Jardim Botânico, Porto Alegre. Fundado em 2006 por Vitor Minas. Email: vitorminas1@gmail.com
quarta-feira, janeiro 30, 2019
terça-feira, janeiro 29, 2019
Júlio Fürst foi Mister Lee nos anos setenta e marcou a história do rádio gaúcho
Extraído da Coletiva.Net. Republicação 2009
Criativo, inquieto e audacioso, o comunicador Julio Cezar Fürst nunca teve medo de arriscar e experimentar o novo. O gosto por desafios foi a chave que abriu muitas portas ao longo dessas quase quatro décadas de profissão. Ele iniciou a carreira no rádio como programador graças ao extenso conhecimento musical e, ao assumir o comando dos microfones, para disfarçar a inexperiência e a ausência da voz grave – típica de um locutor da época – criou alguns personagens caricatos memoráveis: em 1972, se apresentou aos ouvintes gaúchos como Julius Brown, o rei da black music, e, mais tarde, como Mister Lee, o cowboy do rádio. Atualmente, no comando dos programas Fim de Tarde Itapema e Movimento Itapema, ele é conhecido por Julio Fürst, o que não é pouco, já que é uma verdadeira marca neste setor.
A paixão pelas notas musicais é uma herança genética, pois Julio vem de uma família toda composta por músicos: seu avô tinha uma orquestra, o tio era tecladista e se apresentava em navios viajando pela Europa, o pai teve uma banda e ainda tocava bateria, acordeão e piston, e a mãe, além de acordeão, tocava cítara. Já o comunicador começou a tocar bateria com 14 anos e exerceu esta atividade ao longo dos anos 60 no grupo musical chamado ‘The Rockets’, formado por amigos e vizinhos de rua. Em 1968, teve que se afastar da banda para prestar serviço militar e, ao retornar, o grupo não existia mais. Resolveu, então, montar um trio de bossa nova, mas que, depois de algumas apresentações, também foi extinto.
Ainda no final da década de 60, se aventurou no mundo empresarial e comprou uma loja, a Mozart Discos, no bairro Moinhos de Vento. “Era a primeira loja de discos fora do centro de Porto Alegre”, diz. Foi através desse empreendimento que Julio começou a aprimorar seu conhecimento musical.
Uma vida no rádio
O início da vida profissional deste comunicador, que nasceu em Porto Alegre em 8 de outubro de 1949, aconteceu em 1972, como programador musical, na recém-criada Pampa AM. Um dos clientes mais freqüentes da loja fez a indicação de seu nome para o dono da emissora, Otávio Gadret. O objetivo de Gadret era montar uma rádio com programação jovem e que fosse concorrente direta da Continental, conhecida como a ‘rádio rebelde de Roberto Marinho’ e que integrava o Sistema Globo de Rádio. “Até então, nunca tinha entrado em uma emissora, mas sempre tive uma certa afinidade com o rádio. Era um ouvinte assíduo e chegava a dormir com o aparelho ligado, porque gostava de ouvir música e por ser um meio de comunicação fascinante, por fazer companhia para as pessoas e mexer com o imaginário delas. A música me levou para o rádio e me mantém lá até hoje.”
Julio foi contratado para fazer a programação musical da emissora, mas, alguns dias depois, Gadret lhe propôs um desafio: teria que criar um programa e assumir o comando dos microfones. Devido à inexperiência e por não possuir uma voz grave, decidiu criar seu primeiro personagem, o Julius Brown, uma mistura de Julio Fürst com James Brown. O objetivo, segundo ele, era fugir do compromisso de ter um ‘vozeirão’ e fazer algo diferenciado.
Um ano depois, recebeu uma proposta irrecusável da Rádio Continental e foi atuar na concorrente, levando junto o personagem. Julius Brown deixou de existir em abril de 1975 e deu espaço a outra figura que marcou época no rádio gaúcho. Através de uma iniciativa da MPM Propaganda, nasceu o Mister Lee, um cowboy vestido de calça Lee, marca que estava iniciando suas operações no mercado brasileiro. Além de divulgar a marca, o programa apresentado por Fürst rodava música country e local e deu origem ao concerto ‘Vivendo a Vida de Lee’, que foi realizado até 1978 em Porto Alegre, interior do Rio Grande do Sul e Curitiba.
Em 1980, convidado por Pedro Sirotsky, foi para a RBS integrar a equipe que colocou no ar a Rede Atlântida FM e ali permaneceu por mais quatro anos. Depois, na década seguinte, registrou passagens pela Rádio Cidade, Jornal do Brasil, Universal FM, e Band FM e, em 1990, regressou para o Grupo RBS para atuar na Itapema FM, onde durante 14 anos exerceu o cargo de gerente de programação e diretor artístico.
Entre tons e sons
O apresentador prestou vestibular para Economia, cursou Administração até o último ano e não obteve diploma, mas acabou fazendo da paixão pela música o seu ganha-pão. Além de ser comunicador, há sete anos montou juntamente com o sócio João Antônio a casa de shows Abbey Road Studio Pub ,nome inspirado em um dos mais importantes estúdios da música mundial: EMI`s Abbey Road Studios. Criado em novembro de 1931, na Inglaterra, o estúdio londrino também foi homenageado no 12° e penúltimo álbum dos Beatles.
Em sua casa, guarda uma coleção de discos, a qual já chegou a contar com mais de 11 mil exemplares e que agora foi reduzida devido à falta de espaço. “Sou um comprador de discos, mas sempre ganhei muita coisa. Tenho uma boa discoteca de black music, anos 70, música country, MPB, rock e pop rock. Gosto do atual e sou contemporâneo. Estou sempre buscando coisas novas, mas ainda prefiro ter o objeto e pegar na mão. É uma sensação de posse.”
A rotina do comunicador atualmente se divide entre o bar, a família e os estúdios da Itapema. Julio vive há 40 anos com a esposa Maria Tereza, carinhosamente chamada de Tetê, que ele conheceu na época em que prestou serviço militar, em 1968. Maria Tereza era irmã de um colega seu de Pelotão. Eles têm três filhas: Cândida, 31 anos, psicóloga; Daniela, 28, bióloga; e Fernanda, 26, pedagoga. As noites de domingo do casal são reservadas às sessões de cinema. O repertório é eclético e inclui filmes de ação, comédia, drama e romance. Quanto à culinária, esta é uma área onde nem um dos dois pensa em se arriscar: “Cozinhar não é com a gente. Chego a ter inveja daqueles, principalmente os homens, que vão à cozinha e que sabem o que fazem lá. Definitivamente, isso não é comigo!”Júlio não abre mão de, pelo menos, três vezes por semana jogar tênis. O primeiro contato com o esporte ocorreu aos 15 anos de idade, incentivado pela mãe, que o presenteou com uma raquete. Ele desistiu dos treinos devido ao trauma que tinha de uniformes: “Achava um esporte meio pernóstico. Já bastava minha época de colégio, onde tinha que andar sempre uniformizado e onde costumava treinar só deixavam entrar na quadra se estivesse de meia, tênis, calção e camisa pólo branca. Então, deixei de treinar”. A prática só foi retomada uma década depois.
Em 1986, quando trabalhava na Band, inspirado pela paixão pelo esporte criou um programa que trazia ao FM notícias sobre o mundo tênis. A partir de 1997, graças a essa iniciativa, fez diversas coberturas internacionais nos EUA e na Europa, onde o ‘Repórter Raquete’acompanhava o talentoso novato Guga. “Na época trabalhava na Itapema e o que a gente fazia era inédito, pois, nas coberturas, não via nenhuma emissora de rádio na beira da quadra fazendo boletins ao vivo como eu fazia”, diz.
Duas décadas de humor-musical
Durante 20 anos, Julio integrou o grupo de humor-musical ‘Os Discocuecas’, como baterista. O conjunto fez sucesso nacionalmente. Além de shows, gravaram cinco discos e um CD, fizeram diversos espetáculos teatrais, realizaram shows pelo país inteiro e tiveram participações em programas comandados por Chacrinha, Sílvio Santos e Raul Gil. “O último disco de vinil da nossa banda continha um rock gaudério, o ‘Não me faz’, que serviu de gancho para o Magro do Bonfa, na Escolinha do Chico Anísio, que dizia: ‘Só não me faz te pegar nojo’”, conta. Em 1997, o grupo, que também era integrado por Gilberto Travi, Beto Roncaferro e Toninho Badaró, deixou de existir.
Ele se define como um ser perfeccionista e pontual em excesso e afirma que este foi um hábito adquirido com a profissão. “Se na grade de programação consta que um programa vai ao ar às 17h ele entra no ar exatamente neste horário, nem cinco minutos a mais nem a menos! Isso é um defeito, pois sou chato e intolerante com atrasos. Já agi com indelicadeza devido a essa característica”, conta. Modesto, o radialista não gosta de falar de suas qualidades e prefere que as outras pessoas percebam isso nele.
Na mesma trilha
Júlio se define como um profissional totalmente realizado e diz que, se tivesse que voltar atrás, faria tudo novamente e do mesmo jeito. Sua única lamentação foi não ter se dedicado mais aos estudos. “Minha cabeça sempre esteve voltada para a música e para minha banda. Se tivesse estudado mais, teria aproveitado mais as oportunidades que tive como, por exemplo, as coberturas internacionais. Poderia ter feito contatos, trocado informações e absorvido mais das culturas. Também gostaria de ter morado fora, mas como meu inglês só servia para obter as coisas mais básicas, me privei destes conhecimentos.”
Ao olhar para sua trajetória, o apresentador diz sentir falta de muitas coisas, como da sua loja de discos, da sua banda e dos concertos realizados. “Mas eu não fico pensando que aquela sim é que era uma época boa. Acho que tudo tem seu tempo para acontecer e hoje estou em outra fase. Eu não sou uma cara saudosista, entretanto, quando olho para trás tenho certeza que começaria tudo outra vez. Quando a gente faz as coisas com paixão, não se arrepende jamais e, com certeza, faria tudo novamente”. (Coletiva.Net)
Na foto eu tenho três anos de idade, no início dos anos sessenta, e sou uma criança morena com os pés dentro da água do mar e um barco de pesca ao fundo. Mais adiante, casas e chalés de madeira.
Tá aqui a data - 1964. Local: praia de Itapema.
Itapema não era nada, então. Aluguava-se a casa dos pescadores por merrecas, e se ficava por lá o verão inteiro. Comprava-se peixe dos próprios pescadores e à noite não havia luz elétrica - só milhares de estrelas refulgindo contra o profundo céu escuro. Uma grande lua surgia de repente, e todos passeava na beira da praia, que era segura e silenciosa.
Havia muitas conchas, conchas enormes e lindas, além de estrelas do mar, também imensas. catávamos aquilo e trazíamos como souvenir para a nossa casa, em um posto indígena no interior do Rio Grande do Sul.
Hoje não há mais casas de madeira na beira mar de Itapema, e as conchas e as estrelas do mar praticamente desapareceram. Quem comprou terrenos e casas no litoral catariense, naquela época de simplicidade e barateza, hoje está rico.
Tá aqui a data - 1964. Local: praia de Itapema.
Itapema não era nada, então. Aluguava-se a casa dos pescadores por merrecas, e se ficava por lá o verão inteiro. Comprava-se peixe dos próprios pescadores e à noite não havia luz elétrica - só milhares de estrelas refulgindo contra o profundo céu escuro. Uma grande lua surgia de repente, e todos passeava na beira da praia, que era segura e silenciosa.
Havia muitas conchas, conchas enormes e lindas, além de estrelas do mar, também imensas. catávamos aquilo e trazíamos como souvenir para a nossa casa, em um posto indígena no interior do Rio Grande do Sul.
Hoje não há mais casas de madeira na beira mar de Itapema, e as conchas e as estrelas do mar praticamente desapareceram. Quem comprou terrenos e casas no litoral catariense, naquela época de simplicidade e barateza, hoje está rico.
domingo, janeiro 27, 2019
Caco Barcelos, ex-taxista, acho que o acaso foi determinante na sua carreira
Extraído do portal Coletiva.net, com autorização. Publicação original em 19 de maio de 2009. Republicação
Cláudio Barcelos de Barcelos tem medo da morte, mas, ao longo de 40 anos de carreira, o repórter gaúcho não hesitou em colocar sua vida em risco, e por diversas vezes. Tudo em nome do Jornalismo. Sinônimo de qualidade e, também, referência na reportagem investigativa, Caco Barcellos se especializou em matérias que denunciam abusos, violência e injustiça social. Aos 59 anos, acumula experiência como repórter da Rede Globo, onde comanda e divide o programa “Profissão Repórter” com jovens profissionais em início de carreira.
Caco contabiliza mais de 20 prêmios de jornalismo, entre eles uma das maiores distinções do meio, o Prêmio Vladimir Herzog. É autor dos livros “Nicarágua: a revolução das crianças”, de 1982, “Rota 66 - A História da Polícia que Mata”, de 1992, e O Abusado: O Dono do Morro Dona Marta, de 2003. As duas últimas obras publicadas lhe custaram anos de investigação (oito apenas no Rota 66) e lhe renderam dois Prêmios Jabutis, em 1993 e 2004, além, é claro, de inúmeras ameaças. Depois da publicação deste livro, que levou à identificação de mais de quatro mil vítimas jovens e pobres dos policiais paulistas, passou um período fora do Brasil, como correspondente da Rede Globo em Londres. No ano passado, recebeu o Prêmio Especial das Nações Unidas, como um dos cinco jornalistas que mais se destacaram, na defesa dos direitos humanos no Brasil.
Acaso, o culpado
Na vida e na carreira de Caco, o acaso sempre foi uma constante amigável e foi por mera casualidade que ele foi parar no Jornalismo. Depois de concluir o Ensino Médio, no Colégio Júlio de Castilhos, o Julinho, decidiu que estudaria para ser engenheiro. Gostava de escrever desde criança, mas tinha vergonha de mostrar seus textos. O amor às letras superou a timidez quando concordou em colaborar com o jornal do Centro Acadêmico de Engenharia.
Mais tarde, em uma verdadeira “fase hippie”, escrevia para uma publicação que era vendida de mão em mão nas ruas por ele e seus amigos. Certa vez, o impresso foi adquirido por um jornalista, que gostou do resultado e convidou os jovens para fazerem um teste na inovadora Folha da Manhã, do grupo Caldas Júnior. A paixão pela profissão foi imediata. Foi admitido como estagiário, em 1973, mas os colegas não sabiam que Caco era estudante de Engenharia. Quando os editores manifestaram interesse em contratá-lo, correu para fazer a transferência para a Comunicação.
Nessa época, para pagar a faculdade e ajudar nas despesas de casa, além de atuar na Folha da Manhã, trabalhava como taxista. Caco exerceu a atividade dos 18 aos 23 anos, mas nenhum dos seus colegas da FM sabia. “Lembro que meu ponto era junto a um hotel no centro da cidade, e eu morria de medo de os meus colegas me flagrarem e pensarem: ‘mas taxista não pode trabalhar em redação’. Até que um dia alguém me descobriu e, ao invés de brigarem comigo, me mandaram escrever uma matéria sobre a minha experiência como taxista”, conta. Quando o salário melhorou, deixou a praça.
A saída do jornal do grupo Caldas Júnior ocorreu em 1975, em um episódio “muito chato”, segundo ele. Uma matéria que estampava sua assinatura resultou na demissão de 21 profissionais do jornal, incluindo ele mesmo. O texto tratava das “partidas de futebol” que ocorriam na delegacia de Canoas, onde presos eram torturados e agredidos com pontapés. O “jogo” contava ainda com um “juiz” que apitava para alertar os agressores da presença de pessoas indesejáveis. A matéria não agradou à Secretaria de Segurança, que exigiu o afastamento do repórter. Ele foi demitido, e, solidários, demitiram-se as duas dezenas de colegas.
Depois disso, dedicou cerca de cinco anos à imprensa alternativa, tendo atuado na Coojornal e na revista Versus, pela qual viajava pela América do Sul e Central em busca de boas histórias sobre os povos latinos. Nas quase quatro décadas de profissão, também passou por importantes jornais e revistas brasileiras, como Veja e Istoé.
Os olhos brilhantes e o tom da fala não enganam: Caco tem orgulho de nunca ter deixado de ser repórter “um dia sequer”. A única vez que deveria ter exercido um cargo de chefia, como editor-substituto no Jornal da Tarde, em São Paulo, foi tomar um cafezinho, viu uma movimentação estranha no hotel em frente à lanchonete onde estava e se infiltrou na equipe médica que atendia à ocorrência. E naquele dia, ao invés de fechar a edição do jornal, preocupou-se em desvendar um homicídio misterioso. Às 3h da madrugada, o jornalista, que começou o dia como editor, chegou à redação com um texto exclusivo em mãos.
Apesar das raízes no jornalismo impresso, em 1985, quando morava em Nova Iorque, ficou encantado com as reportagens televisivas. Já havia recebido um convite para integrar o time de jornalistas da Rede Globo, mas recusou por considerar a emissora muito “oficialista”. Voltou atrás e, em seguida, virou repórter do Jornal Nacional, do Fantástico e do Globo Repórter. Há 10 anos, criou um projeto inovador: queria fazer reportagem com vários olhares simultâneos, e ao mesmo tempo revelar os bastidores, os erros e os acertos, as dúvidas, as questões éticas do trabalho. Assim, em 2006 nascia “Profissão Repórter”. O programa, que nasceu como quadro do Fantástico, hoje é exibido todas as terças-feiras à noite.
Pé no acelerador
Caco nunca fumou nem usou drogas e – surpresa, em se tratando de jornalista... – nunca tomou um porre. Não faltaram tentativas para embebedá-lo, mas, segundo ele, essa é uma tarefa difícil: quanto mais bebe, mais sóbrio e careta fica. “Certa vez, na Guatemala, eu e meus amigos tomamos três garrafas de rum. Fui dormir sóbrio, e caí da cama, também sóbrio, mas vibrei como se aquele fosse meu primeiro porre. Na verdade, tratava-se do maior terremoto da história da Guatemala”, conta. O fenômeno matou mais de 20 mil pessoas, e, acaso do destino, Caco e seus companheiros formavam a única equipe brasileira no local, que acabou tendo que se dividir entre a cobertura e o socorro às vítimas. A primeira esposa do jornalista, a fotógrafa Avani, também estava no local e grávida do primeiro filho do casal.
Depois do episódio, Caco e Avani fixaram residência em São Paulo para que o pequeno Ian pudesse nascer. Ele lembra que, com o dinheiro da publicação dos textos sobre o terremoto, o casal conseguiu pagar os três meses de caução do imóvel alugado na capital paulista e, ainda, proporcionou certa estabilidade para a jovem família. Hoje, está em seu segundo casamento, com a estilista Beatriz Fragelli, a Bibi, e com ela tem dois filhos, Yuri, 18 anos, e Alice, 10 anos. Do primeiro matrimônio, tem o primogênito Ian, 32 anos.
Calmo, determinado e extremamente responsável, Caco agradece e credita à família os traços positivos de sua personalidade. Da infância, diz trazer lembranças maravilhosas: cresceu no bairro Paternon, em Porto Alegre, no pé do Morro da Cruz, numa rua de chão batido que não tinha nem saneamento básico. “Tive a felicidade de ter uma igreja progressista perto de casa, que estimulava a convergência da molecada dos bairros da vizinhança. A igreja promovia encontros para futebol, que reunia 600 moleques, todos uniformizados e que disputavam campeonatos interbairros”, relata.
O jornalista relata que os jogadores Jorge Guaraci, ex-Portuguesa e Corinthians, e Flávio Minuano, ex-Internacional, Corinthians, Santos e Seleção Brasileira, foram descobertos por “olheiros” do time de várzea. Na vila, também levava uma atividade social muito intensa e lá aprendeu datilografia, linotipia, encadernar livros e noções de primeiros socorros. Ser jogador de futebol era, na realidade, seu grande sonho. “Acho que teria sido mais feliz”, avalia. Hoje, um programa do qual o colorado e flamenguista de coração não abre mão é “bater uma bolinha”. Caco, que se define como um "falso ponta-esquerda que corre na diagonal”, joga no São Paulo Athletic, o Spac, primeiro time profissional do Brasil. Pela equipe, já jogou três vezes no Pacaembu e, numa das ocasiões, colocou uma bola na trave. "Espero ansiosamente pelo dia em que o Dunga vai reconhecer meu talento e me convocar para a Seleção Brasileira”, brinca.
Nascido na capital gaúcha, no dia 5 de março de 1950, é filho da dona-de-casa Antoninha e do frentista e taxista Nérsio, já falecido, e tem uma irmã, Neusa. Os pais humildes nunca mediram esforços para proporcionar qualidade de vida aos filhos. Caco lembra que Nérsio possuía três empregos para garantir o sustento da família. Foi daí que o jornalista herdou o lado batalhador, mas, diferentemente do pai, a frequente e exaustiva rotina de mais de 24 horas de trabalho não é por necessidade e, sim, paixão.
“Quanto eu tive acesso à classe média, me dei conta que tinha amigos que eram carentes, que tinham o máximo de coisas materiais, mas não tinham a convicção e a segurança que eu possuía dentro da minha casa. Muitos meninos tinham seus carros, mas não tinham o mínimo de atenção dos pais. A base toda da minha segurança, de poder sair e viajar pelo mundo, foi meus pais que me deram. Sempre tive a sensação de que eles deram o máximo que poderiam para mim. Sou eternamente grato”, registra.
Com o pai Nérsio, aprendeu a dirigir e, entre várias lições, figura uma que carrega até hoje como forma de filosofia de vida. “Meu pai dizia que o mundo, assim como o trânsito, se divide entre as pessoas que brecam e as que aceleram. Então, não freio. Quando tenho que frear, uso o câmbio, troco de marcha e acelero. Quem breca tem mais chances de capotar, mesmo a 40 por hora”.
E é assim, em ritmo acelerado, que Caco segue a vida. Atualmente, além de passar dias em busca de boas histórias, varar as noites em ilhas de edições e jogar peladas nas poucas horas vagas, trabalha em mais um livro. Em entrevista à Revista Trip, em fevereiro deste ano, revelou que o assunto da próxima obra será sobre a cultura da violência e que será uma “encrenca que vai incomodar muita gente”. Refém da excelência e da qualidade do próprio trabalho, o gaúcho de origens modestas faz história no Jornalismo e, para o futuro, tem um sério projeto: morrer trabalhando. “Se conseguir ir trabalhando até o fim, que maravilhoso para a saúde!” (Coletiva.Net)
Júlio Andreatta, com seu Ford 1940, o grande vencedor do Circuito Zona Sul
O automobilismo sempre foi um esporte de grande destaque no Rio Grande do Sul, durante quase todo o século 20. Nomes como Norberto Jung, Júlio e Catarino Andreatta (irmãos), Diogo Elwanger, Breno Fornari e muitos outros enfrentavam estradas de chão em corridas épicas, como o Circuito Zona Sul, realizado em maio de 1950 e que entrou para a história das corridas de carro no Estado. Com um percurso de quase 1000 quilômetros, entre Porto Alegre e Bagé, ida e volta, o Circuito era promovido por grandes entidades gaúchas, com apoio especial da Companhia jornalística Caldas Júnior, em especial a Folha da Tarde. Um avião acompanhou os 34 corredores - entre eles o maior astro do automobilismo brasileiro, Chico Landi, que veio de São Paulo especialmente para a prova - os quais desenvolveram a espantosa média de mais de 90 km horários, atravessando terrenos encharcados e precárias pontes até chegar à Rainha da Fronteira. A Rádio gaúcha transmitiu toda a corrida, ao vivo. O grande vencedor, porém, não foi Landi e sim o gaúcho Júlio Andreatta, uma das lendas dos primórdios do esporte no Brasil. Ele dirigia um Ford 1940. Aido Finardi ficou em segundo lugar e Landi no décimo. Reprodução do Correio do Povo. Julio Andreatta faleceu com pouco mais de 60 anos, em 1981, tendo abandonado as provas em 1963, com menos de 50 anos de idade.
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