Santos Vidarte, o grande mestre da fotografia
Ele marcou época na imprensa gaúcha e foi reconhecido como um
dos mais brilhantes e queridos repórteres fotográficos que já passaram pelo Rio
Grande. Seu nome: Santos Vidarte.
Uruguaio nascido na cidade de Durazno a 6 de janeiro de 1911, Vidarte
tornou-se um ícone na fotografia a partir de agosto de 1930, quando, com apenas
19 anos, entrou para a Companhia Jornalística Caldas Júnior para dela nunca
mais sair, até o instante da sua morte, no dia 26 de junho de 1975, quando tinha
apenas 64 anos.
Era uma quinta-feira e Santos Vidarte preparava-se para
começar a trabalhar na sua função de chefe do departamento fotográfico do
Palácio Piratini, atividade que dividia com o Correio do Povo, onde mantinha-se
como supervisor. Também lecionava na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Fabico. Em tratamento médico
havia alguns anos, o veterano fotógrafo insistia em não parar quando, sem
nenhum aviso, como um clique final, foi traído pelo próprio coração. Atendido sem
sucesso por dois médicos do Palácio, faleceu de fulminante ataque cardíaco, dando
fim a uma carreira de quase cinquenta anos que teve muitos momentos gloriosos e
muitas, muitas histórias.
Percorrendo milhares de quilômetros de carro, avião, barco ou
em lombo de burro, de início com uma pesada câmera americana Speed Graphic e
depois com a velha Rolleiflex alemã, Santos Vidarte ganhou notoriedade ao
fotografar o afundamento do encouraçado nazista Graf Spee, no porto de
Montevidéu. Era a célebre Batalha do Prata, em dezembro de 1939, início da
Segunda Grande Guerra. Na Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil, foi
companheiro de outro grande mestre, este do jornalismo esportivo: Cid Pinheiro
Cabral.
Naturalizado brasileiro, casado com dona Léa Bernardi
Vidarte, tinha uma filha, Maria Clara, e outras grandes paixões além da
fotografia e da família: a pesca, na plataforma de Cidreira, e a culinária na
sua casa da praia. Em uma página no Correio do Povo dominical, inteiramente
dedicada ao amigo que acabara de falecer, o jornalista Flávio Alcaraz Gomes
escreveu, sob o título A Última Jornada,
reportando-se à derradeira grande cobertura jornalística de Vidarte, feita pelos
dois três anos antes, na rodovia Transamazônica, empreendimento mal sucedido do
Milagre Brasileiro:
“ – Meu Pai e o Arlindo Pasqualini garantiam sempre: - Para
companheiro de viagem, ninguém como o Santos.
Diz Alcaraz: “Em tudo o
Santos era uma mistura de jovem repórter e de irmão mais velho. Mal clareava o
dia e já estava ele de pé, ensinando os cozinheiros do acampamento a nos servir
um café igual ao dos grandes hotéis. Ao jantar, ele continuava a nos orgulhar,
me orgulhava menos pelos banquetes que preparava do que por sua conversa boa de
homem bom.”
No mesmo domingo, em sua coluna Ribalta das Ruas, o
jornalista Antonio Carlos Ribeiro, já falecido, fala do “Tio Santos”, termo
carinhoso para descrever um sentimento de carinho e gratidão para com o grande
mestre: “Há sujeitos que marcam sua
passagem, e o velho e querido tio Santos foi um deles. Ensinou-nos a nadar, a
pescar e, principalmente a fazer as coisas “bem-feitamente”. Pouca gente terá
sido tão fraternalmente amada. Ele exercia sobre nós uma liderança natural e
tranquila e sabia como poucos tornar inesquecível uma foto, fosse do
afundamento do Graf Spee, fosse de uma nuvem de gafanhotos ou de uma criança
brincando na areia. Fez isso por quase 50 anos, com rara vitalidade e infinito
amor”.
Sepultado no cemitério ecumênico João 23, o mestre Santos
Vidarte teve, afinal, as honras que mereceu com sobras. Um público numeroso foi
ao cemitério prestar sua homenagem ao grande ícone da reportagem fotográfica.
Estavam lá o governador Sinval Guazeli, o seu vice Amaral de Souza, o
ex-prefeito e duas vezes governador do Rio Grande do Sul Ildo Meneghetti, o
cardeal-arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, a direção da Companhia
Jornalística Caldas Júnior, deputados, vereadores, professores, colegas
jornalistas e fotógrafos e muitos admiradores. O mito do futebol gaúcho,
Tesourinha, que Santos Vidarte tantas vezes fotografara, era um deles. Naquele
dia, de luto, a Câmara Municipal de Porto Alegre suspendeu sua sessão. Entre os
convites para o enterro publicado nos jornais daquela sexta estava o do Clube
de Pesca Anzol de Ouro, do qual fora presidente e sócio-fundador. Assim era
Santos Vidarte, homem simples, leal e talentoso.
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