Chacrinha: vim para confundir, não para explicar
Migrar de uma máquina fotográfica mecânica, com toda regulagem manual - abertura, velocidade, foco - para uma dessas digitais tem lá suas grandes vantagens, reconheço. Logo eu, que sou conservador a esses respeitos e, sob certos aspectos, ainda acho o filme insubstituível.
Pois, para entrar na era do blog, tive de me render às maravilhas tecnológicas e comprei uma Sony digital, um modelo simples, básico, e nem por isso menos complicado. A máquina é excelente, faz tudo, tira fotos coloridas e em preto-e-branco e até filma! - ah, homens das cavernas, nosso tempo está passando...
O problema é que esta minúscula câmera, que cabe no bolso da calça, e, se facilitar, até no buraco do dente, tem recursos até demais, controles demais, ícones demais, funções demais. E tudo é pequenininho, cheio de atalhos e de luzinhas, aperta aqui faz assim, aperta ali, faz assado. Coisa de louco.
Como sou um sujeito de "poucas luzes" culturais (só li um livro na vida, O Pequeno Príncipe, e não entendi direito a história... ), me debrucei sobre o manual de funcionamento da minúscula Sony do sr. Akio Morita, imaginando que, com isso, dominaria o bicho. Ledo e ivo engano.
Folheando, lendo, relendo e trelendo o maldito manual, experimentando aquilo que eles mandavam, acionando comandos, botões e funções, fui, aos poucos, ficando - como dizia meu pai - "enervado", ou em "estado de nervos". Um comando eliminava outro, que por sua vez conduzia a um novo caminho, que parava logo adiante, para voltar atrás (volta pra frente é difícil) e, no fim, totalmente embananado, enervado, estressado, derrotado, humilhado, larguei tudo de mão e fiz como aquele careca que só tinha três fios de cabelo na cabeça e queria ir bem penteado a uma festa. Pois, penteando as melenas, caiu-lhe um fio. Penteou de novo, caiu o segundo - só restou o derradeiro. Irritado, o careca largou o pente de mão e disse pra sua imagem no espelho: "Dane-se! Vou descabelado mesmo."
Aconteceu o mesmo comigo. Gritei "danem-se os quiabos!" e larguei tudo de mão. Quem nasce pra tostão nunca chega ao milhão, quem é da idade da pedra jamais chegará à era digital. Essa é a constatação nua e crua.
O ruim mesmo é descobrir que nem tudo é culpa da nossa burrice. Garanto que isso já aconteceu e acontece com vocês: descobrir que esses irritantes manuais de aparelhos eletrônicos e digitais são a coisa mais inútil e mal escrita do mundo. Não orientam nada, são sintéticos demais, não têm a menor didática, foram feitos para complicar e confundir, não para simplificar e ensinar.
Ou os sujeitos que redigem esses manuais pensam que já sabemos tudo, ou acham que nem devemos saber nada - a coisa é por aí.
A verdade pura e simples é essa: os manuais são piores que bulas de remédio, foram feitos ou por gênios ou por idiotas, ou talvez pela mistura dos dois.
Façam o teste: peguem um manual, qualquer manual, pode até ser de liquidificador, e vejam se conseguem entender aqueles mandamentos, aquela linguagem ténica empolada. Pois eu, do alto da minha sapiência, não consigo entender nenhum deles. Se esses caras fizessem um manual ensinando como abrir um guarda-chuva, a gente não iria entender patavinas.
Tudo bem, sou da idade da pedra lascada, e, nessa condição, bem que gostaria de dar umas bordoadas com meu tacape de pedra no crânio genial nesses arrogantes-idiotas-geniais que escrevem os famigerados manuais, sejam os do sr. Morita ou do Zé da Esquina. Viva a velha máquina manual, viva a Kodak, viva o guarda-chuva, viva o fogão à lenha! Morte aos cientistas nipônicos e aos gênios da lâmpada! (Conselheiro X.)
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