Nesse drama do fotógrafo Luis Cláudio Marigo, que morreu em frente ao Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio, sem socorro, infartado, agonizando, uma vez que os funcionários, enfermeiros e médicos da instituição não fizeram caso da sua vida (estavam em greve por melhores salários) me meio a imagem da contradição das duas selvas - a propriamente dita e a selva urbana.
Vejam como é a coisa: a vítima, que se aventurava havia décadas pelas matas, rios e selvas atrás de belas imagens de animais muitas vezes perigosos e que poderiam ter lhe matado em várias ocasiões, perdeu a vida não ali, no mato, na selva natural, em meio aos desafios e obstáculos da Mãe Natureza. Foi morrer - que triste, meu irmão - na outra selva maior, mais fria e mais nojenta, bem mais terrível e letal, a selva urbana das grandes cidades, na qual prolifera, em absurda quantidade, não os animais selvagens e irracionais e sim o bicho homem racional que não vale uma dose de sal. Me chamem de sentimental, mas é isso aí, em palavras, o que penso e sinto a respeito.
O fotógrafo (naturalmente eu não o conhecia e nem tinha sequer ouvido falar dele antes), que registrou belas imagens da Natureza brasileira, morreu igual um desses bichos que tentam atravessar a rodovia construída pelos homens, uma BR que lhes cortou em dois o velho mundo nativo e os expôs ao risco da morte em questão de segundo. O fotógrafo, esse agonizou muito mais tempo, horas, dizem, e finalmente morreu igual a um lagarto ferido e sem veterinário, uma tartaruga sem água, um quati, um tamanduá, um rato do banhado, um boi ofegante.
Me veio essa imagem ao ver aquela cena terrível da selva urbana, de um ser humano abandonado, caído ao chão, condenado a morrer pelo desleixo criminoso dos que trabalham na área da saúde e que certamente julgam tal morte apenas mais um caso do qual lavam as mãos. Era para acontecer, acontecer. A culpa é dos patrões, não é mesmo?
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