Daqui do meu apartamento, no quinto andar, até há pouco tempo, eu tinha a vista longíngua do Presídio Central de Porto Alegre - o mais sórdido do Brasil, com mais de 4 mil presos. Aos poucos, novos edifícios cobriram essa paisagem, da qual não sinto falta. Pois agora, com a pandemia, a reclusão e o tal isolamento social, fico pensando nessa gente que está lá, alguns certamente inocentes, outros que deviam a pensão dos filhos e pagaram por isso com a privação da liberdade. Devem estar comendo o pão que o diabo amassou. Particularmente (palavrinha irritante e redundante, e existe alguém que não seja particular?) não consigo me imaginar preso - em casa ao menos tenho a infra necessária e também posso sair às ruas quando quiser, devidamente mascarado é claro. Pois tive um grande amigo, já falecido, pessoa boa mas que na adolescência entrou para a vida torta - ao final, havia cumprido cinco anos recluso, dos quais um no Central. Viu de tudo lá e, mesmo assim, quando saiu continuou sendo uma pessoa alegre e de grande capacidade de trabalho, desta vez honesto - tornou-se um excelente vendedor de anúncios para jornais. Cinco anos em cana, imaginem! Se esta pandemia já está nos deixando de cabeça virada, imaginem cinco anos fechado em uma cela imunda, ao lado da pior espécie de gente. Não é mole não. Mas tem coisa ainda pior nesta área - o Nelson Mandela, por exemplo, que passou 27 anos preso, quase sempre incomunicável. Saiu sorrindo, com aquele seu sorriso aberto, e se tornou presidente do seu país. Eu, se tivesse que enfrentar cinco anos na gaiola - nem falar em 27 - enroscava uma corda no pescoço e pulava para o fechamento das contas. Há gente forte mesmo.
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