A torre não entende o piloto. O piloto não entende a orientação da torre. Nesse meio tempo, há uma troca de torres, pois os operadores do tráfego aéreo precisam atender a mais dois aviões que se preparam para pousar no aeroporto de Guarulhos. Na troca, uma torre não sabe a orientação que a outra passou e ninguém mais se entende - mas todos acham que está tudo bem.
Resultado: às 23h15min58 seg, o piloto do Learjet prefixo PT-LSD deixa de falar com a torre e, dois segundos depois, o avião se espatifa sobre a Serra da Cantareira, matando os cinco integrantes do grupo Mamonas Assassinas e mais dois tripulantes, também da equipe.
Esta é a conclusão de um relatório confidencial da Aeronáutica, ao qual a revista Veja teve acesso, e revelou em sua edição de 29 de maio de 1996, poucos meses depois do acidente com os Mamonas, na noite de 2 de março de 1996. O relatório é baseado na caixa preta e nas gravações.
Foi possível reconstituir o que aconteceu, especialmente nos últimos trágicos três minutos - e como, segundo a revista, "a incompetência e o azar mataram os Mamonas".
TUDO ERRADO - O avião decolou de brasília - onde fizeram o último show - quando faltavam dois minutos para as 10 horas da noite de 2 de março. A 15 minutos do pouso em Guarulhos, o Learjet perdeu contato com brasília e passou a comunicar-se com Guarulhos.
Está tudo normal, o tempo é bom, o vento também, e tudo indica que não haverá nenhum problema. Cinco minutos após o primeiro contato, a 40 km da pista, a torre pede ao co-piloto que informe a sua posição.
Aí, o início da tragédia: ele diz que é "180", mas não era. Era 170. A torre manda que vire 10 graus. Ele vira. Minutos depois a torre pede ao co-piloto para informar a velocidade do vento. Ele consulta o equipamento de bordo, que informa um vento de 400 km por hora - velocidade impossível, quase um tufão. Nesse momento, o co-piloto percebe que o equipamento não está funcionando e diz à torre que não tem condições de falar do vento. A torre concorda que a velocidade era um dado absurdo e o desconsidera. Até aqui, problema nenhum. As condições do vento eram normais.
Prossegue a revista, em sua matéria "Três Minutos Fatais": "Há tranquilidade no avião, tudo corre bem, mas os Mamonas estão a cinco minutos e 29 segundos da morte. O avião está a 18 km da pista."
(...) "Coisas estranhas começam a ocorrer. A torre informa que o Learjet está voando a 370 km por hora, velocidade maior até do que um Mirage em operação de pouco. Mesmo assim, limita-se a informar ao co-piloto sua posição e diz para, daí em diante, comunicar-se com outra central, a Torre Guarulhos. (...) "Sete segundos mais tarde o avião dos mamonas informa para a nova torre.
" - Sierra delta arremetendo.
"Começou o desastre. Faltam três minutos e 32 segundos para o choque. (...) "Agora quem fala com a torre não é mais o co-piloto Takeda. É o próprio piloto Jorge Luiz Germano martins, que será encontrado morto com o microfone no colo. Ele informa que levantará o avião e fará a volta para tentar o pouso de novo. A manobra é correta, só que o retorno deveria ser feito virando á direita. O piloto informa que fará "curva à esquerda" e a torre não o corrige, mandando "curva à direita". Em seguida, nova falha de comunicação.
" - Prossiga então para o setor sul - diz a torre.
" - Afirmativo, setor norte - responde o piloto.
" Estava tudo errado. A torre diz "sul" e o piloto entende "norte". Se fosse na direção "sul", o avião faria o retorno. Como ia na direção errada, rumava para a Serra da Cantareira. Havia ainda uma chance. O piloto, mesmo sem saber se ia para a serra, informa que fará a curva para ficar de novo, de frente para a pista. Se fizesse essa manobra, não haveria acidente. Mas a torre pede que não faça isso, pois há outros dois aviões prontos para pousar e terá de monitorá-los. Pede ao piloto que volte a comunicar-se com a torre original. À torre original, o piloto informa que, em vez de fazer a curva que pretendia, está "alongando a perna do vento", ou seja, está seguindo reto.
" - O.K. - diz a torre - mantenha a perna do vento
"Faltam dez segundos para a morte. O avião dos Mamonas não tem aparelhos de bordo para detectar obstáculos à frente. Segue reto. Não há nenhum sinal de pânico ou tumulto na tripulação. mas, para os passageiros, leigos no assunto, há motivo para tensão, pois o avião não pousou como deveria. mas ninguém suspeita que há uma enorme montanha ali na frente.
"- Afirmativo - diz o piloto, seguindo a orientação de manter-se em linha reta. Faltam dois segundos.
"O avião se estraçalha na Serra da Cantareira. Eram 23h16minutos."
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