IVAN CLAUDIO
Extraído da revista Istoé
Segundo o escritor Johannes Thiele, Romy escondia sob a beleza uma profunda infelicidade
A atriz austríaca Romy Schneider morreu no auge de sua carreira há 26 anos. Tinha beleza de deusa, calma de budista e ar de felicidade de quem sorri o tempo todo para os fãs. Foi assim que enfrentou publicamente, por exemplo, a morte precoce e trágica de seu filho David - ele tinha 14 anos quando morreu perpassado pelas pontas da grade do portão de sua casa em Paris. A eterna beleza, a eterna calma e o eterno sorriso eram, no entanto, pura mágica. Romy Schneider, espécie de Marilyn Monroe de cabelos negros, foi um poço sem fundo de infelicidade, e esse é o tom da sua mais nova biografia, Romy Schneider: ihre filme, ihr leben, ihr seele (Romy Schneider: seus filmes, sua vida, sua alma). O livro acaba de ser lançado em Viena e seu autor, o biógrafo Joannes Thiele, caprichou para definir a atriz em poucas palavras: "a vida de Romy daria um filme melhor e mais intenso que todos os filmes que ela fez em vida". Trata-se de um elogio e tanto, uma vez que a filmografia de Romy reúne admiráveis clássicos como Ludwig II, rei da Baviera (Luchino Visconti) e O processo (Orson Welles).
Problemas profissionais ela nunca teve. Filha de um casal de atores (o austríaco Wolf Albach Retty e a alemã Magda Schneider), Romy estreou no cinema aos 15 anos e alcançou o rápido sucesso com a trilogia de filmes sobre a imperatriz austríaca Sissi - papel que está, aliás, na raiz daquela máscara majestosa da qual ela não conseguia se libertar.
O livro de Thiele mergulha em sua personagem justamente para lhe tirar esse véu. O autor detecta na infância da atriz os primeiros sinais dos sentimentos de rejeição e abandono que a acompanhariam ao longo da vida. Os seus pais se separaram e ela sofreu bastante os efeitos dos poucos cuidados que recebia da mãe, mais voltada para a carreira de atriz. O seu pai também a abandonou e era o amor paterno que ela sempre buscou nos homens. O mais famoso de seus parceiros amorosos, o ator francês Alain Delon, deixou-lhe uma marca devastadora. Delon já era uma estrela quando Romy o conheceu nas filmagens de Christine, ela tinha 20 anos, ele, 23. Egocêntrico e narcisista, o ator viu em Romy apenas uma aventura - isso segundo o biógrafo. E assim, como um aventureiro, acabou o relacionamento da forma mais covarde possível: apenas um bilhete colado a um buquê de rosas vermelhas. Romy voltava de uma filmagem nos EUA e, ao entrar em seu apartamento, encontrou o ambiente vazio. Nas flores, a frase que a apunhalou: "Vou para o México com Nathalie." Outras perdas se acumularam com os anos, já aí marcados pelo uso de drogas e álcool. O segundo marido, o diretor de teatro Harry Meyen (pai de David), suicidou-se, e pouco depois morreu-lhe o filho. Também menos infeliz não foi o casamento com o seu secretário Daniel Biasini: ela se separou dele ao descobrir que a única coisa que o interessava era sua fortuna. No dia 29 de maio de 1982 o coração de Romy não agüentou mais. Os jornais da época frisavam que ela morrera de "coração partido".
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