Durval Barbosa e Giovani Grizotti: os meios realmente justificam os fins? por Glauco Fonseca * (glfonseca@terra.com.br)
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Durval e Grizotti são dois ilustres personagens que têm pelo menos algo em comum: são reconhecidos por trabalharem com gravações clandestinas e de se aproveitarem da boa fé de seus interlocutores - sejam eles bandidos ou mocinhos - em nome de sua missão. Através deste modus operandi, um virou um decidido delator premiado e o outro um recidivo revelador, também premiado. Meios semelhantes, protegidos ou não, legais ou nem tanto, merecem ao menos uma discussão sincera. Eu sei que você também concorda. Todos nós adoramos Durvais e Grizottis. Eles fazem o que a polícia gostaria de fazer, não fossem suas limitações legais, o que o MP poderia fazer, não fossem as normas às quais deve se submeter incondicionalmente e o que o Judiciário deveria ter feito se pudesse rasgar seus códigos processuais quinzenalmente. Mostram a podridão com “qualidade de cinema” (como diria Luciana Genro, ao se referir à participação da então Governadora Yeda Crusius em cena explícita de corrupção, depois desmentida). Não nos esqueçamos, contudo, de que Durval é criminoso e que Grizotti é jornalista. Durval, com suas câmeras e microfones, “armou” para o Governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, além de outros nobres políticos da capital federal, incluindo a filha do ex-governador Joaquim Roriz. O Dicionário Houaiss define armação como “aquilo que se planeja ou encena com a finalidade de lograr alguém”. Se Durval “armou” para cima de várias pessoas, por outro lado (?), Giovani Grizotti faz “reportagem investigativa”. Reportagem investigativa usando recursos nebulosos, câmeras e microfones escondidos, nomes falsos (ou até mesmo documentos, quem sabe?) não só é possível como parece ser incentivado, assim como a... delação premiada! Interessante é o fato de que a delação premiada é um instrumento legal; jornalismo com câmeras escondidas e nomes falsos, não. Quem terá de correr atrás do prejuízo, sendo inocente ou nem tanto, que se vire, certo? Não! E isto ofende vários princípios de direitos humanos e regulamentados. Muitos conhecem minha preferência política. Sou capitalista, liberal e defensor ferrenho do estado democrático de direito, penalizando tanto quem rouba manteiga quanto assaltantes de cofres públicos. Quando vejo uma matéria em que um repórter usa nomes falsos, independentemente de quem seja a “vítima”, sou contra o método. Se ele usa câmeras e microfones escondidos, acredito que se aproxima mais da feição de um delituoso do que de um jornalista. E sempre questiono o resultado. Se a vítima – no caso, o entrevistado com quem o jornalista camuflado conversa – é do partido X ou Y, isto não tem a menor importância. Importa o método e importa que o entrevistado, automaticamente, se torna vítima e, logo em seguida, réu mais do que confesso, isto tudo sem apoio de seu advogado e à revelia de seus direitos mínimos. Se a delação premiada é o último recurso do malévolo, o jornalismo com câmera escondida e nas bordas da legalidade não se aproxima do mesmo perfil, pondo por terra todo o contexto ético que ele supunha defender? Os fins não justificam os meios. Nem mesmo em “estado de natureza”, lembrando Hobbes. Hoje em dia, o homem já não é mais o lobo do homem. Existem instituições que foram criadas para que nos lembremos de limites, de direitos e deveres. Não pode ser considerado usual um jornalismo com recursos subliminares, ainda que eventualmente indultados pela proposta sumária de punição exemplar. Sobre esta questão, leia mais sobre o Caso Watergate e o que foi o chamado, na época, de “jornalismo de intimidação”. Ao Durval Barbosa, o cárcere eterno. Ao jornalismo baseado em métodos embaçados, o banimento, antes que seus agentes secretos obtenham permissão para matar. * Glauco Fonseca é consultor de Marketing
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