Jardim Botânico, Porto Alegre. Fundado em 2006 por Vitor Minas. Email: vitorminas1@gmail.com
domingo, outubro 24, 2021
Nem Marighella e nem Fleury
Surgiu aí um filme sobre Marighella - que não vi e não gostei, como já escreveu aquele escritor. Por principios, não gosto de filmes que enaltecem (me parece que é o caso) figuras que querem, na marra, implantar sua filosofia política, sejam de direita ou de esquerda. Marighella faz parte da luta armada contra o regime militar, uma burrice tamanha que até o PCB e Prestes alertaram: só faria as coisas piorarem ainda mais. Tudo bem, no contexto da Bolha Assassina, até se afigura que cai bem - só que não. Democracia, em que pese todos os seus defeitos, como ressaltou Churchill, ainda é o melhor sistema político.Trocar uma ditadura de direita por outra de esquerda, Mussolini por Stálin, nunca é bom negócio. E tem mais: esses filmes, que se pretendem meio "biográficos" a respeito de algumas personalidades, são puro jogo caça-níquel, iguais aos que se fazem da Revolução Farroupilha para agradar os gaúchos, e ainda tem gaiato que compra a prosopopéia. E olhe que sou gaúcho, pero não tão burro assim - só um pouquinho menos que vocês. Dizem que o filme sbre Mariguella foi aplaudido de pé no Festival de Berlim. Imagino só a platéia de Berlim: intelectuais, intelectualoides, deslumbrados e deslumbrados de todas as estirpes e nacionalidades, a maioria burgueses tirando onda, essa fauna toda que bem conheço. Algumas grã-finas, com certeza. Poderiam fazer também um filme a respeito do delegado Fleury, que fuzilou Mariguella em SP. Teria mais ingredientes cinematográficos: Fleury, símbolo maior da repressão, acabou de deslumbrando com o próprio mito, se viciou em cocaína, passou a beber e falar demais e foi apagado pela mesma repressão do qual era o expoente maior. Bem feito - e o Marighella também levou o que pediu. No caso do Fleury, inventaram aquela queda de barco no litoral paulista, afogamento, para apagar um cara que conhecia todo o jogo dos porões, quando a abertura política já era inevitável, em 79. Isso, sim, daria um bom filme, bem mais esclarecedor - não o desse sujeito primário (tal qual sua ideologia), e que estava também longe de ser um santo, chamado Marighella. Do meu lado, nem Carlos Marighella nem Fleury. Ou será que este país não aprende nunca?
quinta-feira, outubro 21, 2021
Kojak diz que as mulheres só querem o amor de um homem, seja "careca, cabeludo, branco ou negro"
domingo, outubro 17, 2021
O ano em que a cearense Florinda Bolkan foi escolhida a melhor atriz da Itália
Florinda Bolkan foi uma celebridade nos anos setenta, para quem, por exemplo, lia revistas como Manchete, onde a atriz brasileira - que vivia e atuava na Itália - estampava páginas e mais páginas, sem contar dezenas de outras publicações. Cearense, bela e talentosa, ganhou por três vezes o prêmio Donatello, o Oscar italiano, e foi dirigida, entre outros, por Visconti. Sua amizade - ou caso de amor - com a Condessa Cicogna abriu-lhe muitas portas no jet-set internacional, o qual frequentou com desenvoltura por muito tempo. Hoje vive novamente no Brasil e já não atua mais como atriz. Injustamente esquecida, as novas gerações sequer sabem quem ela é, o que não surpreende em um país sem memória. Seja como for, Florinda foi um dos grandes nomes internacionais do mundo cinematográfico de origem brasileira, antes de Sônia Braga e de Gisele Bundchen. Nesta reprodução do Correio do Povo, de maio de 1971 noticia-se que Bolkan foi escolhida a melhor atriz da Itália naquele ano, por sua atuação em Anônimo Veneziano, de Salerno. Com ela foi premiada - como melhor atriz italiana - nada menos do que Monica Vitti.
sexta-feira, outubro 15, 2021
Em maio de 1956 Inezita Barroso veio encontrar Paixão Cortes e sua turma
Há mais de sessenta anos, em maio de 1956, a grande Inezita Barroso, então uma jovem com menos de 30 anos, veio a Porto Alegre, onde pesquisou e encantou-se com a música regional que aqui se fazia. Mulher inteligente e vanguardista, essa paulista, já falecida - que apresentava o melhor programa de música caipira de raiz do Brasil, o Viola Minha Viola, na TV Cultura - foi recebida de braços abertos pela gauchada que dela se acercou quando foi hóspede de honra do folclorista Paixão Cortes, em sua casa em Porto Alegre.Reprodução da Revista do Globo, coleção do Arquivo Histórico Moysés Vellinho da Prefeitura de Porto Alegre.
quinta-feira, outubro 14, 2021
Itália proíbe "Os 120 dias de Sodoma"
Em 1976, e durante grande parte dos anos setenta, a Itália viveu um período de agitação e instabilidade política, com grupos de esquerda declarando guerra ao Estado. E pior que o Estado italiano, corrupto como sempre, também não era lá essas coisas em matéria de democracia, como se vê nesta nota publicada pelo Correio do Povo em janeiro de 76: Pasolini, um dos maiores diretores de cinema daquele país teve um de seus filmes proibidos para exibição - Os 120 Dias de Sodoma. Aliás, na Itália acontece de tudo, até Fellini - mas eles estão aí, como sempre, desde o império romano. Reprodução do Correio do Povo. Blog do Conselheiro X.
Hippies de Nova Friburgo só pedem que os deixem em paz
É, a vida não era mesmo fácil para os hippies naqueles inícios dos anos setenta. Considerados sujos, drogados, vadios e permissivos, eles - naqueles tempos de repressão política e também de costumes - passavam duras penas para fazer o que hoje se vê em qualquer esquina ou qualquer praia. Nesta matéria, reproduzida do Correio do Povo, um grupo de hippies de Nova Friburgo, na zona serrana do Estado do Rio, perseguidos e humilhados pela polícia, só pedem que os deixem trabalhar e viver em paz, como qualquer cidadão brasileira.
quarta-feira, outubro 13, 2021
Joe Louis, um dos maiores pugilistas de todos os tempos, é barrado em hotel de Copacabana
Joe Louis foi uma dos maiores pugilistas de todos os tempos, mantendo o título de campeão mundial dos pesos pesados por 12 anos. Em 1950, já com problemas financeiros, Louis excursionou pelo Brasil, onde realizou diversas lutas no Rio e em São Paulo (conta-se que teve um caso com a cantora e futura apresentadora de TV Hebe Camargo), mediante gordos cachês. Na metade do século XX os Estados Unidos viviam o seu regime de segregação racial, não muito diferente da África do Sul, e nem mesmo o campeão Joe Louis escapava disso, embora fosse famoso. O que ele talvez não esperasse é que, no Brasil, mais propriamente no Rio de Janeiro, o problema da discriminação racial também existia - e no seu nível mais alto. Depois de ser rejeitado em vários hotéis, o norte-americano acabou se hospedando em um modesto hotel carioca, já que, segundo ele, o Copacabana Palace não aceitava "pessoas de cor". Louis faleceu em 12 de abril de 1981, aos 66 anos, tendo sofrido com o vício da cocaína e as alucinações que se seguiam às crises. A reprodução acima é do Correio do Povo, coleção do Arquivo Histórico Moyses Vellinho, de Porto Alegre.
No tempo em que os "vampiros" atacavam as crianças gaúchas para tirar-lhes o sangue
Quem quer que tenha nascido no interior do Rio Grande do Sul ou de outros Estados vizinhos sempre ouviu falar nas histórias dos "tiradores de sangue", espécies de vampiros que atacavam as crianças indefesas, geralmente a caminho da escola, e retiravam-lhes com seringa o sangue à força, ou depois de dopadas. Tais relatos - que muitos interpretavam como lendas rurais, inverossímeis até - de fato aconteceram e foram narrados pelos jornais da época, como nesta reprodução do Correio do Povo, de Porto Alegre, em abril de 1980. Naquela época ainda se comercializava sangue no Brasil e não havia uma política de saúde eficaz nesse sentido, o que tornava o comércio e o tráfico - geralmente com o plasma enviado para os Estados Unidos e Europa - algo muito rentável. Curiosamente, não se tem notícia de que nenhum de tais "vampiros" tivesse sido preso, o que certamente contribuiu para dar aos fatos verídicos um tom de lenda ou de histórias que os pais contam para disciplinar e amedrontar as crianças.
terça-feira, outubro 12, 2021
O casamento do engenheiro e deputado Leonel Brizola em março de 1950 teve Getúlio como padrinho
Com apenas 28 anos, mas já deputado estadual pelo Partido Trabalhista Brasileiro - do qual era uma das mais promissoras lideranças regionais - Leonel de Moura Brizola saiu na página social do Correio do Povo naquele dia 3 de março de 1950: dois dias antes o jovem político e engenheiro casara-se, em Porto Alegre, com Neusa Goulart Brizola, que vinha a ser irmã de João Goulart - futuro presidente do Brasil, deposto em 1964. Uma importante personalidade (na verdade, padrinho do enlace) se fez presente: Getúlio Vargas, também natural da terra da noiva, São Borja, onde vivia retirado na sua fazenda do Itu (localizada no município de Itaqui e não São Borja). O casal seguiu em viagem de lua-de-mel "para o Prata", como informou o CP. A reprodução é do Arquivo Histórico Municipal Moysés Vellinho.
O Circuito Ciclístico Porto Alegre Taquara, em 1950, era uma grande prova de resistência
Andar de bicicleta, hoje, é uma atividade corriqueira, especialmente em grandes cidades. Vista como uma alternativa sustentável e saudável frente ao poluente e agressivo automóvel, ela reúne grupos de ciclistas e aficcionados desse meio de transporte que, na primeira metade do século 20, era visto bem
mais como um esporte. E nisso o Rio Grande do Sul também se destacava, com a realização de inúmeras provas de pequeno, médio e longo curso que atraíam muitas pessoas - os "circuitos ciclísticos". Um dos mais famosos de então era a prova "de resistência" Porto Alegre-Taquara, ligando as duas cidades que distam cerca de 70 quilômetros. Eventos como esse eram amplamente noticiados nos jornais, como se vê nesta matéria do Correio do Povo de julho de 1950.
sexta-feira, outubro 01, 2021
Onde anda o japonês da Federal?
Sempre considerei o caso do "japonês da Polícia Federal" emblemático e representativo dos absurdos do Brasil - país "de cabeça para baixo", frase, se não me engano do Tom Jobim (que, aliás, adorava o Brasil, mas não se deslumbrava com nada, só com os passarinhos). Nem precisava ser do Jobim, milhares antes já devem ter dito. Pois, anos depois de tantas aparições televisivas nas prisões cinematográficas da Operação Lava-Jato, fui procurar notícias a respeito de tal figura, sempre de óculos escuros, que se chama Newton Ishii e encontrei uma, de 2020, que informa ter sido ele condenado a pagar uma indenização de 200 mil reais por "facilitação de contrabando" no tempo em que era agente em Foz do Iguaçu, PR. Depois disso não se sabe mais da vida do sujeito - aposto, inclusive, que continua ganhando seus proventos como agente, vai saber.
O absurdo maior é que, já na época das aparições do japonês, ele já respondia a tal acusação, tanto que usava, vejam só, tornozeleira eletrônica. Ou seja, o cara que algemava os medalhões da roubalheira petista e seus cúmplices (não dar tempo do desgoverno atual chegar lá) portava outro objeto preso a parte inferior das pernas. Como ele foi escolhido para ser um dos expoentes fixos de tais operações é algo a se perguntar, assim como saber quem era o superior que o escolheu para tanto. Sempre coloco a divertida interrogação desse fato absurdo - um suspeito de ser bandido prendendo corruptos, um facilitador de contrabando algemando outros desonestos de alto nível, em operações espetaculares que todo o Brasil acompanhou pela telinha. Vá contar isso a um alemão, um inglês, um norte-americano, ou um japonês do Japão. Pensando bem, é melhor não contar.
Outra coisa surreal da nossa nação tupiniquim (a Justiça, no caso) envolve a Susane Richtofen, mentora da morte dos pais em SP (virou recente filme do glorioso cinema nacional), a qual gozava do benefício de sair do presídio no Dia das Mães e dos Pais - e saiu várias vezes, realmente. Agora, segundo sei, está em liberdade, cursando uma faculdade aí, depois de alguns anos de cana. Tais absurdos - o japonês da Federal e a Susane - deveriam se reunidos e fotografados para publicação na capa de alguma revista de humor, já que só o humor e o surrealismo explicam determinadas situações. Quanto ao Tom Jobim (e faz falta, em todos os sentidos), morreu bem antes de ver tais situações, mas deve estar rindo lá no túmulo e repetindo a frase "de cabeça para baixo", "de cabeça pra baixo". (V.M.)
sexta-feira, junho 18, 2021
Os astronautas da Apolo 11 levavam cianureto para se matar
Pouca gente sabe, mas a missão Apolo 11 - aquela que chegou à superfície lunar pela primeira vez, em julho de 1969 - tinha grandes possibilidades de acabar em tragédia. Conforme um memorando encontrado nos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos, por ocasião dos 30 anos da conquista da Lua, havia o temor de que os dois astronautas que colocaram os pés no solo do satélite terrestre, Armstrong e Aldrin, não conseguissem mais retornar para a Nave Mãe, que ficou orbitando no espaço, com Collins no comando. Se houvesse algum problema
com o módulo lunar Eagle (Águia), aquele que pousou na Lua com os dois astronautas e, duas horas e meia depois, voltou à nave principal, a ordem da Nasa é para que eles fossem abandonados na superfície lunar. Collins, então, deveria regressar à Terra, sozinho, já que não teria condições de efetuar uma missão de salvamento. Segundo os documentos, os três astronautas sabiam desse risco e estavam preparados para serem "heróis ou mártires".terça-feira, junho 01, 2021
Nem faz tanto tempo assim - foi em 1994 que o sonho da Internet se tornou uma realidade plenamente possível para um jovem que era, então, considerado de certa maneira um "visionário": Bill Gates, um dos donos da Microsoft. O "biliovisionário" - conforme matéria da revista Veja - sonhava com uma rede de computadores "planetária", algo que até então parecia mais próprio dos filmes de ficção científica. A Internet chegaria ao Brasil no ano seguinte, de forma incipiente, e hoje é isso que aí está. Porém, na época, muitos especialistas achavam que Gates "pode estar dando um passo maior do que a perna."
sábado, maio 29, 2021
Abatido, executado, falecido, correndo risco de morte
Tempos atrás, quando alguém era morto a tiros, a imprensa, via de regra, noticiava que o sujeito tinha sido "abatido" - como se fosse boi em matadouro. Hoje é "executado", não muito melhor, mas pelo menos não é abate de animais, embora, como disse o Rogério Magri, ministro do imortal Sarney, cachorro, por exemplo, também seja ser humano. Ainda nesse capítulo, lá pelos anos oitenta, quando surgiram os tais "manuais de redação", ficou banida a palavra "falecido" das páginas dos diários. Os doutos da Folha de S.Paulo - o jornal da moda naquele tempo - decretaram que ninguém mais é falecido e sim "morto". Essa genialidade do léxico continua até hoje na imprensa brasileira, até mesmo nos obituários: ninguém mais falece. "Fulano de tal, morto ontem, aos 118 anos". Caramba. E agora quem não é "morto", geralmente corre "risco de morte", e não "risco de vida", o normal das normalistas. Perguntem ao professor Pasquale o que ele pensa disso.
quarta-feira, maio 19, 2021
domingo, janeiro 24, 2021