Sempre considerei o caso do "japonês da Polícia Federal" emblemático e representativo dos absurdos do Brasil - país "de cabeça para baixo", frase, se não me engano do Tom Jobim (que, aliás, adorava o Brasil, mas não se deslumbrava com nada, só com os passarinhos). Nem precisava ser do Jobim, milhares antes já devem ter dito. Pois, anos depois de tantas aparições televisivas nas prisões cinematográficas da Operação Lava-Jato, fui procurar notícias a respeito de tal figura, sempre de óculos escuros, que se chama Newton Ishii e encontrei uma, de 2020, que informa ter sido ele condenado a pagar uma indenização de 200 mil reais por "facilitação de contrabando" no tempo em que era agente em Foz do Iguaçu, PR. Depois disso não se sabe mais da vida do sujeito - aposto, inclusive, que continua ganhando seus proventos como agente, vai saber.
O absurdo maior é que, já na época das aparições do japonês, ele já respondia a tal acusação, tanto que usava, vejam só, tornozeleira eletrônica. Ou seja, o cara que algemava os medalhões da roubalheira petista e seus cúmplices (não dar tempo do desgoverno atual chegar lá) portava outro objeto preso a parte inferior das pernas. Como ele foi escolhido para ser um dos expoentes fixos de tais operações é algo a se perguntar, assim como saber quem era o superior que o escolheu para tanto. Sempre coloco a divertida interrogação desse fato absurdo - um suspeito de ser bandido prendendo corruptos, um facilitador de contrabando algemando outros desonestos de alto nível, em operações espetaculares que todo o Brasil acompanhou pela telinha. Vá contar isso a um alemão, um inglês, um norte-americano, ou um japonês do Japão. Pensando bem, é melhor não contar.
Outra coisa surreal da nossa nação tupiniquim (a Justiça, no caso) envolve a Susane Richtofen, mentora da morte dos pais em SP (virou recente filme do glorioso cinema nacional), a qual gozava do benefício de sair do presídio no Dia das Mães e dos Pais - e saiu várias vezes, realmente. Agora, segundo sei, está em liberdade, cursando uma faculdade aí, depois de alguns anos de cana. Tais absurdos - o japonês da Federal e a Susane - deveriam se reunidos e fotografados para publicação na capa de alguma revista de humor, já que só o humor e o surrealismo explicam determinadas situações. Quanto ao Tom Jobim (e faz falta, em todos os sentidos), morreu bem antes de ver tais situações, mas deve estar rindo lá no túmulo e repetindo a frase "de cabeça para baixo", "de cabeça pra baixo". (V.M.)