Com o Grêmio, onde o Grêmio estiver. Muita gente pode
imaginar que tal verso, contido no hino do imortal tricolor, é de autoria de
Lupicínio Rodrigues: “Até a pé nós iremos, com o Grêmio onde o Grêmio estiver”
Na verdade os torcedores mais antigos – bem mais antigos – devem recordar da
faixa que a torcida levava, religiosamente, a todos os jogos do Grêmio, fosse
onde fosse, e que Lupi – no ano de 53, o cinquentenário do clube da Baixada,
modificou um pouco da frase original “Com o Grêmio onde estiver o Grêmio”.
Com o Grêmio onde estiver o Grêmio, aliás, é o título de uma
grande reportagem que Cid Pinheiro Cabral fez para a Revista do Globo em
dezembro de 1951: “Com o Grêmio onde
estiver o Grêmio: é o lema da torcida do clube gaúcho mais vezes campeão”.
Acima do título, uma grande foto de Santos Vidarte mostrava os jogadores em
campo sendo abraçados pela torcida. Ao lado, lia-se a legenda feita por Cid: “Esta comemoração é pela conquista de um
campeonato? Não, trata-se apenas de um gol do Grêmio. Não raro a torcida
tricolor, que é a torcida gaúcha de maior espírito de colaboração, rompe os
cordões de isolamento, escapa ao controle da polícia e vai comemorar o feito em
pleno gramado com os autores diretos da façanha.”
Cid Pinheiro Cabral, que, como todos sabem, era colorado,
enchia o tricolor de elogios e o chamava de “autêntico papão de campeonatos”. Na verdade, a Revista do Globo
estava publicando uma série chamada Os
Grandes do Futebol, na qual contava a história dos clubes do Rio e de São
Paulo e também, é claro, da dupla Grenal.
Em uma época em que tanto Grêmio como Internacional eram
olhados com certo desdém pelo centro do País e não faziam parte do chamado
“futebol arte” e sim da viril escola platina, o Grêmio, sobretudo, representava
essa fibra gaúcha. Foi assim na famosa excursão que o tricolor realizou por
vários países da América Central no final de 1949. Os gaúchos jogaram contra
selecionados nacionais, como da Guatemala, Honduras e El Salvador, e não
perderam nenhum dos nove jogos que disputados. Ou melhor, venceram oito e
empataram um. Até os presidentes de tais países compareciam aos estádios, onde
o Grêmio era tratado como um inimigo a ser caçado.
O cronista Cid lembrava desse feito, ainda tão recente: “O maior feito em serie de um clube gaúcho
no exterior cumpriu-o o Grêmio, em 1949, quando passou invicto, na América
Central, por nada menos de nove cotejos. Sua enorme e entusiástica legião de
admiradores recebeu-o com uma das maiores e mais carinhosas manifestações de
que já foi teatro a Rua da Praia de Porto Alegre”. O jornalista lembrava o fato do Grêmio ter
ganho 25 campeonatos em 48 anos de vida.
Na época da reportagem o Estádio Olímpico já estava em fase
de construção, e Cid lembrava que isso – ter um grande estádio - era uma
necessidade: “Há vários decênios que o
clube mais vezes campeão do Brasil se acomoda num recanto, histórico e
tradicional na verdade, mas incompatível com as necessidades mínimas atuais, de
agremiação modelar, praticante de quase todas as modalidades de esporte
terrestre, o “Fortim da Baixada”.
Naquele ano de 51 estavam iniciando as obras de terraplanagem
do Olímpico Monumental, e muitas campanhas vinham sendo feitas para tornar a
nova casa do Grêmio uma realidade. Quanto à torcida tricolor, o mais lido
jornalista esportivo daquela época confessava sua admiração: “Quem for assistir a um jogo do Grêmio
Porto-alegrense verá, como tela de fundo do cenário onde se aglomera a sua
grande torcida, enorme faixa de pano onde se lê: “Com o Grêmio onde estiver o
Grêmio.” Esse slogan, consagrado já entre os torcedores do clube das três
cores, caracteriza perfeitamente as relações entre a veterana e tradicional
agremiação e seus simpatizantes”.
Como se vê, o grande Lupicínio Rodrigues, com seu senso
estético e ouvido musical, apenas adaptou a velha frase para a hoje conhecida “com
o Grêmio onde o Grêmio estiver”.
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