O Rio Grande do Sul tem o pior trânsito e os piores motoristas do Brasil, país que, por sua vez, já é um lixo nesta área, fazendo com que os povos civilizados se curvem, horrorizados e petrificados, à nossa ignorância maldosa e à falta de apreço pela vida dos outros que parece uma característica dos centauros dos pampas urbanos. Por essas e outras é que eu não me ufano do nosso Rio Grande. Não mesmo.
Porto Alegre sempre foi a pior das capitais tupiniquins e guaranis no quesito trânsito, e isto vem de priscas eras, conforme se vê nos jornais antigos - e eu pesquiso um bocado nesta área.
Mas, em meio à barbárie e à selvageria gaúcha e, sobretudo, porto-alegrense (ah, a nossa cultura européia!...), há um tipo ainda mais desprezível, boçal e nocivo - o nosso motoqueiro, especialmente aquele que faz entregas, o chamado moto-boy. Este merece um capítulo especial, tanta as vilanias que pratica pelas ruas, avenidas e até calçadas desta infeliz e mui desleal cidade farrapa - cada vez mais farrapa.
Já fui quase atropelado e morto por tais espécimes nos últimos meses, e a culpa não era minha - poderia até ser, mas não era. Fui quase assassinado e ainda por cima ofendido como um figurante de novela da Globo. Em uma das vezes este incauto estava, no seu justo direito, atravessando uma faixa de pedestres, com o sinal fechado para os veículos, quando, faltando dois metros para se alcançar a calçada, o semáforo deu sinal verde para os objetos metálicos motorizados seguirem em frente. Estes, claro, pilotados por ogros pré-homéricos, tocaram por cima, com prazer e volúpia, avançando celeremente tais como avançavam as hordas de Átila e seus sujos guerreiros hunos - ou seriam vândalos. Sim, porque aqui, se abre o sinal para os carros e demais tílburis automotores e fecha para o pedestre, quando este último está no meio da travessia tem tão somente duas alternativas: ou corre, igual um coelho assustado e perseguido pelo caçador, em uma humilhante e rastejante atitude de verme lutando pela sobrevivência, ou então tenta fazer valer seus direitos e segue - e é atropelado, virando uma espécie de patê moribundo gelatinoso no meio do asfalto sólido.
Pois falei que os motoqueiros de Porto Alegre são desprezíveis, e não retiro o que disse, até porque tais primitivos indivíduos, em sua grande maioria, são mesmo inclassificáveis e deveriam, no meu modesto ponto de vista, merecer a bíblica pena de quarenta chibatadas a cada infração que praticam. Morreriam todos, obviamente, tanta a laceração de suas carnes.
A bem da verdade, não é difícil definir o motorista de uma moto em Porto Alegre: é um sujeito geralmente jovem, muito jovem até, que se julga acima das leis de trânsito e que procura sempre uma brecha por onde seguir, não importa as consequências do seu ato. Muitos deles morrem nesta prática - e nem sei de devemos lamentar o fato. Outros ficam estropiados e padecem em agoniantes leitos de hospital. Outros ainda saem dos nosocômios com dezenas de pinos de titânio, e levam anos para tentar uma recuperação motora que geralmente não conseguem. O certo é que, a despeito disso tudo - e eles parecem não se importar nem com suas próprias vidas - os motoqueiros estão aí, infernais, nocivos, impunes, desprezíveis e sempre dispostos a praticar suas irresponsabilidades. Certamente, per si, formarão um espetáculo dantesco à disposição dos pobre turistas estrangeiros que aqui aportarem para assistir aos quatro jogos da Copa do Mundo que se aproxima. E, mais uma vez, digo e repito: é por isso que não me ufano deste ingrato e decadente Estado. (V.M)
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