estado. E pior que o Estado italiano, corrupto como sempre, também não era lá essas coisas em matéria de democracia, como se vê nesta nota publicada pelo Correio do Povo em janeiro de 76: Pasolini, um dos maiores diretores de cinema daquele país teve um de seus filmes proibidos para exibição - Os 120 Dias de Sodoma. Aliás, na Itália acontece de tudo, até Fellini - mas eles estão aí, como sempre, desde o império romano. Reprodução do Correio do Povo. Blog do Conselheiro X.
É, a vida não era mesmo fácil para os hippies naqueles inícios dos anos setenta. Considerados sujos, drogados, vadios e permissivos, eles - naqueles tempos de repressão política e também de costumes - passavam duras penas para fazer o que hoje se vê em qualquer esquina ou qualquer praia. Nesta matéria, reproduzida do Correio do Povo, um grupo de hippies de Nova Friburgo, na zona serrana do Estado do Rio, perseguidos e humilhados pela polícia, só pedem que os deixem trabalhar e viver em paz, como qualquer cidadão brasileira.
Joe Louis foi uma dos maiores pugilistas de todos os tempos, mantendo o título de campeão mundial dos pesos pesados por 12 anos. Em 1950, já com problemas financeiros, Louis excursionou pelo Brasil, onde realizou diversas lutas no Rio e em São Paulo (conta-se que teve um caso com a cantora e futura apresentadora de TV Hebe Camargo), mediante gordos cachês. Na metade do século XX os Estados Unidos viviam o seu regime de segregação racial, não muito diferente da África do Sul, e nem mesmo o campeão Joe Louis escapava disso, embora fosse famoso. O que ele talvez não esperasse é que, no Brasil, mais propriamente no Rio de Janeiro, o problema da discriminação racial também existia - e no seu nível mais alto. Depois de ser rejeitado em vários hotéis, o norte-americano acabou se hospedando em um modesto hotel carioca, já que, segundo ele, o Copacabana Palace não aceitava "pessoas de cor". Louis faleceu em 12 de abril de 1981, aos 66 anos, tendo sofrido com o vício da cocaína e as alucinações que se seguiam às crises. A reprodução acima é do Correio do Povo, coleção do Arquivo Histórico Moyses Vellinho, de Porto Alegre.
Quem quer que tenha nascido no interior do Rio Grande do Sul ou de outros Estados vizinhos sempre ouviu falar nas histórias dos "tiradores de sangue", espécies de vampiros que atacavam as crianças indefesas, geralmente a caminho da escola, e retiravam-lhes com seringa o sangue à força, ou depois de dopadas. Tais relatos - que muitos interpretavam como lendas rurais, inverossímeis até - de fato aconteceram e foram narrados pelos jornais da época, como nesta reprodução do Correio do Povo, de Porto Alegre, em abril de 1980. Naquela época ainda se comercializava sangue no Brasil e não havia uma política de saúde eficaz nesse sentido, o que tornava o comércio e o tráfico - geralmente com o plasma enviado para os Estados Unidos e Europa - algo muito rentável. Curiosamente, não se tem notícia de que nenhum de tais "vampiros" tivesse sido preso, o que certamente contribuiu para dar aos fatos verídicos um tom de lenda ou de histórias que os pais contam para disciplinar e amedrontar as crianças.
Com apenas 28 anos, mas já deputado estadual pelo Partido Trabalhista Brasileiro - do qual era uma das mais promissoras lideranças regionais - Leonel de Moura Brizola saiu na página social do Correio do Povo naquele dia 3 de março de 1950: dois dias antes o jovem político e engenheiro casara-se, em Porto Alegre, com Neusa Goulart Brizola, que vinha a ser irmã de João Goulart - futuro presidente do Brasil, deposto em 1964. Uma importante personalidade (na verdade, padrinho do enlace) se fez presente: Getúlio Vargas, também natural da terra da noiva, São Borja, onde vivia retirado na sua fazenda do Itu (localizada no município de Itaqui e não São Borja). O casal seguiu em viagem de lua-de-mel "para o Prata", como informou o CP. A reprodução é do Arquivo Histórico Municipal Moysés Vellinho.
Andar de bicicleta, hoje, é uma atividade corriqueira, especialmente em grandes cidades. Vista como uma alternativa sustentável e saudável frente ao poluente e agressivo automóvel, ela reúne grupos de ciclistas e aficcionados desse meio de transporte que, na primeira metade do século 20, era visto bem
Sempre considerei o caso do "japonês da Polícia Federal" emblemático e representativo dos absurdos do Brasil - país "de cabeça para baixo", frase, se não me engano do Tom Jobim (que, aliás, adorava o Brasil, mas não se deslumbrava com nada, só com os passarinhos). Nem precisava ser do Jobim, milhares antes já devem ter dito. Pois, anos depois de tantas aparições televisivas nas prisões cinematográficas da Operação Lava-Jato, fui procurar notícias a respeito de tal figura, sempre de óculos escuros, que se chama Newton Ishii e encontrei uma, de 2020, que informa ter sido ele condenado a pagar uma indenização de 200 mil reais por "facilitação de contrabando" no tempo em que era agente em Foz do Iguaçu, PR. Depois disso não se sabe mais da vida do sujeito - aposto, inclusive, que continua ganhando seus proventos como agente, vai saber.
O absurdo maior é que, já na época das aparições do japonês, ele já respondia a tal acusação, tanto que usava, vejam só, tornozeleira eletrônica. Ou seja, o cara que algemava os medalhões da roubalheira petista e seus cúmplices (não dar tempo do desgoverno atual chegar lá) portava outro objeto preso a parte inferior das pernas. Como ele foi escolhido para ser um dos expoentes fixos de tais operações é algo a se perguntar, assim como saber quem era o superior que o escolheu para tanto. Sempre coloco a divertida interrogação desse fato absurdo - um suspeito de ser bandido prendendo corruptos, um facilitador de contrabando algemando outros desonestos de alto nível, em operações espetaculares que todo o Brasil acompanhou pela telinha. Vá contar isso a um alemão, um inglês, um norte-americano, ou um japonês do Japão. Pensando bem, é melhor não contar.
Outra coisa surreal da nossa nação tupiniquim (a Justiça, no caso) envolve a Susane Richtofen, mentora da morte dos pais em SP (virou recente filme do glorioso cinema nacional), a qual gozava do benefício de sair do presídio no Dia das Mães e dos Pais - e saiu várias vezes, realmente. Agora, segundo sei, está em liberdade, cursando uma faculdade aí, depois de alguns anos de cana. Tais absurdos - o japonês da Federal e a Susane - deveriam se reunidos e fotografados para publicação na capa de alguma revista de humor, já que só o humor e o surrealismo explicam determinadas situações. Quanto ao Tom Jobim (e faz falta, em todos os sentidos), morreu bem antes de ver tais situações, mas deve estar rindo lá no túmulo e repetindo a frase "de cabeça para baixo", "de cabeça pra baixo". (V.M.)
Pouca gente sabe, mas a missão Apolo 11 - aquela que chegou à superfície lunar pela primeira vez, em julho de 1969 - tinha grandes possibilidades de acabar em tragédia. Conforme um memorando encontrado nos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos, por ocasião dos 30 anos da conquista da Lua, havia o temor de que os dois astronautas que colocaram os pés no solo do satélite terrestre, Armstrong e Aldrin, não conseguissem mais retornar para a Nave Mãe, que ficou orbitando no espaço, com Collins no comando. Se houvesse algum problema
com o módulo lunar Eagle (Águia), aquele que pousou na Lua com os dois astronautas e, duas horas e meia depois, voltou à nave principal, a ordem da Nasa é para que eles fossem abandonados na superfície lunar. Collins, então, deveria regressar à Terra, sozinho, já que não teria condições de efetuar uma missão de salvamento. Segundo os documentos, os três astronautas sabiam desse risco e estavam preparados para serem "heróis ou mártires".Nem faz tanto tempo assim - foi em 1994 que o sonho da Internet se tornou uma realidade plenamente possível para um jovem que era, então, considerado de certa maneira um "visionário": Bill Gates, um dos donos da Microsoft. O "biliovisionário" - conforme matéria da revista Veja - sonhava com uma rede de computadores "planetária", algo que até então parecia mais próprio dos filmes de ficção científica. A Internet chegaria ao Brasil no ano seguinte, de forma incipiente, e hoje é isso que aí está. Porém, na época, muitos especialistas achavam que Gates "pode estar dando um passo maior do que a perna."
Tempos atrás, quando alguém era morto a tiros, a imprensa, via de regra, noticiava que o sujeito tinha sido "abatido" - como se fosse boi em matadouro. Hoje é "executado", não muito melhor, mas pelo menos não é abate de animais, embora, como disse o Rogério Magri, ministro do imortal Sarney, cachorro, por exemplo, também seja ser humano. Ainda nesse capítulo, lá pelos anos oitenta, quando surgiram os tais "manuais de redação", ficou banida a palavra "falecido" das páginas dos diários. Os doutos da Folha de S.Paulo - o jornal da moda naquele tempo - decretaram que ninguém mais é falecido e sim "morto". Essa genialidade do léxico continua até hoje na imprensa brasileira, até mesmo nos obituários: ninguém mais falece. "Fulano de tal, morto ontem, aos 118 anos". Caramba. E agora quem não é "morto", geralmente corre "risco de morte", e não "risco de vida", o normal das normalistas. Perguntem ao professor Pasquale o que ele pensa disso.
Neste momento em que eclodem rebeliões em penitenciárias de quase todos os Estados brasileiros - com destaque para o que aconteceu no Amazonas, com cerca de 60 mortos - vale a pena lembrar que o sistema prisional brasileiro sempre foi um horror, uma fábrica de criminosos, engrenagem que transforma, de dentro para fora, delinquentes comuns em terríveis assassinos - homens que perdem a humanidade e se bestializam por força do que vivenciam nessas "casos dos horrores". O Rio Grande do Sul nunca foi diferente. A antiga Casa de Correção, na Ponta do Gasômetro, era, na primeira metade do século 20, um dos presídios mais sórdidos do Brasil. Leia abaixo a republicação da matéria saída neste blog em anos anteriores.
Mike Freeman: "A pior cadeia do mundo". |
Major Aragón, o "incendiário" e vigarista, foi assassinado na Casa de Correção (foto da Revista do Globo) |
Escuto rádio e gosto, mas não sou nada fã dos profissionais do microfone, os "radialistas", e nem é preconceito. É conceito mesmo. É um pessoal vaidoso, presunçoso, sem motivos (ganham mal) e que alguém já resumiu assim: cultura de superfície em boca de aluguel. Excluo todo o setor técnico e os repórteres, mas os que dão "opiniões" (com algumas exceções, como a do falecido Boechat e do Cláudio Zaidan) são de doer. Com a cultura de massa, se tornaram celebridades. Infelizmente, têm tempo demais para encher linguiça e dá no que dá. Se metem em tudo, as almas pigmeias. Aí lembro de um dos meus poetas prediletos, Augusto dos Anjos, quando fala em "almas pigmeias", em "toscas caixas cranianas", na "ambiência microbiana da baixeza" e, sobretudo, nas "línguas hidrófobas". Poderia acrescentar, da sua lavra, "o homem, engrenagem de vísceras vulgares" ou, mais radicalmente, como solução, "a utilidade fúnebre da corda". Hoje é um dia de sol em POA, estou bem humorado e não vou me reduzir "à herança miserável dos micróbios". Talvez eu seja uma flor "queimada pelo mormaço do sol da vida", ou: "profundissimamente hipocrondríaco, este ambiente me causa repugnância, sobe-me à boca uma ânsia análoga à ansia que escapa da boca de um cardíaco". Gênio, o Augusto dos Anjos, e morreu com apenas 30 anos.