sexta-feira, junho 26, 2020

Elvis e os tempos modernos



Elvis Presley morreu no dia 16 de agosto de 1977, quando eu tinha 16 anos e morava em uma minúscula cidade do interior gaúcho - e Elvis tem um significado jornalístico e profissional para mim: foi em sua homenagem, digamos assim, que escrevi o meu primeiro artigo publicado, no jornal semanal da cidade. Fiquei orgulhoso daquilo, claro, e nem lembro das besteiras e clichês que redigi na minha máquina Olivetti (sempre fui fã da Olivetti italiana). Sequer guardei o artigo, como não guardo material nenhum do passado. Esses tempos joguei tudo no lixo, pois tenho características de acumulador compulsivo, pero no mucho. Assim mandei às favas o passado. Ou como diz aquela propaganda, me desapeguei.
Vejo muitos documentários, dos quais sempre gostei, e vejo ainda mais nestes tempos de peste. Um bom documentário sobre Elvis que assisti no Youtube explica porque o cara morreu tão jovem, aos 42 anos de idade, em sua Mansão no Menphis, Tenesse (dizem que a mansão não era tão mansão assim). Ele media cerca de 1,80 metro e tinha mais de 100 quilos de peso. Pudera: tipicamente americano, se entupia de toda sorte de porcarias gordurosas - xis, sanduíches pantuagrélicos, etc. Não bebia e nem fumava porém - tampouco usava maconha, heroína ou cocaína. Mas, em compensação, vítima da fama e da ansiedade, consumia medicamentos controlados de tarja preta que alguns médicos subservientes precreviam a seu pedido. Afinal, ele era Elvis, o Rei do Rock.
Elvis trocava o dia pela noite - dormia o dia inteiro e passava as noites em claro. Não estava multimilionário, como todos pensavam: na verdade só tinha um milhão de dólares na conta (a moeda americana, naquela época, valia bem mais que hoje, mesmo assim era pouco), pois quase toda a sua receita com a venda de discos ficava com o seu empresário, o Coronel Parker. Ele então se preparava para uma grande turnê, para arrecadar grana. Curiosamente, ídolo mundial, Elvis só fez shows no seu próprio país, no Canadá e no Havaí, que é um Estado americano. Nunca veio à América do Sul. 
Sofria de ansiedade, stress e depressão, agravada pela morte da mãe, que ele adorava, e pelo fato de ter levado um chute na bunda da sua mulher, Priscylla, que arranjou outro cara - um professor de karatê, se não me engano. Isso afetou o seu orgulho de macho. Na fase final, estava totalmente dependente das drogas controladas, que ingeria para poder dormir e, ao acordar, para se manter desperto. Era também um pai carinhoso e um amigo especular para os seus amigos ou simples conhecidos: dava Cadillacs em profusão, como se dá banana. Pagava todas as despesas médicas dos outros e não regateava ao agradá-los. Em suma, um homem generoso. Segundo depoimentos de todos, não era arrogante ou mandão, não dava gritos e nem exigia privilégio - tinha dinheiro para os comprar. Igualmente não era dado a crises de estrelismo - ou seja, tinha noção do ridículo. 
Na sua autópsia (não, ele não fugiu para a Patagônia, onde teria se tornado um fazendeiro) constataram que seu fígado estava com o dobro do peso normal, com esteatose - acúmulo de gorduras. Como não bebia (dizem que tinha horror à bebida por seu pai ter sido alcóolatra e por observar como as pessoas se modificam depois de uns drinques), o fato é explicado por ser um glutão que comia as coisas erradas. Uma mulher, secretária sua ou coisa assim, afirmou que nenhum filme ou foto fez justiça à sua extraordinária beleza e ao seu sorriso. 
Presley morreu aos 42 anos, caído no chão do banheiro, chapado de medicamentos, asfixiado pelo próprio vômito. O próximo mês de agosto marca os 43 anos da sua morte e, em dezembro, os 40 da de John Lennon - figura bem mais teatral mas igualmente talentosa, símbolo de um tempo que não volta mais: aquele em que figuras de fama planetária, como ele, andavam sem seguranças (Elvis mantinha alguns). Outra coisa descoberta pelos legistas: ele tinha os cabelos totalmente brancos e os pintava de preto. Não eram grisalhos e sim brancos como a neve, talvez efeito da genética ou do estresse.
Outra coisa - sinal dos tempos:Lennon, no dia da sua morte, assassinado na frente do edifício Dakota, em NY, estava absolutamente sozinho e sem proteção de seguranças. Hoje qualquer desses cantorzinhos brasileiros de quinta categoria, que não servem nem para lavar os pés do Elvis ou do Lennon, não saem às ruas sem um batalhão de seguranças a protegê-los, ou simplesmente para tirar onda e mostrar status e riqueza. Pior, agora, com a pandemia e o isolamento social, estão todos frajolas, mostrando aos sites e às revistas a intimidade luxuosa das suas mansões. Creio que o precursor disto foi o Teixeirinha, cujas capas de disco o colocavam ao lado dos carros mais caros da época, o fenômeno do novo-rico. 
Teixeirinha, como Elvis, também levou um chute na bunda da sua mulher, Mary, e morreu aos 58 ou 59 anos de idade. Mas, ao contrário do Rei do Rock, não tinha noção do ridículo - ou seja, pode ser considerado um dos padroeiros da vulgaridade destes tempos modernos e medíocres.

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