Como é bom reencontrar coisas do passado que nos marcaram, como foi o caso da Enciclopédia Conhecer, editada nos anos sessenta pela Abril. Primorosamente ilustrada e colorida, com uma excelente diagramação, informações certas e revisadas (tentei, mas nunca conseguiu achar uma informação errada), a Conhecer marcou época e foi, em grande parte, responsável por eu não ser um total ignorante: ainda hoje - quando não leio mais livros de ficção - gosto imensamente de ler enciclopédias. Conhecer misturava exatidão com um texto gostoso, informativo e acessível - sem concessões - a leitores de todos os níveis. Um grande mérito. A Abril comprou os direitos, se não me engano, de uma editora da Itália. Excelentemente distribuída, era vendida em toda parte, em pequenas livrarias e em bancas de revista.
Encontrei, por acaso, a Conhecer em uma estante da biblioteca da PUC, aquele conjunto moderníssimo que é visitado até mesmo por estrangeiros, que se espantam de haver algo assim, modernoso e eficiente, em território brasileiro.
Mas a querida Conhecer estava lá e viajei nela, lendo coisas que lembraram a minha infância em postos indígenas da hinterland gaúcha e paranaense, um tempo em que se usava o rádio-amador para se comunicar e que a gente - mesmo os meninos - ouvia as emissoras de ondas curtas que transmitiam da Europa (BBC, dóitchevele, rádio Canadá, rádio Japão) para o Brasil - uma hora diária. Uma carta, enviada para Londres ou qualquer outra capital européia, levava uns dois meses para ter resposta: como seguia de navio, ao ser colocada na caixa postal da minúscula agência de Correios da cidadezinha, a 15 quilômetros da área indígena, despertava uma emoção que nenhum e-mail do mundo jamais despertará. (V.M.)
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