No dia 4 de abril de 1959 o Sport Clube Internacional
festejou os seus 50 anos de fundação, data que já havia sido comemorada por seu
grande rival, seis anos antes. E assim como o Grêmio, em seus festejos de
cinquentenário, não vivia um bom momento futebolístico, o mesmo se deu como o
“clube do povo”. O Grêmio, a partir de 1956, começou a enfileirar títulos
metropolitanos e estaduais, dando fim a uma era de hegemonia dos “diabos
rubros”, como alguns então chamavam o escrete do Estádio dos Eucaliptos.
Na Revista do Globo de abril de 59, o jornalista Valter
Galvani – um dos nomes mais conhecidos da imprensa gaúcha, e não somente na
área de esportes – recordou detalhes curiosos da fundação do Inter, lembrando
que o colorado iniciou como uma “dissidência” do Grêmio e tinha até nome de
Grêmio. Galvani – que é colorado – diz em seu texto sobre o cinquentenário do
clube: “A nota curiosa vem da fundação.
Tal como o Flamengo do Rio, que nasceu de uma dissidência do Fluminense, o
Sport Clube Internacional brotou de um “Sport Clube XV de Novembro, que
funcionava como uma espécie de filhote do Grêmio Portoalegrense. As cores eram
branca e preta. O campo era provisório, na Redenção, local onde hoje funciona o
Parque Esportivo da Escola de Cadetes. Um grupo desligou-se do tal XV de
Novembro e criou o Grêmio Football Internacional. Tinha alguns meses de
existência com o tal nome o clube que reunia nomes como Arquimedes Fortini,
Julio Hanke, Irmãos Karl e outros quando, de São Paulo, chegaram os irmãos
Poppe. Júlio Poppe, o mais velho dos dois, foi o autor da ideia. Propôs que
fosse extinto o Grêmio Internacional e se reunissem os rapazes com os irmãos
Poppe no Sport clube Internacional, nos mesmos moldes do idêntico Sport Clube
Internacional que então existia em São Paulo, com as mesmas cores: encarnado e
branco. E no dia 4 de abril de 1909 surgia oficialmente o clube. Como um
pequeno regato. Ninguém suspeitaria o grande rio que ali estava em embrião.”
Prossegue Valter Galvani, agora se referindo aos primeiros
grenais: “O Grenal, todos sabem, é a
festa do povo por excelência em nosso meio. Sua tradição, já profundamente
arraigada, divide família, amigos, irmãos, na separação das águas que
obrigatoriamente se faz.” Em seguida o jornalista passa a citar Arquimedes
Fortini, famoso jornalista, intelectual e historiador da primeira metade do século
20: “Tinha poucas semanas a fibra crioula
mas logo quis pôr à prova o seu ardor, sob as ordens de José Poppe,
enfrentando, em julho de 1909, o mais poderoso elenco da Capital, o Grêmio. Foi
vencido, como é natural, mas os componentes do quadro não desanimaram com o
batismo de fogo. E então trabalharam cada vez mais. Um dos irmãos Poppe dizia:
- Reconheço existir uma grande diferença de nível entre o nosso clube e os
demais daqui. Mas um dia ainda será um grande clube. E eram proféticas as suas
palavras.”
Valter Galvani lembrava que o Inter havia sido fundado
exclusivamente para o futebol mas em breve se dedicava também ao atletismo,
conquistando muitas glórias: “Quatro anos
depois de fundado já chegava ao título máximo do futebol da cidade. E decidido a não largar: ficou cinco anos no
poder. Não foi a última vez que o Internacional exerceu a ditadura no esporte
da capital gaúcha e do Rio Grande.”
E o jornalista prosseguia, falando sobre o famoso rolo
compressor dos anos quarenta e que conquistou um feito inédito no futebol
brasileiro: foi hexacampeão estadual, conquistando os títulos de 1940, 41, 42,
43, 44 e 45.
“Durante seis anos
seguidos mantivera-se no poder. Cedeu a posição no ano seguinte ao seu rival
tradicional, ficando no segundo posto, mas em 1947 e 48 já voltava ao poder.
Nomes como Tesourinha, Adãozinho, Vilalba, Rui, Carlitos, Russinho, Ávila,
Alfeu, Nena, jamais deixarão a memória de quantos os conheceram e viram em
ação. Eram craques fabulosos do famoso e inesquecível Rolo Compressor. Mas o
“Rolo” envelhecera. Era preciso renovar. Pensava-se em reconstituir o
quadro. Seria impossível. Só criando
algo novo, gente nova. Foi assim que surgiu o novo quadro, com Florindo, Oreco,
Paulinho, Salvador, Odorico, Luizinho, Bodinho, Airton, e tanta gente mais. A
famosa “cortina de ferro”, por onde nada passava, era a linha de “halfes”:
Paulinho, Salvador, Odorico. E mais quatro campeonatos sucessivos: 50, 51, 52 e
53.”
A reportagem da Revista do Globo chamava o Inter daquela
época de “fornecedor da seleção”, em
alusão aos craques que o colorado cedia para a seleção brasileira: “Desde os velhos tempos de Nelson Grant que
o Sport Clube Internacional vem fornecendo jogadores para a seleção do Brasil.
Da grande fábrica dos Eucaliptos tem saído gente capaz e que logo vai confirmar
seu prestígio nas grandes batalhas internacionais. De 1940 para cá a coisa
quase chegou ao exagero. Não havia seleção que não contasse com um jogador, ao
menos, oriundo do reduto colorado. Começando por Tesourinha e passando por
Paulinho, Salvador, Odorico, Larri, e chegando a Chinezinho, Oreco, etc.”
A reportagem concluía o seguinte sobre a grandeza do Inter
nas comemorações do seu cinquentenário: “Talvez
nem o próprio grupo de fundadores que, no longínquo 1909, resolveu criar um
clube que reunisse a pequena “aristocracia crioula”, imaginasse que o seu
pequeno sonho se projetaria tão longe. Que o seu clube viesse a se tornar com o
tempo uma das maiores expressões do Rio Grande do Sul esportivo. Que viesse a
se tornar o “clube do povo. Que no terreno do futebol profissional pudesse ir
tão longe, tornando-se uma espécie de fornecedor oficial de craques para a
seleção do Brasil”.
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