Eu estava naquele boteco sórdido, bebendo cachaça com cipó, e fumando meu cigarrinho, enquanto esperava meu parceiro de ping-pong para a última partida do ano.
Foi quando chegou o sujeito, na faixa dos cinquenta anos, nariz empinado e com o ar babaca e ridículo dos que usam o cabelo lambido com gumex. Eu já conhecia a figura, sem nunca, felizmente, ter falado com ele. Não me agradou da primeira vez, e nem desta. O cara entrava, trazendo seus tacos, e se punha a jogar sinunca sozinho, como se fosse um grande campeão. Mandava arredar as mesas que estavam perto e jogava com ele mesmo. Reparei que, mesmo se achando, não jogava nada. Só tirava onda, com toda aquela empáfia, mas quase não conversava com ninguém.
Talvez porque fosse o último dia do ano, de repente começou a conversar com dois outros babacas. Falou que há quatro anos não bebia e que havia deixado de fumar.
Foi quando começou a pregar moral. Disse que tudo dependia de força de vontade, de "vergonha na cara" etc etc, sempre se usando como exemplo. "Vejam que eu consegui!". E tome moral e mais moral. Notei que usava uma roupas de grife, sem contudo ter nenhum estofo intelectual - um mané presunçoso.
Fiquei ali, um tempo, aguentando aquela xaropada toda. Foi quando pedi mas uma cachaça e comprei mais um cigarro, que acendi imediatamente. Depois ele saiu, voltou de novo com um vaso de flores que ia levar para a "esposa", falou mais asneiras e, finalmente, por graças de Alá, caiu fora dali, arrotando as suas ridículas minusculas grandezas e microscópicas e falsas vitórias. (Conselheiro X.)
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