sábado, maio 31, 2014

sexta-feira, maio 30, 2014

O trânsito de Porto Alegre é um espetáculo anárquico, triste e perigoso

Porto Alegre faz toscas maquiagens para receber os milhares de turistas que aqui aparecerão durante os dias da Copa do Mundo que se aproximam. Uma pintura aqui, uma placa lá, uma calçada modernizada mais adiante, um bar que muda a fachada e o cardápio, gramas aparadas nos canteiros da avenida Ipiranga, muita polícia nas ruas e avenidas principais.
Mas a capital gaúcha, em que conte algumas inegáveis qualidades, é uma cidade provinciana e isolada cujas autoridades e população ruminam a sua bovina e plácida satisfação conformista. Um lugarejo conservador e um tanto sonolento e inodoro: aqui ninguém quer ultrapassar os sinais, ir muito adiante, propor modificações maiores. Digamos, um clube restrito e de regras tácitas, uma espécie de Portugal salazarista, uma Espanha franquista na qual não se quer mudar a posição dos móveis e nem sequer trocar os mais usados ou avariados, até porque dá trabalho. Quem faz isso acaba se dando mal e é ou ignorado ou hostilizado, com o surgimento de grupos radicais, discursos e ofensas pessoais.
Fala-se no espetáculo da Copa e de tudo o que ela representa. A palavra legado - que nem o Felipão sabia o que era conforme demonstrou na televisão - talvez seja representada pelo grande número de obras inacabadas locais e pelo transtorno dos ônibus urbanos que passaram a mudar drasticamente seu itinerário devido à obstrução das ruas e avenidas nos últimos meses. Em termos coletivos e públicos, não é muito mais do que isso. Até o tal metrô, que se falou tanto há pouco tempo, já foi inteiramente esquecido por todos, nem se fala mais nele. Pior ainda: nem sequer se falou na despoluição do arroio Dilúvio e nem na cloaca do rio Guaíba, como se fazia nos anos setenta, o que talvez fosse querer muito, já que somos um povo pouco imaginativo.
Mas há algo em que deveremos, sem sombra de dúvida, surpreender os visitantes de países ditos de primeiro mundo - o nosso trânsito, a nossa "mobilidade urbana", como gostam de dizer. 
A Espanha tem as suas touradas sangrentas e vibrantes, herança "cultural", mas nós, gaúchos e porto-alegrenses, temos bem mais do que isso - temos o nosso trânsito, a peculiar riqueza humana do nosso trãnsito. E que trânsito, torcida brasileira, que trânsito!... O mais espantoso e medieval trânsito de todo o Brasil (alguém contestará?), onde os motoristas, novos e velhos, homens e mulheres, dirigindo como loucos, não respeitam pedestres, sinais de parar, faixas de segurança, nada. Uma gente que, no momento em que passa a pilotar um veículo motor, seja ele carro, caminhão, ônibus ou moto, se julga o destemido e invencível centauro dos pampas, um lanceiro vingador e inatingível enrolado na bandeira do Rio Grande, investindo contra o inimigo, na certeza da vitória prometida.
Sem querer me vangloriar da pretensa qualidade, mas sou um inveterado, ainda que inócuo e inútil, pesquisador das atualidades do passado, de antigos jornais e revistas, especialmente as da nossa província. Ou seja, procuro ter memória, mesmo daquilo que não vivi. E nisso, nas páginas amarelecidas e dormidas que retratam os fatos acontecidos, o que sobremodo sempre me chamou a atenção é a permanência da impune e despreocupada mentalidade selvagem dos nossos motoristas, naquilo que o jornal Correio do Povo de 1950, com feliz exatidão, chamou de "mentalidade de cancha-reta" dos gaúchos. Ou seja, o nosso querido e altaneiro povo acha que as nossas (?) ruas e avenidas são locais de disputa de provas, cancha-retas onde o carro é o cavalo que está disputando as célebres carreiras do nosso interior Em um país semi-bárbaro, em que o trânsito é esse horror sanguinolento que todos bem conhecem, conseguimos ser ainda piores.. 
Para se dar um exemplo de como isso é crônico: em dezembro de 1974, portanto há 40 anos e quando havia bem menos veículos na cidade, o Correio observava, em editorial: "O trânsito de Porto Alegre é um espetáculo anárquico, triste e perigoso. Jogam-se os carros nas ruas e avenidas sem muita preocupação com os demais. O pedestre parece que se tornou simplesmente um obstáculo que deve ser afastado a qualquer preço. E os veículos usados para a condução das massas, quando não se encontram em condições precárias, são conduzidos com um mínimo de cuidado  e o máximo de velocidade possível."
Imaginem então: um holandês, um francês médio que aqui chega para assistir a um jogo do selecionado de futebol do seu país - a princípio nem melhor e nem pior do que os nossos grossos xirus - e passa, por exemplo, na rua Guilherme Alves, bem defronte ao Bourbon Ipiranga, o que esse sujeito observará da nossa bela terra sulina?  
Pois eu respondo: observará este escrevinhador brigando com motoristas que saem dos subterrâneos do shoping sem respeitar quem está atravessando a faixa de pedestres, tocando o veículo por cima, xingando, rindo, debochando. E às vezes também atropelando, ferindo, mutilando e matando. Mas isso é assunto para depois, para amanhã, que o espaço já se esgotou. (V.M.)

No dia de hoje faleceram, em 2002, o ator, escritor, músico e ativista político Mário Lago. E, em 1778, o filósofo Voltaire.

quinta-feira, maio 29, 2014

Aroeira, em A Charge Online.







Hoje John Kennedy faria 97 anos. E hoje Gretchen faz 55, Juliana Knust faz 33, Annette Bening faz 55, Fernanda Mota faz 33, Débora Bloch faz 51, Hernandes faz 29 e Danton Melo faz 39.

quarta-feira, maio 28, 2014

J. Bosco, em O Liberal, do Pará. A Charge Online.

O jornalista que não conhece História critica homenagens a Prestes

Hoje pela manhã, em uma conhecida rádio de notícias da capital gaúcha, ouvi um não menos conhecido jornalista e comentarista político se posicionar, com veemência, contra uma homenagem ou seja lá o que for para Luiz Carlos Prestes, homenagem que foi proposta na Câmara Municipal ou na Assembléia Legislativa. Em si, o assunto não me interessa nem um pouco, pois a gente sabe o que são homenagens e tudo o que elas não representam. Também não sou comunista - longe disto - e, quando assistia às entrevistas de Prestes na televisão, nos anos oitenta, achava o sujeito um chato repetitivo e obtuso. 
Mas fiquei espantado com o grau de ignorância deste jornalista calvo, alegre, simpático, gremista e falante, que é até inteligente mas demonstrou a sua superficial cultura e a sua evidente falta de leituras, e esta falta de cultura mínima embasou toda a sua exaltada condenação a Prestes: segundo ele, Prestes, comunista, totalitário (e foi mesmo), não merecia homenagem alguma exatamente por ser (palavras do jornalista), o comandante da Coluna Prestes, "movimento comunista, que percorreu o interior do Brasil matando e violentando". Ora, ora, meus amigos, só isso chegaria para desqualificar o jornalista e seus argumentos e demonstrar como a imprensa de hoje, em todos os níveis e em todo o Brasil, reduziu-se a um espantoso baixo nível cultural que parece, infelizmente, indicar tempos ainda piores - considerando o que são os tais cursos de jornalismo das nossas faculdades.
O jornalista calvo nunca deve ter lido um livro da história do Brasil e certamente não sabe o que são expressões como República Velha, movimento tenentista, eleições fraudulentas, acordo de Taubaté, política do café-com-leite etc etc. Não sabe, óbvio, que a Coluna Prestes nunca foi comunista e que dela participaram militares que depois foram considerados até direitistas como Juarez Távora, Siqueira Campos, Cordeiro de Farias e muitos outros que hoje são nomes de avenidas em todo o País. E muito menos sabe que o movimento era moralizador, até elitista, conservador, e que queria tão somente dar um jeito na vergonha nacional que existia na Velha República, com eleições fraudadas, intimidações e cartas marcadas. E mais: acusar Prestes de banditismo oficial na marcha da Coluna é é uma calúnia atroz e criminosa. 
Por essas e outras está difícil ver noticiários de tevê, de rádio, de jornais e de revistas: se um sujeito que é "âncora" (!) de uma grande emissora, pertencente a uma grande rede, diz tais disparates, o que pensar do resto? Que ele não goste de Prestes e do comunismo é algo absolutamente natural e compreensível, mas que critique as homenagens a uma figura da História do Brasil (independente de questões ideológicas) com base na sua ignorância história, aí é outra coisa. Além do mais é bater em gato morto - Prestes e os comunistas perderam a batalha, não representam mais nenhum perigo e nem são levados a sério. Podia, o citado periodista, na pior das hipóteses - já que não é chegado a livros de História - ter acessado o tio Google, para se inteirar um pouco da biografia de Prestes e do real sentido da homenagem a ele dedicada. (V.M.)
Hoje o ator Cecil Thiré completa 71 ano.s

terça-feira, maio 27, 2014

Jarbas, em O Diário de Pernambuco. A Charge Online.


Hoje, em 1877, nascia a bailarina Isadora Duncan. E hoje Bel Kutner, filha de Dina Sfat, completa 44 anos e Ivete Sangalo 42. 

segunda-feira, maio 26, 2014

Não é mesmo um País sério

Passei hoje à tarde, indo para a biblioteca da PUC, na Terceira Perimetral, em um trecho onde está um aviso em forma de placa, alertando que ali, sob o solo, existe uma tubulação de gás industrial - o famoso gasoduto Brasil-Bolívia, construído alguns anos atrás de forma silenciosa, discretamente, sem grandes anúncios e que resolveu muitos problemas. A bem da verdade o gasoduto é uma obra majestosa, que acaba, pelo que sei, em Caxias do Sul. Fizeram tal obra enterrada mas quase nunca se falou nela e no trabalho que deu. É que está enterrada, não aparece.
Aí fiquei também pensando que não é só o complexo gasoduto de milhares de quilômetros, vindo lá dos Andes, que nós brasileiros construímos - tem também Brasília, feita quase toda em poucos anos, algo que espantou o mundo. E temos ainda a ponte Rio-Niterói, com seus 14 quilômetros de extensão, outra proeza nacional. E a gigantesca Itaipu, na época a maior usina hidrelétrica do mundo.
Pensei nisso tudo agora, às vésperas da Copa do Mundo em que Porto Alegre - cidade surpreendente, ultimamente, pelo que tem de ruim e decadente e pela "malemolência" dos seus habitantes. pensei nos seis anos que se passaram desde o anúncio de que seríamos sede dessa competição - que eu era contra ser realizada aqui. Pensei no superfaturamento, na roubalheira, nos estádios feitos nas coxas, nos operários que morreram fazendo horas extras agora no final e pensei sobretudo em tantas obras anunciadas e iniciadas na cidade que é a capital gaúcha, obras que pararam, sem explicações, como a rótula da avenida Bento com a Salvador França e que só complicou a vida dos moradores desta parte de Porto Alegre. Pensei nos aeroportos de sul a norte que são autênticas gambiarras e na promessa, alguns anos atrás, de que teríamos até um metrô em Porto Alegre em função da Copa do Mundo - e alguns ingênuos acreditaram. E fiquei ainda mais meditabundo e melancólico ao pensar que não só a Copa será um fracasso em termos de infraestrutura e de promessas, uma vergonha mundial, uma prova da nossa falta de seriedade, da nossa alegre e irresponsável leviandade, como nos deixará com a auto-estima e o amor próprio bem mais baixos do que já estavam - e em um momento em que tudo o que não precisávamos era disso, no momento em que éramos considerados um dos "tigres" dos tais Brics. E fiiquei mais meditabundo porque daqui a dois anos teremos as Olimpíados do Rio e o Comitê Olímpico Internacional, apavorado, diz que nunca viu tanta inatividade e atraso em toda a história das Olimpíadas no mundo. Isso para um país que fez Brasília, Itaipu, a ponte Rio-Niterói, que construiu aquela famosa rodovia lá no Paraná, debruçando-se absurdamente sobre precipícios. 
Dois erros mundiais, em exposição, nos colocando no ridículo, poderia se dizer. Talvez não: talvez apenas mostrando que somos uns bananas mesmo e que o Brasil, como disse de Gaulle ou sei lá quem, não é mesmo um País sério. Pior ainda é ver a cara-de-pau das autoridades, incluindo essa senhora presidente, dizendo que está tudo bem, que esta Copa do Mundo que logo iniciará será "a Copa das Copas" e que "não temos complexo de vira-latas". Até os argentinos devem estar rindo de nós. (V.M.)