Passei hoje à tarde, indo para a biblioteca da PUC, na Terceira Perimetral, em um trecho onde está um aviso em forma de placa, alertando que ali, sob o solo, existe uma tubulação de gás industrial - o famoso gasoduto Brasil-Bolívia, construído alguns anos atrás de forma silenciosa, discretamente, sem grandes anúncios e que resolveu muitos problemas. A bem da verdade o gasoduto é uma obra majestosa, que acaba, pelo que sei, em Caxias do Sul. Fizeram tal obra enterrada mas quase nunca se falou nela e no trabalho que deu. É que está enterrada, não aparece.
Aí fiquei também pensando que não é só o complexo gasoduto de milhares de quilômetros, vindo lá dos Andes, que nós brasileiros construímos - tem também Brasília, feita quase toda em poucos anos, algo que espantou o mundo. E temos ainda a ponte Rio-Niterói, com seus 14 quilômetros de extensão, outra proeza nacional. E a gigantesca Itaipu, na época a maior usina hidrelétrica do mundo.
Pensei nisso tudo agora, às vésperas da Copa do Mundo em que Porto Alegre - cidade surpreendente, ultimamente, pelo que tem de ruim e decadente e pela "malemolência" dos seus habitantes. pensei nos seis anos que se passaram desde o anúncio de que seríamos sede dessa competição - que eu era contra ser realizada aqui. Pensei no superfaturamento, na roubalheira, nos estádios feitos nas coxas, nos operários que morreram fazendo horas extras agora no final e pensei sobretudo em tantas obras anunciadas e iniciadas na cidade que é a capital gaúcha, obras que pararam, sem explicações, como a rótula da avenida Bento com a Salvador França e que só complicou a vida dos moradores desta parte de Porto Alegre. Pensei nos aeroportos de sul a norte que são autênticas gambiarras e na promessa, alguns anos atrás, de que teríamos até um metrô em Porto Alegre em função da Copa do Mundo - e alguns ingênuos acreditaram. E fiquei ainda mais meditabundo e melancólico ao pensar que não só a Copa será um fracasso em termos de infraestrutura e de promessas, uma vergonha mundial, uma prova da nossa falta de seriedade, da nossa alegre e irresponsável leviandade, como nos deixará com a auto-estima e o amor próprio bem mais baixos do que já estavam - e em um momento em que tudo o que não precisávamos era disso, no momento em que éramos considerados um dos "tigres" dos tais Brics. E fiiquei mais meditabundo porque daqui a dois anos teremos as Olimpíados do Rio e o Comitê Olímpico Internacional, apavorado, diz que nunca viu tanta inatividade e atraso em toda a história das Olimpíadas no mundo. Isso para um país que fez Brasília, Itaipu, a ponte Rio-Niterói, que construiu aquela famosa rodovia lá no Paraná, debruçando-se absurdamente sobre precipícios.
Dois erros mundiais, em exposição, nos colocando no ridículo, poderia se dizer. Talvez não: talvez apenas mostrando que somos uns bananas mesmo e que o Brasil, como disse de Gaulle ou sei lá quem, não é mesmo um País sério. Pior ainda é ver a cara-de-pau das autoridades, incluindo essa senhora presidente, dizendo que está tudo bem, que esta Copa do Mundo que logo iniciará será "a Copa das Copas" e que "não temos complexo de vira-latas". Até os argentinos devem estar rindo de nós. (V.M.)
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