Sempre me tocou a falta de opções de lazer, sejam culturais ou esportivas, nas vilas e nas periferias pobres de Porto Alegre e outras grandes cidades, onde falta quase tudo e sobra violência e medo de se sair às ruas.
Anos atrás, em um jornal de bairro, fui conferir uma coisa que me alentou e até entusiasmou e que mostrou que há solução para determinadas questões, como esta da falta de espaços de lazer para quem não tem dinheiro para procurá-lo em outros locais. Fui convidado, não lembro bem por quem, a fazer uma matéria sobre as tais "Escolas Abertas" (não recordo se o nome era este mesmo) que funcionavam aos domingos, acessíveis a toda a comunidade vizinha, incluindo uma série de atividades programadas, sem contar biblioteca e outras estruturas já existentes.
Fui em três destes colégios que abriam aos domingos e encontrei dezenas de pessoas, a maioria jovens, entretidos com atividades que, de outro modo, não teriam como fazer. Esse pessoal, antes condenado a ficar em casa, vendo programas de tevê de péssima qualidade, a aguentar a briga dos pais, o porre do pai bêbado, o amargor da mãe neurótica, ou a zanzar tediosamente pelas ruas, remoendo seus ódios e frustrações, chutando latas e tampinhas, ou mesmo tentado a beber e a consumir drogas, estava lá, firme e sereno, praticando atividades físicas, jogando partidas de xadrez, de pingue-pongue, de pebolim, ou então lendo livros, enciclopédias e revistas na biblioteca do colégio.
Eram, na grande maioria, todos garotos e garotas, a maioria os tais pardos, mulatos e negros que fala-se hoje, gente pobre, previamente sentenciada a uma vida sem horizontes, chata e sem possibilidades de crescimento. Mas, de repente, o domingo - o dia mais chato para quem não tem dinheiro e nem companhia - se tornava um dia de lazer e aperfeiçoamento, um dia preenchido com coisas boas e construtivas.
Aquilo me tocou e mudou alguns conceitos que eu tinha, inclusive sobre vida comunitária.
Não sei se as tais Escolas Abertas - uma coisa tão simples, tão fácil e simpática de se fazer - continuam a funcionar, pois na nossa pátria guarani tudo muda ao sabor dos novos governantes, os quais geralmente desfazem tudo o que o anterior fez de bom. Mas eu gostaria de acreditar que sim, que os domingos continuam a ser úteis para essa gente carente (e que nós mesmo discriminamos) das vilas de Porto Alegre. (V.M.)
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