sábado, setembro 22, 2012

Figuras históricas, padres e vultos militares dão nome às ruas do Jardim Botânico


PUBLICADO EM 30 DE AGOSTO DE 2008. REPUBLICAÇÃO.
De um modo geral, as ruas do Jardim Botânico homenageiam vultos, datas e figuras históricas, em especial na área militar e religiosa, como a Barão do Amazonas, a Roque Gonzalez. Mas há outras, como a Felizardo, a Felizardo Furtado e a Guilherme Alves, que dizem respeito à história da cidade.

Abaixo, em gravura, o Barãdo do Amazonas e o padre Roque Gonzales



RUA BARÃO DO AMAZONAS – Na realidade bem poderia se chamar “Almirante Barroso”, pois o Barão é nada menos do que o Almirante Francisco Manoel Barroso, o herói da Guerra do Paraguai. Comandando a corveta “Amazonas”, durante a Batalha do Riachuelo, o Barão ordenou ao timoneiro que a fizesse colidir de proa contra os navios inimigos, selando a sorte da guerra em favor do Brasil. A Barão tem mais de três quilômetros de extensão e atravessa Petrópolis, Jardim Botânico, Partenon e o bairro Santo Antonio, iniciando na avenida Protásio Alves e terminando na Paulino Azurenha. Até a década de 1930 era conhecida tanto como Barão do Amazonas como “rua Esmeralda”. Uma lei municipal de 6 de julho de 1936 oficializou o atual nome. Nas décadas seguintes, com o desenvolvimento de Petrópolis, seguiu até a Protásio Alves e, em sentido oposto, subiu o morro, superou a sua crista e desceu no rumo da Glória, até encontrar a Paulino Azurenha.

AVENIDA  DOUTOR SALVADOR FRANÇA – Salvador França Martins, nascido e falecido em Porto Alegre, foi um grande proprietário de terras na cidade no século XIX e XX. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo. Casou-se com Dona Inocência Prates de Castilhos, irmã do político republicano Júlio de Castilhos.
RUA DONA INOCENCIA – Homenagem à esposa do doutor Salvador França.
RUA FELIZARDO – Joaquim José Felizardo (1839-1899) foi um grande comerciante e partidário do abolicionismo. Muito antes da lei que libertou os escravo, eles já havia dado liberdade a todos os seus. Foi proprietário de terras no Caminho do Meio, alturas do hoje bairro Santa Cecília, naquela época conhecida por Chácara Felizardo, além de vereador de Porto Alegre.

RUA FREITAS CABRAL – João Francisco de Freitas Cabral, educador e político, nasceu em Viamão e morreu em Porto Alegre, em 1890. Foi marinheiro dos 18 aos 21 anos e depois tornou-se professor. Também elegeu-se deputado provincial. A rua, antigamente, se chamava rua Carlos Barbosa.
RUA FERREIRA VIANA – Divisa de Petrópolis com o Botânico. Homenageia Antonio Ferreira Viana, pelotense de nascimento, nascido em 1832 e falecido em 1905, no Rio de Janeiro. Formado em Direito pela Faculdade de São Paulo, foi deputado, senador e conselheiro do Império, além de ministro da Justiça de D. Pedro II. Espírito brilhante, grande orador, escritor de estilo primoroso, magoou o Imperador com um de seus pronunciamentos, porém nunca deixou de ser adepto do império. Antes de receber tal nome a rua chamava-se Simão Rosa.
RUA ROQUE GONZALES – Roque Gonzalez foi declarado santo pelo Papa João Paulo II, quando da sua visita ao Paraguai, em 1988. Da ordem dos Jesuítas, é considerado, junto com Afonso Rodrigues, um dos primeiros evangelizadores do Rio Grande do Sul e um dos primeiros mártires da nossa terra, já que os dois foram assassinados pelos índios guaranis no dia 15 de novembro de 1628, onde hoje é a localidade de Caiboaté. Roque, que tinha então 52 anos de idade, morreu com uma pancada de machado de pedra na cabeça e seu corpo foi depois queimado pelos índios que não concordavam com sua missão evangelizadora. Gonzales era filho de uma rica e importante família de Assunción, Paraguai, de onde veio. Junto com Afonso e um outro missionário chamado João del Castilhos, fundou várias missões – ou “reduções” no Paraguai, Argentina e Brasil, além de ter oficiado a primeira missa em terras do Rio Grande do Sul.
RUA AFONSO RODRIGUES – Afonso Rodrigues, também jesuíta, foi morto junto com Roque Gonzales e também foi declarado santo pelo Papa João Paulo II. Natural da Espanha, seu corpo foi queimado pelos guaranis.
RUA GUILHERME ALVES – É uma via que corta tanto o Jardim Botânico quanto o Partenon, iniciando na Ferreira Viana, passando pela Ipiranga e acabando na rua Mário de Artagão, no Partenon. Na planta municipal de 1916 aparece com o nome de “rua Progresso”. Em 1936 passou a ter o nome atual. Guilherme Alves, nascido em 1878 e falecido em 1930, foi o primeiro construtor dos grandes armazéns da zona do cais do porto, armazéns estes que mais tarde passariam a partencer à Cia. Costeira de Navegação. O nome da rua, porém, tem mais a ver com o fato de ter sido ele um dos primeiros construtores residenciais do bairro Partenon. Segundo se sabe, o progresso da rua foi lento mas firme. Na planta municipal de 1928, era apenas um logradouro do Partenon, sem ainda ter passado do arroio Dilúvio. Na planta de 1949 já aparece nos limites do Jardim Botânico.
RUA 18 DE SETEMBRO – É aquela pequena rua ao lado do shopping Bourbon. A data marca a rendição do Paraguai ao Brasil, na Guerra do Paraguai. Nesse dia, em 1865, em Uruguaiana, as forças paraguaias, cercadas pelos exércitos brasileiros, decidiram capitular. Na história, o dia 18 de novembro também registra fatos marcantes: foi nesse dia, em 1950, que entrou no ar a TV Tupi, de São Paulo, de propriedade de Assis Chateaubriand, a primeira emissora de televisão do Brasil. Em 1946, também nesse dia, é promulgada a Constituição Brasileira, a primeira depois da ditadura Vargas e que só seria alterada em 1988. Em 1969, é sancionada a Lei de Segurança Nacional do governo militar, prevendo inclusive pena de morte, prisão perpétua e banimento do país. Em 1984 o brasileiro Amir Klink completou a travessia do oceano Atlântico em um simples caíque, a primeira de suas muitas proezas. A data registra ainda a morte de Jimi Hendrix (1970), o nascimento da atriz Greta Garbo (1905), a fundação da CIA – Central Inteligency Agency, em 1947, a fundação do jornal New York Times(1851), além da Independência do Chile (1818).

De bóia-fria a respeitado comentarista econômico

PUBLICADO EM 27 DE AGOSTO DE 2008, republicação.

Olhando hoje, quem imaginaria que o conceituado comentarista de economia, o homem de voz pausada, de rosto claro e "primeiro-mundista", o medalhão que fala sobre dinheiro com a naturalidade de quem sempre teve esse produto em fartura, quem imaginaria que ele, dos sete aos dezesseis anos, fosse um bóia-fria - aquele sujeito desvalido que corta cana nas lavouras do interior de São Paulo, ganhando uma mixaria por isso?
Pois é, Joelmir Beting - autodidata por formação, um dos mais bem pagos jornalistas do País, hoje fazendo seus comentários na Rede Bandeirantes de Televisão (depois de tantos anos na Globo, demitido por fazer a propaganda de um banco, sem autorização da emissora), 71 anos - foi coroinha e bóia-fria nas lavouras de cana-de-açúcar da região de Tambaú, interior de SP? Aos 16 para 17 anos, Joelmir mudou-se para a Capital paulista, iniciando, a duras penas, a sua escalada para o sucesso - ou coisa que o valha.
Outra informação que pouca gente sabe: no dia 5 de março de 1961, no estádio do Maracanã, em um jogo entre Santos e Fluminense, quando era comentarista esportivo, foi dele a idéia de mandar fazer uma placa em comemoração ao antológico gol de Pelé - aquele que resultou na famosa "placa de ouro": o Santos vencia a partida por 1 a 0 quando Pelé recebeu a bola no meio do campo e arrancou em direção à meta adversária, passando por dois, driblando mais três e chutando na saída do goleiro Castilho. Joelmir, que estava no estádio, impressionou-se com o lance e sugeriu ao jornal O Esporte, no qual trabalhava, que fizesse uma placa de bronze para registrar a beleza da jogada. O hoje famoso comentarista de economia pagou as despesas com dinheiro do seu próprio bolso pois o jornal encolheu-se na hora de saldar as despesas. "Nunca fiz um gol de placa, mas fiz a placa do gol", diria mais tarde o comentarista.
A propósito: católico fervoroso, discípulo do Padre Donizetti, o pai de Joelmir morreu quando ele tinha apenas sete anos de idade. Sebastião Beting caiu da carroceria de um caminhão que o levava para trabalhar na lavoura de cana e não restistiu aos ferimentos.
Palmeirense da gema, de olho no mundo real à sua volta, Joelmir Beting é, há muitos anos, respeitado pelo mundo empresarial e político não somente pela linguagem pedagógica que emprega nos seus comentários (ao contrário de tantos outros, que fazem questão do hermetismo) como pelos acertos realmente comprovados nas suas análises. Ou, como disse um político admirador seu, ele é daqueles que "só consegue explicar aquilo que entendeu". Justificando o seu estilo, cheio de metáforas e analogias, Beting, certa vez, disse o seguinte: "Para se fazer entender você precisa repetir uma mesma idéia até cansar. Por mais óbvia que ela seja". (Pesquisa: Conselheiro X.)

sexta-feira, setembro 21, 2012

Os primórdios da Internet

PULICADO EM 2008

O e-mail - ou correio eletrônico - praticamente substituiu as cartas comuns que todos nós, uns tempos atrás, mandávamos para os mais variados cantos do país e do Mundo - e que, além de exigir selo (e dinheiro), demoravam um bocado para chegar.

É, mas a gente não lembra direito de como tudo isso começou. Simplesmente parece algo normal, como beber um copo de água, só que não é bem assim.

Vejam nesta matéria que o Conselheiro X. descobriu em seus alfarrábios, datada de 17 de fevereiro de 1993 (pouco depois do impechment de Collor), na revista Veja - quinze anos atrás, portanto. Não faz muito tempo - e tudo mudou tão radicalmente que a gente nem consegue imaginar como era a coisa em seu início, e tinha apenas 2 mil usuários. Digamos que era algo exclusivo do meio universitário - dos professores e pesquisadores de universidades - e havia custos, sim. A Internet engatinhava, àquela época - sabem o que é Brasnet? Acompanhem.


"Conversa Digital


"Através de uma rede de correio eletrônico, cientistas , cientistas brasileiros trocam informações com colegas no exterior"



"Uma nova forma de comunicação está ganhando espaço entre os acadêmicos brasileiros conectados com a era da informática. Mais veloz que o telex, mais confiável que o fax e tão fácil de usar quanto o telefone, em todo o mundo esta nova mania se chama correio eletrônico. Ela permite o intercâmbio de correspondência digital e informações entre pesquisadores. No ano passado, a Brasnet, o braço brasileiro da Internet, a maior rede mundial de computadores, cresceu quase 500%, elevando a 2 000 o número de computadores nacionais ligados ao sistema. Na Internet, há mais de 1,3 milhão de computadores conectados. Eles trocam mensagens e programas entre si utilizando canais de transmissão de dados e via satélite. Todas as universidades americanas fazem parte do sistema, bem como a maioria dos centros de pesquisa europeus. Cada máquina possui um endereço eletrônico, para o qual são enviadas cartas e mensagens.

"A vantagem para os pesquisadores brasileiros conectados ao correio eletrônico é que o computador se transforma numa ágil ferramenta de comunicação com o mundo e deixa de ser apenas uma máquina eficiente mas isolada. "Antes eu era obrigado a esperar mais de um mês para obter uma resposta por escrito de um pesquisador do exterior a fim de tirar uma dúvida", diz o professor Imre Simom, do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, um usuário frequente da Internet. "Com o correio eletrônico, me comunico rapidamente com o exterior e, em um dia ou dois, alguém me manda uma carta digital com a solução do problema". Um dos mais assíduos correspondentes eletrônicos de Simon é o francês Christian Choffrut, professor do Laboratório de Informática Teórica e Programação da Universidade Paris VII. "Através do correio eletrônico, trabalhamos como se estivéssemos um ao lado do outro", disse Choffrut a Fábio Altman, correspondente da VEJA em Paris.

"A primeira providência de Choffrut quando entra na sua sala na universidade é verificar se há alguma correspondência eletrônica em seu computador. "É como se estivesse consultando minha secretária eletrônica", diz o francês. Mesmo de casa, Choffrut consegue ter acesso às mensagens enviadas a seu computador instalado na universidade. Ele aciona o seu Minitel, o serviço de videotexto francês, que funciona através da linha telefônica convencional, e "entra" em seu micro na escola em busca de alguma carta digital.

"Além de mandar mensagens individuais, o sistema também permite o envio de correspondências coletivas. Os bolsistas brasileiros no exterior se comunicam através do Brasnet. Eles escrevem uma mensagem e, em vez de endereçá-la para apenas um usuário, mandam a carta digital para a Brasnet, que envia uma cópia do texto para os cerca de 1 500 associados a essa pequena rede nacional.

IMPEACHMENT - Foi através do Brasnet que, no dia 29 de setembro do ano passado, esses mesmos bolsistas acompanharam a votação do impeachment do presidente Fernando Collor. Os resultados da votação do Congresso Nacional eram veiculados pela rede por pesquisadores brasileiros que acompanhavam o impeachment pela televisão. Além de tratar assuntos sérios, também há espaço para brincadeiras no Brasnet. O cearense Mauro Oliveira, de 38 anos, que faz doutorado na Universidade Paris VI sobre o ensino de rede de computadores, ficou conhecido na rede nacional como "Mauro Pacatuba". O brasileiro difundiu pela Brasnet durante 55 semanas seguidas, sempre às sextas-feiras, a "Rádio Uirapuru de Itapipoca", um programa escrito de humor. A rádio só teve 55 emissões porque Mauro Pacatuba, em certo momento, verificou que o uso lúdico do Brasnet tinha se transformado num vício. "Resolvi parar para me dedicar à minha tese", diz o brasileiro.

"Além da rapidez e da eficiência desse sistema, os especialistas em computação apontam outra vantagem no uso do correio eletrônico. Segundo um estudo da empresa Hewlett-Packard, uma mensagem eletrônica custa bem menos que uma carta ou um fax. A empresa gasta 22 centavos de dólar para mandar uma mensagem de duas páginas pelo correio eletrônico para uma de suas subsidiárias espalhadas pelo mundo. Isso é metade do preço de uma carta internacional e quase oito vezes mais barato que um fax."

domingo, setembro 16, 2012

Parque Ararigboia ressurgiu nos anos 90

PUBLICADO EM 2008. fOTOS: Presidente hervé e turma do volei.

Na divisa entre o Jardim Botânico e Petrópolis, o Parque Ararigbóia, se falasse, teria muitas histórias a contar. Na antiga "Várzea de Petrópolis", em um terreno que já foi alagadiço, ocupa um quarteirão inteiro, entre as ruas Felizardo Furtado, Saicã, Lavradio e Mariz e Barros. Tradicional ponto de lazer dos dois bairros, já foi conhecido como o "campo do Sul Brasil", um clube de futebol que marcou época nas redondezas. Somente em 1953 é que foi batizado como "Ararigbóia", em homenagem ao cacique índio que ajudou os portugueses a expulsar os invasores franceses do Rio de Janeiro, no século XVI.
Conhecer a história do Ararigbóia é um passeio por muitas décadas. Hoje um centro de esporte, lazer e saúde, o local foi fundado por um empreiteiro chamado Arino Bernardino de Souza, em fevereiro de 1942 - hoje ele é o nome do Ginásio, inaugurado em 30 de setembro de 1995.
Quem sabe tudo, ou muito, da história do Parque Ararigbóia, é o presidente da Associação Comunitária do Parque Ararigbóia, Hervè Paschoto Saciloto, de 72 anos, um geólogo aposentado, durante muitos anos funcionário da Petrobrás (trabalhou mais de 30 anos na Bahia) e que, quando mudou-se para a rua Mariz e Barros, em 1991, ao olhar o local, quase abandonado, mal-cuidado, decidiu: "Vou cuidar disso aqui".
O Ararigbóia, então, já tinha muitos anos de história, mas estava sendo muito mal aproveitado e não integrava a comunidade à sua volta. Havia um barracão de tijolos, mal ajambrado, e uma cancha de bocha na rua Saicã. O pessoal do futebol tinha o seu presidente, e o da bocha, outro. Hervè - que nem sabia jogar bocha - entrou para a segunda turma e ficou como presidente deles, e, em 1992, fez um movimento para integrar os dois grupos. Conseguiu, e elegeu-se presidente da Associação Comunitária, fundada em 1980. Ficou nessa condição até 1995, quando foi sucedido por Pedro Paulo Machado, o "Pedrinho" - uma das referências maiores quando se fala no Parque.
Nesse tempo eles iniciaram uma luta para reformar o barracão que ali havia, "até que vimos que isso não valia a pena". Surgiu então o projeto de um novo ginásio de esportes, que foi aprovado e construído pelo Orçamento Participativo da Prefeitura de Porto Alegre, do qual seu Hervè era conselheiro. "Aí tivemos que criar uma cultura para que a comunidade cuidasse da sua conservação, sendo que a Prefeitura entraria com professores e a parte pedagógica para as atividades que nós queríamos", conta ele.
TERCEIRA IDADE - O Parque Ararigbóia, com seus mais de 700 frequentadores fixos e inúmeras atividades para todas as faixas etárias, de toda a cidade, não é mantido com verbas da Prefeitura - ao contrário do que muita gente pensa. O poder público apenas auxilia na manutenção e algumas melhorias, mas o dinheiro que sustenta a entidade vem da comunidade e das rendas obtidas pelo Parque.
"A maior parte vem da mensalidade paga pelos associados da Associação Comunitária, que são cerca de 700 e contribuem, a cada semestre, com 20 reais cada. É gente de toda a cidade, a maioria daqui dos nossos bairros, e pagam certinho", relata Hervè. "Tudo o que tem dentro do ginásio foi comprado com dinheiro da comunidade. E, com isso, conseguimos fazer muitas coisas. Agora vamos pintar o ginásio e botar ar condicionado no salão de ginástica, no segundo pavimento".
O Parque Ararigbóia conseguiu arregimentar a comunidade à sua volta, não só pelas várias atividades ali desenvolvidas - futebol, bocha, basquete, vôlei, ginástica, alongamento, musculação - como também em palestras realizadas em colégios. É o chamado "Grupo de Educação para o Envelhecimento", uma iniciativa de Hervè que consiste na ida aos colégios dos bairros vizinhos para troca de experiências com crianças e adolescentes. A idéia surgiu no ano 2000 e segue em pleno curso. Uma vez por semana um grupo da Terceira Idade vai às salas de aula, conversar com alunos sobre temas tão diferentes como a sexualidade, a saúde, a carreira profissional, o bem estar, os bons hábitos, a importância do exercício físico, da boa alimentação, do carinho - sem nenhum moralismo. "Já nos encontramos com mais de 2500 crianças, e agora estamos nos encontrando com adolescentes", informa Hervè. "Falamos de nossas vidas, do que era no passado, do que era um fogão a lenha, de coisas que eles nem conhecem. E a aceitação nos surpreendeu".
Um vez por mês o grupo, integrado por cerca de 16 idosos, reúne-se para fazer uma avaliação do trabalho.
ARQUIBANCADA - Arino Bernardino da Silva dá nome ao ginásio. O empreiteiro, construtor de ruas e calçados, foi quem deu "formato" ao atual parque, em 1942 - antes o local era um espaço público, um charco que ele aterrou e deu vida.
"Ele fez o campo de futebol, uma arquibancada de madeira e criou o time do Sul Brasil, que fazia campeonatos de futebol entre os bairros", conta seu Hervè. Em 1953, (quando passou a se chamar Ararigbóia) a Prefeitura de Porto Alegre juntou-se com a Federação de Bocha "para usurpar o direito da comunidade de ocupar esse espaço". Segundo o presidente da Associação, eles se apropriaram do campo: "As pessoas, para jogar no campo, tinham que ir na Prefeitura às 4 horas da manhã para tentar marcar um horário".
Acontecia ali o Campeonato Estadual de Bocha. Em 1963 foi criada a associação dos Veteranos do Futebol, que lutou para ter um dia seu no calendário do campo - e conseguiram. No início dos anos 70 a cancha de bocha foi extinta, restando o barracão - havia disputas de vôlei, então. Nesse tempo foi criado um grupo infantil de dança e outro de ginástica. Em 1980, finalmente, foi criada a Associação Comunitária do Parque Ararigbóia, usada mais pelo pessoal do futebol.
Do outro lado, na rua Saicã, havia a cancha de bocha - cada qual com um presidente. Em 1992 é que aconteceu a unificação dos dois grupos e a eleição de Hervè para a presidência.

RECESSO - O Parque Ararigbóia, como acontece todos os anos, estará de recesso do dia 26 próximo a 4 de agosto, reabrindo normalmente dia 5. A Secretaria, no entanto - com agendamento de campo - permanecerá aberta. Dia 5, aliás, é o dia de inscrição para os cursos e atividades, o que deve feito a partir das 8 horas da manhã: a inscrição é feita por ordem de espera - quem chega antes, fica com a vaga.

1997: o "azarão" desconhecido chamado Guga conquista a França e o mundo na quadra de saibro

1997. À exceção dos próprios tenistas profissionais, ninguém no Brasil tinha ouvido falar em Gustava Kuerten, o Guga. Porém, em junho daquele ano - lá se vão onze outonos - um rapaz de 20 anos (nasceu em 10 de setembro de 1976), 1,91 metro de altura, 76 quilos, cabelos longos, barba rala e um estilo "grunge" de se vestir, conquistava o primeiro e mais importante dos seus muitos títulos - o de campeão do torneio de Roland Garros, na França, um dos mais importantes do mundo do "grand slam" - as competições em Winbledon, na Inlalterra, os abertos dos Estados Unidos e da Austrália e, é claro, esse, na França. Guga havia se profissionalizado havia apenas dois anos.

Recentemente, Guga, hoje com 31 anos, despediu-se do tênis profissional, na mesma quadra que o viu vencer. Emocionou-se e até ganhou um pouco da terra e do saibro da quadra de seu técnico e "segundo pai", o gaúcho Larry Passos. A diferença é que, agora, o tenista catarinense, fanático torcedor do Avaí, tem algumas dezenas de milhões de dólares de patrimônio e um nome reconhecido no mundo todo. Ao lado de Maria Esther Bueno, tricampeã em Winbledon, Guga tornou-se o maior nome masculino do tênis brasileiro de todos os tempos. E um orgulho para a sua terra, Santa Catarina.

MULTICOLORIDO - Ao vencer o espanhol Sergi Bruguera, naquele torneio, Gustavo Kuerten - o azarão da disputa - ganhava o primeiro dos seus três títulos no "Maracanã do tênis".

Em sua edição de 11 de junho de 1997, ainda antes da final, a revista VEJA - que parecia acreditar que ele já tinha ido longe demais - escreveu: "Nunca o esporte nacional vira antes um azarão desse quilate. Guga chegou a Roland Garros há duas semanas como mais um entre as dezenas de tenistas anônimos que, todos os anos, inscrevem-se para a competição. E, para espanto da imprensa especializada internacional, e dos brasileiros, que nunca tinham ouvido falar no seu nome até segunda-feira, foi abatendo de forma implacável as celebridades que se apresentaram na sua frente. Na sexta-feira, quando venceu o belga Filip Dewulf na semifinal, já computava entre suas vítimas o russo Yegeni Kafelnikov e o austríaco Thomas Muster, respectivamente campeões do torneio em 1996 e 1995. O adversário seguinte, Bruguera, ganhou em 1993 e 1994."

E prosseguia: "Aos 20 anos, Gustavo Kuerten entrou em Roland Garros pela porta dos fundos. Antes de chegar ao torneio, ocupava apenas a 66 posição no ranking dos melhores tenistas do mundo e nunca havia vencido um torneio de primeira classe do circuito internacional. "Ainda não sei se sou uma estrela do tênis ou se continuo o mesmo", disse a VEJA um incrédulo Guga na quinta-feira enquanto brincava num flipperama ao lado do estádio."

Depois das vitórias de Roland Garros, os jornalistas internacionais passaram a chamá-lo de "surfista do saibro". Algo que também chamou a atenção, naquela ocasião, foram as roupas do tenista brasileiro. "Num esporte em que a tradição manda os atletas usar impecáveis roupas brancas, Guga apresentou-se com uniforme berrante, mais apropriado a um jogador de futebol: todo azul e amarelo, incluindo meias e sapatos. Surpresos, os organizadores do torneio procuraram os representantes do fabricante de roupas para pedir que moderassem na profusão de cores do uniforme. Não. Guga limitou-se a colocar na cabeça uma bandana com fundo branco, e manteve sua figura de surfista grunge. "Como pensaram que eu não iria longe no torneio, nem trataram do assunto diretamente comigo", conta o jogador" - escreveu VEJA em sua matéria (capa da edição de 11 de junho de 1997).

A revista dava mais detalhes do comportamento do catarinense: "Fora das quadras, mais surpresas. Enquanto a maioria dos jogadores do torneio se hospedava em hotéis caros e luxuosos de Paris, o brasileiro se escondia no modesto Mont Blanc, 70 dólares a diária. Foi nesse hotel que se hospedou quando esteve em Paris pela primeira vez, há cinco anos. Diz que foi bem tratado e não muda mais. Também costuma frequentar a mesma pizzaria, a Victoria, e se divertir no mesmo flipperama, ao lado do estádio de Roland Garros. Embora não aparente, Guga é sempre assim, metódico e disciplinado. Até hoje, quando joga nos Estados Unidos, dispensa os hotéis reservados pelos organizadores e vai para a casa de tia Vicky, uma inglesa que o recebeu quando lá esteve pela primeira vez para disputar um torneio juvenil. "Ele é uma pessoa de hábitos conservadores", diz João Carlos Diniz, promotor de eventos e amigo da família do jogador de Florianópolis."

Embora desconhecido do grande público, em 1997 Guga já era afamado no circuito do tênis brasileiro, por seu "jogo sólido", com bolas colocadas nos limites da quadra e muita velocidade. "Ele tem talento e personalidade para ficar no topo", afirmou então o americano John McEnroe, um dos maiores tenistas de todos os tempos. Como se vê, acertou: Guga ficou por mais de um ano como o tenista número 1 do mundo.

"Guga tem ainda uma arma poderosa em sua mão direita: o saque", escreveu VEJA. "Segundo o último número do Jornal do Tênis, órgão oficial da Associação do Tênis Profissional, Guga tem o décimo sétimo saque mais veloz do mundo. A bolinha arremessada por sua raquete chega a alcançar 206 km por hora. É uma velocidade tão grande que o adversário não tem tempo de reagir".

ORIGENS - De uma família de classe média, descendente de alemães, Guga tem um irmão mais velho, Rafael, formado em ciências da computação e professor de tênis - é ele quem cuida de seus negócios. O mais novo, Guilherme, sofria de paralisia cerebral e vivia sob os cuidados de uma babá. Comerciante de esquadrias de alumínio, o pai, Aldo, havia morrido de ataque cardíaco há 11 anos. Guga disse então: "A ele costumo dedicar cada momento de minha vida". A mãe, Alice, trabalhava como assistente social na Telesc, a empresa telefônica de Santa Catarina, à época, além de dirigir a Fundação de Educação Especial, do Governo do Estado. A avó, Olga, foi a primeira patrocinadora - os primeiros torneios foram bancados pelas Indústrias Schlösser, uma tecelagem da família, em Brusque.

"Ao despontar para o mundo do Tênis, Guga levava uma boa vida frequentando uma das 42 praias de Florianópolis. Para não ficar longe da família, nem das praias, recusou inúmeros convites de universidades americanas e de clubes alemães que o queriam para reforçar suas equipes. O mar e o surfe sempre foram duas grandes paixões fora da quadra", prosseguiu VEJA, concluindo: "O aparecimento da exótica figura multicolorida como uma pilha Rayovac em Roland Garros foi saudado como uma brisa de renovação num esporte em crise. Hoje, há centenas de torneios realizados no mundo a cada ano, rios de dinheiro correndo para os bolsos dos tenistas."