Fevereiro é, tradicionalmente, um mês propício a grandes incêndios, seja na área urbana, seja na rural, o que é explicável pela altas temperaturas do verão. Em 17 de fevereiro de 1986 a cidade do Rio de Janeiro viveu momentos de pânico e terror com a tragédia do edifício Andorinha, a qual matou oficialmente 21 pessoas, deixando mais 38 feridas - não se sabe quantas destas vieram a falecer depois. Foi o maior incêndio, em vítimas, da história conhecida do Rio de Janeiro. As cenas do edifício Andorinha, transmitidas ao vivo pela televisão, chocaram o País. Felizmente, depois dele foram poucos os sinistros dessa natureza que aconteceram no Brasil, e nenhum com tal intensidade e extensão.
Eram 13h30 minutos de uma segunda-feira quando o ar-condicionado instalado no escritório da multinacional General Eletric, no nono andar, sofreu uma sobrecarga de energia. A tomada explodiu e o fogo avançou rapidamente pelo carpete, atingindo uma potrona, logo queimando as cortinas. Dez horas depois, restavam os escombros calcinados do prédio, localizado no centro do Rio (cruzamento da Avenida Almirante Barroso com a rua Graça Aranha) e onde circulavam diariamente não menos do que 1700 pessoas.
E restava uma outra grande certeza: a de que não somente os prédios não foram construídos adequadamente para prevenir tais catástrofes como o Corpo de Bombeiros da Cidade Maravilhosa (e de quase todas as cidades brasileiras, diga-se) revelou-se pessimamente equipado. Faltou água nas mangueiras, não havia pressão nos hidrantes, os soldados do fogo dispunham de apenas doze máscaras de proteção contra a fumaça e não contavam com nenhum colchão de ar para amortecer o salto dos desesperados. Além disso, uma das suas seis escadas Magirus estragou logo no início da operação e as demais mostraram-se incapazes de chegar mais alto do que o décimo andar (quem estava nos andares abaixo deste pode se salvar sem maiores problemas, descendo pelas escadas). Foram tantas as deficiências que os Bombeiros receberam sonoras vaias da população aglomerada que assistia à cena.
Internamente, as coisas não correram melhores: a porta que conduzia ao terraço, ao final de uma escadaria, havia sido fechado a cadeado pelo síndico do edifício. As dez pessoas que chegaram ao terraço e que foram salvas graças a um helicóptero chegaram lá esgueirando-se por uma basculante. Duas pessoas, queimadas e em desespero - um homem e uma mulher - jogaram-se do alto para a morte instantânea no chão da rua. Críticas merecidas sobraram para todo o mundo, inclusive para o então governador Leonel Brizola - ele acusou a "multinacional" GE e até a "ditadura" como culpadas pelo ocorrido."Nem sei se valeu a pena me salvar, pois as cenas que vi jamais da minha mente", afirmou a recepcionista Isaura Calerin Iavecchia, de 32 anos. Diante das chamas de três metros de altura, ela havia ameaçado se jogar de uma das janelas do décimo andar mas finalmente, depois de mais de uma hora de desespero, conseguiu agarrar-se a uma escada Magirus.
Depois da tragédia do Andorinha, muito se falou, algumas coisas foram melhoradas e muitas outras continuam exatamente como estavam - à espera de um novo acontecido. Uma certeza ficou: se a prevenção tivesse sido feita conforme mandam as regras nada daquilo teria ocorrido e duas dezenas de vidas, no mínimo, teriam sido salvas. (Pesquisa e Texto: Conselheiro X.)
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