sábado, junho 27, 2020

Contra as vacinas e a chegada do homem à Lua

Onooda ao se entregar, em 1974, nas Filipinas.
A propósito desses caras que negam os efeitos imunizadores das vacinas (não só negam como as condenam), dos malucos terraplanistas e dos sujeitos que acham que a COVIT-19 é uma gripezinha, lembrei do Pato, um tipo simplório e meio patusco que vivia na cidade onde passei a minha adolescência, na região Celeiro, interior do RS.
Pato, como o apelido indica, era bundudo, de pernas curtas e caminhava como os patos verdadeiros, a exemplo dos seus irmãos, integrantes da numerosa prole patusca. Nos anos setenta - tempos jurássicos - as emissoras de rádio FM já existiam, mas em pequena quantidade, quase todas em Porto Alegre. E a nossa simpática urbe de menos de cinco mil habitantes (sequer contava com alguma emissora AM) só conhecia de fato as frequências moduladas quem tivesse viajado para a Capital.  Nosso amigo, no caso, nunca saíra dali e seu horizonte geográfico estendia-se, no máximo, a uns cem quilômetros à volta.
Eu, estudante na quase grande cidade, uma noite falei-lhe das FMs e da qualidade maravilhosa daquele som, o futuro das transmissões, a modernidade tecnológica. Pato, um cético que temia cair nas "atochadas" dos outros e fazer papel de otário, riu, incrédulo. Aliás, fez pouco caso: "Como é que é? FM?" Normal: no seu aparelho de rádio não "aparecia" o som de FM alguma, portanto isso não existia. 
Tais tipos, que precisam ver para crer, desprezando qualquer outra forma de conhecimento, são inúmeros na história da Humanidade. O caso mais conhecido talvez seja o daquele soldado japonês que negou-se a acreditar na rendição do seu País na Segunda Guerra Mundial. Escondido nas selvas das Filipinas, continuou a lutar, considerando que os panfletos que os aviões norte-americanos lançavam do ar eram simples contrapropaganda dos aliados, fake news - isso já acontecera antes. 
Chamava-se Hiroo Onoda, um subtenente do exército imperial, treinado em atividades de espionagem e guerrilha. Durante 30 anos, na remota Lubang, viveu de caça e da pilhagem dos nativos locais, dos quais matou mais de 30 com seu fuzil - este funcionou perfeitamente o tempo todo naquela ilha chuvosa. Dormia em cavernas e atirava contra os aviões que passavam ao alto.
Um jornalista japonês ouvira relatos a respeito e foi lá, em busca e uma boa história. Conseguiu contatar o rebelde - só ele sobrevivera, dentre quase 300 companheiros. Finalmente levado a acreditar que o Japão havia perdido a guerra, o combatente aceitou render-se, porém apenas na presença do seu oficial superior - que, por sorte, estava vivo e foi lá convencê-lo. Em 1974 Onoda entregou sua espada e seu fuzil ao então presidente das Filipinas, Ferdinando Marcos - uma publicidade e tanto para o velho ditador. No Japão o Rambo nipônico tornou-se herói  nacional e disputado palestrante. Um dia, cansado de tanto auê, preferiu aceitar o convite de um seu irmão, que morava no Brasil, e tornou-se também agricultor em Goiás. Anos depois retornou em definitivo para sua terra natal, onde morreu em 2014, aos 91 anos, dos quais 14 no Brasil
Quanto ao Pato, nunca mais soube dele, se está vivo ou não. Fiquei sabendo depois que ele também não acreditava na chegada do homem à Lua, outra fake news para enganá-lo. Certamente, nos tempos atuais, seria um terraplanista de estirpe olavista e talvez avistasse um comunista vacinado escondido embaixo da cama. 

sexta-feira, junho 26, 2020

Elvis e os tempos modernos



Elvis Presley morreu no dia 16 de agosto de 1977, quando eu tinha 16 anos e morava em uma minúscula cidade do interior gaúcho - e Elvis tem um significado jornalístico e profissional para mim: foi em sua homenagem, digamos assim, que escrevi o meu primeiro artigo publicado, no jornal semanal da cidade. Fiquei orgulhoso daquilo, claro, e nem lembro das besteiras e clichês que redigi na minha máquina Olivetti (sempre fui fã da Olivetti italiana). Sequer guardei o artigo, como não guardo material nenhum do passado. Esses tempos joguei tudo no lixo, pois tenho características de acumulador compulsivo, pero no mucho. Assim mandei às favas o passado. Ou como diz aquela propaganda, me desapeguei.
Vejo muitos documentários, dos quais sempre gostei, e vejo ainda mais nestes tempos de peste. Um bom documentário sobre Elvis que assisti no Youtube explica porque o cara morreu tão jovem, aos 42 anos de idade, em sua Mansão no Menphis, Tenesse (dizem que a mansão não era tão mansão assim). Ele media cerca de 1,80 metro e tinha mais de 100 quilos de peso. Pudera: tipicamente americano, se entupia de toda sorte de porcarias gordurosas - xis, sanduíches pantuagrélicos, etc. Não bebia e nem fumava porém - tampouco usava maconha, heroína ou cocaína. Mas, em compensação, vítima da fama e da ansiedade, consumia medicamentos controlados de tarja preta que alguns médicos subservientes precreviam a seu pedido. Afinal, ele era Elvis, o Rei do Rock.
Elvis trocava o dia pela noite - dormia o dia inteiro e passava as noites em claro. Não estava multimilionário, como todos pensavam: na verdade só tinha um milhão de dólares na conta (a moeda americana, naquela época, valia bem mais que hoje, mesmo assim era pouco), pois quase toda a sua receita com a venda de discos ficava com o seu empresário, o Coronel Parker. Ele então se preparava para uma grande turnê, para arrecadar grana. Curiosamente, ídolo mundial, Elvis só fez shows no seu próprio país, no Canadá e no Havaí, que é um Estado americano. Nunca veio à América do Sul. 
Sofria de ansiedade, stress e depressão, agravada pela morte da mãe, que ele adorava, e pelo fato de ter levado um chute na bunda da sua mulher, Priscylla, que arranjou outro cara - um professor de karatê, se não me engano. Isso afetou o seu orgulho de macho. Na fase final, estava totalmente dependente das drogas controladas, que ingeria para poder dormir e, ao acordar, para se manter desperto. Era também um pai carinhoso e um amigo especular para os seus amigos ou simples conhecidos: dava Cadillacs em profusão, como se dá banana. Pagava todas as despesas médicas dos outros e não regateava ao agradá-los. Em suma, um homem generoso. Segundo depoimentos de todos, não era arrogante ou mandão, não dava gritos e nem exigia privilégio - tinha dinheiro para os comprar. Igualmente não era dado a crises de estrelismo - ou seja, tinha noção do ridículo. 
Na sua autópsia (não, ele não fugiu para a Patagônia, onde teria se tornado um fazendeiro) constataram que seu fígado estava com o dobro do peso normal, com esteatose - acúmulo de gorduras. Como não bebia (dizem que tinha horror à bebida por seu pai ter sido alcóolatra e por observar como as pessoas se modificam depois de uns drinques), o fato é explicado por ser um glutão que comia as coisas erradas. Uma mulher, secretária sua ou coisa assim, afirmou que nenhum filme ou foto fez justiça à sua extraordinária beleza e ao seu sorriso. 
Presley morreu aos 42 anos, caído no chão do banheiro, chapado de medicamentos, asfixiado pelo próprio vômito. O próximo mês de agosto marca os 43 anos da sua morte e, em dezembro, os 40 da de John Lennon - figura bem mais teatral mas igualmente talentosa, símbolo de um tempo que não volta mais: aquele em que figuras de fama planetária, como ele, andavam sem seguranças (Elvis mantinha alguns). Outra coisa descoberta pelos legistas: ele tinha os cabelos totalmente brancos e os pintava de preto. Não eram grisalhos e sim brancos como a neve, talvez efeito da genética ou do estresse.
Outra coisa - sinal dos tempos:Lennon, no dia da sua morte, assassinado na frente do edifício Dakota, em NY, estava absolutamente sozinho e sem proteção de seguranças. Hoje qualquer desses cantorzinhos brasileiros de quinta categoria, que não servem nem para lavar os pés do Elvis ou do Lennon, não saem às ruas sem um batalhão de seguranças a protegê-los, ou simplesmente para tirar onda e mostrar status e riqueza. Pior, agora, com a pandemia e o isolamento social, estão todos frajolas, mostrando aos sites e às revistas a intimidade luxuosa das suas mansões. Creio que o precursor disto foi o Teixeirinha, cujas capas de disco o colocavam ao lado dos carros mais caros da época, o fenômeno do novo-rico. 
Teixeirinha, como Elvis, também levou um chute na bunda da sua mulher, Mary, e morreu aos 58 ou 59 anos de idade. Mas, ao contrário do Rei do Rock, não tinha noção do ridículo - ou seja, pode ser considerado um dos padroeiros da vulgaridade destes tempos modernos e medíocres.

quarta-feira, junho 24, 2020

A ambiência microbiana da baixeza e a contingência orgânica do sexo

Houve um tempo, não tão distante assim, em que gente do povão, sem instrução formal - autodidatas ou quase isto, na verdade - gostavam de ler poesias e até romances. Sapateiros, cobradores de ônibus, amoladores de faca, vigias, peões, serventes de obras, porteiros - encontrei alguns exemplares dessa comovedora estirpe de pessoas do chamado baixo escalão social muitas vezes, em um bar qualquer - geralmente um pé-sujo de alguma esquina de uma pequena ou grande cidade, quase sempre homens de meia idade ou já curtindo a velhice 
Em todas as ocasiões, lembro o seguinte: depois de algumas biritas, com o sentimentalismo amistoso do povo brasileiro - afinal, dizem os estrangeiros que somos mesmo um povo cordial (talvez eles é que sejam grosseiros demais) - e após já termos estabelecido relação de camaradagem (me identificavam com um cara "inteligente", e vá que sou quase isso mesmo). Então, lá pelas tantas, quase com saudosismo do que poderiam ter sido e não foram, passavam a falar dos livros que haviam lido - poesia, romance. Poucos, claro, todavia obras literárias que os marcaram e dos quais eram capazes, vejam só, de recitar trechos inteiros. 
Em um bar aqui do Partenon, bairro vizinho, fui amigo do seu Manoel - ex-brigadiano que sofreu um AVC, pessoa inteligente, vindo da fronteira. Pois o seu Manoel, tomando a sua cachacinha diária, me falava com entusiasmo de ninguém menos que Hemingway, do qual tinha lido a novela O Velho e O Mar. Ele amava esse livro. 
Não era cascata sua e, tenho certeza absoluta, não tentava me impressionar e nem tinha porquê: citava inclusive o nome do pescador Santiago, considerado azarado e azarento, pois há uns 40 dias não pescava mais nenhum peixe, da sua luta para dominar e trazer ao porto o gigantesco marlin, ou peixe-espada, sei lá - no final, os tubarões comeram tudo e ficou só a carcaça, porém o velho Santiago mostrou a todos em volta sua fibra e perseverança (é o que os críticos depois chamaram, a propósito dos personagens de Hemingway, a "vitória na derrota"). 
Na fronteira também conheci um sujeito, meio trambiqueiro, meio contrabandista - pai de um ex-amigo meu - que igualmente havia lido O Velho e o Mar, e também adorara a história, tal como o seu Manoel. Creio que, para um escritor, ter a honra de ser lido e citado por alguém do povão, num distante boteco de um país semibárbaro e quase analfabeto chamado Brasil, já paga o esforço de escrever.
Outro escritor brasileiro que ainda tem uma escondida e fiel legião de leitores, gente da antiga, é o chamado Poeta da Morte, o paraibano
Augusto dos Anjos, um gênio indiscutível morreu no início do século passado em Minas, onde era professor, aos 30 anos, de pneumonia. É impossível, para quem o leu, esquecer os versos e rimas mórbidos e desconcertantes do seu único livro - Eu.
Esses dias critiquei um amigo meu, indivíduo boca grande, dizendo que ele tinha uma "língua hidrófoba" - pois é, citei Augusto dos Anjos, ipsis literis. O poeta que também falava na "ambiência microbiana da baixeza", "contingência orgânica do sexo", "esforço ultraepilético", etc, e dizia: "Há mais filosofia neste meu escarro que em toda moral do cristianismo". Genial. 
Augusto dos Anjos era um pessimista, um mórbido fixado na putrefação do corpo, nas doenças, na morte, na decadência e no trágico destino humano: "Estás velho, de vós o mundo é farto, e hoje que a sociedade vos enxota, somente as bruxas negras da derrota frequentam diariamente vosso quarto." 
As mais conhecidas frases dele - já de domínio público - são "a mão que afaga é a mesma que apedreja" e "o beijo é a véspera do escarro".
Taí uma leitura bem condizente com estes tempos de pandemia. Melhor: ouçam o Áudiolivro no Youtube, pois o cara é daqueles poetas que merecem ser lidos em voz alta. Só não façam isso na hora do almoço, almas pigméias, que o estômago pode regurgitar em vossos corpos putrefatos.

terça-feira, junho 23, 2020

A traição de Capitu em áudiolivro


Capitu traiu ou não traiu? A pergunta me espanta, ainda mais agora que reli - ou melhor, ouvi - a obra-prima de Machado de Assis, escritor que cada vez é mais valorizado, inclusive em outros países, e merecidamente.
O espanto é mais do que justificável, pois tá na cara que a linda e enigmática mulher de "olhos oblíquos e dissimulados", "olhos de mormaço", realmente era amante de Escobar, e que o filho dela com Bentinho, no caso, o corno - perdoem a expressão chula - da história na verdade era filho de Escobar: era até parecidísimo com a filha do maior amigo do Bentinho com a melhor amiga de Capitu, com quem se casou - os dois casais tornaram-se inseparáveis. Por experiência, sei no que isso vai dar. O garoto também tinha os olhos e os trejeitos do amante da sua mãe. O "insight" da vítima veio durante o velório de Escobar, que morreu afogado na praia.
Na verdade, Bentinho - que depois, fechado e meditabundo, passou a ser chamado por todos de Dom Casmurro - foi o último a saber. A própria mãe dele passou em certo momento a tratar Capitu com frieza, quase hostilidade: ela já sabia. A vizinhança, tudo indica, também sabia. Só o Bentinho, coitado, é que não.
Li Dom Casmurro faz muito tempo, e já não me recordava de muitos trechos. Por estes dias, usando um recurso maravilhoso dos ultrajantes tempos tecnológicos em que vivemos, o Áudiobook, ou Áudiolivro, tirei qualquer dúvida sobre a atitude de Capitu. Portanto, essa discussão sobre a traição ou não de Capitu me parece pedantismo, assunto masturbatório para intelectuais presunços ou críticos literários sem ter mais o que fazer. Capitolina (que nome, hein), a Capitu, deveria ser usada como exemplo das complexidades das relações de casais e da psicologia e das reações à traição conjugal e traição cínica aos amigos.
Uma dica despretensiosa e talvez redudante: ler é bom, mas também gasta as vistas. O audiolivro, de boa qualidade sonora (e a maioria o é) é gostosamente prático - você pode ler com os ouvidos enquanto lava louça, limpa a casa ou toma banho.
Machado, dizem, era feio e talvez não tenha tido muitas mulheres (vai saber...), porém entendia delas como poucos, bem ao contrário de Lima Barreto, que jamais conheceu ou teve um grande amor que não fosse a bebida que o matou no início da meia idade. Há muita traição conjugal nas histórias do Bruxo do Cosme Velho, com seu sarcasmo e senso de humor.
No conto A Cartomante, de Machado, outro cara que metia chifres (desculpem de novo o impoliticamente correto) no seu maior amigo recebe deste uma carta em que pede que vá a sua casa. Com a pulga atrás da orelha, o sujeito vai, mas antes pára (continuo com a velha grafia) na casa de uma cartomante italiana situada no meio da estrada. Ele, que era cético, faz isso, consultar a vidente indicada por sua amante, por curiosidade ou sabe-se lá o quê. A mulher, claro, "adivinha" que o problema é de amor. Depois de jogar as cartas, diz que não se preocupasse, que tudo iria dar certo. Confiante o rapaz chega à casa do amigo e a primeira coisa que vê, ainda na varanda, é a mulher caída em uma poça de sangue e o marido e amigo traído com um revólver na mão. Contrariando as cartas, que nunca mentem, levou - como dizem os policiais - um "projetil" na cara", encerrando a questão.

domingo, junho 21, 2020

Menino, não verás país como ese...

Visão dos estragos em Kobe, no Japão, depois do grande terremoto de 1995.
Quem não viu o que foram as comemorações pela conquista do Tri no México, em 70 - que justamente hoje completa meio século (el tiempo pasa, siempre!) - não viu nada. Foi uma euforia coletiva, um delírio popular, pois "a taça do mundo é nossa" - desta vez em definitivo a Jules Rimet ficava em solo brasileiro. Naquele tempo quem conquistasse três títulos mundiais ficaria com o troféu mais cobiçado do futebol. A conquista, entre outras coisas, deu origem à expressão "tri", usada até hoje pelos gaúchos (que tinham o gremista Everaldo no escrete canarinho).
Eu tinha nove anos e lembro da caravana de carros e dos buzinaços na minúscula cidadezinha onde morávamos (na verdade morávamos no Posto Indígena, mas lá não havia eletricidade e nem tínhamos televisão, algo caro para a época). Em 1994, quando o Brasil levou o Tetra, depois de um longo e torturante jejum, minha filha também tinha nove anos, e lembro do olhar maravilhado seu ao ver o buzinaço pela avenida Ipiranga, em POA. Certamente ela não esqueceu daquilo.
Falei na taça Jules Rimet, que foi orgulhosamente trazida para o Brasil e exibida pelo capitão Carlos Alberto Torres. Por supuesto, era então o símbolo maior da brasilidade vencedora, do "brasileiro não há quem possa", no tempo do tal Milagre Econômico que mal iniciara e durou uns quatro anos, depois veio a crise do petróleo e tudo foi pelos ares. Exibida em uma redoma de vidro (ou outro material qualquer) na sede da CBF a Jules foi roubada no início dos anos 80, em um episódio misterioso cujo inquérito nunca chegou a uma conclusão convicente. Isso até virou filme, com o pessoal do Casseta e Planeta.
Pois é, e não é que roubaram a taça Jules Rimet e, segundo se diz, derreteram-na para extrair o ouro ali contido, o que até hoje me faz repetir aquela frase de não sei quem: Menino, não verás país como este... Historio este ato sumamente patriótico e o comparo às outras nações (as exemplares, se é que existem), de como reagem às cíclicas calamidades naturais (não é o caso deste roubo, claro).
No Japão, por exemplo, durante o grande terremoto de 1995, com epicentro em Kobe, o qual matou milhares de pessoas, os membros da Yakuza - a máfia japonesa - saíram às ruas com caminhões lotados de alimentos, distribuindo-os aos compatrícios flagelados. Tal atitude demonstra, no mínimo, o fato dos bandidos de lá (o PCC não distribui donativos, pelo que eu saiba)  - vejam só - serem solidários e patrióticos nas horas de crise, e acho que, por escrúpulos e vergonha (eles têm disso, vejam só) não roubariam e derreteriam o símbolo físico das proezas do nosso futebol, e quem fizesse isso seria obrigado a praticar o harakiri.
Esses dias também li que na África do Sul as gangues da Cidade do Cabo deixaram por momentos as diferenças de lado e, ombro a ombro, passaram a doar publicamente mantimentos às vítimas da pandemia. Aqui os figurões do regime, igualmente ou mais mafiosos, com milhões roubados da nação, ainda entram no programa do Auxílio Emergencial em busca de 600 reais. Realmente, com brasileiro não há quem possa e a taça do mundo não mais é nossa.