terça-feira, julho 24, 2018

Os 50 anos do Inter, a máquina fornecedora de craques para a seleção brasileira







No dia 4 de abril de 1959 o Sport Clube Internacional festejou os seus 50 anos de fundação, data que já havia sido comemorada por seu grande rival, seis anos antes. E assim como o Grêmio, em seus festejos de cinquentenário, não vivia um bom momento futebolístico, o mesmo se deu como o “clube do povo”. O Grêmio, a partir de 1956, começou a enfileirar títulos metropolitanos e estaduais, dando fim a uma era de hegemonia dos “diabos rubros”, como alguns então chamavam o escrete do Estádio dos Eucaliptos.
Na Revista do Globo de abril de 59, o jornalista Valter Galvani – um dos nomes mais conhecidos da imprensa gaúcha, e não somente na área de esportes – recordou detalhes curiosos da fundação do Inter, lembrando que o colorado iniciou como uma “dissidência” do Grêmio e tinha até nome de Grêmio. Galvani – que é colorado – diz em seu texto sobre o cinquentenário do clube: “A nota curiosa vem da fundação. Tal como o Flamengo do Rio, que nasceu de uma dissidência do Fluminense, o Sport Clube Internacional brotou de um “Sport Clube XV de Novembro, que funcionava como uma espécie de filhote do Grêmio Portoalegrense. As cores eram branca e preta. O campo era provisório, na Redenção, local onde hoje funciona o Parque Esportivo da Escola de Cadetes. Um grupo desligou-se do tal XV de Novembro e criou o Grêmio Football Internacional. Tinha alguns meses de existência com o tal nome o clube que reunia nomes como Arquimedes Fortini, Julio Hanke, Irmãos Karl e outros quando, de São Paulo, chegaram os irmãos Poppe. Júlio Poppe, o mais velho dos dois, foi o autor da ideia. Propôs que fosse extinto o Grêmio Internacional e se reunissem os rapazes com os irmãos Poppe no Sport clube Internacional, nos mesmos moldes do idêntico Sport Clube Internacional que então existia em São Paulo, com as mesmas cores: encarnado e branco. E no dia 4 de abril de 1909 surgia oficialmente o clube. Como um pequeno regato. Ninguém suspeitaria o grande rio que ali estava em embrião.”
Prossegue Valter Galvani, agora se referindo aos primeiros grenais: “O Grenal, todos sabem, é a festa do povo por excelência em nosso meio. Sua tradição, já profundamente arraigada, divide família, amigos, irmãos, na separação das águas que obrigatoriamente se faz.” Em seguida o jornalista passa a citar Arquimedes Fortini, famoso jornalista, intelectual e historiador da primeira metade do século 20: “Tinha poucas semanas a fibra crioula mas logo quis pôr à prova o seu ardor, sob as ordens de José Poppe, enfrentando, em julho de 1909, o mais poderoso elenco da Capital, o Grêmio. Foi vencido, como é natural, mas os componentes do quadro não desanimaram com o batismo de fogo. E então trabalharam cada vez mais. Um dos irmãos Poppe dizia: - Reconheço existir uma grande diferença de nível entre o nosso clube e os demais daqui. Mas um dia ainda será um grande clube. E eram proféticas as suas palavras.”
Valter Galvani lembrava que o Inter havia sido fundado exclusivamente para o futebol mas em breve se dedicava também ao atletismo, conquistando muitas glórias: “Quatro anos depois de fundado já chegava ao título máximo do futebol da cidade. E decidido a não largar: ficou cinco anos no poder. Não foi a última vez que o Internacional exerceu a ditadura no esporte da capital gaúcha e do Rio Grande.”
E o jornalista prosseguia, falando sobre o famoso rolo compressor dos anos quarenta e que conquistou um feito inédito no futebol brasileiro: foi hexacampeão estadual, conquistando os títulos de 1940, 41, 42, 43, 44 e 45.
“Durante seis anos seguidos mantivera-se no poder. Cedeu a posição no ano seguinte ao seu rival tradicional, ficando no segundo posto, mas em 1947 e 48 já voltava ao poder. Nomes como Tesourinha, Adãozinho, Vilalba, Rui, Carlitos, Russinho, Ávila, Alfeu, Nena, jamais deixarão a memória de quantos os conheceram e viram em ação. Eram craques fabulosos do famoso e inesquecível Rolo Compressor. Mas o “Rolo” envelhecera. Era preciso renovar. Pensava-se em reconstituir o quadro.  Seria impossível. Só criando algo novo, gente nova. Foi assim que surgiu o novo quadro, com Florindo, Oreco, Paulinho, Salvador, Odorico, Luizinho, Bodinho, Airton, e tanta gente mais. A famosa “cortina de ferro”, por onde nada passava, era a linha de “halfes”: Paulinho, Salvador, Odorico. E mais quatro campeonatos sucessivos: 50, 51, 52 e 53.”
A reportagem da Revista do Globo chamava o Inter daquela época de “fornecedor da seleção”, em alusão aos craques que o colorado cedia para a seleção brasileira: “Desde os velhos tempos de Nelson Grant que o Sport Clube Internacional vem fornecendo jogadores para a seleção do Brasil. Da grande fábrica dos Eucaliptos tem saído gente capaz e que logo vai confirmar seu prestígio nas grandes batalhas internacionais. De 1940 para cá a coisa quase chegou ao exagero. Não havia seleção que não contasse com um jogador, ao menos, oriundo do reduto colorado. Começando por Tesourinha e passando por Paulinho, Salvador, Odorico, Larri, e chegando a Chinezinho, Oreco, etc.”
A reportagem concluía o seguinte sobre a grandeza do Inter nas comemorações do seu cinquentenário: “Talvez nem o próprio grupo de fundadores que, no longínquo 1909, resolveu criar um clube que reunisse a pequena “aristocracia crioula”, imaginasse que o seu pequeno sonho se projetaria tão longe. Que o seu clube viesse a se tornar com o tempo uma das maiores expressões do Rio Grande do Sul esportivo. Que viesse a se tornar o “clube do povo. Que no terreno do futebol profissional pudesse ir tão longe, tornando-se uma espécie de fornecedor oficial de craques para a seleção do Brasil”.

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