Figura histórica da Guaíba, Fernando Veronezi é muito procurado e querido pelos ouvintes da rádio. O programador musical acompanha a história da emissora desde o ano de sua fundação: 1957. São 50 anos pesquisando músicas e lançando grandes nomes da música instrumental no Rio Grande e no Brasil. E no Brasil também, pois sua programação é ouvida via intenet agora.
Histórias de rádio
José Fernando Limeira Veronezi, nascido em 28 de julho de 1935, descobriu cedo o que o esperava: “Tinha dois anos de idade quando ganhei uma vitrola de corda, presente de um padrinho. Desde então, quando perguntavam o que eu ia ser quando crescesse, respondia que ia trabalhar na rádio Farroupilha”, declara. Em 1952, com 17 anos de idade, foi contratado para trabalhar (sem salário) no fichário da discoteca da antiga PR F9 Rádio Difusora, no mesmo edifício da Farroupilha. Na época, trabalhava no fichário durante o dia, e, à noite, aprendia a operar a mesa de controle. Veronezi conta que, no mesmo dia em que o chefe avisou-o que não surgira a vaga na discoteca, o então operador saiu de férias e não voltou mais: “Eu assumi o cargo. Parece que tudo deu certo, o destino era esse”, define. Na Difusora, viveu dramas como o suicídio do Getúlio Vargas e o incêndio na Farroupilha: “Eu, dois colegas e o diretor da rádio, doutor Salvador Rosito, fomos os últimos a sair daquela casa incendiada. Conseguimos sair por baixo, após arrombarem uma porta”, lembra.
Ao retomarem a transmissão da rádio, já no prédio da Sete de Setembro, onde a Farroupilha também se instalou, a Difusora voltou ao ar com uma aparelhagem precária: “Nós conseguimos formar uma discoteca para as rádios voltarem ao ar com os amplificadores de som, como se fossem mesas de controle, e com uma quantidade incrível de discos doados pela população, porque queimou tudo”, explica. Veronezi era operador de mesa quando foi convidado para fazer a programação na Difusora, junto com João Carlos Scherer: “Um dos caras com quem mais aprendi música”. Começou também a fazer sonoplastia de novelas que iam ao ar ao vivo. Os discos eram os antigos bolachões de 78 rotações, e os acordes marcados com lápis vermelho, para saber onde tinham que entrar.
A fada de sobretudo
Quando a Guaíba entrou no ar, em caráter experimental, Veronezi foi apresentar-se para ser operador da rádio. Porém, o chefe da discotecagem lhe comunicou que não havia vaga, a não ser que quisesse ser locutor. Veronezi então decidiu ficar onde estava, na Difusora, até 28 de junho, dois meses depois da inauguração, quando, em um dia muito frio e chuvoso, um senhor de sobretudo e chapéu o chamou para conversar na escadaria do prédio da rádio. E perguntou:
– Veronezi! Queres trabalhar na Guaíba?No que ele respondeu: – Não sei, eu estive lá me apresentando. Não me quiseram.E o homem desconhecido:– Não, mas eu sou o chefe dos operadores! [era Weimar Almada] E Veronezi:– Buena, vamos ver.
Foi então que decidiu pelos 300 cruzeiros a mais no salário, oferecidos pela Guaíba. Após 15 dias como operador na nova emissora, o inesquecível Osmar Meletti o chamou para auxiliá-lo na programação musical. Depois passou a fazer também a sonoplastia dos radioteatros infantis, como o ‘Teatrinho Cacique’ e o ‘Mestre Estrela’, além de trabalhar na Central Técnica, época em que permanecia na rádio durante cerca de 15 horas por dia. Nesse setor, ele participou da parceria entre a Guaíba e a Rádio Cultura, em que, enquanto uma transmitia o jogo do Grêmio, a outra transmitia o do Inter: “Eu ficava na Central Técnica ouvindo as duas rádios. Quando saía gol em uma das rádios, eu colocava no ar na outra e vice-versa. Tinha que ter uma atenção danada. E sem gravador para reproduzir o gol, como há hoje”, esclarece.
Programas Marcantes
Veronezi considera um dos momentos mais importantes na sua vida profissional aquele em que trabalhou junto a Flávio Alcaraz Gomes: “Foi o melhor período da minha vida, eu aprendi muita coisa. Aquele programa [Flávio Alcararaz Gomes Repórter] foi o que me deu a chance de deslanchar na vida”, declara. Outro programa que marcou sua carreira foi o Guaíba Ensina o Sucesso, que reproduzia as músicas, cujas letras saíam no jornal Folha da Tarde no dia anterior. O sucesso do programa podia ser percebido pela quantidade de cartas recebidas: “milhares”, segundo Veronezi.
“Aquela época foi, pra mim, o melhor período da música internacional de todos os tempos. A década de 60 não tem igual na música, seja ela italiana, francesa ou brasileira. Nunca mais houve um período como aquele”, rememora. O programa ficou no ar por cerca de sete anos. Além de selecionar a música, o programador tinha o trabalho de procurar as letras, e para isso, assinava diversas revistas americanas, depois de datilografá-las, as passava ao linotipista: “Era um drama. O linotipista muitas vezes errava a letra. E quem passava por burro era eu”, reclama.
Uma semana antes da inauguração da transmissão em FM da Guaíba, em 1980, Veronezi foi convocado para fazer a programação musical. No início, a emissora não possuía discos. Ele, então, levou, de seu acervo pessoal, os que teriam a ver com a rádio: “Eu tinha cerca de 8 mil LPs em casa. Naquela época, a rádio recebia muito disco e o programador, muitas vezes, recebia até mais”, esclarece. O acervo foi completado com a compra de discos importados em São Paulo, especialmente os de orquestras. ”O doutor Breno [Caldas] sempre quis um padrão musical como é até hoje: para pessoas de mais de 30 anos, com muita música instrumental”, relembra. “É música mais para consultório médico, dentário. Mas tem muita gente jovem que me telefona. Nós lançamos uma série de discos, que talvez jamais ficassem conhecidos no Rio Grande”, orgulha-se. Veronezi dá como exemplo o telefonema que recebeu da cidade de Aracaju, no qual um dentista explicou que havia conhecido a rádio pela internet e passado o link aos colegas.
Atualmente, ele faz toda a programação da FM com 66 dias de antecedência. Ainda utiliza a máquina de escrever para datilografar todo o programa: “Dificilmente se repete uma música em 24 horas, pois temos, aqui, uns dois mil CDs”, comenta.
Sem música, por favor
Veronezi confessa que a música não está presente em todos os momentos: “Em casa, eu não quero nem saber de música”, diverte-se. Ele e a mulher, dona Sônia, com quem é casado há 37 anos, não costumam escutar rádio e ele não gosta de TV. Os dois têm três filhos: Fernando, Elisa e Márcia. Todos são casados e têm filhos: “Tenho um neto de nove anos, uma de três e outra completa um ano em junho. Esta quem cuida é minha mulher, porque os pais trabalham fora”, conta, coruja.
Antes de ser impedido por dores na coluna, quando estava em casa, seu maior passatempo era fazer consertos. Era o que gostava. Atualmente, o que toma seu tempo, além do trabalho na rádio, são as leituras. Quando sai de férias, por exemplo, leva cerca de 10 livros junto: “Quando vou para Capão, nem piso na praia”, brinca. (Coletiva.net)
Histórias de rádio
José Fernando Limeira Veronezi, nascido em 28 de julho de 1935, descobriu cedo o que o esperava: “Tinha dois anos de idade quando ganhei uma vitrola de corda, presente de um padrinho. Desde então, quando perguntavam o que eu ia ser quando crescesse, respondia que ia trabalhar na rádio Farroupilha”, declara. Em 1952, com 17 anos de idade, foi contratado para trabalhar (sem salário) no fichário da discoteca da antiga PR F9 Rádio Difusora, no mesmo edifício da Farroupilha. Na época, trabalhava no fichário durante o dia, e, à noite, aprendia a operar a mesa de controle. Veronezi conta que, no mesmo dia em que o chefe avisou-o que não surgira a vaga na discoteca, o então operador saiu de férias e não voltou mais: “Eu assumi o cargo. Parece que tudo deu certo, o destino era esse”, define. Na Difusora, viveu dramas como o suicídio do Getúlio Vargas e o incêndio na Farroupilha: “Eu, dois colegas e o diretor da rádio, doutor Salvador Rosito, fomos os últimos a sair daquela casa incendiada. Conseguimos sair por baixo, após arrombarem uma porta”, lembra.
Ao retomarem a transmissão da rádio, já no prédio da Sete de Setembro, onde a Farroupilha também se instalou, a Difusora voltou ao ar com uma aparelhagem precária: “Nós conseguimos formar uma discoteca para as rádios voltarem ao ar com os amplificadores de som, como se fossem mesas de controle, e com uma quantidade incrível de discos doados pela população, porque queimou tudo”, explica. Veronezi era operador de mesa quando foi convidado para fazer a programação na Difusora, junto com João Carlos Scherer: “Um dos caras com quem mais aprendi música”. Começou também a fazer sonoplastia de novelas que iam ao ar ao vivo. Os discos eram os antigos bolachões de 78 rotações, e os acordes marcados com lápis vermelho, para saber onde tinham que entrar.
A fada de sobretudo
Quando a Guaíba entrou no ar, em caráter experimental, Veronezi foi apresentar-se para ser operador da rádio. Porém, o chefe da discotecagem lhe comunicou que não havia vaga, a não ser que quisesse ser locutor. Veronezi então decidiu ficar onde estava, na Difusora, até 28 de junho, dois meses depois da inauguração, quando, em um dia muito frio e chuvoso, um senhor de sobretudo e chapéu o chamou para conversar na escadaria do prédio da rádio. E perguntou:
– Veronezi! Queres trabalhar na Guaíba?No que ele respondeu: – Não sei, eu estive lá me apresentando. Não me quiseram.E o homem desconhecido:– Não, mas eu sou o chefe dos operadores! [era Weimar Almada] E Veronezi:– Buena, vamos ver.
Foi então que decidiu pelos 300 cruzeiros a mais no salário, oferecidos pela Guaíba. Após 15 dias como operador na nova emissora, o inesquecível Osmar Meletti o chamou para auxiliá-lo na programação musical. Depois passou a fazer também a sonoplastia dos radioteatros infantis, como o ‘Teatrinho Cacique’ e o ‘Mestre Estrela’, além de trabalhar na Central Técnica, época em que permanecia na rádio durante cerca de 15 horas por dia. Nesse setor, ele participou da parceria entre a Guaíba e a Rádio Cultura, em que, enquanto uma transmitia o jogo do Grêmio, a outra transmitia o do Inter: “Eu ficava na Central Técnica ouvindo as duas rádios. Quando saía gol em uma das rádios, eu colocava no ar na outra e vice-versa. Tinha que ter uma atenção danada. E sem gravador para reproduzir o gol, como há hoje”, esclarece.
Programas Marcantes
Veronezi considera um dos momentos mais importantes na sua vida profissional aquele em que trabalhou junto a Flávio Alcaraz Gomes: “Foi o melhor período da minha vida, eu aprendi muita coisa. Aquele programa [Flávio Alcararaz Gomes Repórter] foi o que me deu a chance de deslanchar na vida”, declara. Outro programa que marcou sua carreira foi o Guaíba Ensina o Sucesso, que reproduzia as músicas, cujas letras saíam no jornal Folha da Tarde no dia anterior. O sucesso do programa podia ser percebido pela quantidade de cartas recebidas: “milhares”, segundo Veronezi.
“Aquela época foi, pra mim, o melhor período da música internacional de todos os tempos. A década de 60 não tem igual na música, seja ela italiana, francesa ou brasileira. Nunca mais houve um período como aquele”, rememora. O programa ficou no ar por cerca de sete anos. Além de selecionar a música, o programador tinha o trabalho de procurar as letras, e para isso, assinava diversas revistas americanas, depois de datilografá-las, as passava ao linotipista: “Era um drama. O linotipista muitas vezes errava a letra. E quem passava por burro era eu”, reclama.
Uma semana antes da inauguração da transmissão em FM da Guaíba, em 1980, Veronezi foi convocado para fazer a programação musical. No início, a emissora não possuía discos. Ele, então, levou, de seu acervo pessoal, os que teriam a ver com a rádio: “Eu tinha cerca de 8 mil LPs em casa. Naquela época, a rádio recebia muito disco e o programador, muitas vezes, recebia até mais”, esclarece. O acervo foi completado com a compra de discos importados em São Paulo, especialmente os de orquestras. ”O doutor Breno [Caldas] sempre quis um padrão musical como é até hoje: para pessoas de mais de 30 anos, com muita música instrumental”, relembra. “É música mais para consultório médico, dentário. Mas tem muita gente jovem que me telefona. Nós lançamos uma série de discos, que talvez jamais ficassem conhecidos no Rio Grande”, orgulha-se. Veronezi dá como exemplo o telefonema que recebeu da cidade de Aracaju, no qual um dentista explicou que havia conhecido a rádio pela internet e passado o link aos colegas.
Atualmente, ele faz toda a programação da FM com 66 dias de antecedência. Ainda utiliza a máquina de escrever para datilografar todo o programa: “Dificilmente se repete uma música em 24 horas, pois temos, aqui, uns dois mil CDs”, comenta.
Sem música, por favor
Veronezi confessa que a música não está presente em todos os momentos: “Em casa, eu não quero nem saber de música”, diverte-se. Ele e a mulher, dona Sônia, com quem é casado há 37 anos, não costumam escutar rádio e ele não gosta de TV. Os dois têm três filhos: Fernando, Elisa e Márcia. Todos são casados e têm filhos: “Tenho um neto de nove anos, uma de três e outra completa um ano em junho. Esta quem cuida é minha mulher, porque os pais trabalham fora”, conta, coruja.
Antes de ser impedido por dores na coluna, quando estava em casa, seu maior passatempo era fazer consertos. Era o que gostava. Atualmente, o que toma seu tempo, além do trabalho na rádio, são as leituras. Quando sai de férias, por exemplo, leva cerca de 10 livros junto: “Quando vou para Capão, nem piso na praia”, brinca. (Coletiva.net)
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