Outro antigo morador do bairro (embora não tenha nascido aqui) é Rui Cintra, de 56 anos, dono de um pequeno bar nos fundos do Supermercado Gecepel, na Guilherme Alves. Suas lembranças remontam aos anos sessenta, quando o bairro era formado por casas de madeira, chácaras, plantações de agrião e de flores, a Guilherme Alves e a Barão do Amazonas eram ruas de chão batido, com esgotos a céu aberto que corriam livremente às margens das vias.
“A Guilherme Alves não tinha nem saída, ia-se até a Valparaíso e do outro lado era um banhadal. Em volta do riacho havia um monte de malocas e uma ponte de madeira que dava passagem para o Campo de São Pedro, que é hoje a Vila Cachorro Sentado”, conta ele, recordando que ainda se tomava banho e se pescava no Arroio Dilúvio, especialmente a montante, nas alturas de onde hoje é a PUC. “Lá existia uma ponte de madeira e famílias inteiras iam lá, passar o dia, tomar banho, tinha muita areia ali”.
Por essa época o local onde hoje está o Conjunto Residencial Felizardo Furtado existia a Chácara Nossa Senhora do Caravaggio, provida de uma pequena vertente, o chamado “parquinho”. Seu Rui recorda de muitas outras do mesmo tipo – a chácara do seu Zé, dos Pieretti, das Camélias. Acima, mais adiante havia o campo do Sul Brasil. Diferentemente de hoje, as ruas nem sempre levavam a outras ruas. “A Salvador França, por exemplo, só ia até a Felizardo, depois era mato, para se ir à Protásio se seguia pela Tibiriçá, onde hoje está o posto de gasolina do Darci”, afirma ele.
Em meados dos anos setenta, quando se iniciou a construção dos blocos residenciais, vieram milhares de trabalhadores, muitos deles provenientes do interior do Estado – e isso modificou totalmente a paisagem do bairro. “Antes todo mundo se conhecia e se cumprimentava, quando chegou essa turma mudou tudo, a rua Felizardo encheu de gente indo e vindo, virou quase uma rua da Praia”, rememora Rui.
Desse período merece destaque o bar da Dona Tida (da família dos “Bravos”), uma antiga moradora, já falecida, que adaptou a sua casa de madeira, na Felizardo (onde hoje está uma creche), e a transformou em bar e restaurante, com mesas de sinuca, venda de bebidas e refeições disputadas pelos trabalhadores da obra. “De vez em quando dava confusão ali”, informa. Já havia, então, o armazém dos Mocelin e, mais adiante, na esquina com a Barão, o do seu Alécio. Para aumentar a renda, aproveitando a vastidão dos terrenos, algumas famílias faziam puxados e alugavam pequenas peças que serviam de moradia os trabalhadores.
ANOS SESSENTA – Quem viajasse no tempo e retornasse aos anos sessenta e início dos setenta no Jardim Botânico encontraria um bairro quase rural, com um reduzido número de prédios e estabelecimentos comerciais. Já havia, é certo, um posto de gasolina na Barão com a Valparaíso (continua a existir) e também uma padaria (Barão com Felizardo), no mesmo local e no mesmo prédio em que há uma hoje. “Do outro lado, na Felizardo, havia um campinho de futebol, muito usado pela turma dos Bancários”, recorda seu Rui. “Na esquina da Barão com a Itaboraí havia o comércio do seu Antonio, relativamente forte. Tinha também o seu Edu e dona Maria. E onde hoje está o Bora-Bora era um terreno, um comércio onde se fazia argamassa que muita gente vinha buscar de carroças. Do outro lado era um comércio forte, o armazém do seu Caboclo.
Uma curiosa indústria que existia na época tinha muito a ver com o bairro – uma fábrica de artefatos para cavalos e carroceiros localizada na Guilherme, defronte à atual igreja de São Luís, e que produzia não somente carroças como ferraduras. “Era do seu Lúcio. Ele era, por assim dizer, o industrial da ferradura e se dava bem porque aqui tinha muito carroceiro e muitos cavalos. Tinha vários empregados e foi a nossa primeira montadora, muito antes da GM”, recorda, divertido, seu Rui.
Nesse mundo tão pequeno, o lazer era igualmente simples. “Na Semana Santa se passava filmes em um bar da Valparaíso com a Salvador, se colocava um grande pano branco na parede e todo mundo se reunia para assistir filmes religiosos”. Os cinemas mais próximos eram o Ritz, o Miramar e o Brasil, este último próximo ao Partenon Tênis Clube, onde atualmente está um posto de gasolina.
Por essa época o local onde hoje está o Conjunto Residencial Felizardo Furtado existia a Chácara Nossa Senhora do Caravaggio, provida de uma pequena vertente, o chamado “parquinho”. Seu Rui recorda de muitas outras do mesmo tipo – a chácara do seu Zé, dos Pieretti, das Camélias. Acima, mais adiante havia o campo do Sul Brasil. Diferentemente de hoje, as ruas nem sempre levavam a outras ruas. “A Salvador França, por exemplo, só ia até a Felizardo, depois era mato, para se ir à Protásio se seguia pela Tibiriçá, onde hoje está o posto de gasolina do Darci”, afirma ele.
Em meados dos anos setenta, quando se iniciou a construção dos blocos residenciais, vieram milhares de trabalhadores, muitos deles provenientes do interior do Estado – e isso modificou totalmente a paisagem do bairro. “Antes todo mundo se conhecia e se cumprimentava, quando chegou essa turma mudou tudo, a rua Felizardo encheu de gente indo e vindo, virou quase uma rua da Praia”, rememora Rui.
Desse período merece destaque o bar da Dona Tida (da família dos “Bravos”), uma antiga moradora, já falecida, que adaptou a sua casa de madeira, na Felizardo (onde hoje está uma creche), e a transformou em bar e restaurante, com mesas de sinuca, venda de bebidas e refeições disputadas pelos trabalhadores da obra. “De vez em quando dava confusão ali”, informa. Já havia, então, o armazém dos Mocelin e, mais adiante, na esquina com a Barão, o do seu Alécio. Para aumentar a renda, aproveitando a vastidão dos terrenos, algumas famílias faziam puxados e alugavam pequenas peças que serviam de moradia os trabalhadores.
ANOS SESSENTA – Quem viajasse no tempo e retornasse aos anos sessenta e início dos setenta no Jardim Botânico encontraria um bairro quase rural, com um reduzido número de prédios e estabelecimentos comerciais. Já havia, é certo, um posto de gasolina na Barão com a Valparaíso (continua a existir) e também uma padaria (Barão com Felizardo), no mesmo local e no mesmo prédio em que há uma hoje. “Do outro lado, na Felizardo, havia um campinho de futebol, muito usado pela turma dos Bancários”, recorda seu Rui. “Na esquina da Barão com a Itaboraí havia o comércio do seu Antonio, relativamente forte. Tinha também o seu Edu e dona Maria. E onde hoje está o Bora-Bora era um terreno, um comércio onde se fazia argamassa que muita gente vinha buscar de carroças. Do outro lado era um comércio forte, o armazém do seu Caboclo.
Uma curiosa indústria que existia na época tinha muito a ver com o bairro – uma fábrica de artefatos para cavalos e carroceiros localizada na Guilherme, defronte à atual igreja de São Luís, e que produzia não somente carroças como ferraduras. “Era do seu Lúcio. Ele era, por assim dizer, o industrial da ferradura e se dava bem porque aqui tinha muito carroceiro e muitos cavalos. Tinha vários empregados e foi a nossa primeira montadora, muito antes da GM”, recorda, divertido, seu Rui.
Nesse mundo tão pequeno, o lazer era igualmente simples. “Na Semana Santa se passava filmes em um bar da Valparaíso com a Salvador, se colocava um grande pano branco na parede e todo mundo se reunia para assistir filmes religiosos”. Os cinemas mais próximos eram o Ritz, o Miramar e o Brasil, este último próximo ao Partenon Tênis Clube, onde atualmente está um posto de gasolina.