Um dia, anos atrás, eu disse e previ, como o bobo arauto do rei: essas moças todas que hoje aí estão, decoradas na superfície epidérmica, no revestimento do corpo, na preciosa cútis, irão envelhecer um dia e um dia terão cabelos brancos, andar encurvado, olhar opaco e triste, pele seca e flácida, e então será curioso observar uma legião de velhinhas (e velhinhos) tatuados dos pés à cabeça como se fossem os escombros pictóricos da adolescência e da juventude, o Louvre, o museu de arte das suas vidas e do que viveram no passado.
Mereciam até uma poesia: As Velhinhas Tatuadas.
Esses dias eu vi a primeira idosa ou quase-idosa (vamos assim chamar) repleta de tatuagens por nas partes expostas do corpo (eram muitas nos braços, nos ombros e nas pernas) e achei aquilo tão histórico quanto à primeira queda do Mike Tyson no ringue. Observei-a de longe, com um certo fascínio babaca, uma certa estranheza, um certo caipirismo conservador e irônico de menino interiorano. Daqui a uns dez, vinte ou trinta anos esta senhora terá a companhia de muitas e muitos outros, surgindo a geração dos idosos tatuados, agora nos seus primórdios. Algumas velhinhas terão até tatuagem na bunda, vejam só. (Vitor Minas)
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