Plínio Marcos, autor de Dois Perdidos em uma Noite Suja |
Ainda hoje - e sempre - os estudantes de Jornalismo das tantas faculdades de Comunicação do Brasil - com a imaturidade e a insegurança própria da pouca idade, ficam deslumbrados com os grandes medalhões da imprensa tupiniquim, quando não são de direita, claro, ou quando seguem a cartilha do que os seus professores dizem.
Também fui assim, pois também tive 19, 20 ou mais anos, idade que ninguém merece. Conheci, por essa época, o Plínio Marcos (ele, mesmo ganhando uma bela grana na época, fazia questão de se mostrar ostensivamente com um dente a menos à plena vista, talvez uma espécie de troféu por ser tachado "maldito") e o Hélio Fernandes, jornalista e irmão do Millor - o Plínio, anos depois, encontrei na frente de um cinema, em São Paulo vendendo seus livros, e aí até que gostei).
Mas havia um, no final dos anos setenta - quando comecei, digamos, a ser gente - e nos oitenta que era uma quase unanimidade entre essa garotada. Chamava-se (e chama-se ainda) Mino Carta, o italiano que veio para o Brasil, foi editor da Veja na fase mais braba da ditadura, resistindo sempre e publicando matérias desafiadoras ao regime. Mino era, por assim dizer, um exemplo da "boa imprensa", da "resistência à ditadura", entre tantas apregoadas qualidades. Também era um coroa boa pinta, o que conta muito para as estudantes das PUCs da vida. Pois um dia o PT e o Lula chegaram ao poder e, como se sabe, fizeram todos os disparates que hoje sabemos, prostituiram-se, traíram seus ideais e, óbvio, esqueceram da "nova política" em oposição ao "toma lá-dá cá". O Mino, que saíra da Veja, fundara a Istoé e depois a Carta Capital, nunca - mesmo com todas as evidências - sequer fez uma crítica ao que se tornara o PT e Lula. Pelo contrário, passou a atacar seus adversários e críticos com grande virulência e ferocidade. Assim como o Chico Buarque, transformou-se em fiel escudeiro do sistema que já se demonstrara podre e corrupto. Naturalmente, aos poucos, a sua máscara foi caindo - ele até se beneficiou financeiramente do novo regime. Sendo alguém que preza, acima de tudo, a autocrítica, decepcionei-me e até me irritei com ele ao ponto de jogá-lo na lata do lixo da história da imprensa.
Outro que fazia trotoá nas faculdades, dando palestras e "debates" com estudantes imberbes foi o Pedro Bial, jornalista inteligente e com qualidades, sem dúvida, mas com suas distorções e interesses pessoais, mostrando-se, assim como o Mino, pouco confiável e pouco coerente. Um exemplo disso é ele, Bial, funcionário e medalhão da Globo, ter escrito uma biografia do Roberto Marinho, na qual a personagem - para dizer o mínimo - é colocada com grande e intrépida figura - talvez seja mesmo, em certos aspectos, mas aí é outra história. Na real, não sei bem o que ele queria com isso, não sei mesmo. Dinheiro acho que não era, embora o livro tenha sido patrocinado. E dinheiro ele já tem bastante, embora essa gente sempre queira mais. Aí, no cerne da questão, eu te pergunto: será que ele queria estabilidade total de emprego, ad eternum? Naturalmente ninguém da Globo vai demitir quem fez tantos elogios ao histórico Big Boss da Vênus platinada. Não sei, com sinceridade, mas duvido que alguém vá mandar embora um cara assim, Bial está aí, com seu programa de entrevistas, e o Mino Carta, com mais de oitenta, também está na ativa. Mas já não enganam mais - pelo menos a mim.(V.M.)