terça-feira, outubro 22, 2013

Em outubro de 1976, a inauguração do Condomínio Felizardo Furtado

Estava lá, na contracapa da edição de sábado, 30 de outubro de 1976 do jornal Correio do Povo, sob o título “Inaugurados Hospital da PUC e Bloco de 944 Apartamentos”:
“O Presidente da República presidiu, na manhã de ontem, os atos de inauguração do Núcleo Habitacional Felizardo Furtado, com 944 apartamentos, e o Hospital Universitário da PUC. Acompanhado pelo governador Sinval Guazzelli, pelo chefe do gabinete militar da Presidência da República, general Hugo de Abreu, e pelos ministros Rangel dos Reis e Arnaldo da Costa Prietto, o presidente chegou ao bairro Jardim Botânico, onde foi construído o núcleo habitacional, às 9 horas e 30 minutos, sendo aguardado pelo prefeito Guilherme Socias Villella, pelo diretor-superintendente do INOCOOP, Renato Eickstaed, e demais autoridades. Estudantes de todo o bairro e bandas marciais saudaram o chefe da Nação em sua chegada ao Núcleo Habitacional Felizardo Furtado. No local, o presidente Ernesto Geisel solicitou amplas informações sobre a obra que custou 130 milhões de cruzeiros, interrogando principalmente o diretor-superintendente da INOCOOP. A seguir entregou a chave de um apartamento a Eduardo Araújo, o primeiro morador do Núcleo”.

Na verdade o presidente Geisel havia chegado ao Estado na quinta-feira, seguindo imediatamente a Santo Ângelo, onde abriu oficialmente a colheita do trigo. Em seguida foi a Caxias do Sul e lá inaugurou o Centro de Tecnologia e Pesquisa da Universidade de Caxias do Sul, UCS.
Era, em essência, uma agenda política, pois estava-se às vésperas das eleições municipais (as únicas permitidas para cargos executivos) e Geisel queria dar “um empurrãozinho” no seu partido, a Aliança Renovadora Nacional, Arena. Ele também esteve em Estrela, sua terra natal, e em Bom Retiro, onde inaugurou outras obras e fez um discurso sobre a importância de “se votar bem”.
No Conjunto Felizardo Furtado, Geisel e comitiva descerraram a placa de inauguração, conheceram um apartamento e depois seguiram para o Hospital da PUC.
Durante a inauguração do conjunto habitacional, o Presidente da República foi saudado pelo presidente da Cooperativa Habitacional que construiu o “núcleo” (INOCOOP), Gilberto Rodrigues. Segundo transcreveu o Correio do Povo, Rodrigues, ao se referir à obra e ao presidente Geisel, falou em “libertação” dos trabalhadores:
“Esse momento, consagrado com a presença de Vossa Excelência, significa a libertação de 944 famílias de trabalhadores que passam da condição de inquilinos e peregrinos de tetos alheios, a proprietários da casa própria”.
Na verdade o Conjunto de 944 unidades, 8 prédios, 62 mil metros quadrados de obras (iniciadas em fevereiro de 1974), beneficiava famílias com renda mensal de cinco a oito salários mínimos – ou seja, era um condomínio para a classe média baixa. As prestações eram relativamente suaves (menores que o aluguel correspondente) e longas, o que atraiu um grande número de interessados.
A maioria dos apartamentos, de um, dois e três dormitórios (poucos), havia sido vendida na planta, antecipadamente. Um empreendimento dessa magnitude, é claro, atraiu a atenção do mercado imobiliário e de muitos especuladores que viram uma boa oportunidade de lucrar com a revenda dos imóveis, como se pode ver pelos anúncios classificados do Correio do Povo (o maior jornal da época). No domingo, 31 de outubro, lia-se no CP:
“Transfere-se vários apartamentos com um, dois e três dormitórios, living, banho social, cozinha e área de serviços. Conjunto novo com play-graud, estacionamento e área verde. Conj. Residencial Felizardo Furtado. Chaves em nosso poder. Diversos preços e condições. Tratar Riachuelo, 1513, s/loja, f.244471.” Outro anúncio, na mesma edição, dizia: “Preciso urgente de um apto no parque residencial FF. Negócio direto. Tratar f. 255004”. Dezenas de anúncios desse tipo – bem antes da data oficial da inauguração – saíam regularmente na imprensa.

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