Goida sempre foi fascinado pelo mundo do cinema e dos quadrinhos. A paixão nasceu na infância, por influência da família, que incentivava as atividades culturais, e foi se fortalecendo com o passar do tempo. Depois de 45 anos dedicados à comunicação, hoje o jornalista, publicitário e crítico de cinema aproveita a aposentadoria para apreciar sua coleção de revistas de histórias em quadrinhos. Aos 74 anos, mora com sua esposa, Deise, em uma casa no bairro Petrópolis. A maioria dos cômodos da residência serve para abrigar um precioso acervo composto por quase 70 mil exemplares de gibis, livros de literatura e fotos de cenas ou personagens de filmes. Entre os móveis rústicos, é possível encontrar inúmeras raridades, as quais ele costuma mostrar aos visitantes com muita simpatia e orgulho.
Hiron Goidanich é o nome dele, mas não há quem não o conheça pelo carinhoso diminutivo do sobrenome. Não por acaso, os amigos mais próximos costumam defini-lo como uma ‘figura amável’, um cara tranqüilo, agradável e sempre bem-humorado. E é desta forma que costuma receber seus convidados e, por ser uma das pessoas que mais entende sobre HQs no Brasil, as visitas não são poucas.
As portas de sua casa estão sempre abertas para jovens, idosos, crianças, estudantes, pesquisadores, conhecidos e desconhecidos em busca de informações. Mas, surpresa: embora seja um aficionado por filmes, Goida não possui DVD em casa, fato que descreve como uma de suas “manias jurássicas”. “Gosto mesmo é de cinema, do ambiente, da sala escura e da tela grande. Essas minhas manias jurássicas também não me permitiram adquirir computador e celular, que não faz falta nenhuma, principalmente no cinema.”
Rica infância
Apesar de ter sido uma criança tímida, sempre escondida atrás de gibis, Goida garante que teve uma infância muito rica. Ele nasceu no dia 11 de julho de 1934, na Rua Riachuelo, centro de Porto Alegre. “Nasci na pensão do meu avô com a ajuda de uma parteira. Na época, os partos em hospitais não eram comuns. As mães tinham os filhos em casa mesmo”, relata.
Em 1941, a família Goidanich deixou a pensão para morar no bairro Menino Deus. Desse período, Hiron, então com sete anos, traz a lembrança da maior enchente registrada na cidade de Porto Alegre. “Durante os meses de abril e maio, a precipitação deixou 70 mil pessoas sem energia elétrica e água potável. O centro da cidade ficou debaixo d'água e os barcos se tornaram o principal meio de transporte. Tivemos que ir para a casa de um tio que morava na Avenida Independência e, como lá é alto, a água não subiu.”
Além do fascínio por super-heróis, a começar por Batman, Homem-Aranha e Superman, quando criança adorava brincar de ‘faroeste’ e ‘cavaleiro andante’ com seus primos. O hábito de assistir a sessões de cinema também foi cultivado na infância, pois eram tantos tios e tias para paparicar os sobrinhos, que não faltava gente para levá-los ao cinema. “Para mim, era uma alegria muito grande, pois eu e meu irmão Flávio tínhamos tios e tias de sobra para nos levar ao cinema. Minha mãe é de Encruzilhada do Sul, e a família dela viajava para Porto Alegre e ficava hospedava na minha casa. Então, essas pessoas vinham muito ansiosas por atividades culturais, como ir a livrarias e, principalmente, freqüentar cinemas. Na época, fazer esse programa durante a semana era como se fosse assistir à novela atualmente. Os pais levavam os filhos ao cinema à noite porque não havia problema nem censura nem perigo para isso.”
Sábado e domingo eram os dias mais esperados pelos irmãos, pois ganhavam a permissão de irem sozinhos ao cinema. “De manhã era um inferno: tínhamos que ir à missa. Mas a tarde era um paraíso: comprávamos os bilhetes, escolhíamos o filme e comíamos pipoca sozinhos”, relembra, com prazer. Foi por assistir a filmes desde pequeno que aprendeu a ler aos cinco anos de idade. “Como as únicas peças dubladas da época eram os filmes do Walt Disney e pelo fato de assistirmos de tudo, desde pequeno aprendi a ler as legendas e entrei para o colégio já alfabetizado.” Hoje, ele se define como uma pessoa eclética quando se trata de gênero de filmes. “Não tenho preconceito nenhum. Quando se trata de cinema, assisto de tudo. Isso é pelo fato de que quando era criança, lá em 1939, os filmes não tinham problema com censura e nossos tios não perguntavam o que queríamos ver.”
Poderia até ser considerado um ato audacioso para um menino, mas aos oito anos de idade já tinha a mania de assistir a filmes e classificá-los conforme seu desempenho. “Ganhei um caderno de capa dura da minha mãe e, então, passei a anotar e dar notas para os filmes que assistia. Fazia isso principalmente com seriados completos, que eram a diversão do domingo. Eles tinham uma média de duração de 15 minutos e eram apresentados em sessões que começavam às 14h e iam até as 18h.” A brincadeira deu certo e tornou-se a atividade profissional.
Nos bastidores da notícia
Embora tenha origem humilde, a família de Goida sempre se preocupou em incentivar os filhos a criar gosto por cultura. A leitura também era obrigatória dentro de casa. “Tanto meu pai como minha mãe estimulavam muito a leitura e, para isso, compravam revistas de quadrinhos.”
Foi assim que Goida conheceu seu grande incentivador nas revistas de histórias em quadrinhos. O nome dele? Clark Kent, a identidade secreta do Superman. A figura do rapaz tímido, que usa óculos e trabalha como repórter no Planeta Diário, foi o que o encantou. “Clark Kent foi minha inspiração. Muitos me perguntam por que o Clark e não o Superman. O Clark é um cara emblemático e, curiosamente, a figura que mais me atraía era a do cara normal, o jornalista, que usava óculos e que tinha que trabalhar e dar duro para conquistar a namorada, e não a do cara cheio de superpoderes”, explica.
Foi inspirado na identidade secreta do Homem-de-Aço que prestou vestibular para Jornalismo na Ufrgs. “Entrei para a Universidade sem fazer cursinho, mas é claro que devo ter passado em último lugar.” Já no final do primeiro ano, em 1959, estava empregado como redator no Jornal do Comércio e estagiário na Última Hora, que em 1964 se transformaria em Zero Hora. “Nos primeiros quatro meses, não ganhei nada. Meu trabalho era uma espécie de estágio voluntário. Valeu a pena porque no mês de dezembro fui efetivado na editoria de Variedades e comecei e escrever sobre cinema diariamente”, conta. No mesmo período, devido ao excesso de trabalho, teve que optar entre prosseguir com os estudos e o trabalho. Preferiu permanecer atuando na área.
Em 1969, o jornalista teve que deixar o JC para aceitar o convite feito pelo então diretor de redação, Antônio Moraes de Oliveira, para atuar como redator na MPM Propaganda. Na agência, onde chegou ao cargo de diretor de Criação, permaneceu até 1986, quando se aposentou com 35 anos de trabalho. As atividades em ZH seguiram por mais nove anos. “Havia conseguido a minha aposentadoria, mas ainda não era hora de parar. Claro que temos que saber a hora de dar uma pausa e, depois disso, aproveitar um pouco da vida. Entretanto, segui fazendo coberturas de festivais culturais, elaborando matérias para TV e assinando uma página e uma coluna dominical.”
Goida ainda registra passagens pelo Grupo Sinos, de 1996 a 2004. Hoje colabora com o jornal CineSemana, distribuído nos cinemas GNC do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, e a revista Teorema – Crítica de Cinema. Antes, bem antes disso tudo, em tempos que mal relembra, atuou na histórica Revista do Globo durante dois anos.
Além da eternidade
O amor chegou cedo para Goida: foi com 17 anos, depois de ser reprovado três vezes na oitava série, que conheceu Deise, na época com 14 anos. “Nos conhecemos no ginásio. Foi o destino que fez com que eu reprovasse tantas vezes e, claro, por ser também um péssimo aluno. Eu detestava matérias como geometria, matemática e geografia e costumava questionar meus professores sobre o motivo de ter que ser aprovado nestas disciplinas, pois não queria ser engenheiro nem geólogo! Queria ser jornalista. Nos casamos em dezembro de 1959, mas, antes disso, namoramos quatro anos e fomos noivos por quase dois anos. Embora nossos pais fossem um pouco mais liberais do que os da época, nosso namoro foi algo muito convencional. Saíamos bastante, porém sempre em companhia de outros casais.”
Viajar é o programa preferido do casal, especialmente se for para locais como Buenos Aires, Montevidéu e Florianópolis, os mais freqüentados. “Temos uma casa na Praia do Rosa e no verão vamos para lá. Também vamos ao Uruguai para acompanhar a Mostra Internacional de Cinema.” Goida e Deise têm duas filhas, Mônica, 46, e Ana, 44. A primogênita é zootécnica e a outra é formada em educação física, e lhes deram três netos, entre os quais, está o caçula Conrad, de 6 anos, que, segundo o avô, gosta muito de cinema e já demonstra habilidades com desenho.
Prestes a completar Bodas de Ouro, Goida assegura que o casal vive em total harmonia. E revela o segredo da relação: “Com o tempo, a gente melhora, mas o problema é enfrentar os primeiros trinta anos de casado, que são muito complicados. Agora, o que segue depois é lua-de-mel. O importante, como diria Woody Allen, é viver cada dia como se fosse o último, um dia você acerta!”. (Coletiva.Net)
Hiron Goidanich é o nome dele, mas não há quem não o conheça pelo carinhoso diminutivo do sobrenome. Não por acaso, os amigos mais próximos costumam defini-lo como uma ‘figura amável’, um cara tranqüilo, agradável e sempre bem-humorado. E é desta forma que costuma receber seus convidados e, por ser uma das pessoas que mais entende sobre HQs no Brasil, as visitas não são poucas.
As portas de sua casa estão sempre abertas para jovens, idosos, crianças, estudantes, pesquisadores, conhecidos e desconhecidos em busca de informações. Mas, surpresa: embora seja um aficionado por filmes, Goida não possui DVD em casa, fato que descreve como uma de suas “manias jurássicas”. “Gosto mesmo é de cinema, do ambiente, da sala escura e da tela grande. Essas minhas manias jurássicas também não me permitiram adquirir computador e celular, que não faz falta nenhuma, principalmente no cinema.”
Rica infância
Apesar de ter sido uma criança tímida, sempre escondida atrás de gibis, Goida garante que teve uma infância muito rica. Ele nasceu no dia 11 de julho de 1934, na Rua Riachuelo, centro de Porto Alegre. “Nasci na pensão do meu avô com a ajuda de uma parteira. Na época, os partos em hospitais não eram comuns. As mães tinham os filhos em casa mesmo”, relata.
Em 1941, a família Goidanich deixou a pensão para morar no bairro Menino Deus. Desse período, Hiron, então com sete anos, traz a lembrança da maior enchente registrada na cidade de Porto Alegre. “Durante os meses de abril e maio, a precipitação deixou 70 mil pessoas sem energia elétrica e água potável. O centro da cidade ficou debaixo d'água e os barcos se tornaram o principal meio de transporte. Tivemos que ir para a casa de um tio que morava na Avenida Independência e, como lá é alto, a água não subiu.”
Além do fascínio por super-heróis, a começar por Batman, Homem-Aranha e Superman, quando criança adorava brincar de ‘faroeste’ e ‘cavaleiro andante’ com seus primos. O hábito de assistir a sessões de cinema também foi cultivado na infância, pois eram tantos tios e tias para paparicar os sobrinhos, que não faltava gente para levá-los ao cinema. “Para mim, era uma alegria muito grande, pois eu e meu irmão Flávio tínhamos tios e tias de sobra para nos levar ao cinema. Minha mãe é de Encruzilhada do Sul, e a família dela viajava para Porto Alegre e ficava hospedava na minha casa. Então, essas pessoas vinham muito ansiosas por atividades culturais, como ir a livrarias e, principalmente, freqüentar cinemas. Na época, fazer esse programa durante a semana era como se fosse assistir à novela atualmente. Os pais levavam os filhos ao cinema à noite porque não havia problema nem censura nem perigo para isso.”
Sábado e domingo eram os dias mais esperados pelos irmãos, pois ganhavam a permissão de irem sozinhos ao cinema. “De manhã era um inferno: tínhamos que ir à missa. Mas a tarde era um paraíso: comprávamos os bilhetes, escolhíamos o filme e comíamos pipoca sozinhos”, relembra, com prazer. Foi por assistir a filmes desde pequeno que aprendeu a ler aos cinco anos de idade. “Como as únicas peças dubladas da época eram os filmes do Walt Disney e pelo fato de assistirmos de tudo, desde pequeno aprendi a ler as legendas e entrei para o colégio já alfabetizado.” Hoje, ele se define como uma pessoa eclética quando se trata de gênero de filmes. “Não tenho preconceito nenhum. Quando se trata de cinema, assisto de tudo. Isso é pelo fato de que quando era criança, lá em 1939, os filmes não tinham problema com censura e nossos tios não perguntavam o que queríamos ver.”
Poderia até ser considerado um ato audacioso para um menino, mas aos oito anos de idade já tinha a mania de assistir a filmes e classificá-los conforme seu desempenho. “Ganhei um caderno de capa dura da minha mãe e, então, passei a anotar e dar notas para os filmes que assistia. Fazia isso principalmente com seriados completos, que eram a diversão do domingo. Eles tinham uma média de duração de 15 minutos e eram apresentados em sessões que começavam às 14h e iam até as 18h.” A brincadeira deu certo e tornou-se a atividade profissional.
Nos bastidores da notícia
Embora tenha origem humilde, a família de Goida sempre se preocupou em incentivar os filhos a criar gosto por cultura. A leitura também era obrigatória dentro de casa. “Tanto meu pai como minha mãe estimulavam muito a leitura e, para isso, compravam revistas de quadrinhos.”
Foi assim que Goida conheceu seu grande incentivador nas revistas de histórias em quadrinhos. O nome dele? Clark Kent, a identidade secreta do Superman. A figura do rapaz tímido, que usa óculos e trabalha como repórter no Planeta Diário, foi o que o encantou. “Clark Kent foi minha inspiração. Muitos me perguntam por que o Clark e não o Superman. O Clark é um cara emblemático e, curiosamente, a figura que mais me atraía era a do cara normal, o jornalista, que usava óculos e que tinha que trabalhar e dar duro para conquistar a namorada, e não a do cara cheio de superpoderes”, explica.
Foi inspirado na identidade secreta do Homem-de-Aço que prestou vestibular para Jornalismo na Ufrgs. “Entrei para a Universidade sem fazer cursinho, mas é claro que devo ter passado em último lugar.” Já no final do primeiro ano, em 1959, estava empregado como redator no Jornal do Comércio e estagiário na Última Hora, que em 1964 se transformaria em Zero Hora. “Nos primeiros quatro meses, não ganhei nada. Meu trabalho era uma espécie de estágio voluntário. Valeu a pena porque no mês de dezembro fui efetivado na editoria de Variedades e comecei e escrever sobre cinema diariamente”, conta. No mesmo período, devido ao excesso de trabalho, teve que optar entre prosseguir com os estudos e o trabalho. Preferiu permanecer atuando na área.
Em 1969, o jornalista teve que deixar o JC para aceitar o convite feito pelo então diretor de redação, Antônio Moraes de Oliveira, para atuar como redator na MPM Propaganda. Na agência, onde chegou ao cargo de diretor de Criação, permaneceu até 1986, quando se aposentou com 35 anos de trabalho. As atividades em ZH seguiram por mais nove anos. “Havia conseguido a minha aposentadoria, mas ainda não era hora de parar. Claro que temos que saber a hora de dar uma pausa e, depois disso, aproveitar um pouco da vida. Entretanto, segui fazendo coberturas de festivais culturais, elaborando matérias para TV e assinando uma página e uma coluna dominical.”
Goida ainda registra passagens pelo Grupo Sinos, de 1996 a 2004. Hoje colabora com o jornal CineSemana, distribuído nos cinemas GNC do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, e a revista Teorema – Crítica de Cinema. Antes, bem antes disso tudo, em tempos que mal relembra, atuou na histórica Revista do Globo durante dois anos.
Além da eternidade
O amor chegou cedo para Goida: foi com 17 anos, depois de ser reprovado três vezes na oitava série, que conheceu Deise, na época com 14 anos. “Nos conhecemos no ginásio. Foi o destino que fez com que eu reprovasse tantas vezes e, claro, por ser também um péssimo aluno. Eu detestava matérias como geometria, matemática e geografia e costumava questionar meus professores sobre o motivo de ter que ser aprovado nestas disciplinas, pois não queria ser engenheiro nem geólogo! Queria ser jornalista. Nos casamos em dezembro de 1959, mas, antes disso, namoramos quatro anos e fomos noivos por quase dois anos. Embora nossos pais fossem um pouco mais liberais do que os da época, nosso namoro foi algo muito convencional. Saíamos bastante, porém sempre em companhia de outros casais.”
Viajar é o programa preferido do casal, especialmente se for para locais como Buenos Aires, Montevidéu e Florianópolis, os mais freqüentados. “Temos uma casa na Praia do Rosa e no verão vamos para lá. Também vamos ao Uruguai para acompanhar a Mostra Internacional de Cinema.” Goida e Deise têm duas filhas, Mônica, 46, e Ana, 44. A primogênita é zootécnica e a outra é formada em educação física, e lhes deram três netos, entre os quais, está o caçula Conrad, de 6 anos, que, segundo o avô, gosta muito de cinema e já demonstra habilidades com desenho.
Prestes a completar Bodas de Ouro, Goida assegura que o casal vive em total harmonia. E revela o segredo da relação: “Com o tempo, a gente melhora, mas o problema é enfrentar os primeiros trinta anos de casado, que são muito complicados. Agora, o que segue depois é lua-de-mel. O importante, como diria Woody Allen, é viver cada dia como se fosse o último, um dia você acerta!”. (Coletiva.Net)
Um comentário:
Na época, 1970, GOIDA confessou na televisão Piratini (POA) que torcia para o "Velho", como chamava John Wayne, da competição do OSCAR, onde tinham Richard Burton, Peter O'Toole, Jon Voigt, etc. Achei o máximo um intelectual confessar que gostava de faroeste. Claro, do bom western. Eu era guri.
Postar um comentário