Com essa história de quem o Michael Jackson está vivo, em alguma parte deste planeta, voltei no tempo e me lembrei da morte do Elvis Presley, em 1977. Eu tinha então 16 anos, trabalhava como menor estagiário do Banco do Brasil em uma minúscula, mas rica, cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul, cercada metade do ano por lavouras de soja e outra metade por plantações de trigo - e sempre bombardeada por defensivos agrícolas lançados por aviões agrícolas em sua luta contra as pragas naturais. Eu, claro, vivia com terríveis crises de asma, até o dia - muitos anos depois - em que concluí que aquilo se devia tão somente aos venenos que assolavam a cidade, trazido pelos ventos e mandado pelos aviões em vôos rasantes. Nos anos setenta se fazia dessas coisas. Melhoramos um pouco. E felizmente hoje não tenho mais asma.
Pois, um belo e triste dia, deu a notícia que Elvis tinha morrido, e foi um choque geral. Naquele tempo, nas emissoras de tevê (na nossa cidade só se pegava bem a TV Gaúcha, da Globo, e, com sorte, o Canal 10, hoje Bandeirantes), exibia-se os filmes do rei do rock, geralmente feitos no Havaí e nos tais "paraísos tropicais". Filmezinhos ingênuos mas que deixaram saudades - a ingenuidade sempre deixa saudades - que nós assistíamos com devoção e prazer.
Lembro que escrevi então um artigo - o primeiro que publiquei impresso em um "jornal" - para o semanário local, falando da morte do Elvis, da sua importância, e bla-bla-blá.... Coisas de guri, mas saiu publicado e até que não estava inteiramente mal escrito. Elvis, este sim, estava gordo, balofo, inchado, e usava uns óculos escuros enormes - a imagens da decadência, embora ele ainda teimasse em manter a pose.
O funeral do cara foi apoteótico, na sua mansão em Memphis, porém logo todos notaram que o Rei do Rock estava indo para debaixo da terra com o caixão lacrado, sem que mostrasse o rosto - algo muito suspeito. Disseram depois que era um desejo dele. De qualquer maneira, fosse pelo que fosse, logo surgiu em muitos - tipo esses que falam no Michael Jackson bem vivo por aí, engando a todos - a suspeita de que a morte fosse forjada pelo próprio, que Elvis estivesse vivo e houvesse se mandado para, digamos, a Argentina, a gelada e siberiana Patagônia - lá onde muitos afirmam que Hitler, que também não teria morrido no final da Guerra, como consta nos livros, se refugiou com Eva Braun, protegido por Perón, a quem comprou a peso de muito ouro alemão.
No caso do roqueiro e baladeiro norte-americano, surgiu daí, acredito, a expressão "Elvis vive", "Elvis não morreu", de duplo sentido. Os defensores de tal tese explicavam as suas insólitas, mas não totalmente impossíveis, conjecturas: o ídolo, de 42 anos (um velho para o menino de 16 que eu era), não aguentava mais aquele tipo de vida, todo o artificialismo, afetação, falsidades, traições e a bajulação que o cercavam há décadas, e preferiu sair fora e viver anonimamente junto da Natureza etc. etc.
Acho hoje que Elvis morreu mesmo em agosto de 1977. Acho, não tenho certeza. Mas, às vezes, gosto de pensar que a tese de que ele não morreu, que quis abandonar aquela vida e existir anonimamente pelo resto dos seus dias, junto da Natureza, curtindo a sua própria essência, longe das veleidades e vilanias do mundo e da vida, faz sentido sim. Já imaginaram, Elvis, que hoje, se vivo, teria talvez mais de oitenta anos, sendo capaz de fazer tal coisa, de nos surpreender, de nos enganar? Se isso aconteceu de fato (não riam), que estupenda mostra de que a espécie humana pode nos surpreender favoravelmente e se revelar realmente digna e humana.
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