sexta-feira, julho 18, 2014

Conquista da Lua completa 45 anos e espanta pelo primitivismo tecnológico da época

No próximo domingo, 20 de julho, fazem 45 anos que o homem realizou uma histórica e ousada façanha: pousou pela primeira vez uma nave tripulada na superfície lunar, depois de uma viagem que durou quase três dias e que tinha tudo para não dar certo - tanto que, dizia-se, os três cosmonautas da NASA carregavam pílulas de cianureto encaixada nos dentes para mordê-las em caso de tudo dar errado e ficarem lá, vagando, em chances de voltar. Nixon, então presidente, teria até mesmo um discurso antecipadamente pronto, lamentando o fracasso, enaltecendo os heróis do espaço e garantindo que os EUA não desistiriam da corrida espacial devido a isto.
Mas, mesmo com os precários computadores da época (com capacidade inferior ao de um celular de bolso dos dias de hoje), e com os percalços que surgiram durante a viagem, deu tudo certo e Armstrong, Aldrin e Collins (que permaneceu na nave-mãe) hastearam a bandeira norte-americana no solo poeirento e pedregoso do satélite terrestre. Note-se que os Estados Unidos, e o mundo, viviam momentos delicados naquele final dos anos sessenta, com a Guerra Fria e a ameaça do extermínio nuclear entre as superpotências e que refletia-se, ampliada, na corrida pela conquista do espaço. A Guerra do Vietnã, por outro lado, vivia o seu auge, com os norte-americanos sofrendo sérios revezes na Ásia. O Brasil entrara, havia meses, numa ditadura plena, com o AI-5 e o acirramento da luta entre os militares e os militantes inimigos do regime. 
Nesse contexto a conquista da Lua, transmitida ao vivo (no caso do Brasil, em preto-e-branco) para todo o mundo, foi o grande acontecimento do ano de 1969 e, por semanas, meses, repercutiu intensamente na imprensa, como é o caso do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, que tirou um caderno especial a respeito - muito bem feito, por sinal. As agências de publicidade, como é natural, tiraram partido do feito e usaram-no como tema de inúmeras campanhas.
As reproduções abaixo são da coleção do Correio do Arquivo Histórico de Porto Alegre, cidade que na época contava pouco mais de 800 mil habitantes e cuja população ainda seguia para o trabalho em bondes elétricos.







As velhinhas tatuadas

Um dia, anos atrás, eu disse e previ, como o bobo arauto do rei: essas moças todas que hoje aí estão, decoradas na superfície epidérmica, no revestimento do corpo, na preciosa cútis, irão envelhecer um dia e um dia terão cabelos brancos, andar encurvado, olhar opaco e triste, pele seca e flácida, e então será curioso observar uma legião de velhinhas (e velhinhos) tatuados dos pés à cabeça como se fossem os escombros pictóricos da adolescência e da juventude, o Louvre, o museu de arte das suas vidas e do que viveram no passado. 
Mereciam até uma poesia: As Velhinhas Tatuadas. 
Esses dias eu vi a primeira idosa ou quase-idosa (vamos assim chamar) repleta de tatuagens por nas partes expostas do corpo (eram muitas nos braços, nos ombros e nas pernas) e achei aquilo tão histórico quanto à primeira queda do Mike Tyson no ringue. Observei-a de longe, com um certo fascínio babaca, uma certa estranheza, um certo caipirismo conservador e irônico de menino interiorano. Daqui a uns dez, vinte ou trinta anos esta senhora terá a companhia de muitas e muitos outros, surgindo a geração dos idosos tatuados, agora nos seus primórdios. Algumas velhinhas terão até tatuagem na bunda, vejam só. (Vitor Minas)
Duke, em A Charge Online.





Hoje Nelson Mandela faria 96 anos e hoje Baby Consuelo (ou do Brasil) completa 62. E no dia de hoje faleceram o general farroupilha Bento Gonçalves (1847), o líder indígena e deputado federal Mário Juruna, o ator Raul Cortez e o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro.

quinta-feira, julho 17, 2014

O Grande Templo e as mentes paralíticas

A anunciada inauguração do novo templo dessa igreja dos bispos em São Paulo, construção que pode abrigar 10 mil pessoas sentadas,  e a proliferação de inúmeros programas religioso-comerciais nas emissoras da tevê aberta, me fazem lembrar de uma frase de Kafka: "A religião é a muleta das mentes paralíticas". Não sei se ele disse ou escreveu isso, textualmente (estou citando uma citação), mas se vivesse hoje, com tudo que está aí, na telinha e fora dela, certamente reforçaria o que disseram que disse. Também me lembrei de H. L. Mencken e do que ele escreveu sobre a exacerbada religiosidade norte-americana nos anos vinte. Para Menken, que não acreditava em nenhum Deus pessoal (e nem impessoal), ser religioso era ter "a crença ilógica na ocorrência do improvável".
Aí também me lembrei de um sujeito, dono de bar popular, que conheci em em Santa Catarina - e que, a princípio, considerando o local e sua aparência, me pareceu um tipo bronco e primitivo, típico da fauna dos bares. Mas não era o que imaginei à primeira vista: me contou (não lembro como iniciou tal tipo de estranha conversa) que havia sofrido um gravíssimo acidente de carro anos antes e que vivera então a tal famosa experiência de morrer e voltar, ou de sair fora do corpo - essas que o Fantástico e aquele programa de domingo da Rede Record adoram exibir com destaque. 
Seja lá o que for, ele garantiu ter saído efetivamente do corpo e ter visto toda a cena da qual era vítima, incluindo o seu próprio corpo que jazia sem vida, lá embaixo, todo ensanguentado, em meio às ferragens retorcidas. Depois disso, socorrido, permaneceu meses em um leito de UTI, até voltar à ativa no jogo da vida.
Pois o sujeito ficou tão impressionado com aquilo que vira ou imaginava ter visto (segundo ele, foi barrado por pessoas do Além, que o mandaram de volta, alegando não haver chegada a sua hora de cruzar o portal divisório) que, mesmo meio anarfa, passou a procurar, comprar e ler livros sobre todas as principais religiões do mundo - cristianismo, islamismo, budismo, xintoísmo, o escambau. Fez isso durante anos, atrás daquilo que o personagem de Somerseth Maughan faz em O Fio da Navalha.
No final o sujeito - que ainda apresentava visíveis sequelas do acidente e tinha certas dificuldades em caminhar - me disse que, de tudo que lera, havia chegado a uma única conclusão: "Nenhuma religião organizada presta", disse-me ele, convicto e conclusivo, no interior mal iluminado daquele tosco buteco.
Penso agora em Mencken e Kafka, e principalmente nesse cara do bar de Floripa, quando vejo esse rebanho todo que segue teorias esdrúxulas e deixa suas parcas economias nas mãos de bispos, pastores, "apóstolos" etc., essa gente que vive à tripa forra e mantém contas no exterior e frotas de aviões em hangares particulares. É o tal do "me engana que eu gosto". (Vitor Minas)
Nani, em A Charge Online.





Hoje Angela Merkel faz 60 anos, Quino faz 82, Ronnie Von e Carlos Alberto Torres completam 70 anos. E no dia de hoje, em 1995 e em 1959 respectivamente, faleceram Juan Manoel Fangio e Billie Holiday. 

quarta-feira, julho 16, 2014

Maria José Cardoso, a catarinense que foi Miss Brasil pelo Rio Grande do Sul em 1956






Quem a viu pessoalmente diz que era de uma beleza invulgar e estonteante (morena com olhos azuis esverdeados) no gênero Ava Gardner - se bem que um tanto tímida. O certo é que a primeira Miss Brasil gaúcha escolhida por um júri nasceu em São Francisco do Sul, no litoral catarinense e se mudou ainda pequena para o Rio Grande do Sul, Estado que representou no concurso Miss Brasil 1956, realizado no hotel Quitandinha, em Petrópolis, Rio de Janeiro, a 16 de junho.
Maria José Cardoso tinha apenas 21 anos de idade e estudava no Instituto de Belas Artes, em Porto Alegre, mas, para os mais íntimos, era tão somente a "Zezé da rua Vicente da Fontoura", em Petrópolis, onde pegava diariamente o bonde que a levava ao centro. Foi,aliás, como representante do Petrópole Tenis Clube que se elegeu Miss Porto Alegre;
Eleita Miss Brasil, depois de ter vencido o certame estadual, teve um retorno apoteótico a Porto Alegre, sendo recebida no aeroporto pelo prefeito Leonel Brizola e, ao término de um desfile em carro aberto que teve multidões a acompanhá-lo (inclusive na Rua da Praia), acenou para os gaúchos na sacada do Palácio Piratini - o governador Ildo Meneghetti estava a seu lado (por coincidência, a esposa de Meneghetti aniversariava naquele dia). 
Maria José Cardoso, a Zezé, não venceu o concurso Miss Universo daquele ano, mas chegou perto. Alguns atribuem o fato à sua timidez. As reproduções acima são da Revista do Globo da segunda quinzena de julho de 1956.

Pobre do Charles de Gaulle e da "capital carioca"

É, os caras querem reserva de mercado, mas é crassa a ignorância desse pessoal que sai das faculdades e até mesmo de muitos outros, que já estão aí há tempos. Falo dos jornalistas, dos repórteres, do pessoal da imprensa falada, televisada, impressa, mediatizada, internautizada, etc. 
Como escuto muito rádio, tenho ouvido cada coisa de arrepiar em termos de falta de uma cultura mínima e, mais do que isso, dos erros de português praticados por repórteres e locutores, sobretudo os de concordância. O sujeito começa a frase no plural e logo passa a falar no singular. Outros erram totalmente a fonia da palavra. Esses dias um sujeito me saiu com esta: "O presidente de então, Charles de Gaule". Isso mesmo: ele não pronunciou Charles Degôl, como todos nós fazíamos e como qualquer pessoa com cultura mínima faz - e não precisa falar uma frase sequer em francês, como é o meu caso. Aliás, boa parte dessa gente fala inglês (a qualidade é que é), que apreendeu desde criancinha, mas não conhecem bulhufas do idioma nacional.
O mais "pelhor" - como se dizia lá em Santo Augusto - foi o caso de uma repórter de uma emissora aqui de Porto Alegre e uma notícia procedente da "capital carioca". 
Duke, em Supernotícia (MG). A Charge Online.



Hoje Ana Paula Arosio completa 39 anos (ver matéria à direita), Giner Rogers faria 103, a divina Eliseth Cardoso faz 94 e o pianista Arthur Moreira Limpa faz 74.

terça-feira, julho 15, 2014

Stan Getz em Porto Alegre, em setembro de 1976

Porto Alegre sempre foi um dos principais destinos dos grandes músicos estrangeiros que chegam ao Brasil. Em 1976, ainda durante o período do regime militar, o saxofonista Stan Getz, um dos mais geniais representantes do jazz cool norte-americano, esteve na Capital gaúcha, apresentando-se uma única vez no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Falecido em junho de 1991, aos 64, Getz - que fez parcerias memoráveis com João Gilberto e Antonio Carlos Jobim - nasceu em fevereiro de 1927, filho de uma família de judeus ucranianos que emigraram para a América. Com problemas com o álcool e as drogas, como boa parte dos músicos de jazz, tinha uma grande afinidade com o Brasil e com a música brasileira. Coleção do Arquivo Histórico de Porto Alegre, reprodução do Correio do Povo.

Duke, O Tempo (MG). A Charge Online.



Hoje Forest Whitaker faz 53 anos, Brigitte Nielsen faz 51, Mario Kempes comppleta 60 e Samuel Rosa faz 48.

segunda-feira, julho 14, 2014

Em maio de 1950, o Circuito da Zona Sul marcou época no automobilismo gaúcho e brasileiro





O Rio Grande do Sul, no passado, era um celeiro de "ases" do volante, cenário de circuitos e corridas célebres que marcaram época no automobilismo brasileiro e sul-americano. Corredores hoje lendários, como os irmãos Andreatta, os Jung, Rimoli, Burlamaque, nomes assim eram reconhecidos em todo o País e despontavam como grandes personalidades do esporte gaúcho nos anos 30, 40 e 50, especialmente. A proximidade com a Argentina (Fangio se aproximava do auge no circuito internacional, do qual foi cinco vezes campeão na fórmula 1), onde as corridas de carro não eram menos populares do que as corridas de cavalo, ajudava em muito no desenvolvimento dessa modalidade praticada em condições extremamente adversas e primitivas, com estradas de terra batida e muitos acidentes - o que excitava ainda mais os audazes pilotos.
Em 1950, um pouco antes da Copa do Mundo que o Brasil sediaria pela primeira vez, aconteceu a maior prova automobilística já realizada no Estado, transmitida ao vivo pela Rádio Gaúcha e acompanhada por um avião da VARIG durante todo o tempo. Bem organizada e dispondo de forte patrocinadores com ambulâncias e eficiente sistema de sinalização, o Circuito Zona Sul, uma promoção do jornal Folha da Tarde d do Correio do Povo, reuniu 31 pilotos de ponta, dos quais apenas 19 chegaram ao final. O percurso, de 992 km, dividia-se em duas etapas: Guaíba (não havia ainda a ponte sobre o rio) - Cachoeira do Sul e Bagé, e a segunda de Bagé para Pelotas e Guaíba.
O Circuito da Zona Sul aconteceu nos dias 13 e 14 de maio de 1950, sábado e domingo, e teve a presença surpresa do maior corredor brasileiro, o paulista Chico Landi, que chegou a Porto Alegre na última hora e logo foi considerado o franco favorito para a disputa. Mas o seu carro teve a barra da direção partida e ele nem chegou ao término da prova, vencida, nas duas etapas, por Júlio Andreatta, irmão de Catarino, que marcou uma média de 91 km e 20 metros por hora (tudo escrupulosamente medido com cronômetros da Casa Masson, uma das patrocinadoras). Em segundo lugar ficou Aldo Finardi e, em terceiro, Dante Roveda. O vencedor foi cumprimentado pessoalmente pelo governador Walter Jobim e mereceu muitas páginas dos jornais da época, além de uma ampla reportagem na Revista do Globo. Muitos desses corredores estão muito bem vivos e devem recordar com saudade tal evento e uma época histórica e emocionante. (Reprodução da coleção do Arquivo Histórico de Porto Alegre)

O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males

O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Me lembrei desta frase de São Paulo (não a cidade e sim apóstolo cristão) quando li a notícia de que finalmente Felipão pediu para sair do comando da seleção, resultado do desastre da Copa que ele, desnecessariamente, disse que tínhamos "obrigação de ganhar".
Felipão - que já é rico e dono de incontáveis imóveis e outros interesses, segundo me disseram - poderia ter sido lembrado como o comandante do penta, o homem que, em 2002, assinou seu nome no livro-ouro da história do futebol brasileiro, ganhando a Copa do Japão-Coréia de forma, senão brilhante, pelo menos eficiente e convincente. Aquela conquista, por si só, bastaria para encher de orgulho e honra qualquer um - além de render uma boa grana, é claro. Seria, no meu entender, o momento de sair por cima, como fez Pelé (e não como fez Schumacher, o piloto), repleto de louros e do reconhecimento de todos os brasileiros.
Quando, tempos atrás, ventilaram a possibilidade de ser Felipão o técnico do Brasil nesta Copa jogada em casa, eu disse para algumas pessoas: "Ah, ele não vai aceitar! Prá que arriscar tudo em um empreendimento arriscado", uma loteria, já que estava evidente que o nosso futebol, ao longo do tempo, desde 2002, mostrava-se enfraquecido e empobrecido tecnicamente. Além disso era o momento apropriado para outro treinador, de dar vez a uma outra pessoa, outro profissional. Era a hora de Scolari, que já não é garoto, entrar na galeria das personalidades, no panteão do futebol, como o grande vencedor que sempre foi, no passado.
Mas, alguém que o conhece pessoalmente, me disse: "Ele vai aceitar. Conheço o gringo e sei como ele gosta de dinheiro".  Mesmo assim, duvidei, até porque o homem já tem muito dinheiro, e aceitar ser novamente técnico do selecionado canarinho teria apenas estas explicações: vaidade, gosto pelo poder e, sobretudo, amor ao dinheiro - daí ter me lembrado de São Paulo, o apóstolo. 
Agora, depois do grande vexame, Felipão saiu, porque quase ninguém mais quer ele no cargo, porque foi vaidoso, arrogante e cobiçoso, e não havia mais como permanecer. E porque, mais do que tudo, foi inoperante e incompetente tecnicamente, um profissional sem criatividade, desatualizado, o típico sujeito que acha que a sua "estrela" (e muita gente confiou nela para ganhar o hexa) era superior a tudo, como se, como Felipão, o Destino também jogasse do nosso lado. E a imprensa, sempre volúvel e burra - apoiada por interesses comerciais evidentes - adorou ter Felipão de volta. A mesma imprensa que hoje o crucifica e o esculacha, até de modo excessivo e desrespeitoso. O povo brasileiro, entrando na onda - e confiando ainda no "carisma" de tiozão birrento e simpático, além de vencedor de títulos internacionais de clubes, do gaúcho de bigode - também apoiou tal escolha com certo entusiasmo. Muricy Ramalho não quis aceitar - então era para ser o Felipão, pensava-se.
Só que o Felipão que assumiu o controle da seleção brasileira para a Copa de 2014 já não parecia mais o mesmo, assim como um sujeito muito rico - mas que ainda quer mais cascalho - não é mais aquele que estava tentando chegar lá e fazer patrimônio. 
Assim como Ronaldo Nazário e alguns outros craques, Felipão deixou de ser o profissional interessado e amante do futebol para colocar o "esporte bretão" em uma posição secundária na sua vida. Desatualizou-se, deixou de estudar técnicas e táticas, para se transformar em uma empresa, uma grande empresa comercial e lucrativa que arrecada muitos milhões, que anuncia toda sorte de produtos - e nunca ninguém anunciou tanta coisa em anúncios de tevê quanto o ex-técnico do Brasil de Pelotas, do Criciúma, do Grêmio e do Palmeiras. Até sua mulher virou garota-propaganda, imaginem só.
Acho que foi nesse momento que ele deixou de ter tempo (ou vontade) para ser o velho Felipão do futebol e se tornou uma griffe, um figurão, um medalhão da publicidade brasileira. Talvez - e acredito nisso - tantos negócios e envolvimentos comerciais tenham feito com que sua cabeça se voltasse bem mais para este lado e o futebol tenha ficado em plano secundário nas suas preocupações. Imagino uma cena assim: empresários, procuradores, vendedores, todos à sua volta, propondo coisas para ganhar dinheiro, tomando seu tempo, sua mente, suas horas do dia e da noite. Edifícios, casas, empresas, terrenos - pensar nessas coisas absorve e consome uma pessoa. E o futebol ia descendo degraus nas suas prioridades imediatas. Ou seja: ele entrou na mentalidade da CBF e passou a praticá-la. Queria mais e mais milhões de reais, de dólares e de euros. Queria ser um grande milionário. O dinheiro lhe subiu à cabeça.
Foi por isso, o amor ao dinheiro, a raiz de todos os males, que aceitou ser novamente treinador da seleção brasileira - é o que eu sinceramente penso. Não queria apenas ser muito rico, como já era:queria ser muitíssimo rico, assim como Ronaldo Nazário, Neymar (o mesmo caso) e outros que deixaram de ser homens e profissionais para se transformarem em marcas e empresas que geram milhões. Nesse sentido o técnico brasileiro é um protótipo, um tipo - e não há muita coisa de pessoal que o desabone, afora isso.
Não sei onde o Felipão vai gastar o seu dinheiro - dizem, aliás, que ele é um homem sovina e que não gosta nem de pagar uma cerveja para alguém. Como fazer isso, e aonde e como, ah, para tanto não faltam locais e oportunidades - embora alguns tenham apenas fixação de acumular mais e mais (Freud explica). Mas também sei de uma coisa: ele, nesta sua segunda passagem pelo comando da seleção, ganhou ainda mais dinheiro do que a primeira vez e certamente terá condições de oferecer vida luxuosa para várias gerações de seus descendentes. Como diz o gaúcho, está com a guaiaca recheada, e de moedas de ouro de alto quilate. 
Ganhar muito dinheiro não deve ser ruim - eu não sei como é, mas não deve ser ruim, pelo contrário. Pena que, para alguns, isso seja um túnel sem fim, uma estrada sem ponto de chegada, um voo sem limites. Pena que não saibam parar, mesmo já tendo tanto. E pena que, para isso, deixem de ser humanos, como a maioria, e se tornem cifrões, marcas, griffes.
Felipão poderia ter sido lembrado como o grande comandante do penta - bastaria não ter aceitado ser mais uma vez o técnico, ter se resguardado e usufruído do carinho e do respeito da nação pelos méritos indiscutíveis que tinha. Mas, assim como um jogador compulsivo nos cassinos de Las Vegas, preferiu arriscar tudo para ganhar o grande prêmio. E ganhou - em dinheiro ganhou o grande prêmio e levou milhões para casa. Mas, como homem e profissional, ficou bem menor e menos digno de respeito. Agora será lembrado pelos 7 a 1 que levamos da Alemanha e pelos 3 a 0 da Holanda, pelo rebaixamento do Palmeiras e não terá argumentos para contestar aqueles que o consideravam ultrapassado.
Mas, claro, poderá esquecer isso tudo a bordo de um iate luxuoso e vivendo uma vida luxuosa de celebridade holiudiana que, se tem tantos milhões, já não tem mais talentos a oferecer. É, às vezes os gigantes se apequenam por conta própria. Fizeram a sua opção de ser cifrões e não pessoas ou profissionais. (Vitor Minas)


Paixão, em A Gazeta do Povo, PR. A Charge Online.





Hoje Nilmar faz 30 anos, Silvio Luiz faz 80, Denise Stoklos faz 64. E hoje Ingmar Bergman faria 96, Gerald Ford faria 101 e Walter Clark completaria 78.