Por Norma Couri
Última semana de A Favorita. Pelos picos de audiência, beirando os 50 pontos do Ibope, dá para imaginar quantos aspirantes a jornalistas estão assistindo à novela.
A profissão tem o seu glamour mas sempre dá uma pontada no peito quando Flora manda convidar para sua festa de casamento "celebridades, artistas, jornalistas" e, na recusa, insiste para que Silveirinha aumente o cachê. E eles aparecem.
Mas o que intriga nesse mercado de vacas magras é a quantidade de coleguinhas que os jornalistas ganharão depois que esculpiram na telinha a figura de Zé Bob, bonito, charmoso, livre para fazer o que quer e no tempo que bem entender, com pautas especiais, a namorada como principal fonte, apoio incondicional da editora Tuca num jornal que ninguém consegue fixar o nome. E sem problemas aparentes de caixa.
A última vez que se noticiou uma liberdade assim foi no caso Watergate, quando Carl Bernstein e Bob Woodward – apoiados por um mítico Ben Bradlee dissecaram a fonte mágica "Deep Throat" e, com base nos seus garranchos anotados no escuro em caderninho de mão, derrubaram o presidente dos Estados Unidos. É de babar.
Conjunção astral
As redações hoje são enxugadas, a maioria das matérias resolvidas por telefone ou e-mail, ninguém consegue maturar uma pauta por mais de dois dias. Três, é benevolência que o editor hiperatarefado, porque provavelmente cumpre outras funções, concede a um super-repórter que apresentará um furo estampado na capa. Há quanto tempo não nos refestelamos com um furo de capa. E onde foi que o Zé Bob deu um furo no jornal cujo nome sempre escapa?
Ficção e realidade há muito confundem a audiência graças aos reality shows. Há muita gente apontando uma Flora na sua vida e perdendo horas imaginando um final trágico para ela. As revistas de TV de O Globo e do Estado de S.Paulo são fartas em finais diferentes para Flora, no total 20, elaborados com detalhes pelo próprio autor da novela e pelos fãs, com requinte de crueldade. Provavelmente vingança pessoal.
E o Zé Bob? Não será demitido? Não vai dar um furo que justificará os meses de enrolação?
Tuca há muito foi demitida das redações. Ben Bradlee tem 87 anos, continua no The Washington Post e seu livro A Good Life dá água na boca [leia aqui sua entrevista ao El País, 11/1]. Mas estão para nascer outros Bernstein e Woodward na conjunção astral iluminada com um editor Ben Bradlee e um caso desvendado até a medula com desfecho tão feliz (não para Nixon) como o Watergate.
Muitas saudades
O repórter especial, aquele que bola suas próprias pautas, tem a confiança do editor para desaparecer e ressurgir porque vai suprir o jornal com matéria trepidante, este foi tercerizado. Tem de pagar aluguel, telefone, condução e bancar o próprio tempo para produzir a matéria. De preferência várias matérias ao mesmo tempo para garantir o mês.
No ano passado, o diretor del Fundación Nuevo Periodismo Latinoamericano, criada por Gabriel García Márquez em Cartagena de Índias (Colômbia), que premia reportagens investigativas e fotógrafos de toda América Latina, confessou que a maioria delas havia sido bancada pelos próprios jornalistas, apurada nas horas vagas e presenteada ao jornal ou revista para depois virar livro. Uma persistência pessoal aplicada nos fins de semana, férias, noites, tal qual Bernstein, Woodward e Zé Bob fizeram, bancados pelo jornal Washington Post e o de Zé Bob, cujo nome sempre falha.
Zé Bob, muito mais do que Flora, Donatela e Lara, vai deixar saudades, muitas saudades. Mas não será pelo material jornalístico que ele produziu. As redações vão receber quilos de formandos com uma vocação férrea e um desejo: "Quero ser Zé Bob". (Observatório da Imprensa)
Última semana de A Favorita. Pelos picos de audiência, beirando os 50 pontos do Ibope, dá para imaginar quantos aspirantes a jornalistas estão assistindo à novela.
A profissão tem o seu glamour mas sempre dá uma pontada no peito quando Flora manda convidar para sua festa de casamento "celebridades, artistas, jornalistas" e, na recusa, insiste para que Silveirinha aumente o cachê. E eles aparecem.
Mas o que intriga nesse mercado de vacas magras é a quantidade de coleguinhas que os jornalistas ganharão depois que esculpiram na telinha a figura de Zé Bob, bonito, charmoso, livre para fazer o que quer e no tempo que bem entender, com pautas especiais, a namorada como principal fonte, apoio incondicional da editora Tuca num jornal que ninguém consegue fixar o nome. E sem problemas aparentes de caixa.
A última vez que se noticiou uma liberdade assim foi no caso Watergate, quando Carl Bernstein e Bob Woodward – apoiados por um mítico Ben Bradlee dissecaram a fonte mágica "Deep Throat" e, com base nos seus garranchos anotados no escuro em caderninho de mão, derrubaram o presidente dos Estados Unidos. É de babar.
Conjunção astral
As redações hoje são enxugadas, a maioria das matérias resolvidas por telefone ou e-mail, ninguém consegue maturar uma pauta por mais de dois dias. Três, é benevolência que o editor hiperatarefado, porque provavelmente cumpre outras funções, concede a um super-repórter que apresentará um furo estampado na capa. Há quanto tempo não nos refestelamos com um furo de capa. E onde foi que o Zé Bob deu um furo no jornal cujo nome sempre escapa?
Ficção e realidade há muito confundem a audiência graças aos reality shows. Há muita gente apontando uma Flora na sua vida e perdendo horas imaginando um final trágico para ela. As revistas de TV de O Globo e do Estado de S.Paulo são fartas em finais diferentes para Flora, no total 20, elaborados com detalhes pelo próprio autor da novela e pelos fãs, com requinte de crueldade. Provavelmente vingança pessoal.
E o Zé Bob? Não será demitido? Não vai dar um furo que justificará os meses de enrolação?
Tuca há muito foi demitida das redações. Ben Bradlee tem 87 anos, continua no The Washington Post e seu livro A Good Life dá água na boca [leia aqui sua entrevista ao El País, 11/1]. Mas estão para nascer outros Bernstein e Woodward na conjunção astral iluminada com um editor Ben Bradlee e um caso desvendado até a medula com desfecho tão feliz (não para Nixon) como o Watergate.
Muitas saudades
O repórter especial, aquele que bola suas próprias pautas, tem a confiança do editor para desaparecer e ressurgir porque vai suprir o jornal com matéria trepidante, este foi tercerizado. Tem de pagar aluguel, telefone, condução e bancar o próprio tempo para produzir a matéria. De preferência várias matérias ao mesmo tempo para garantir o mês.
No ano passado, o diretor del Fundación Nuevo Periodismo Latinoamericano, criada por Gabriel García Márquez em Cartagena de Índias (Colômbia), que premia reportagens investigativas e fotógrafos de toda América Latina, confessou que a maioria delas havia sido bancada pelos próprios jornalistas, apurada nas horas vagas e presenteada ao jornal ou revista para depois virar livro. Uma persistência pessoal aplicada nos fins de semana, férias, noites, tal qual Bernstein, Woodward e Zé Bob fizeram, bancados pelo jornal Washington Post e o de Zé Bob, cujo nome sempre falha.
Zé Bob, muito mais do que Flora, Donatela e Lara, vai deixar saudades, muitas saudades. Mas não será pelo material jornalístico que ele produziu. As redações vão receber quilos de formandos com uma vocação férrea e um desejo: "Quero ser Zé Bob". (Observatório da Imprensa)
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