Perca a voz e veja como ela faz falta. Foi o que aconteceu com este pobre Conselheiro, que, neste momento, desde a noite de ontem, está afônico e fala pela barriga, em tom quase inaudível, o que irrita a todos e ao próprio Conselheiro.
A culpa é desse nosso clima, desse nosso inverno, desta vez ainda úmido do que os anteriores. Culpa do inverno, do frio, da umidade, do FMI, da globalização, das perdas internacionais, do Bil Gates, desse modelo neocolonial etc etc.
De fato, estou irritado. Como disse, perca a voz para ver como ela faz falta, como o homem é um animal falante, que depende das suas cordas vocais para tudo. Fui tomar um café na padaria e levei cinco minutos tentando dizer que queria um copo de café preto. A atendente me olhou como se eu fosse um ET, um misto de espanto e desprezo, e no final tive que apelar para os gestos, naquela base do "índio quer café", "índio pede isso" - e por aí afora.
Lembrei de uma vez, em Niterói, RJ, em um bar restaurante, ao lado da rodoviária. O dono e todos os garçons eram portugueses, de origem ou nativos. Toda noite eu ia lá, beber uma cerveja (ou meio dúzia também) e tomar uma sopa restô - a sobra de tudo que sobrava, algo incrivelmente delicioso, ainda mais delicioso porque o garçon - sujeito simpático e bonachão, torcedor do Vasco - trazia o prato com o dedão dentro da sopa. Não sei o que tinha de mágico naquele dedo polegar, sei que o dia em que um outro rapaz me serviu - sem o dedão - ela já não tinha o mesmo sabor, o mesmo aroma, o mesmo tempero. Vê como um detalhe pode fazer toda a diferença.
Pois um dia apareceu neste restaurante um grupo de surdos-mudos - todos meio pilantras, daqueles que ficam pedindo dinheiro através daqueles bilhetinhos calhordas, em nome de não sei qual instituição pilantrópica. Estavam lá, em uma mesa, três homens e uma mulher, todos surdos, todos mudos, porém falando muito, na base dos sinais, obviamente.
Uma hora um deles se alterou e fez um sinal para o outro que estava à sua frente - sinal de chifres, chamando o cara de corno. O ofendido, imediatamente, pegou um copo de cerveja e jogou na cara do outro. Não lembro bem como terminou - mas que o cacete rolou, rolou.
Nem sei bem porque estou falando dessas coisas, agora que sou mudo. Talvez porque me sinta colega dos mudos, dos surdos, dos portugueses, dos garçons, ds bactérias, dos humilhados e ofendidos, dos pilantras, dos cornos. Experimentem mudos e vocês vão ver como a gente muda, meus irmãos(Conselheiro X.)
A culpa é desse nosso clima, desse nosso inverno, desta vez ainda úmido do que os anteriores. Culpa do inverno, do frio, da umidade, do FMI, da globalização, das perdas internacionais, do Bil Gates, desse modelo neocolonial etc etc.
De fato, estou irritado. Como disse, perca a voz para ver como ela faz falta, como o homem é um animal falante, que depende das suas cordas vocais para tudo. Fui tomar um café na padaria e levei cinco minutos tentando dizer que queria um copo de café preto. A atendente me olhou como se eu fosse um ET, um misto de espanto e desprezo, e no final tive que apelar para os gestos, naquela base do "índio quer café", "índio pede isso" - e por aí afora.
Lembrei de uma vez, em Niterói, RJ, em um bar restaurante, ao lado da rodoviária. O dono e todos os garçons eram portugueses, de origem ou nativos. Toda noite eu ia lá, beber uma cerveja (ou meio dúzia também) e tomar uma sopa restô - a sobra de tudo que sobrava, algo incrivelmente delicioso, ainda mais delicioso porque o garçon - sujeito simpático e bonachão, torcedor do Vasco - trazia o prato com o dedão dentro da sopa. Não sei o que tinha de mágico naquele dedo polegar, sei que o dia em que um outro rapaz me serviu - sem o dedão - ela já não tinha o mesmo sabor, o mesmo aroma, o mesmo tempero. Vê como um detalhe pode fazer toda a diferença.
Pois um dia apareceu neste restaurante um grupo de surdos-mudos - todos meio pilantras, daqueles que ficam pedindo dinheiro através daqueles bilhetinhos calhordas, em nome de não sei qual instituição pilantrópica. Estavam lá, em uma mesa, três homens e uma mulher, todos surdos, todos mudos, porém falando muito, na base dos sinais, obviamente.
Uma hora um deles se alterou e fez um sinal para o outro que estava à sua frente - sinal de chifres, chamando o cara de corno. O ofendido, imediatamente, pegou um copo de cerveja e jogou na cara do outro. Não lembro bem como terminou - mas que o cacete rolou, rolou.
Nem sei bem porque estou falando dessas coisas, agora que sou mudo. Talvez porque me sinta colega dos mudos, dos surdos, dos portugueses, dos garçons, ds bactérias, dos humilhados e ofendidos, dos pilantras, dos cornos. Experimentem mudos e vocês vão ver como a gente muda, meus irmãos(Conselheiro X.)
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