Odir: patrono de uma entidade que congregou os pequenos comerciantes. Acima, produtos com o selo da Associação.
A primeira luta, a que levou eles a se unirem, foi perdida. Paradoxalmente, essa derrota serviu ainda mais para uni-los e levá-los à frente. Hoje, a AMMPA - Associação dos Mini-Mercados de Porto Alegre - é uma entidade associativa consolidada, com 52 membros na Grande Porto Alegre, patrimônio próprio, e uma representatividade que não pode ser ignorada. E tudo isso tem a ver com o Jardim botânico, onde a AMMPA nasceu. Mais exatamente: a rua Barão do Amazonas, 856 (esquina com a Itaboraí), no Mercado Guarani - empresa que existe há 38 anos no bairro.
É lá que está o empresário Odir Otto Fetzer, fundador, ex-presidente e patrono da Associação, surgida no ano de 2001, como um canal de luta dos pequenos comerciantes contra o que lhes parecia (e de fato, se tornou) a grande ameaça aos seus negócios - a abertura dos supermercados, especialmente das grandes redes, aos domingos. Para quem não se lembra, não faz muito o comércio de Porto Alegre era proibido de abrir aos domingos. Se, de um lado, isso parece arbitrário, de outro parte beneficiava os micro e pequenos comerciantes, os donos de mercados, mercearias e açougues, que tinham no domingo o seu melhor dia de faturamento.
BATALHA PERDIDA? - A batalha foi perdida - as grandes redes, hoje, funcionam aos domingos - mas isso não impediu que a Associação fosse adiante e se consolidasse como uma rede associativa e se tornasse uma marca conhecida do grande público.
"Procuramos, de início, nos unir para termos força. Mas logo vimos que, pela lei, não dava para proibir ninguém de trabalhar aos domingos", recorda Odir. "Queríamos que aquela lei continuasse, mas não deu".
Metendo a mão na massa, procurando os comerciantes, um a um, Odir foi convocando-os para reuniões e discussões, que aconteciam, então, na antiga sede da Associação dos Moradores do Jardim Botânico, na rua La Plata. "Chegamos a ter 180 pessoas lá, de toda a Porto Alegre", afirma. Quando descobriram que a lei não poderia ser alterada, procuraram outras formas de luta e aí surgiu a questão: se formassem uma associação, esta seria uma cooperativa ou uma rede (há distinções jurídicas entre as duas formas)? Como se fossem cooperativa teriam um sistema centralizado, em que a diretoria se responsabilizaria por todos, optaram por ser uma rede, na qual cada qual responde por si - tal como é hoje.
A Prefeitura Municipal (final do governo de João Verle) lhes deu apoio, contratando consultores da FEVALE - Faculdade do Vale do Rio dos Sinos, os quais prestaram serviços à Associação durante dois anos.
"Era necessário, nós não conhecíamos nada nessa área", informa Odir. A AMMPA passou a congregar proprietários de mini-mercados, açougues e padarias, com estatuto, diretoria e obrigações: o estabelecimento associado deve ter de 100 a 400 metros quadrados de área e nome limpo na praça (não pode ter títulos protestados, por exemplo), além de uma fachada igual e o mesmo lay-out interno.
A idéia da união em uma rede não só reduziu custos como serviu - o que é mais importante - para integrar e dar respeito aos pequenos comerciantes.
LONGO PRAZO - "O mais importante, porém, não é a questão imediata da redução de custos e sim a mudança de mentalidade", diz Odir. "O pequeno comerciante sempre pensa que o seu concorrente é o outro pequeno que está perto dele, quando na verdade o concorrente é o grandão. Ele precisa mudar essa mentalidade, ser parceiro e não concorrente".
Ainda mais importante, afirma Odir, é a troca de informações entre eles. Hoje isso é uma realidade, e se consolida ainda mais nas reuniões semanais que fazem em sua sede própria (600 metros quadrados), no interior da CEASA, no Porto Seco. A sede foi adquirida com recursos próprios e é lá que as coisas acontecem: as negociações com os fornecedores, a compra, a estocagem.
"Mas pra fazer isso tudo, nós tivemos muitas dificuldades, é um trabalho a longo prazo", informa o patrono. A sede conta com uma câmara fria, que serve para estocagem de carne. Comprando coletivamente, conseguem melhores preços - o que se reflete em menores preços ao consumidor.
"Temos contratos com 30 empresas fornecedoras, distribuidoras, indústrias, e compramos mais de 100 itens, carne, arroz, feijão, carne, tudo". Logo surgiram as parcerias - com a Blue Ville, por exemplo, indústria sediada em Camaquã, além de mídia gratuita na Rádio Farroupilha. Mais: mediante a cobrança de 300 reais mensais do associado, a Rede fornece a eles cartazes e embalagens e divulga seus nomes.
"Temos promoções, sempre em cada um associado diferente, cinco vezes por semana". Hoje, a AMMPA compra entre 80 a 100 toneladas mensais de produtos, que são repassados aos 52 associados.
LADO SOCIAL - "Também não descuidamos da parte social, fazemos festas e eventos. A gente trabalha a parte social, fizemos a Campanha do Agasalho, da Alimentação, coisas assim", esclarece o ex-presidente. "Todos os meses temos promoções. O consumidor encontra os mesmos produtos pelo mesmo preço em qualquer um dos nossos associados". A carne, por exemplo, é distribuída coletivamente por um caminhão contratado para isso. Comprar melhor significa, obviamente, vender melhor - e assim enfrentar a concorrência dos grande supermercados e redes. Uma prova cabal do poder de força surgiu no dia em que a AMBEV - uma das maiores fabricantes mundiais de cerveja, e que responde pela marca Pepsi-Cola no Brasil, resolveu esnobá-los. Sem querer conceder desconto, dizendo que, para eles, "essa associação não existia", levaram o troco de uma forma contundente. Sentindo-se menosprezados, os integrantes da AMMPA resolveram, durante um final de semana, fazer uma promoção: duplicaram o preço da Pepsi litro e baixaram levemente o da Coca - só para mostra o poderio da Associação. Comunicaram isso à AMBEV: "Nos dias seguintes eles vieram nos procurar, dizendo que a coisa não era bem assim, que eles nos reconheciam, blá-blá-blá. A verdade é que viram a queda sensível nas vendas e recuaram. Foi a demonstração do nosso poder de fogo", conta Odir Fetzer.
Nascida no Jardim Botânico, a Associação tem hoje filiados em quase toda a Grande Porto Alegre. A grande maioria são mini-mercados. E não são só os muito pequenos. "Temos empresas com até 25 funcionários", diz Odir. Uma agência de publicidade foi contratada para cuidar da imagem da AMMPA, aberta a novos associados. O atual presidente é Mauro Pinheiro, proprietário de um mercado no bairro Jardim Leopoldina, e que foi vice de Odir - hoje o dono do Mercado Guarani é "diretor de marketing", além de patrono da entidade. Presentes na Internet, têm o seguinte endereço: http://www.ammpa.com.br/
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