sexta-feira, outubro 25, 2013

O "verão da lata" deixou saudades para muitos...

No dia 22 de setembro de 1987 um navio chamado Solana Star estava sendo perseguido pela Marinha Brasileira, apoiada por agentes do Drug Enforcement Agency ((DEA), órgão anti-drogas norte-americano. Acuados no litoral do Rio de Janeiro - Angra dos Reis - eles largaram toda a sua carga ao mar, a uma distância de 100 milhas marítimas do litoral e, em seguida, se dirigiram sorrateiramente ao porto do Rio, onde abandonaram o navio. A bordo ficou apenas o cozinheiro da embarcação, o norte-americano Stephen Shelkon - imediatamente detido e, depois, condenado a 20 anos de cadeia, cumpridos no presídio Ari Franco, do RJ.
O episódio do Solana Star virou lenda: navio procedente da Austrália (outros dizem que da Indonésia), com destino aos Estados Unidos, carregado com cerca de 20 mil latas de maconha (22 toneladas), (1,25 kg cada lata), das quais apenas 10% foram apreendidas - o restante foi jogado ao mar e acabou chegando às praias brasileiras, no trecho entre o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul.
As latas continuaram chegando à costa até o mês de março, fazendo daquele verão (1988) o "verão da lata". Acondicionados em latas de alumínio, fechadas a vácuo, com canabis sativa de altíssima qualidade, foram - dizem muitos - o "último suspiro hippie do Rio de Janeiro" ("A maconha vinha do mar, como dádiva de Deus", comentou um consumidor). O carregamento teria sido feito no porto de Cingapura - o Solana Star tinha bandeira panamenha.
O "verão da lata" jamais foi esquecido pelos apreciadores do produto, dentre os quais se incluem muitos gaúchos e catarinenses. Levada pelas correntes oceânicas, a maconha chegou com fartura ao litoral do Rio Grande do Sul e ensejou viagens alucinadas à sua procura. Muitos a revenderam e, ilegalmente, ganharam dinheiro com isso. A maioria, porém, apenas fumou uma erva de elevado teor de THC. O Verão da Lata acabou virando filme - com o diretor João Falcão - e livro ("O Verão da Lata", de Oscar Cesarotto, editora Iluminuras, 2005). Muitos comentam que "fora do País, ninguém acredita que isso aconteceu". Mas aconteceu. Veja o depoimento de alguns que viveram esse episódio e assumem que o fizeram.

"Eu encontrei em Cidreira, naquele tempo ia pros butecos todo dia. Encontrei uma lata, o restante do pessoal pegou o resto. Aí veio a Polícia Civil. Mas não tinha como segurar todo mundo. A maconha vinha vedada, totalmente vedada, se abria com abridor de lata. Da nossa turma só pegamos uma, mas a notícia se espalhou. Quem tinha automóvel em Porto Alegre saiu adoidado percorrendo a orla e se deu bem. A lata era amarelada. Foi a melhor maconha que até hoje entrou no Brasil".
Hélio, "Mão", 46 anos, morador do Jardim Botânico.


"Encontrei surfando, em Magistério. Vi a lata boiando, peguei e fui ver o que era. Fechamos dois e fumamos. Foi de dia. De noite é que soubemos da notícia. Era uma paulada. Coisa boa"
Alex, 40 anos, morador do Jardim Botânico


"Me falaram que tinha um bagulho forte na praia, em Pinhal. Fui de moto ver e encontrei. Trouxe umas cinco latas de lá. Era só camarão. Peguei um quase nada e ele molhou. Foi o melhor bagulho que eu fumei em 50 anos, dizem que era indiano, era melhor que manga-rosa e cabeça-de-negro. A cor do bagulho era amarela, tinha que abrir com abridor de lata. Dava um cheirão, era prensada a vácuo."
G.B., morador do Jardim Botânico


"Fumei a da lata. Daquele, nunca mais vai aparecer. Eram umas latas parecidas com azeite, amarelas. O efeito era melhor do que cocaína. Não existia coisa melhor. Era um tempo de curtição. Tinha gente que saía de carro daqui, para ir ao litoral, buscar".
C.P., morador do Jardim Botânico.
Hoje a socialite Narcisa Tamborideguy completa 47 anos

quinta-feira, outubro 24, 2013

Péssima telefonia adiou a chegada da Internet no Brasil: dezembro de 1995

Era dezembro de 1995, e o Brasil ainda enfrentava grandes dificuldade para entrar com tudo no mundo da Internet. A culpa - em uma época sem banda larga - era do precário sistema de telefonia do Brasil, que ainda não havia sido privatizado. O presidente da República era Fernando Henrique Cardoso, e Sérgio Motta, o seu ministro das Comunicações.
A Internet não contava - vejam só - nem com 100 mil usuários.
Leia a matéria "Confusão na rede", transcrita de VEJA de 27 de dezembro de 1995.
 
"Houve até quem tentasse alcunhar 1995 como o ano de entrada do Brasil no mundo da Internet. Mas, com um número de usuários que não chega a 100 000, não colou. A partir de primeiro de janeiro de 1996, o sonho de se conectar ao universo da comunicação digital será jogado ainda mais para longe. Na entrado do ano novo, fecha-se uma das maiores portas de acesso à Internet no Brasil, a administrada pela Embratel. O prazo para a estatal interromper seu serviço de conexão de usuários à Internet foi dado pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta, em abril. Sua intenção era boa. Ele imaginava, à época, que no final deste ano a rede já estaria funcionando a pleno vapor e a Embratel poderia deixar a função de provedora de acesso para as empresas particulares e dedicar-se apenas ao trabalho de expandir a infraestrutura necessária.
 
"Sete meses depois, a situação é bem diferente da pretendida. A principal estrutura de fios e computadores, que deveria estar cobrindo todo o país em setembro, só ficou pronta há poucos dias. Mesmo assim, não está completa. Falta criar centrais de atendimento para receber as chamadas telefônicas dos usuários e encaminhá-las ao destino na rede Internet, seja ele nos Estados Unidos, seja na Austrália, seja no Amazonas. Por conta desse atraso, várias empresas interessadas em servir de porta de acesso à rede ficaram em compasso de espera. Agora, com a saída da Embratel dessa função, ainda não estarão aptas a absorver os 6 000 clientes deixados na mão, muito menos a captar novos.
"Jogo de Paciência - Mesmo com a infra-estrutura básica resolvida em breve, as provedoras terão de enfrentar outro obstáculo: a falta de linhas telefônicas. Não adianta a Embratel ter um sistema de transmissão para a rede internacional impecável, se as provedoras não tiverem linhas disponíveis para que seus clientes a acessem. Elas precisam de dezenas ou mesmo centenas de números de uma só vez. "A carência de linhas é tanta que, apesar de termos separado uma verba de 1 milhão de dólares para investir em telefones, não conseguimos estar nem na metade", lamenta Marcelo Lacerda, um dos diretores da Nutec, empresa provedora de acesso à Internet, hoje com 1 500 assinantes. "Se aceitarmos muito mais clientes com esse número de linhas, corremos o risco de deteriorar a qaualidade do serviço", diz Lacerda. Algumas empresas colocam até 200 usuários para disputar uma mesma linha de acesso, o que torna a entrada na Internet um jogo de paciência insuportável. "Tenho muita curiosidade, mas não consegui uma senha de entrada e tenho receio de ecolher um provedor de acesso de péssima qualidade", diz o analista de recursos humanos Roberto Santanna.

"Ao grupo de ansiosos por entrar na rede, no qual se inclui o analista, provavelmente se juntarão os clientes da Embratel. Isso só não acontecerá se a pressão que a estatal está fazendo para não largar o serviço der resultado. Em outros países, como a França, onde o sistema de telecomunicações também é gerido pelo monopólio estatal, a empresa cuida da infra-estrutura e também é provedora de acesso à Internet. Apenas seguem uma rígida regulamentação que tenta tornar justa a concorrência entre a iniciativa privada e a estatal responsável por traçar os projetos de expansão da telefonia. No Brasil, pelo ritmo em que as decisões sobre Internet andam, isso é assunto para 1997."

terça-feira, outubro 22, 2013

Em outubro de 1976, a inauguração do Condomínio Felizardo Furtado

Estava lá, na contracapa da edição de sábado, 30 de outubro de 1976 do jornal Correio do Povo, sob o título “Inaugurados Hospital da PUC e Bloco de 944 Apartamentos”:
“O Presidente da República presidiu, na manhã de ontem, os atos de inauguração do Núcleo Habitacional Felizardo Furtado, com 944 apartamentos, e o Hospital Universitário da PUC. Acompanhado pelo governador Sinval Guazzelli, pelo chefe do gabinete militar da Presidência da República, general Hugo de Abreu, e pelos ministros Rangel dos Reis e Arnaldo da Costa Prietto, o presidente chegou ao bairro Jardim Botânico, onde foi construído o núcleo habitacional, às 9 horas e 30 minutos, sendo aguardado pelo prefeito Guilherme Socias Villella, pelo diretor-superintendente do INOCOOP, Renato Eickstaed, e demais autoridades. Estudantes de todo o bairro e bandas marciais saudaram o chefe da Nação em sua chegada ao Núcleo Habitacional Felizardo Furtado. No local, o presidente Ernesto Geisel solicitou amplas informações sobre a obra que custou 130 milhões de cruzeiros, interrogando principalmente o diretor-superintendente da INOCOOP. A seguir entregou a chave de um apartamento a Eduardo Araújo, o primeiro morador do Núcleo”.

Na verdade o presidente Geisel havia chegado ao Estado na quinta-feira, seguindo imediatamente a Santo Ângelo, onde abriu oficialmente a colheita do trigo. Em seguida foi a Caxias do Sul e lá inaugurou o Centro de Tecnologia e Pesquisa da Universidade de Caxias do Sul, UCS.
Era, em essência, uma agenda política, pois estava-se às vésperas das eleições municipais (as únicas permitidas para cargos executivos) e Geisel queria dar “um empurrãozinho” no seu partido, a Aliança Renovadora Nacional, Arena. Ele também esteve em Estrela, sua terra natal, e em Bom Retiro, onde inaugurou outras obras e fez um discurso sobre a importância de “se votar bem”.
No Conjunto Felizardo Furtado, Geisel e comitiva descerraram a placa de inauguração, conheceram um apartamento e depois seguiram para o Hospital da PUC.
Durante a inauguração do conjunto habitacional, o Presidente da República foi saudado pelo presidente da Cooperativa Habitacional que construiu o “núcleo” (INOCOOP), Gilberto Rodrigues. Segundo transcreveu o Correio do Povo, Rodrigues, ao se referir à obra e ao presidente Geisel, falou em “libertação” dos trabalhadores:
“Esse momento, consagrado com a presença de Vossa Excelência, significa a libertação de 944 famílias de trabalhadores que passam da condição de inquilinos e peregrinos de tetos alheios, a proprietários da casa própria”.
Na verdade o Conjunto de 944 unidades, 8 prédios, 62 mil metros quadrados de obras (iniciadas em fevereiro de 1974), beneficiava famílias com renda mensal de cinco a oito salários mínimos – ou seja, era um condomínio para a classe média baixa. As prestações eram relativamente suaves (menores que o aluguel correspondente) e longas, o que atraiu um grande número de interessados.
A maioria dos apartamentos, de um, dois e três dormitórios (poucos), havia sido vendida na planta, antecipadamente. Um empreendimento dessa magnitude, é claro, atraiu a atenção do mercado imobiliário e de muitos especuladores que viram uma boa oportunidade de lucrar com a revenda dos imóveis, como se pode ver pelos anúncios classificados do Correio do Povo (o maior jornal da época). No domingo, 31 de outubro, lia-se no CP:
“Transfere-se vários apartamentos com um, dois e três dormitórios, living, banho social, cozinha e área de serviços. Conjunto novo com play-graud, estacionamento e área verde. Conj. Residencial Felizardo Furtado. Chaves em nosso poder. Diversos preços e condições. Tratar Riachuelo, 1513, s/loja, f.244471.” Outro anúncio, na mesma edição, dizia: “Preciso urgente de um apto no parque residencial FF. Negócio direto. Tratar f. 255004”. Dezenas de anúncios desse tipo – bem antes da data oficial da inauguração – saíam regularmente na imprensa.

Neusa Brizola teve uma vida marcante e sofrida


Ela foi a grande companheira de Leonel Brizola (falecido) - e, em toda a sua vida, habituou-se a conviver com o poder. Isso, porém, não a impediu de ter uma existência sofrida, cheia de altos e baixos, e de, por uns tempos, tornar-se alcoólatra.
Neuza Goulart Brizola, mulher do ex-governador gaúcho e fluminense - o amado e odiado homem que garantiu a Legalidade e a posse de Jango, seu irmão - faleceu em 7 de abril de 1993, uma quarta-feira, aos 71 anos de idade, na clínica Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, onde morava. O laudo atestou infecção generalizada e sérios problemas respiratórios. Foi enterrada em São Borja, assim como Jango, assim como Getúlio Vargas (que foi seu pardinho de casamento), assim como Leonel, também falecido (sem ter nunca ter realizado o seu sonho de se presidente).
Elegante, discreta, bonita, Neuza conheceu Leonel em uma convenção do Partido Trabalhista Brasileiro, em São Borja, onde nasceu, ainda nos anos quarenta. Conta-se que trocou um outro pretendente rico por um jovem engenheiro em início de carreira política. Quando casaram-se, ela tinha 28 anos - e nunca se arrependeu da opção: a união dela com o temperamental Brizola parece ter sido amorosa, senão apaixonada. O marido chamava-a de "queridinha", era seu confidente e amigo. Foram apaixonados por toda a vida e tiveram três filhos - João Vicente, João Otávio e a problemática Neusinha - recentemente falecida.
Não era para menos: ao lado do líder trabalhista, Neuza suportou muitos anos de exílio (15 longos anos) e perseguições políticas em terras estranhas, sem jamais esmorecer. Antes, quando Brizola era governador do Rio Grande do Sul, chegou a doar uma de suas sete fazendas - que herdou dos pais - para a reforma agrária que seu marido promoveu no Estado, e vendeu outras quatro para garantir o sustento da família, no período da Ditadura, quando viveram no Uruguai e depois em Portugal e nos Estados Unidos. Vendeu mais uma, quando voltaram ao Brasil, em 1979, para comprar o apartamento na avenida Atlântica, em Copacabana - o QG de Brizola, e onde morou até a sua morte.
DEPRESSÃO - Os primeiros seis anos de exílio foram duros. No frio Uruguai, viveram em um apartamento sem calefação ou ar condicionado. Depois a família mudou-se para uma fazenda, a 250 km de Montevidéo - lá não havia energia elétrica ou telefone. Mulher prendada, pela primeira vez obrigou-se a cozinhar. Disse mais tarde, sobre isso: "Só quem passou pelo exílio sabe como é triste ser brasileiro fora de sua pátria".
Em 1983, no Brasil, tratou-se durante 75 dias, nos Estados Unidos, de uma crise de depressão, algo cada vez mais comum - sequer chegou a asistir à posse do marido no Palácio Laranjeiras. Mais tarde internou-se em uma clínica para recuperação de alcoólatras, na Espanha.
Em 7 de janeiro de 1993, em Nova York, foi internada às pressas em um hospital, com uma úlcera perfurada. Permaneceu dois meses na UTI, sedada. Carinhoso, Brizola a visitava duas vezes por dia e passava longas horas à beira da cama, afagando seus cabelos. Alguns dias antes da sua morte, sem poder falar, trocava bilhetes com o marido.
Talvez por tudo isso, Neuza abusava dos calmantes e antidepressivos, bebia muito e fumava. Em 1986, ela e Leonel combinaram de parar de fumar - o que ele conseguiu, ela não. A esse tempo já havia se submetido a uma operação para a retirada de um tumor em um dos seios. Sofreu também com as brigas entre seu marido e o irmão Jango - reconciliados enfim em 1976, pouco antes do presidente deposto morrer.
Seu maior sonho, no entanto, nunca aconteceu: voltar e envelhecer junto ao marido, na sua São Borja, de preferência bem longe da política.

segunda-feira, outubro 21, 2013

Paulo Francis: exagerado, ególatra e polêmico, está fazendo falta

Quem não lembra dele, com aquele óculos fundo de garrafa, a fala afetada, dizendo poucas e boas, não raro mentindo e não raro acertando na mosca?

Um dos jornalistas mais cultos e mais lidos do Brasil (escrevia inicialmente na Folha de São Paulo, passando depois para o Estado, que distribuía sua coluna para dezenas de outros jornais brasileiros), considerado arrogante e direitista por muitas, lúcido por outros, Paulo Francis tinha um humor ranzinza - e talvez seja este humor que esteja fazendo falta hoje, anos depois da sua morte, em 4 de fevereiro de 1997, em Nova Iorque, aos 66 anos.

Francis - nascido Franz Paulo Trannin Heilborn, em uma família de classe média alta do Rio de Janeiro - nunca fez curso superior, foi trotskista na juventude, dos 14 aos 27 anos leu em média seis horas por dia, participou dos áureos tempos do Pasquim, foi preso pela ditadura militar, ofendeu todo mundo (inclusive Roberto Marinho, que comparou a um emissário cloacal, o "robertoduto". Depois foi trabalhar para as Organizações Globo: Marinho não guardou mágoas do episódio) e, por essas e outras, morreu de infarto em seu apartamento na cidade que ele considerava a Capital do Mundo.

Também parecia não gostar de negros e nordestinos - certa vez chamou o Nordeste "desta região desgraçada do País." Quanto aos seus comentários culturais, era igualmente ácido e pretensioso - simplesmente desprezava o moderno cinema nacional e considerava quase todos os intelectuais como subservientes ao poder. Na esfera política, tornou-se célebre a denominação que deu ao senador Eduardo Suplicy (e sua fleuma) - "Mogadon", o nome de um remédio.

Paulo Francis vivia então (1997) um dos mais complicados períodos da sua vida: estava sendo processado pelo presidente da Petrobrás (do governo FHC), Joel Rennó, e mais outros seis diretores da estatal. Eles pediam nada menos do que 100 milhões de dólares por ressarcimento moral, uma vez que o jornalista havia dito, durante sua participação no programa Manhattan Connection, da Globosat, que`"os diretores da Petrobrás põem dinheiro na Suiça", "roubam em subfaturamento e superfaturamento", "é a maior quadrilha que já existiu no Brasil". Pior: disse isso tudo sem nenhuma prova consistente e certamente iria perder o processo e ter que pagar uma bolada grossa para os acusados. Aliás, já estava gastando os tubos com advogados - ele, o jornalista mais bem pago do Brasil, ainda assim não tinha como fazer frente às despesas com honorários (ele próprio calculou que o processo se arrastaria por uns cinco anos e lhe custaria, só com os advogados, no mínimo 200 mil dólares). Segundo Francis, o objetivo da ação era arruiná-lo financeiramente. Transtornado, passou a ingerir calmantes em doses maciças e a sentir dores nos ombros, o que julgou um sintoma da sua bursite e não de problemas cardíacos, os quais até seu médico desconhecia.

É de se imaginar que, se estivesse vivo hoje, o que ele não diria do governo Lula.

Uma palhinha de Paulo Francis:
"A morte deve ser como a anestesia geral"
"Bebi muitos anos. Para ficar bêbado. Não vejo outra razão. O bebedor social é coisa de pequeno-burguês" (depois parou completamente de beber)
"Fidel Castro é essencialmente um conservador feudal, um feitor de fazenda, a quem a idéia de inovações, de modernidade, horroriza"
"A melhor propaganda anticomunista é deixar os comunistas falarem"
"Acho que a tendência do intelectual é ser de direita. Ele é, por definição, um elitista"
"É preciso meter as mãos na cabeça raspada do Vicentinho língua-presa. Eu lhe daria uma chicotada para ver se reage docilmente como escravo."
"Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. Crítica não é raiva. E crítica, às vezes, é estúpida."
"Nenhum filme brasileiro dá certo porque todos os cineastas tentam demagogicamente se colocar na posição de humildes. É falso, visceralmente. Sempre que vejo algum favelado em filme brasileiro tenho vontade de sair gritando: é um santo! É um santo!"
"O negro africano não tinha língua escrita, como notaram os exploradores da África do século XIX; logo não pode, pela ordem natural das coisas, possuir uma cultura como a entendemos."
"Quero que fique registrado que eu favoreceria o fechamento do Congresso ou qualquer outra dessas instituições reacionárias que impedem o progresso do País."

Salve Grêmio, campeão de 1949!



Em 1949 o Grêmio foi campeão da liga metropolitana. Em 1954 inauguraria o seu novo e grandioso estádio, o Olímpico, na época o maior estádio particular do mundo. Também em 1949, no final do ano, o glorioso time tricolor excursionaria pela América Central, enfrentando selecionados de vários países e voltando invicto, depois de vários jogos. A excursão do Grêmio às repúblicas centro-americanas foi "coroada de glória", como escreveram os jornais. Mas o time - em um "périplo" incrível - teve de enfrentar desgastantes e perigosas viagens de avião (imaginem o que era isso naquela época) e enfrentou a truculência e a violência, sem se deixar abater. Até revólveres foram usados para amedrontar o time.
Nesta reprodução do Diário de Notícias, o título de 1949.