Maristela Bairros
Quer dizer que dra. Internet e dr. Google e outros “especialistas” de plantão 24 horas que se acessa num toque de microsegundos está deixando a classe médica um pouco (ou seria muito?) incomodada? A matéria do Jornal Nacional de quinta-feira, dia 5, dá conta que é cada vez maior o número de gente que já chega no consultório munida de uma pá de informações sobre o que acha ser sua doença ou os sintomas dela. Pior: pelo que alardeiam alguns médicos, tem gente que nem vai ao consultório: entra em algum fórum da web, consulta as respostas e sai comprando remédio. Perigoso isso? Lógico!
Não são novidade nem o hábito, entre tantos que a rede criou, nem a reação dos profissionais de Medicina. Há um ano, ao fazer um exame médico, quis começar uma conversa amistosa com a médica que me atendia e comentei alguns dados que eu lera sobre câncer de mama, de útero e outros males. Pois ela ficou enfurecida, imprecou contra a internet, para ela o demônio na forma de informação.
Entendo a posição da classe, até agora intocável em suas avaliações, diagnósticos e prognósticos. De repente, o povinho ignaro que acessa um computador e a web encontra respostas que não teria nunca naquelas clássicas consultas de três minutos do SUS ou às vezes nas longas e atenciosas que o pagamento cash proporciona. Havia uma espécie de acordo tático entre Deus e uma grande parcela dos médicos que o imenso banco de dados virtual disponível quebrou.
Acho maravilhosa esta queda de um poder que já causou e causa muita desgraça, em especial pelos monopólio e manipulação da informação. Claro que estou generalizando.Tenho visto muito a série House ultimamente e, tirando a loucura e os maneirismos do personagem, acho que o que mais se expõe nesta premiada produção é a fragilidade dos homens de branco que venceram a barreira do curso tido como “mais difícil” de todos. Não são deuses, embora tenham vidas em suas mãos.
Vi, na Superinteressante, um artigo ressaltando que há médicos enfurecidos com o site RateMDs, em que pacientes avaliam seus profissionais, e lembrei de um episódio, ocorrido comigo há alguns anos. Na ocasião, escrevi para Osaiti, do querido Paulo Acosta, sobre uma consulta a que eu levara meu pai (aquela do tipo três minutos depois de três horas de espera), relatando as dificuldades destes médicos, a precariedade do sistema, os erros que acontecem, etc. Só que fui ingênua e, para destacar que os médicos em questão eram legais com meu velho, citei seus nomes.
O Acosta, com seu conhecido humor, colocou os nomes dos nobres profissionais no título, fazendo uma brincadeira do tipo “olha, doutores fulano e sicrano, cuidem bem deste paciente que a filha dele tá de olho” e tal. Isso foi considerado uma afronta pelos tais profissionais a ponto de um deles ter me escrito longos mails (que ainda guardo) me prevenindo que o outro colega citado ficara tão aborrecido que não queria mais atender meu pai! Uau! Terminei pedindo ao Acosta que mudasse o título e ainda o próprio texto.
Agora, com a expansão irreversível da Internet e a democratização do conteúdo, não há intocáveis. No caso da Medicina, continua valendo aquela regrinha básica do bom senso, para todos: procurar sites confiáveis, checar informação, etc e tal. Mas é direito do paciente encarar sem medos aquele mítico sujeito de branco que vai cuidar de sua vida e que tem obrigação de esclarecer quem o procura porque este, que fica do lado de cá do balcão, precisa não só da cura, mas de atenção e respeito. Se não houver tal atitude, uma troca lícita, este respeito será cada vez mais canalizado para quem? Dra. Internet e Dr. Google! Para o bem e para o mal. (Coletiva.Net)
Nenhum comentário:
Postar um comentário