sábado, janeiro 11, 2014

O Grêmio fez festa para o uruguaios em 1950, quando eles trouxeram a taça para Porto Alegre


   A Copa do Mundo de 1950 que aconteceu em junho e julho, no Brasil, teve capítulos em Porto Alegre, que sediou jogos daquele que era o quarto campeonato mundial de futebol. Os favoritos, então, eram a Itália - a atual campeã (1938, antes da guerra) e a Inglaterra, e ambas decepcionaram já de início. O Uruguai, sempre respeitado, tinha muita moral e era o xodó dos gaúchos e da imprensa gaúcha, que sempre destacava  a "garra dos orientais".
   Ao contrário do que se pensa, os nossos vizinhos tinha, no íntimo, a quase certeza de que o seu jogo rápido e eficiente destruiria a tabelinha brasileira e que eles (não apontados como favoritos) poderiam, sim, sair com a taça nas mãos. ´É o que se vê nas páginas do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, capital que sediou jogos da Iugoslávia (também fortíssima candidata), da Suíça (que empatou com o Brasil) e do México (que só pensava em fazer festas).
   O velho estádio dos Eucaliptos, do Inter (que cedeu dois jogadores para o selecionado canarinho: Nena e Adãozinho), foi remodelado e ampliado (pelos padrões da época, claro) mas foi o Grêmio porto-alegrense quem fez festas para a Azul celeste quando esta passou por aqui, trazendo consigo a Jules Rimet. Uma delegação oficial do Grêmio homenageou o time de Obdulio Varela quando este desembarcou no então aeroporto de São João, na escala do vôo Rio-Montevidéo. Afinal, estava tudo em casa e o céu era azul...(Vitor Minas)
Pater, em A Charge Online
Hoje Patricia Pillar completa 50 anos.

quinta-feira, janeiro 09, 2014

Gisele Bundchen aos 19 anos: surpresa por ter seguranças por conta da agência

Em 1999 a modelo gaúcha Gisele Bündchen ainda não era a supermodelo que depois se tornou - era tão somente uma bem sucedida modelo de 19 anos, mas já a "queridinha das passarelas" que se surpreendia ao ver, de uma hora para outra, seguranças colocados à sua volta, conforme noticiou a revista Veja em 13 de outubro daquele ano. É, a moça mudou muito, e a sua conta bancária também.
    É, mas a moça lutou muito, e deu uma sorte danada também. Vamos ao histórico evolucionista: em 1994, com apenas 14 anos, quando FHC ainda nem se elegera presidente do Brasil (era o Itamar), e Cindy Crawford reinava como a rainha das passarelas, Gisele ficou com o quarto lugar em um concurso de modelos na Espanha - mesmo assim chamou a atenção ao assinar o seu primeiro contrato internacional, anotou a Veja de 28 de setembro daquele ano. Valor do compromisso: 50 mil dólares. Pode parecer pouco comparando com o que a moça fatura hoje, mas, convenhamos, é uma bela grana para uma adolescente interiorana e magrela que saiu lá de Horizontina, na distante fronteira com a Argentina.
Luscar, em A Charge Online
Hoje o carrasco do Brasil na Copa de 1990, Cláudio Caniggia, completa 47 anos

quarta-feira, janeiro 08, 2014

Hoje, 8, Elvis Presley estaria fazendo 79 anos. E hoje David Bowie completa 67.

Genildo, em A Charge Online

Janeiro de 1950: o violento incêndio que destruiu milhares de inquéritos da polícia gaúcha e quase matou 50 presos


A notícia do incêndio da Praça da Matriz e a absurda fuga do "Major Aragon": ele escapou do presídio para "falar á reportagem" do Correio do Povo.



Pesquisa e texto: Vitor Minas

    Se havia – naquela segunda metade dos anos cinquenta do século 20 - realmente um incendiário a postos para queimar prédios públicos, tal pessoa, ou pessoas, sabiam muito bem o que queriam: depois do Tribunal de Justiça (ver matéria neste blog), em novembro de 1949, e do prédio da Imprensa Oficial, em 1947, foi a vez da Repartição Central de Polícia, na Rua Duque de Caxias, sinistro histórico que destruiu milhares de inquéritos policiais e quase matou mais de 50 presos desesperadamente trancafiados em um dos xadrezes da construção. Foi mais um duríssimo golpe nos serviços de segurança pública do Estado e seria apontado como uma das causas do grande aumento da criminalidade registrado na Capital aquele ano.
    O incêndio da RCP aconteceu também em um sábado, às 2 horas da madrugada de 14 de janeiro de 1950, transcorridos apenas 55 dias depois do acontecido com o Foro, com a diferença de que se alastrou de maneira muito mais violenta e causou temores redobrados em toda a população do centro, aterrorizada com a sequência de explosões de granadas de mão armazenadas no depósito de munições e com a possibilidade ainda mais dramática de tudo aquilo, inclusive os colégios femininos situados nas vizinhanças, como o Sevigné, ir pelos ares caso as chamas atingissem um depósito de gasolina e diesel existente nos fundos do prédio, sem contar um grande paiol de explosivos.  No final, felizmente, os danos foram somente materiais e judiciários, pois ninguém morreu queimado.
   Dos 52 presos na cela cujo cadeado teve que ser arrombado a pé-de-cabra apenas um, detido por vadiagem, fugiu. A população, por sua vez, acordou sobressaltada e surpresa, receando, quem sabe, a eclosão de um movimento militar ou de uma nova revolução: o estampido das granadas, acomodadas em um cofre, e o barulho de balas explodindo, bem como a altura das chamas, faziam prever pelo pior, até mesmo uma guerra. Afinal, na Duque, na parte alta da cidade, hoje considerada centro histórico, está também o Palácio Piratini, sede do governo estadual, e a Catedral Metropolitana.
    Tal como o casarão do Tribunal de Justiça e da Secretaria do Interior, o prédio da chefia da Polícia também era quase um pardieiro, uma construção antiga, repleta de paredes, divisórias e tabiques de madeira servidos por arremedos de instalação elétrica. Sem dinheiro e endividado, o Estado gaúcho, comandado por Valter Jobim, havia interrompido ou adiado a construção ou reforma de grande parte dos seus prédios públicos. Pedindo providências para solucionar o problema, o jornal Correio do Povo, ao noticiar o fato, lembrava que, caso isso não acontecesse e não se desse fim a casos daquela natureza, “ninguém mais convencerá a opinião pública que esses eventos não são provocados por mãos criminosas, ou que se verificam pura e simplesmente devido à negligência e ao indiferentismo do poder executivo.”
PREJUIZOS INCALCULÁVEIS – O fogo teria começado na parte alta, no sótão do segundo andar do prédio, provavelmente em uma sala que servia de depósito de colchões e papéis, o que facilitou extraordinariamente a propagação das chamas, percebidas somente por alguns policiais de plantão e por um carpinteiro que dormia ao lado. Um deles comunicou o fato ao inspetor-chefe Nuno Alves Guimarães – neste momento as chamas já saíam pelas janelas. O delegado Geraldo Monteiro Alves, que estava de plantão momentos antes e fora deitar em uma das camas, acionou os bombeiros, os quais, mesmo chegando em grande número, pouco puderam fazer.
    O incêndio da Repartição Central de Polícia consumiu milhares de processos, destruindo sobretudo aqueles que diziam respeito aos réus soltos afetos aos “atentados à propriedade”, que foram beneficiados pelo fato de não haver cópias dos documentos, ao contrários dos dossiês dos réus presos. O Instituto de Polícia Técnica também amargou grandes prejuízos de equipamentos e de material, embora o seu responsável, José Lubianca, garantisse que 95% dos prontuários criminais estavam apenas chamuscados nas bordas e poderiam ser aproveitados. De tudo o que havia no plantão daquela noite apenas se conseguiu salvar duas máquinas de escrever, duas mesas, duas cadeiras e o livro de ocorrências.
     Bem ao espírito da época (Guerra Fria e polarização ideológica em um ano de eleições presidenciais no Brasil), as autoridades da segurança pública estadual se apressaram em tentar jogar a culpa nas costas de militantes do Partido Comunista Brasileiro, o PCB, o quarto mais importante e votado no País, proscrito recentemente pelo General Eurico Gaspar Dutra. O líder comunista Flávio Argolo, um cirurgião dentista que passava férias na praia de Capão da Canoa com a sua família, foi preso como suspeito e teve de recorrer a advogados, os quais impetraram um habeas-corpus a fim de libertá-lo. As cópias do processo contra ele, trancadas no cofre do gabinete da chefia de Polícia, mostraram-se intactas quando se abriu o cofre, na quinta-feira, 19. Tal peça, mesmo queimada e avariada, ainda assim resistiu.
    Meses mais tarde o mesmo “Major Aragón” – aquele que se declarou o incendiário do Tribunal de Justiça - chamou para si a autoria do fato e transformando-se em uma das personagens mais comentadas do ano de 1950 em todo o Rio Grande do Sul. Ele morreu dois anos depois, assassinado na Casa de Correção da Ponta do Gasômetro.  

  

 

segunda-feira, janeiro 06, 2014

domingo, janeiro 05, 2014

Porto Alegre, 1949: o incêndio do Tribunal de Justiça que destruiu milhares de processos e nunca foi esclarecido

Pesquisa e texto: Vitor Minas

Na reprodução abaixo, a notícia do incêndio da Repartição Central de Polícia, acontecido menos de dois meses depois do sinistro do Tribunal de Justiça.



   Um sinistro de prejuízos incalculáveis, um divisor na história do judiciário gaúcho, um mistério nunca esclarecido: o incêndio que destruiu o Tribunal de Justiça e a Secretaria do Interior do Estado “ficará nos anais policiais da cidade como um dos mais dramáticos e ruinosos, pois que, entre outras coisas, poderá retardar e até desviar a marcha da Justiça em questões de transcendental importância”, noticiou o Correio do Povo naquela sua edição de domingo, 20 de novembro de 1949.
    O cenário era o “vetusto” prédio da Praça da Matriz, construído ainda na época do Império e chamado então, com evidente exagero, de Palácio da Justiça. O dia era sábado, 19. O horário do acontecido, cinco horas, mostrava uma capital quase deserta, com raros transeuntes e noctívagos nas ruas e alguns motoristas de táxi – ou de “carros de praça” – que faziam ponto nas proximidades. Foram eles os primeiros a avistar um “tênue fio de fumaça” que escapava do edifício e rapidamente se transformava em “grossos e assustadores rolos negros que irrompiam pelas frestas do portão principal e pelo teto, já então lançando para o ar um cone de chamas”, conforme descrição do Diário de Notícias. Por volta das 5h15min a parte principal da construção parecia “um vulcão em plena ebulição”. Às 5h30min mais nada havia a se fazer. A fumaça, o crepitar do fogo, o desabamento de vigas, ofereciam um “espetáculo dantesco” aos circunstantes. 
   Mais de dez horas depois, auxiliados por populares e voluntários, os bombeiros das quatro unidades que compareceram ao local ainda apagavam os últimos focos. Comandados pelo tenente Jarci de Queiroz, eles perderam a batalha por questão de minutos: já no início do combate um dos hidrantes falhou, permitindo que as chamas se alteassem novamente de maneira incontrolável. Pior mesmo foi a falta de uma escada mecânica que atingisse o segundo andar, atestando a precariedade dos equipamentos da corporação.
SEM VIGILÂNCIA – A despeito de ser um dos mais vitais prédios públicos do Estado, o Tribunal da Justiça e a Secretaria do Interior estavam sediados em instalações acanhadas que datavam de 1870 e nem de longe condiziam com a sua importância.  Juízes chegavam até mesmo a fazer fila a fim de concederam audiências em suas precárias salas e dezenas de advogados que por ali circulavam, bem como o quadro de funcionários permanentes ou dos cartórios, acomodavam-se como podiam em exíguas repartições.
   Outro fato lembrado dizia respeito à absoluta ausência de vigilância, já que não havia sequer um guarda destacado para a ronda da noite. Dias antes um funcionário havia notado pegadas suspeitas nos seus corredores e que convergiam justamente para o local onde o fogo supostamente teria iniciado. Também se constatou que havia massa na fechadura, indicando que alguém havia tirado um molde da chave para entrar no local sem ser percebido. Tais hipóteses, no entanto, caíram por terra quando os técnicos do Instituto de Polícia Técnica concluíram que o foco inicial do incêndio teria sido a sala de cafezinho da Secretaria do Interior: lá existia um “bico de gás” e que teria ficado aceso durante a noite.
    Quanto aos prejuízos, não somente para a Justiça como também para o funcionamento da Secretaria do Interior, foram imensos e dificilmente mensuráveis. Um bombeiro contaria mais tarde a um repórter que havia, por sorte, salvado o dossiê de um processo volumoso. Ao entregá-lo a um funcionário do Forum este, ao ler na capa o nome de uma parte envolvida, jogou os documentos de volta às chamas... Um dos mais importantes cartórios de crime – onde estavam processos sobre a colocação de bombas Molotov e outros que diziam respeito ao Partido Comunista Brasileiro (colocado na ilegalidade apenas dois anos antes pelo governo Dutra) foi totalmente destruído, apesar de ser um dos últimos a ser atingidos pelo fogo. Outros milhares de documentos e ações foram igualmente consumidos ou seriamente afetados. Processos de heranças familiares, partilhas de bens e inúmeros vindos do interior do Estado, em grau de apelação, também acabaram destruídos, bem como 40 mil cruzeiros em dinheiro – queimados ou, talvez, surrupiados.
    Os prejuízos culturais não foram menores. A queima total da biblioteca do Palácio da Justiça foi uma das consequências mais irreparáveis para a cultura do Estado, já que esta era considerada uma das mais completas do país em sua área, com obras raras do direito e sentenças antigas lavradas em latim e caprichosamente encadernadas. Já os documentos de casamentos – cujas cerimônias cíveis aconteciam em uma das dependências do edifício – não foram afetados pois eram guardados em um edifício próximo e não no Tribunal. Até mesmo os matrimônios programados para aquele dia, sábado, não precisaram ser cancelados, apenas sendo transferidos para os cartórios do registro civil. A situação da Secretaria Estadual do Interior – que funcionava em parte do casarão que dava para a Rua Riachuelo – tinha agravantes e foi descrita como um “prejuízo incalculável” devido aos processos que por ali transitavam – convênios entre o Estado e prefeituras do interior, bem como com vários corpos consulares e a junta comercial. De parte de tais documentos dependiam a Repartição Central de Polícia, o Departamento das Prefeituras Municipais, o Arquivo Público, a Junta Comercial, a Brigada Militar e até mesmo a Biblioteca Pública ali vizinha.
    Com a destruição do edifício do Tribunal de Justiça os serviços judiciários gaúchos sofrerem um desarranjo que levou meses para ser reparado, se é que isto era possível. Certamente intencional, o incêndio foi objeto de muitas discussões nos meses seguintes. O Diário de Notícias insistiu em seu caráter criminoso, muito embora a deficiente polícia técnica da época não tenha conseguido provar tal fato. Meses depois, no ano de 1950, um tipo estranho, um vigarista e mitômano de naturalidade espanhola, o “Major Aragón”, e que estava preso em São Leopoldo, bradou aos jornalistas que havia sido ele o autor do sinistro. Mas a história era por demais inverossímil para ser levada a sério. No dia 23 de agosto de 1952, sábado, tal personagem foi assassinado a tiros por outro detento no pátio da Casa de Correção – um crime encomendado ou talvez motivado por ciumeiras ou rixas com outros detentos.
    Em 1949 Manoel Frederico Gonzales de Aragon estava preso em São Leopoldo, identificado com outro nome, acusado de estelionato e que já tinha passagens por outros presídios brasileiros, entre os quais o de Curitiba, de onde fugira usando uma farda de major do Exército – o que lhe valeu a alcunha de “major Aragón”. Nascido na Espanha, calvo, ar inofensivo e de boa cultura, Aragón era um vigarista especialista em criar “sociedades anônimas”, levando todo o dinheiro arrecadado fraudulentamente. Em estranha coletiva convocada pelas autoridades policiais ele afirmou ter fugido da prisão do Vale dos Sinos (fugido e depois retornado...) com a finalidade de roubar um famoso processo criminal para assim chantagear as partes interessadas e conseguir muito dinheiro. Ele também disse ser o autor do incêndio da Repartição Central de Polícia – nas duas versões, poucos repórteres de fato acreditaram no que afirmava. Mais tarde o Major Aragon disse ter sido torturado pela polícia para que assumisse a autoria dos dois sinistros, algo igualmente discutível em se tratando da volatilidade da personalidade do réu. 
   O certo é que, se houve muitos prejudicados com o episódio (incluindo quem trabalhava no Foro e perdeu o emprego e fonte de rendas), outros tantos também auferiram grandes vantagens com a destruição de processos e acusações. Mais tarde se tentou estabelecer uma ligação entre o incêndio do Tribunal, bem como o da Repartição Central de Polícia, com um grande aumento da criminalidade em Porto Alegre no ano de 1950.

   Até a construção de uma nova sede para o judiciário rio-grandense, os cartórios e repartições passaram a funcionar de maneira improvisada em diferentes locais da cidade, tais como o grupo escolar Paula Soares, na Rua General Auto, e em casas da Rua Duque de Caxias, onde antes funcionava a Secretaria da Agricultura.  No mesmo local do prédio incendiado seria construído mais tarde o Foro Central da capital dos gaúchos.

Amarildo, em A Gazeta, Vitória, ES

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