Sempre gostei de Albert Camus romancista, como em A Peste. Aconteceu de me cair à mão um livro dele sobre uma viagem que fez à América do Sul em 1949, quando era ainda jovem (aliás, morreu jovem) mas já muito famoso e respeitado. É um diário de viagem, delicioso de ser lido.
Lendo as anotações da viagem por várias capitais brasileiras, cresceu ainda mais a minha admiração por Camus. Ele estava deprimido quando visitou o Brasil, país do qual não levou lembranças muito lisongeiras, incluindo a sua rapidíssima passagem por Porto Alegre, cidade que achou feia, mas cuja luminosidade (deveria ser um daqueles dias de geada, sem uma núvem no céu azul) considerou muito bela. Teria dito: "A cidade é feia mas a luz é magnífica".
Também me chamou a atenção a sua descrição do trânsito brasileiro e o seu espanto com os motoristas brasileiros. Segundo Camus, existem aqui dois tipos de motoristas: os "loucos alegres" e os "frios sádicos".
Definições estupendas - é exatamente isso, até hoje, mais de sete décadas depois. Basta ver o que acontece em Porto Alegre, cidade que, hoje, é território livre dos "motoqueiros loucos", aliás, loucos e sádicos também. Esses dias um deles quase me matou aqui em frente do edifício.
Outro fato que chamou a atenção do escritor argelino foram as cenas que viu de atropelamentos nas grandes cidades tupiniquins. Mais do que o atropelamento em si, ele achou bárbaro e revoltante o costume de se deixar o corpo estirado no local, coberto com um lençol, enquanto se aguarda, por horas e horas, a chegada da tal perícia técnica.
Eu não tinha me atentado sobre esse assunto.
Mas, pensando bem, é sim um costume bárbaro e que mostra bem o que somos. (Vitor Minas)
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