A Ilhota - a primeira grande favela de Porto Alegre - estava localizada às margens do arroio Dilúvio, . Habitada, obviamente, por moradores pobres e, em sua maioria, negros ou pardos, era mal vista pelos demais porto-alegrenses, que a consideravam um local de marginais e ladrões - o que, em certa medida, era verdade. Mas o fato é que foi habitada por uma esmagadora maioria de trabalhadores que davam duro para ganhar a vida. Vivendo em sub-habitações, os moradores da Ilhota eram, inevitavelmente, as primeiras vítimas das grandes enchentes que assolavam a capital gaúcha, entre elas a fantástica cheia de 1941. Considerada uma chaga urbana, todos os prefeitos anunciavam que iriam removê-la, o que aconteceu aos poucos e foi consumado durante o governo de Guilherme Socias Villela, na década de 70, quando se construiu o bairro da Restinga, hoje uma verdadeira cidade, e para onde foram transferidas as famílias. Na Ilhota, diga-se de passagem, nasceram gaúchos ilustres, como o compositor Lupicínio Rodrigues e o craque Tesourinha. Nesta reprodução do Correio do Povo de 1966 - portanto, há meio século - o conhecidíssimo fotógrafo Santos Vidarte (uma legenda do fotojornalismo gaúcho) retrata o que era aquela "maloca".
Um comentário:
Vivi dos 2 aos 16 anos (1954-1967) na Rua Arlindo, um dos limites da Ilhota (a molecada - copiando os gibis do Bolinha e Luluzinha, que separavam os personagens em conflito por pertencerem às zonas sul e norte - chamava Ilhota do Norte). A "Ilhota do Sul", menor ficava no outro lado do Dilúvio e havia uma ponte de tábuas sobre cabos de aço para atravessá-lo.
Nós moleques fazíamos "guerras" de pedras, que quase sempre vitimavam algum automóvel passante e encerrava a "guerra".
Sobre as descrições sobre a população e precariedades do local, com as quais não concordo na totalidade.
Talvez por ter residido na "periferia" da vila, era privilegiado e não percebia os conflitos citados no texto.
Havia problema de saneamento, mas lembro que em 1967 tínhamos água encanada. Energia elétrica, não lembro de outro tipo de iluminação em minha casa (de madeira, construída sobre pedras-ferro com uns 30/40 cm de altura para prevenir as enchentes anuais).
O atendimento de saúde, penso até que era muito melhor do que temos atualmente. Eu tinha problemas de amigdalite e era frequentemente atendido pelo SAMDU (Serviço de Atendimento Médico Domiciliar de Urgência). Lembro que em duas ou três oportunidades que fui buscar ajuda para atender minha mãe - um armazém onde havia telefone (acredito que seja o prédio rosa que aparece no Google Maps, na esquina da José do Patrocínio com Lopo Gonçalves) - chamávamos o SAMDU e não demorava 15 minutos para chegar uma ambulância com médico, assistente e o motorista. Faziam o atendimento, medicavam e deixavam medicação para o tratamento. E, se necessário, removiam para o hospital.
Afinal, era uma vila, ou favela, se assim quiserem.
Em 1967 a prefeitura levou a maior parte das residências para a Restinga, onde receberam lotes residenciais. Minha mãe optou por financiar um lote em Cachoeirinha (no meio do mato) porque lá havia transporte coletivo mais eficiente que na Restinga, e ela ainda trabalhava no centro do Porto Alegre.
Gostaria que mais pessoas que conheceram a Ilhota expusessem imagens e comentários!
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