quinta-feira, janeiro 29, 2009

Julio Fürst, mas pode chamar de Mister Lee

Fürst: os quarentões e cinquentões lembram dele.
Criativo, inquieto e audacioso, o comunicador Julio Cezar Fürst nunca teve medo de arriscar e experimentar o novo. O gosto por desafios foi a chave que abriu muitas portas ao longo dessas quase quatro décadas de profissão. Ele iniciou a carreira no rádio como programador graças ao extenso conhecimento musical e, ao assumir o comando dos microfones, para disfarçar a inexperiência e a ausência da voz grave – típica de um locutor da época – criou alguns personagens caricatos memoráveis: em 1972, se apresentou aos ouvintes gaúchos como Julius Brown, o rei da black music, e, mais tarde, como Mister Lee, o cowboy do rádio. Atualmente, no comando dos programas Fim de Tarde Itapema e Movimento Itapema, ele é conhecido por Julio Fürst, o que não é pouco, já que é uma verdadeira marca neste setor.
A paixão pelas notas musicais é uma herança genética, pois Julio vem de uma família toda composta por músicos: seu avô tinha uma orquestra, o tio era tecladista e se apresentava em navios viajando pela Europa, o pai teve uma banda e ainda tocava bateria, acordeão e piston, e a mãe, além de acordeão, tocava cítara. Já o comunicador começou a tocar bateria com 14 anos e exerceu esta atividade ao longo dos anos 60 no grupo musical chamado ‘The Rockets’, formado por amigos e vizinhos de rua. Em 1968, teve que se afastar da banda para prestar serviço militar e, ao retornar, o grupo não existia mais. Resolveu, então, montar um trio de bossa nova, mas que, depois de algumas apresentações, também foi extinto.
Ainda no final da década de 60, se aventurou no mundo empresarial e comprou uma loja, a Mozart Discos, no bairro Moinhos de Vento. “Era a primeira loja de discos fora do centro de Porto Alegre”, diz. Foi através desse empreendimento que Julio começou a aprimorar seu conhecimento musical.
Uma vida no rádio
O início da vida profissional deste comunicador, que nasceu em Porto Alegre em 8 de outubro de 1949, aconteceu em 1972, como programador musical, na recém-criada Pampa AM. Um dos clientes mais freqüentes da loja fez a indicação de seu nome para o dono da emissora, Otávio Gadret. O objetivo de Gadret era montar uma rádio com programação jovem e que fosse concorrente direta da Continental, conhecida como a ‘rádio rebelde de Roberto Marinho’ e que integrava o Sistema Globo de Rádio. “Até então, nunca tinha entrado em uma emissora, mas sempre tive uma certa afinidade com o rádio. Era um ouvinte assíduo e chegava a dormir com o aparelho ligado, porque gostava de ouvir música e por ser um meio de comunicação fascinante, por fazer companhia para as pessoas e mexer com o imaginário delas. A música me levou para o rádio e me mantém lá até hoje.”
Julio foi contratado para fazer a programação musical da emissora, mas, alguns dias depois, Gadret lhe propôs um desafio: teria que criar um programa e assumir o comando dos microfones. Devido à inexperiência e por não possuir uma voz grave, decidiu criar seu primeiro personagem, o Julius Brown, uma mistura de Julio Fürst com James Brown. O objetivo, segundo ele, era fugir do compromisso de ter um ‘vozeirão’ e fazer algo diferenciado.
Um ano depois, recebeu uma proposta irrecusável da Rádio Continental e foi atuar na concorrente, levando junto o personagem. Julius Brown deixou de existir em abril de 1975 e deu espaço a outra figura que marcou época no rádio gaúcho. Através de uma iniciativa da MPM Propaganda, nasceu o Mister Lee, um cowboy vestido de calça Lee, marca que estava iniciando suas operações no mercado brasileiro. Além de divulgar a marca, o programa apresentado por Fürst rodava música country e local e deu origem ao concerto ‘Vivendo a Vida de Lee’, que foi realizado até 1978 em Porto Alegre, interior do Rio Grande do Sul e Curitiba.
Em 1980, convidado por Pedro Sirotsky, foi para a RBS integrar a equipe que colocou no ar a Rede Atlântida FM e ali permaneceu por mais quatro anos. Depois, na década seguinte, registrou passagens pela Rádio Cidade, Jornal do Brasil, Universal FM, e Band FM e, em 1990, regressou para o Grupo RBS para atuar na Itapema FM, onde durante 14 anos exerceu o cargo de gerente de programação e diretor artístico.
Entre tons e sons
O apresentador prestou vestibular para Economia, cursou Administração até o último ano e não obteve diploma, mas acabou fazendo da paixão pela música o seu ganha-pão. Além de ser comunicador, há sete anos montou juntamente com o sócio João Antônio a casa de shows Abbey Road Studio Pub ,nome inspirado em um dos mais importantes estúdios da música mundial: EMI`s Abbey Road Studios. Criado em novembro de 1931, na Inglaterra, o estúdio londrino também foi homenageado no 12° e penúltimo álbum dos Beatles.
Em sua casa, guarda uma coleção de discos, a qual já chegou a contar com mais de 11 mil exemplares e que agora foi reduzida devido à falta de espaço. “Sou um comprador de discos, mas sempre ganhei muita coisa. Tenho uma boa discoteca de black music, anos 70, música country, MPB, rock e pop rock. Gosto do atual e sou contemporâneo. Estou sempre buscando coisas novas, mas ainda prefiro ter o objeto e pegar na mão. É uma sensação de posse.”
A rotina do comunicador atualmente se divide entre o bar, a família e os estúdios da Itapema. Julio vive há 40 anos com a esposa Maria Tereza, carinhosamente chamada de Tetê, que ele conheceu na época em que prestou serviço militar, em 1968. Maria Tereza era irmã de um colega seu de Pelotão. Eles têm três filhas: Cândida, 31 anos, psicóloga; Daniela, 28, bióloga; e Fernanda, 26, pedagoga. As noites de domingo do casal são reservadas às sessões de cinema. O repertório é eclético e inclui filmes de ação, comédia, drama e romance. Quanto à culinária, esta é uma área onde nem um dos dois pensa em se arriscar: “Cozinhar não é com a gente. Chego a ter inveja daqueles, principalmente os homens, que vão à cozinha e que sabem o que fazem lá. Definitivamente, isso não é comigo!”
Júlio não abre mão de, pelo menos, três vezes por semana jogar tênis. O primeiro contato com o esporte ocorreu aos 15 anos de idade, incentivado pela mãe, que o presenteou com uma raquete. Ele desistiu dos treinos devido ao trauma que tinha de uniformes: “Achava um esporte meio pernóstico. Já bastava minha época de colégio, onde tinha que andar sempre uniformizado e onde costumava treinar só deixavam entrar na quadra se estivesse de meia, tênis, calção e camisa pólo branca. Então, deixei de treinar”. A prática só foi retomada uma década depois.
Em 1986, quando trabalhava na Band, inspirado pela paixão pelo esporte criou um programa que trazia ao FM notícias sobre o mundo tênis. A partir de 1997, graças a essa iniciativa, fez diversas coberturas internacionais nos EUA e na Europa, onde o ‘Repórter Raquete’acompanhava o talentoso novato Guga. “Na época trabalhava na Itapema e o que a gente fazia era inédito, pois, nas coberturas, não via nenhuma emissora de rádio na beira da quadra fazendo boletins ao vivo como eu fazia”, diz.
Duas décadas de humor-musical
Durante 20 anos, Julio integrou o grupo de humor-musical ‘Os Discocuecas’, como baterista. O conjunto fez sucesso nacionalmente. Além de shows, gravaram cinco discos e um CD, fizeram diversos espetáculos teatrais, realizaram shows pelo país inteiro e tiveram participações em programas comandados por Chacrinha, Sílvio Santos e Raul Gil. “O último disco de vinil da nossa banda continha um rock gaudério, o ‘Não me faz’, que serviu de gancho para o Magro do Bonfa, na Escolinha do Chico Anísio, que dizia: ‘Só não me faz te pegar nojo’”, conta. Em 1997, o grupo, que também era integrado por Gilberto Travi, Beto Roncaferro e Toninho Badaró, deixou de existir.
Ele se define como um ser perfeccionista e pontual em excesso e afirma que este foi um hábito adquirido com a profissão. “Se na grade de programação consta que um programa vai ao ar às 17h ele entra no ar exatamente neste horário, nem cinco minutos a mais nem a menos! Isso é um defeito, pois sou chato e intolerante com atrasos. Já agi com indelicadeza devido a essa característica”, conta. Modesto, o radialista não gosta de falar de suas qualidades e prefere que as outras pessoas percebam isso nele.
Na mesma trilha
Júlio se define como um profissional totalmente realizado e diz que, se tivesse que voltar atrás, faria tudo novamente e do mesmo jeito. Sua única lamentação foi não ter se dedicado mais aos estudos. “Minha cabeça sempre esteve voltada para a música e para minha banda. Se tivesse estudado mais, teria aproveitado mais as oportunidades que tive como, por exemplo, as coberturas internacionais. Poderia ter feito contatos, trocado informações e absorvido mais das culturas. Também gostaria de ter morado fora, mas como meu inglês só servia para obter as coisas mais básicas, me privei destes conhecimentos.”
Ao olhar para sua trajetória, o apresentador diz sentir falta de muitas coisas, como da sua loja de discos, da sua banda e dos concertos realizados. “Mas eu não fico pensando que aquela sim é que era uma época boa. Acho que tudo tem seu tempo para acontecer e hoje estou em outra fase. Eu não sou uma cara saudosista, entretanto, quando olho para trás tenho certeza que começaria tudo outra vez. Quando a gente faz as coisas com paixão, não se arrepende jamais e, com certeza, faria tudo novamente”. (Coletiva.Net)

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Júlio Furst. Saudades daquele programa das 6ª feiras a noite "Na Curva do Rádio". Existe gravação das histórias do Jessie Gatilho? Se existir, favor me avisar. Algumas histórias minhas do Jessie Gatilho foram lidas no programa.
Roberto
roberto.toledo@ibest.com.br